Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Crescimento do Setor de Café Orgânico e Especial no Brasil: Novo Ambiente Competitivo, Notas de estudo de Engenharia Unificada Básica

Este documento discute o crescimento do setor de café orgânico e especial no brasil, incluindo as vendas, preços e instituições que contribuíram para o desenvolvimento destes cafés. Além disso, o texto aborda as inovações tecnológicas, processos de beneficiamento e marketing que melhoraram a imagem do café brasileiro no mercado internacional. O plano de ação do conselho de apoio à produção de café especial (caccer) e as primeiras cooperativas de café no brasil também são discutidas.

Tipologia: Notas de estudo

2013

Compartilhado em 11/12/2013

Futebol13
Futebol13 🇧🇷

4.5

(186)

450 documentos

1 / 25

Documentos relacionados


Pré-visualização parcial do texto

Baixe Crescimento do Setor de Café Orgânico e Especial no Brasil: Novo Ambiente Competitivo e outras Notas de estudo em PDF para Engenharia Unificada Básica, somente na Docsity! 42 passaram de 91.633 sacas em 2003/2004 para 613.683 sacas em 2007/2008. A maior parte desse aumento tem sido direcionada aos Estados Unidos e Alemanha, que no período 2007/2008 foram responsáveis pela importação de 57,75% do café orgânico mundial. Deve-se destacar também a rápida evolução no consumo dos demais países, como a Suécia que aumentou continuamente sua importação de 5.967 em 2003/04 para 45.083 sacas em 2007/08 (TABELA 7). TABELA 7 – IMPORTAÇÕES DE CAFÉ ORGÂNICO (2003 – 2008) SC 60 KG Países / Anos 2003/04 2004/05 2005/06 2006/07 2007/08 TOTAL 91.633 369.050 398.333 482.850 613.683 Estados Unidos 41.850 128.900 180.450 183.583 241.383 Alemanha 11.650 76.083 46.667 72.167 113.050 Suécia 5.967 13.700 16.767 29.883 45.083 Japão 7.683 51.733 50.833 60.233 44.883 Bélgica 0 0 15.000 20.867 32.750 Inglaterra 400 11.267 13.500 23.800 28.500 Canadá 2.917 7.517 16.933 18.733 24.517 Holanda 7.750 13.683 16.650 19.467 11.883 Dinamarca 5.783 4.417 2.583 6.850 11.817 Espanha 17 4.567 9.283 6.767 10.483 FONTE: FAO (2010) Esse crescimento das importações é reflexo do aumento das vendas de café orgânico e conseqüentemente do consumo nesses países importadores. Segundo Ponte (2004), essas vendas cresceram rapidamente na Itália (60%), Suécia (28%), França (18%) e Alemanha (17%) no período entre 1999 e 2001. O crescimento da produção de cafés orgânicos, bem como das importações e vendas nestes países foi acompanhado pelo preço prêmio desses cafés, o qual alcançou de 10% a 15% em 2002, chegando em 2006 a 40% e 20% em 2008 superior ao café tradicional (FAO, 2009). Embora a produção de café orgânico seja muito atraente do ponto de vista do preço prêmio, é necessário observar duas especificidades do segmento para os produtores. A primeira refere-se aos custos da certificação, uma vez que para se garantir o atributo do café é necessário que o mercado tenha confiança na agência certificadora. Como existem diferentes mercados consumidores pode haver a necessidade de se buscar outras certificadoras, o que eleva os custos de transação. Em segundo lugar, a cafeicultura orgânica possui baixas barreiras à entrada, de tal 43 modo que outros produtores podem ingressar no mercado elevando a oferta e obrigando os produtores a negociarem seu produto ao preço do café commodity (SAES, 2008). No Brasil a certificação é realizada principalmente por duas agências atuando com produtos orgânicos. A primeira delas é o Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural (IBD) que possui reconhecimento internacional e, por isso, a certificação por essa instituição pode facilitar a inserção do café orgânico do Brasil no mercado exterior. A segunda é a Associação de Agricultura Orgânica (AAO) que trabalha com propriedades de Minas Gerais e São Paulo (ZYLBERSZTAJN; FARINA, 2001). e) Café Fair Trade Outro segmento na produção de cafés especiais é o de comércio solidário (Fair Trade), no qual as preocupações são as