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Memórias Autobiográficas: Efeitos da Specificidade, Valência e Categoria em Adolescentes, Notas de estudo de Psicologia

Psicologia da MemóriaPsicologia AdolescentePsicologia Clínica

Um estudo sobre as memórias autobiográficas de adolescentes e suas relações com a ideiação suicida, depressão e desesperança. O estudo inclui análises estatísticas de memórias específicas, categorias e valências, revelando tendências interessantes sobre a recuperação de memórias positivas e específicas em adolescentes com baixa média de ideiação suicida, depressão e desesperança.

O que você vai aprender

  • Como as memórias autobiográficas de adolescentes que sofreram traumas precoces diferem em especificidade e valência?
  • Quais são as diferenças na recuperação de memórias autobiográficas entre adolescentes com e sem sintomas de depressão?
  • Como as memórias autobiográficas de adolescentes influenciam a ideiação suicida, depressão e desesperança?

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Copacabana
Copacabana 🇧🇷

4.4

(56)

147 documentos

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Memórias Autobiográficas: Efeitos da Specificidade, Valência e Categoria em Adolescentes e outras Notas de estudo em PDF para Psicologia, somente na Docsity! Adolescência: Ideação Suicida, Depressão, Desesperança e Memórias Autobiográficas INÊS ALEXANDRA NABIÇA CARDOSO DA COSTA Orientador de Dissertação: PROFESSORA DOUTORA MARIA GOUVEIA-PEREIRA Coordenador de Seminário de Dissertação: PROFESSORA DOUTORA MARIA GOUVEIA-PEREIRA Tese submetida como requisito parcial para a obtenção do grau de: MESTRE EM PSICOLOGIA Especialidade em Psicologia Clínica 2012 II Dissertação de Mestrado realizada sob a orientação de Doutora Maria Gouveia Pereira, apresentada no ISPA – Instituto Universitário para obtenção de grau de Mestre na especialidade de Psicologia Clínica conforme o despacho da DGES, nº 19673 / 2006 publicado em Diário da República 2ª série de 26 de Setembro, 2006. V positivas para adolescentes que apresentaram menor média de ideação suicida, depressão e desesperança. Palavras-chave: Adolescência, Depressão, Desesperança, Ideação Suicida e Memórias Autobiográficas. TÍTULO DA DISSERTAÇÃO EM INGLÊS: Adolescence: suicidal ideation, depression, hopelessness and autobiographical memories ABSTRACT The aim of our study is to understand if depression, hopelessness and suicidal ideation were correlated and if the type of recall of autobiographical memories for the words family, friends and school, at the specificity, valence and categories, influences the first three variables. For that, we applied a task of autobiographical memories where was asked to recall three memories concerning the words family, school and friends, the Scale for self-rating Depression (DSRS), the Beck Hopelessness Scale (BHS) and the questionnaire of suicidal ideation (QIS). The results suggested that suicidal ideation, depression and hopelessness are positively and strongly correlated. They also suggested that the recall of autobiographical memories related to the words family and friends did not influence suicidal ideation, depression or hopelessness. To the recall of autobiographical memories related to the word school, we only found that the variable category has one main effect on depression. Although the results regarding the prevalence and specificity of autobiographical memories for the words family, friends and school did not show statistically significant differences, we found a trend toward recovery of specific memories and positive memories for adolescents who had lower average suicide ideation, depression and hopelessness. Key-words: Adolescence, Depression, Hopelessness, Suicide Ideation and Autobiographical Memories. VI ÍNDICE INTRODUÇÃO CAPÍTULO I - ENQUADRAMENTO TEÓRICO Adolescência A adolescência e as suas tarefas de desenvolvimento A importância da família, dos amigos e da escola no processo de construção de identidade e autonomização do adolescente Depressão Desesperança Ideação Suicida Fatores de risco e fatores protetores Comportamentos suicidários na adolescência Memórias autobiográficas Funções das memórias autobiográficas Evocação de memórias autobiográficas A recordação de memórias autobiográficas na adolescência CAPÍTULO II - OBJETIVO E HIPÓTESES DO ESTUDO CAPÍTULO III - MÉTODO Participantes Instrumentos Escala de Auto-Avaliação da Depressão (DSRS) Inventário da Desesperança de Beck (BHS) Questionário de Ideação Suicida (QIS) 1 2 2 2 4 7 10 14 16 17 19 20 21 23 26 28 28 29 29 30 30 VII Tarefas de Memórias Autobiográficas Procedimento CAPÍTULO IV – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Análise descritiva das variáveis mais relevantes Apresentação e discussão dos resultados relativos às hipóteses CAPÍTULO V - CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXOS ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1: Distribuição dos sujeitos por idade e ano de escolaridade Tabela 2: Distribuição dos sujeitos por idade e sexo Tabela 3: Distribuição dos sujeitos por conhecimento de alguém que tenha cometido suicídio e sexo Tabela 4: Análise descritiva das variáveis depressão, desesperança e ideação suicida. Tabela 5: Diferença de médias entre sexo em relação à depressão, desesperança e ideação suicida Tabela 6: diferença de média entre as ideias suicidas e tentativas de suicídio em reção a conhecer alguém que tenha cometido suicídio Tabela 7: Percentagem da especificidade das memórias recordadas referentes 31 31 33 33 37 53 55 65 28 28 29 33 34 34 35 X Anexo 4.3: Resultados do teste T-Student para caracterização do sexo face à depressão, desesperança e ideação suicida Anexo 4.4: Resultados do teste T-Student para caracterização dos sujeitos que conheceram alguém que tivesse cometido suicídio face às ideias suicidas e tentativas de suicídio Anexo 4.5: Frequência da especificidade, valência e categoria das memórias autobiográficas recordadas para as palavras família, amigos e escola Anexo 5: Análise estatística para testar a hipótese 1 Anexo 5.1: Correlações de Pearson para a ideação suicida, depressão e desesperança Anexo 6: Análise estatística para testar a hipótese 2 Anexo 6.1: Anova Two-way para a especificidade, valência e categoria das memórias autobiográficas referentes à palavra família em função da Ideação Suicida Anexo 6.2: Anova Two-way para a especificidade, valência e categoria das memórias autobiográficas referentes à palavra família em função depressão Anexo 6.3: Anova Two-way para a especificidade, valência e categoria das memórias autobiográficas referentes à palavra família em função da desesperança Anexo 7: Análise estatística para testar a hipótese 3 Anexo 7.1: Anova Two-way para a especificidade, valência e categoria das memórias autobiográficas referentes à palavra amigos em função da Ideação Suicida Anexo 7.2: Anova Two-way para a especificidade, valência e categoria das memórias autobiográficas referentes à palavra amigos em função depressão Anexo 7.3: Anova Two-way para a especificidade, valência e categoria das memórias autobiográficas referentes à palavra amigos em função da desesperança Anexo 8: Análise estatística para testar a hipótese 4 87 88 89 93 93 94 94 98 103 108 108 112 117 122 XI Anexo 8.1: Anova Two-way para a especificidade, valência e categoria das memórias autobiográficas referentes à palavra escola em função da Ideação Suicida Anexo 8.2: Anova Two-way para a especificidade, valência e categoria das memórias autobiográficas referentes à palavra escola em função depressão Anexo 8.3: Anova Two-way para a especificidade, valência e categoria das memórias autobiográficas referentes à palavra escola em função da desesperança Anexo 9: Exemplos das categorias das memórias recordadas para as palavras família, amigos e escola 122 127 136 141 1 INTRODUÇÃO A adolescência é uma fase muito particular do desenvolvimento humano, onde o jovem já não é criança mas também ainda não é adulto, pressupondo assim tarefas de desenvolvimento específicas. Nesta fase, os comportamentos suicidários tomam proporções alarmantes, tendo sido considerados, nos países europeus, a segunda causa de morte dos jovens (Sampaio et al., 2000). A ideação suicida, pensamento ou ideia suicida, é um fator preditivo do suicídio e, associados a esta variável, têm sido encontrados grupos de risco, nomeadamente ser do sexo feminino, consumir álcool ou drogas e ter familiares que se suicidaram (Fensterseifer et al., 2004; Ferreira e Castela, 1999; Souza et al., 2009). Outras duas variáveis que têm sido amplamente estudadas e que estão associadas a estes pensamentos são a depressão e a desesperança. Os estudos sugerem que nos adolescentes, ao contrário do que acontece em adultos, a depressão adquire um papel mais importante na ideação suicida que a desesperança. Ao longo das últimas décadas, o papel das emoções e de algumas perturbações emocionais tem sido estudado no processamento da informação, nomeadamente em relação às memórias autobiográficas. Segundo Tulving (1972, citado por Tulving, 1973) estas memórias dizem respeito a recordações de eventos experienciados pessoalmente num determinado espaço e tempo. O tipo de memórias que recordamos, involuntariamente ou através de um estimulo, não são as mesmas ao longo da vida, estando geralmente relacionadas com as preocupações atuais do sujeito. Neste sentido, o objetivo geral deste trabalho é perceber de que forma a ideação suicida, a depressão e a desesperança estão relacionadas com o tipo de memórias autobiográfica que recordamos. Assim, no primeiro capítulo, será apresentada uma revisão de literatura sobre os temas anteriormente abordados – Depressão, Desesperança, Ideação Suicida e Memórias Autobiográficas - que justificam o propósito da realização deste estudo. No segundo capítulo, será apresentado o objetivo e as hipóteses do estudo, no terceiro capítulo a amostra e metodologia utilizada e, no quarto capítulo serão mostrados os resultados e a sua respetiva discussão. A apresentação das conclusões que consideramos mais importantes para se perceber se a depressão, a desesperança e a ideação suicida estão correlacionadas e, de que forma o tipo de recordação de memórias autobiográficas influência estas três variáveis, serão apresentadas no quinto capítulo. 