condições sócio-econômicas dos produtores nos países em desenvolvimento, envolvendo o pagamento de salários justos aos trabalhadores, trabalho cooperativo, educação do consumidor, sustentabilidade ambiental, suporte técnico e financeiro e respeito à identidade cultural (SAES, 2006). O movimento do comércio justo surgiu na Holanda nos anos 50 e se disseminou pela Europa – chegando anos depois a outros países como Estados Unidos, Canadá, Japão e Austrália. Apenas no final da década de 80 ele foi introduzido no setor cafeeiro pela Fundação Max Havelaar através da certificação de comércio justo. Essa fundação juntamente a outras dezessete certificadoras foram agrupadas na Fairtrade Labelling Organizations International (FLO) em 1997 (FAO, 2009). 46 3.2.1 Conselho das associações dos cafeicultores do Cerrado O CACCER foi a primeira instituição criada para os cafés do cerrado em 1986, quando foi fundada a Associação dos Cafeicultores de Araguari (ACA)17. Já no inicio da década de 90 são criadas diversas associações que se deparavam com os problemas gerados pela crise cafeeira. As inúmeras associações no cerrado mineiro constituíram um conselho das associações, o CACCER, em 1992 com o objetivo de desenvolver uma estratégia unificada para a produção de café no cerrado (CACCER, 2009). A crise do sistema cafeeiro despertou um grupo de produtores que viram nas características do café do cerrado a possibilidade de diferenciação e valorização do café, dados os atributos naturais da região (estações bem definidas, com verão quente e úmido e inverno ameno e seco; e altitude entre 800 a 1.300 metros). O potencial da região foi assim explorado através de uma estratégia centrada na transição das vantagens comparativas derivadas de dotações de recursos para vantagem competitiva construída em torno da diferenciação do café. Daí a necessidade de se criar o conselho das associações para iniciar esse processo de valorização do café do cerrado (ORTEGA; JESUS, 2009). Uma das principais estratégias adotadas pelo CACCER foi a criação da marca “Café do Cerrado” em 1993 e o estabelecimento de padrões de qualidade que corroboraram na criação de três padrões de café (Ouro, Prata e Bronze) e seis marcas (Ouro I e II, Prata I e II, Bronze I e II) visando preços diferenciados no mercado. A diferenciação adotada e a garantia de preços distintos de acordo com a qualidade do café foram fatores cruciais para os associados e para se evitar a ação dos free-riders (SAES; JAYO, 1997). Buscando fortalecer a marca Café do Cerrado e garantir ao consumidor a procedência do mesmo, foi criado em 1997 o Certicafé, um selo de certificação de origem emitido pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). Outras ações também 17 No final da década de 1980 foi também criada a Associação de Apoio aos Produtores Rurais da Região de São Gotardo (Assogotardo) com foco na cafeicultura do Estado. Já na década de 1990 outras associações são criadas no cerrado mineiro tais como a Associação dos Cafeicultores da Região de Patrocínio (Acarpa) em 1990, a Associação dos Cafeicultores de Carmo do Paranaíba (Assocafé), a Associação dos Cafeicultores de Monte Carmelo (Amoca), a Associação dos Cafeicultores de Coromandel (Assocoró), todas em 1991. Por fim, foram criadas na região a Associação dos Cafeicultores de Campos Altos e Região (Accar), em 1993, a Associação dos Cafeicultores do Nordeste Mineiro (Acanor), em 1997 e a Associação dos Cafeicultores de Sacramento (Acasa), em 1998 (ORTEGA; JESUS, 2009, p. 09-10). 