4 - Tempos livres, relacionado com a ocupação de forma útil dos tempos livres em que não estão na escola, no trabalho ou a realizar tarefas domésticas; - Hierarquia, que inclui ter a capacidade de comunicar e contactar com várias figuras de autoridade, como por exemplo o professor, o diretor de um serviço, o médico, o polícia, o presidente da câmara, o empregado de balcão, entre outros; - Saúde e aparência, que se prende com o cuidado do próprio visual e da saúde, tal como tomar medidas preventivas face a determinadas doenças; - Relacionamento, referente à escolha dos amigos, a construir e manter amizades e fazer a distinção entre amigos e contactos sociais; - Intimidade e Sexualidade, que se prende com a capacidade de construir e preservar a própria intimidade e, viver os afetos e a sexualidade de forma responsável e saudável. A importância da família, dos amigos e da escola no processo de construção de identidade e autonomização do adolescente É na fase da adolescência que os jovens começam a desenvolver um pensamento mais elaborado, questionando-se sobre si próprio e sobre o que os rodeia, conseguindo diferenciar as suas ideias e opiniões das ideias e opiniões dos outros (Bradley, 2003). Com esta mudança ao nível do pensamento, o adolescente desenvolve novas necessidades face aos papéis desempenhados pelos vários elementos da família, sendo inevitável uma mudança na estrutura familiar. Os pais deverão encontrar um novo papel para desempenhar na vida do adolescente, como também no mundo exterior, sendo a independência do filho complementar à sua. Nesta reorganização, para além de ser frequente os pais investirem mais no trabalho, é também frequente ocorrerem alguns divórcios (Gammer e Cabié, 1999), uma vez que os problemas conjugais deixam de estar encobertos pela preocupação tida com os filhos (Pinto, 2010). Dartington perguntou aos adolescentes e aos pais o que esperavam e desejavam da sua vida familiar e, dentro das diversas respostas, as mais frequentes foram: a proteção da exposição pública, o que implica não partilhar questões íntimas e pessoais do adolescente; proteção da humilhação desnecessária, que se prende com não contar a outros situações embaraçosas que o adolescente viveu e que o possam fazer sentir humilhado; capacidade de negociação, que implica um acordo entre ambas as partes; um lugar privado, onde o adolescente saiba que ninguém mexe sem o seu consentimento; oportunidade de observar como os adultos falam e se relacionam uns com os outros, principalmente quando os incluem 5 nas atividades que estão a realizar e, espaço para se afastar dos desejos e das aspirações familiares, começando a conquistar alguma autonomia (Dartington, 2003) De acordo com Powers, Hauser e Kilner (1989, citado por Petersen et al., 1993) a adolescência não é uma fase problemática, podendo o jovem manter relações próximas em simultâneo tanto com a família como com os amigos. Contudo, outros autores referem que o facto dos adolescentes passarem mais tempo com o grupo de pares, partilhando os seus pensamentos e intimidade, faz com que estes se afastem dos pais, acabando por existir divergências de crenças, atitudes e valores (Palmonari, Kirchler e Pombeni, 1991). Os conflitos que ocorrem com os pais nem sempre são pacíficos, querendo muitas vezes o jovem substituir os pais por figuras idealizadas, confrontando-os por exemplo com o facto dos pais dos colegas serem melhores do que eles, ou começando a idolatrar figuras públicas cujos valores são muito diferentes daqueles que os pais defendem (Rodrigues e Machado, 2002). Como nesta fase a identidade ainda se está a formar, para além da necessidade de mudança, também existe o medo de perder esses valores e crenças já adquiridos, podendo o jovem ser agressivo com os pais ou procurar a sua proteção e consolo (Gammer e Cabié, 1999). Como defesa contra esta perda de identidade que ocorre na adolescência, Erikson (1972) defende que os adolescentes constituem grupos do mesmo sexo, com pares que apresentam características semelhantes entre si (por exemplo ao nível dos gostos, dos ideais, da cultura e do vestuário), com o objetivo de projetar a sua imagem no outro e conseguirem verem a sua própria imagem refletida, tendo uma melhor