47 foram desenvolvidas pelo CACCER, como a constituição de cooperativas ajustadas às normas do Conselho para padronização do Café do Cerrado e a criação de uma central de cooperativas (EXPOCACCER) para a comercialização dos cafés no mercado nacional e internacional (ORTEGA; JESUS, 2009). Os objetivos do CACCER estavam ligados diretamente à valorização e desenvolvimento do café do cerrado, através de uma frente de representação dos produtores e de estratégias de marketing para o café de origem e de serviços de apoio às atividades agropecuárias dos associados (SAES; JAYO, 1997). Na mesma linha de análise, Urban (2005, p.97-98) analisa as duas estratégias de mercado do CACCER com ênfase na consolidação da marca Café do Cerrado no mercado, com controle de qualidade e rastreabilidade mais rígidos e eficientes. Nessa perspectiva, são destacados os resultados alcançados pela marca ao estampar embalagens de produtos vendidos nos mercado americano, europeu e brasileiro como atributo de valorização e qualidade, e a importância do Café do Cerrado nas tendências inovadoras em curso no mercado. Os resultados obtidos com a valorização do café contaram com um importante player do mercado. A empresa italiana Illycafè, reconhecida pela excelência de seu café espresso, utiliza o café arábica brasileiro na proporção de 70% para a formação do seu blend (composto por nove origens de café arábica). No entanto, o fato da desregulamentação do mercado brasileiro ter piorado a qualidade do café trouxe dificuldades à Illycafè para compor o seu blend de forma a manter o mesmo padrão de qualidade de seu espresso. Para contornar a situação, a empresa decidiu realizar um concurso “Prêmio Brasil de Qualidade para Café Espresso”, realizado anualmente para premiar os melhores cafés do Brasil para espresso, visando garantir a qualidade desejada para a formação do blend e a manutenção da qualidade do espresso (NEVES; SAES; REZENDE, 2003). Desde o seu início em 1991, os cafés do cerrado se destacaram pelos bons resultados obtidos pelos cafés nos concursos em que participaram, servindo de estímulo para as estratégias de valorização da marca pelo CACCER18. Essas estratégias foram adicionalmente respaldadas pela publicação da portaria número 165/95 em 27 de abril de 1995 do governo mineiro, que delimitada as regiões 18 A supremacia dos cafés do cerrado fica evidente nos concursos. Nas dez primeiras edições o maior número de ganhadores foi daquela região. Em 1991 dos dez primeiros colocados, cinco eram produtores do cerrado, em 1992 e 1993 a região teve nove ganhadores em cada ano e nas edições de 1997 e 1998 os dez primeiros colocados eram do cerrado. 48 produtoras de café no Estado: Região Sul de Minas, Região dos Cerrados de Minas, Região das Montanhas de Minas e Região do Jequitinhonha de Minas, ver Quadro 2. Região de Minas Características Sul de Minas Compreende as áreas geográficas delimitadas pelos paralelos 21º 13’ a 22º 10’ de latitude e 44º 20’ a 47º 20’ de longitude, abrangendo a Região do Sul de Minas, parte das Regiões do Alto São Francisco, Metalúrgica e Campo das Vertentes. Caracteriza-se por áreas elevadas, com altitude de 700 a 1.080m., com temperatura amena, sujeitas a geada, com moderada deficiência hídrica e possibilidade de produção de bebida fina, sendo que, quando próximas de represas, apresenta elevada umidade relativa, com produção de Café de bebida dura a rio. Cerrado de Minas Compreende as áreas geográficas delimitadas pelos paralelos 16º 37’ a 20º 13’ de latitude e 45º 20’ a 49º 48’ de longitude, abrangendo as Regiões do Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e parte do Alto São Francisco e do Noroeste. Caracteriza-se por áreas de altiplano, com altitude de 820 a 1.100m., com clima ameno, sujeitas a geada de baixa intensidade e com possibilidade de produção de bebida fina, de corpo mais acentuado. Montanhas de Minas Compreende as áreas geográficas delimitadas pelos paralelos 40º 50’ a 43º 36’ de latitude e 18º 35’ a 21º 26’ de longitude, abrangendo as regiões da Zona da Mata, Rio Doce e parte das regiões Metalúrgicas, Campos das Vertentes e Jequitinhonha. Caracteriza-se por áreas montanhosas, com altitude de 400m. a 700m., úmidas, sujeitas a neblina e possibilidade de produção de Café de bebida dura a rio. Jequitinhonha de Minas Compreende as áreas geográficas delimitadas pelos paralelos 17º 05’ a 18º 09’ de latitude e 40º 50’ a 42º 40’ de longitude, abrangendo parte das regiões do Jequitinhonha e Rio Doce. Caracteriza-se por áreas de espigão elevado, com altitude de 1.099m., isentas de geada, com reduzido Índice de insolação, alta umidade e possibilidade de produção de Café de bebida dura a rio. QUADRO 2 – CARACTERÍSTICAS DAS REGIÕES PRODUTORAS DE CAFÉ DE MINAS GERAIS FONTE: IMA (1995) A certificação de origem alcançou outro ganho em abril de 2005, quando a região do cerrado obteve junto ao Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI) a primeira indicação de procedência formal, em nível mundial, para o café. Inovações tecnológicas foram introduzidas, como o geo-processamento que possibilita maior rastreabilidade e melhor gerenciamento da propriedade. Outra inovação agregada ao setor é a possibilidade de acompanhar determinado produto através do código de barras estampado nas embalagens do café, permitindo aos consumidores entrarem no endereço eletrônico do café do cerrado e verificar itens relacionados às suas características e origem dos grãos (SOUZA, 2006). 51 conquistar novos clientes por meio de visitas, palestras, envio de amostras, promoções e degustações dos cafés especiais. 3. Concurso Barista – A realização dos concursos de barista tem por objetivo reunir público que possa se tornar consumidor dos cafés especiais. A arte de se preparar um bom café e a excelência no atendimento realizado pelos baristas contribui para implantar a cultura e o prazer de se beber café de qualidade. 4. Participação em Feiras Específicas para Cafés Especiais – Participar de feiras do setor nos mercados norte-americanos, japonês e europeu, assim como, participação em feiras nacionais. 5. Certificação de Origem – Reforçar e adequar o sistema de certificação já existente. 6. Projeto Comprador – Promover visitas e receber potenciais compradores dos cafés especiais do Brasil, objetiva-se atrair grupos de executivos formadores de opinião para conhecerem as regiões produtoras de cafés especiais no Brasil. As ações propostas pelo Plano de Marketing buscam não apenas valorizar o café especial do Brasil, mas também consolidar e ampliar os mercados para o produto. O Plano proposto consegue abranger tanto novos mercados como consolidar os já existentes e as ações ficam claras nas estratégias adotadas. Em execução desde 2001, o Plano já mostra as primeiras metas consolidadas, que são apresentadas pela BSCA: - o número de associados e fazendas certificadas por origem aumentou para 100 em 3 anos; - uma equipe de representantes comerciais para a comercialização de cafés especiais em 10 países foi constituída; - 50 empresas de torrefação e varejo de cafés especiais foram estimuladas a utilizar as marcas Cafés do Brasil, BSCA e Cup of Excellence; - os blends brasileiros foram difundidos em 10 países; - a comercialização de cafés especiais passou a ser feita também através da internet. Articulada a outras instituições internacionais do setor e também a órgãos públicos brasileiros, a BSCA promove os Cafés do Brasil através de uma forte 52 estratégia de marketing e da oferta de cafés de excelência ao mercado consumidor nacional e internacional. 3.2.3 Cooperativas As primeiras cooperativas de café no Brasil datam de antes do período de crise do setor e surgimento dos cafés especiais na década de 1990. Nesse período, em que as mudanças no segmento de cafés começam a ocorrer, as cooperativas já existentes se adaptaram às novas condições de mercado, nas quais, os cafés especiais ganham espaço relevante e mostram-se como uma estratégia viável para a valorização dos cafés. Assim, as condições enfrentadas pelas cooperativas eram distintas daquelas que se depararam instituições como CACCER e a BSCA, que surgiram no ambiente já modificado. Nesse novo ambiente em que atributos de qualidade e sustentabilidade valorizam os cafés e o diferenciam do produto commodity, as cooperativas interessadas se destacaram nesse novo segmento com a necessidade de modificar suas estratégias de atuação, com vistas a motivar os pequenos cafeicultores a produzir cafés de melhor qualidade. Segundo Urban (2005) As cooperativas enfrentam a difícil tarefa de motivar pequenos produtores desacreditados e desestimulados por crises recorrentes a se inserirem num novo ambiente competitivo pós-regulamentação e a apostarem na possibilidade de uma recuperação financeira, a partir de esforços para aumentar a produção do grão que possa se diferenciar pela qualidade (p.99). A mudança no ambiente competitivo refletiu diretamente na atuação da maior cooperativa de cafeicultores do mundo, a Cooxupé, a qual, fundada em 1932 como uma cooperativa de crédito agrícola, a partir de 1957 se transformou em uma cooperativa para os cafeicultores. Atualmente essa cooperativa conta com mais de 11 mil cooperados e cerca de 1.800 colaboradores, recebendo o café produzido em mais de 100 municípios localizados nas regiões Sul de Minas, Cerrado Mineiro e Vale do Rio Pardo, do estado de São Paulo (COOXUPÉ, 2009). A atuação da cooperativa nos cafés especiais remete à década de 1950 quando instrumentos de classificação dos grãos e separação dos lotes em seus 53 armazéns proporcionaram maior padronização ao café produzido por seus cooperados. As ferramentas de classificação e separação por lotes levaram a um aumento na quantidade exportada pela cooperativa, que negociava diretamente parte dos seus cafés. No entanto, é a partir dos anos 2000 que a Cooxupé ingressa efetivamente no segmento de cafés especiais, com a criação em 2002 do ‘Departamento de Cafés Especiais’ para os cooperados. A partir disso, a cooperativa criou dois programas de estímulo à produção de cafés de alta qualidade por seus cooperados. O primeiro foi a “Jornada de Excelência Cooxupé” que incentivava a produção de cafés de alta qualidade e selecionavam lotes que se enquadravam como cafés do tipo Gourmet para serem vendidos no mercado com preço prêmio. E o segundo foi uma parceria estabelecida com a Nestlé, iniciada em 2004, que tinha como objetivo tornar a cooperativa fornecedora ‘AAA’ de café para a produção do ‘Nespresso’, o espresso de alta qualidade produzido pela Nestlé19 (SAES, 2008). Além da criação desse Departamento, a Cooxupé realizou duas outras ações relacionadas ao novo ambiente competitivo dos cafés diferenciados. Nessa tendência de mercado, a primeira ação desenvolvida pela Cooxupé foi de vender cafés com marcas próprias e de alta qualidade. A segunda foi realizar uma parceria com duas empresas de chocolate, a belga Guy Becker e a chinesa Liu Jun, para abertura de duas cafeterias Cafechocolat na China (SAES, 2008). A primeira ação tinha o caráter lógico de atuar no segmento de cafés especiais com marcas próprias, não entrando em conflito com as grandes torrefadoras no mercado de varejo. Ou seja, a Cooxupé não entraria em concorrência com os seus maiores clientes na venda de cafés tradicionais. A segunda ação visava à inserção do café em um mercado de potenciais consumidores. Embora tais ações não tivessem como objetivo prévio fomentar o segmento de cafés especiais foram importantes para fortalecê-lo. Assim, embora as cooperativas tenham surgido em um cenário diferente no mercado de café se comparado ao CACCER e a BSCA, o fato de terem suas atividades ligadas fortemente às exportações, fez com que as mesmas passassem a realizar ações de promoção dos cafés brasileiros de alta qualidade. Isso pode ser visto pelas parcerias firmadas com torrefadoras internacionais, concursos de 19 Na safra 2006/2007 faziam parte do programa 390 cooperados que forneceram 176,8 mil sacas de 60kg, das quais, a maior parte produzida por pequenos produtores. O preço prêmio pago por saca foi de R$ 40,00 superior à média do café tradicional. 56 forma sustentável, respeitando exigências de equilíbrio ambiental, ou ainda, por serem comercializados de acordo com condições de comércio justo. Em tais condições os cafés especiais se situam num ambiente competitivo diferente daquele predominante no mercado de cafés tradicionais, os quais estão envolvidos num padrão competitivo cujo foco estratégico é a produção em larga escala de produtos homogêneos, com baixos custos, voltada para o consumo de massa. O ambiente competitivo se aproxima do mercado de concorrência perfeita no qual os cafeicultores são tomadores de preço e buscam explorar vantagens comparativas em relação aos outros produtores, a partir da exploração de recursos abundantes e adequados e do aumento de produtividade. Desse ponto de vista, a vantagem do país na cafeicultura tradicional pode ser interpretada como resultado das vantagens comparativas decorrentes da abundância de terra e trabalho. Aliada a uma estratégia de liderança em custos, essa atividade evolui com base em vantagens comparativas frente a outros países produtores. Embora altamente competitiva, do ponto de vista do baixo custo de produção e da grande quantidade produzida, a atividade cafeeira tradicional sofreu os impactos da desregulamentação do mercado cafeeiro na década de 1990. O fim dos AICs e dos preços controlados põem fim a um longo período de mercado regulado. A crise do sistema cafeeiro, aliada a mudanças no mercado consumidor alterou as bases de competitividade do setor, levando um segmento de produtores a inaugurar um processo contínuo de inovações e explorar aspectos da produção, ignorados até então. Conseqüentemente, emerge da atividade cafeeira tradicional, em crise, o segmento de cafés especiais com uma estrutura produtiva e mercantil diferente da então existente. Com a crise, os cafeicultores buscaram uma estratégia de diferenciação do produto a partir de elementos baseados na melhor qualidade, através dos cafés Gourmet e de Origem e em aspectos relacionados a sustentabilidade e responsabilidade social, através do cafés Orgânicos, Sombreados e de Comércio Solidário. A estratégia de diferenciação, nos termos concebidos por Porter, possibilitou aos produtores adotarem uma postura menos passiva, se comparada aos produtores de cafés tradicionais, na medida em que assumem a condição, proporcionada pelo arranjo institucional do qual participam, de estabelecer os preços no mercado. Como resultado, a estrutura de mercado daí emergente 57 reproduz os termos da concorrência monopolista chamberliniana, segundo os quais os produtores são capazes de se apropriar de prêmios derivados dos produtos diferenciados. Do ponto de vista tecnológico, o segmento de cafés especiais abrange uma gama de inovações que, seguindo a lógica de Schumpeter, consubstanciadas, especialmente num novo produto marcado por novas características tangíveis e intangíveis, introduzidas por um novo processo produtivo e pelas condições de comércio de produtos de melhor qualidade. Pode-se dizer, assim, que tais inovações surgem a partir da recombinação de insumos existentes e da interação do segmento produtor de cafés tradicionais no cenário específico de crise na década de 1990, como um novo paradigma tecnológico e institucional criado para solucionar os problemas encontrados na atividade tradicional. Destaca-se, todavia, que esse novo paradigma tecnológico não exclui totalmente a atividade cafeeira tradicional, uma vez que, a produção de cafés especiais, principalmente pelos produtores de pequeno porte, como uma estratégia de sobrevivência, não constitui uma alternativa exclusiva e segmentada da produção cafeeira. E mais, a trajetória tecnológica associada a essa estratégia, é resultado de soluções encontradas num ambiente de seleção formado a partir da crise da cafeicultura tradicional. A inovação no sentido descrito por Pavitt não se aplica em sua totalidade ao segmento de cafés especiais, uma vez que, o segmento surge de uma necessidade e não apenas pela demanda de fornecedores. Claro que algumas empresas fomentaram esse processo, a Illycafè com os concursos de qualidade e a Nestlé para produção do Nespresso, estas são demandas advindas à jusante, contudo, as inovações desse nicho surgiram muito mais endogenamente, com os produtores buscando as mudanças para sobreviverem no mercado. No âmbito institucional, a nova configuração do mercado de cafés exigiu uma reestruturação das instituições a fim de promoverem os cafés especiais. Nesse novo ambiente, instituições como CACCER, BSCA, Cooperativas e Unily desempenharam papel decisivo para a valorização do café especial exercendo influência sobre os produtores e também sobre o mercado consumidor. Ações desenvolvidas como concursos de qualidade, certificações, valorização da marca, entre outras, aqueceram o mercado de cafés especiais e contribuíram para a visibilidade dos cafés brasileiros enquanto produtos de alta qualidade. 58 Outro ponto importante na produção dos cafés de excelência é a mudança ocorrida no padrão de consumo e num mercado consumidor segmentado, nos quais, são atribuídos novos valores aos cafés, como qualidade, preocupação com meio- ambiente e responsabilidade social. Essa mudança ganhou relevância num mercado mundial globalizado que permitiu aos consumidores influenciarem a produção através de sinais que extrapolam a variação quantitativa da demanda. Mas do que isso, a competitividade dos cafés especiais está crescentemente condicionada por aspectos associados à mudança no padrão de consumo. Para tanto, o maior grau de informação dos consumidores a respeito das características dos produtos e de seus circuito comercial através de mecanismos de rastreabilidade impactando diretamente os preços e a renda dos produtores. Estabelece-se assim, uma relação direta entre o comportamento do consumidor e o nível de renda dos produtores, a partir da qual o processo inovativo no âmbito da produção agrícola evolui. A esses fatores deve ser adicionado o nível de renda per capita nos mercados consumidores, cuja evolução tem favorecido o crescimento da demanda por alimentos diferenciados, entre os quais destaca-se o café. A transmissão dos sinais do mercado consumidor aos produtores depende dos agentes comerciais e das instituições diretamente envolvidas na produção e na diferenciação dos produtores. Isso mostra que, embora tenham ocorrido mudanças no padrão de consumo, o setor produtivo aparece como principal impulsionador de tais mudanças, o que pode ser observado no segmento de cafés especiais com a atuação das instituições em estratégias de marketing na promoção da qualidade. Isso corrobora a visão de Schumpeter de que as mudanças tecnológicas são introduzidas pelos capitalistas através de novos produtos e os consumidores são ‘educados’ a consumir, mesmo sem ter havido uma demanda prévia por determinado produto. 61 REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO ABIC – Associação Brasileira da Indústria do Café. Estatísticas. Disponível em: <www.abic.com.br>. Pesquisado em: 15 de outubro, 2009. BATALHA, M. O.; SILVA, C. A. B. Competitividade em Sistemas Agroindustriais: Metodologia e Estudo de Caso. In: II Congresso Brasileiro de Gestão de Sistemas Agroindustriais – PENSA/FEA/USP, Ribeirão Preto, 1999. BATALHA, M. O; SILVA, A. L. da. Gerenciamento de sistemas agroindustriais: definições e correntes metodológicas. In: BATALHA, M. O. Gestão Agroindustrial: Grupo de Estudos e Pesquisas Agroindustriais. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. 692p. BLISKA, F. M. M. et al. Competitividade da Cadeia Produtiva da Cafeicultura. In: Anais do 42º Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural, SOBER, Cuiabá, 2004. BSCA – Brazilian Specialty Coffee Association. Plano de Marketing. Disponível em: <www.bsca.com.br>. Pesquisado em: fev., 2010. BUENO, N. P. A Nova Economia Institucional e a Historiografia Clássica do Período Colonial Brasileiro. ABPHE, Caxambu – MG, 2003. CACCER – Conselho das Associações dos Cafeicultores do Cerrado. CACCER: apresentação. Disponível em: <www.cafedocerrado.com.br>. Pesquisado em: dez., 2009. CARNEIRO, J. M. T.; CAVALCANTI, M. A. F. D.; SILVA, J. F. da. Porter Revisitado: Análise Crítica da Tipologia Estratégica do Mestre. Revista de Administração Contemporânea. v.1, nº 3, São Paulo, 1997. CASTRO, A. C. Construindo Pontes: Inovações, Organizações e Estratégias como Abordagens Complementares. Revista Brasileira da Inovação. vol.3 nº2, Julho/Dezembro, 2004. CNC – Conselho Nacional do Café. Cafés do Brasil. Disponível em: <www.cncafe.com.br>. Pesquisado em: 12 de janeiro, 2010. 62 COOXUPÉ – Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé Ltda. História da Cooxupé. Disponível em: <www.cooxupe.com.br>. Pesquisado em: dez., 2009. DAVIS, J. H.; GOLDEBERG, R. A Concept of Agribusiness. Boston: Havard University, 1957. DOSI, G. Sources, Procedures and Microeconomic Effects of Innovation. Journal of Economic Literature. XXVI (setembro), 1988. FAO – Food Agriculture Organization of the United Nations. The Market for Organic and Fair Trade Coffee. Roma, 2009. Disponível em: <www.fao.org>. Pesquisado em: jan, 2010. FARINA, E. M. M. Q. Competitividade e Coordenação de Sistemas Agroindustriais: Um Ensaio Conceitual. Revista Gestão e Produção. vol.6, nº 3, dezembro, pp.147- 161, 1999. FERRARI, M. A. R. A Economia Evolucionária/Neoschumpeteriana e o Novo Institucionalismo: em Busca de Explicações Para a Mudança Tecnológica e Institucional. 2006. FIANI, R. Estado e Economia no Institucionalismo de Douglas North. Revista de Economia Política. vol. 23, nº 2 (90), abril/junho, 2003. FLO – Fair Trade Labelling Organizations International. Fair Trade Minimum. Prices and Premium. Disponível em: <www.fairtrade.net>. Pesquisado em: 15 de jan, 2010. FRIEDMANN, H. The Political Economy of Food: a Global Crisis. In Left Review, 197, p.29-57, 1993. GALA, P. A Teoria Institucional de Douglass North. Revista de Economia Política. vol. 23, nº 2 (90), abril-junho/ 2003. GIOVANNUCCI, D.; LIU, P.; BYERS, A. Agregando Valor: Comércio de Café Certificado en Norte América. Ensayos sobre Economía Cafetera. Año 22, nº 25, p.29-49, enero-diciembre, 2009. 63 GOODMAN, D.; REDCLIFT, M. Refashioning Nature. Ed. Routledge, Londres, 1991. HAGUENAUER, L. Competitividade: conceitos e medidas: uma resenha da bibliografia recente com ênfase no caso brasileiro. Texto para discussão número 211, Rio de Janeiro: UFRJ, 1989. IMA – Instituto Mineiro de Agropecuária. Portaria nº 165/95 – Delimita regiões produtoras de café do Estado de Minas Gerais para a instituição do Certificado de Origem, 1995. Disponível em: <www.ima.mg.gov.br>. Pesquisado em: jan, 2010. IPEADATA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Banco de Dados. Disponível em:<www.ipeadata.gov.br>. Pesquisado em: 10 de janeiro, 2010. KRUGMAN, P. Scale Economies, Product Differentiation, and the Pattern of Trade. American Economic Association, vol. 70 (5), p.950-959, 1980. MORVAN, Y. Filière de Production in Fondaments d'economie industrielle, Economica, p.199-231, 1985 NELSON, R. R.; WINTER, S. G. An Evolutionary Theory of Economic Change. Harvard University Press, Cambridge, 1982. NEVES, M. F.; SAES, M. S. M.; REZENDE, C. L. Estudo de caso: illycaffè e os desafios do crescimento no Brasil. In: GIORDANO, S. R.; LELES, C., (Eds.) Cadernos da Universidade Illy do Café, vol.1. São Paulo: Universidade Illy do Café/ Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial- Fundação Instituto de Administração - Universidade de São Paulo- Pensa-Fia-USP, p. 69-121. 2003. NORTH, D. C. Institutions, Journal of Economic Perspectives. Vol. 5, n. 1, p. 97- 112, winter, 1991. OIC – Organização Internacional do Café. Normas para a coleta, transmissão, cálculo e publicação dos preços dos grupos e do preço composto a partir de 1º de outubro de 2001. London: ICO – International Coffee Organization. EB 3776/01 Rev.1, mar. de 2002. 13p. OIC – Organização Internacional do Café. Série de Dados – Trade Statistics. Disponível em: <www.ico.org>. Pesquisado em: jan., 2009.
Docsity logo



Copyright © 2024 Ladybird Srl - Via Leonardo da Vinci 16, 10126, Torino, Italy - VAT 10816460017 - All rights reserved