perceção de si. Outra estratégia utilizada contra a perda de identidade, desta vez recorrendo a meios destrutivos, é o afastamento de grupos não semelhantes a si, sendo intolerantes e desadequados face à diferença. Halligan e Philips (2010) realizaram uma investigação com o objetivo de estudar a influência do grupo de pares com tendências de atribuição hostis, sugerindo os resultados uma correlação significativa entre os níveis de hostilidade dos adolescentes e os níveis de hostilidade do seu grupo de pares, ocorrendo especificamente quando a amizade é reciproca. Também Kiuru, Nurmi, Aunola e Salmela-Aro (2009), estudaram o papel dos grupos de pares na trajetória educacional dos adolescentes e concluíram que a trajetória educacional, no que respeita à transição para o ensino secundário ou para cursos profissionais foi semelhante entre os membros dos grupos de pares, tal como a orientação académica ao longo do curso (performance escolar, onde queriam ingressar e se efetivamente o fizeram). 6 O que os rapazes e as raparigas procuram e esperam de um grupo geralmente não é consonante. Os rapazes tendem a procurar apoio na resolução de conflitos, principalmente com figuras de autoridade, enquanto que as raparigas preferem alguém confidente com quem seja possível partilhar questões intimas e conhecimento (Cole e Cole, 2004). De acordo com um estudo realizado por Newman, Lohman e Newman (2007), as raparigas relatam mais problemas referentes a questões internas, enquanto que os rapazes relataram mais problemas referentes a questões externas. Foi também encontrado um sentimento de pertença ao grupo superior nas raparigas que nos rapazes e o sentimento de pertença ao grupo foi negativamente associado a problemas referentes a questões internas ou externas. Foram ainda encontrados menos problemas de comportamento em adolescentes que consideraram como muito importante pertencer a um grupo e que tiveram um sentimento positivo de pertença ao grupo, do que em adolescentes que nas mesmas condições não tiveram um sentimento positivo de pertença ao grupo. Também num estudo realizado por Pinto (2010), os resultados sugeriram que as raparigas vivenciam a separação familiar mais harmoniosamente que os rapazes, envolvendo- se mais com o grupo de pares, tendo relações familiares protetoras e de suporte, enquanto que os rapazes apresentam maior tendência para a rejeição de regras e para ter comportamentos de risco. Para os adolescentes é fundamental que os pais aceitem o seu grupo de pares, pois sentem que as suas escolhas estão a ser respeitadas. Se o filho sentir que os pais confiam nele, a autonomia é promovida, conseguindo o filho investir no grupo de pares sem grandes medos. Pode então começar a ter “ensaios exploratórios” e tomar decisões de forma protegida, ficando a relação familiar salvaguardada. Nesta fase, os pais devem optar por centrar-se mais em temas neutros ou atividades lúdicas na relação com o filho. (Pinto, 2010) Palmonari, Kirchler e Pombeni (1991) realizaram um estudo com o objetivo de perceber a influência da identificação com a família e com o grupo de pares, na realização das tarefas de desenvolvimento dos adolescentes. Os resultados sugerem que os adolescentes que se identificaram com a família e com o grupo de pares, estão mais aptos para se autonomizar e fazer a transição da adolescência para a fase adulta do que aqueles que só se identificaram ou com a família ou com o grupo de pares. Embora nesta idade o jovem tenda a esconder algumas experiencias dos pais, como por exemplo experimentar drogas, dar o primeiro beijo ou ter a primeira relação sexual, se este precisar de ajuda ou se a situação o afligir, tende a dar sinais aos adultos, ainda que de forma inconsciente (Rodrigues e Machado, 2002). 9 Segundo Laufer, M. E. (2000), para abordarmos o tema da depressão na adolescência é necessário ter em consideração os desafios que esta nova fase apresenta para os jovens e as tensões que naturalmente lhes estão subjacentes. Deve-se então distinguir a depressão que ocorre pontualmente daquela que persiste no tempo. A primeira diz respeito às consequências das crises ditas normais da adolescência, que podem ser referentes a problemas de relacionamento com os pais ou com a escola, com sentimentos de rejeição social, com insatisfação face à aparência, entre outros. A segunda afeta o normal funcionamento do adolescente, levando-o a um estado de desesperança que o impede de lutar. Este sentimento prolongado de tristeza interfere geralmente nos ciclos de sono, nos hábitos alimentares, na auto-estima e nas relações sociais, provocando fadiga, dificuldades de concentração e tomada de decisões, baixo rendimento escolar e isolamento social. Durante a fase da adolescência, os sintomas referentes à depressão podem também manifestar-se através da irritação, ao invés da tristeza (Acosta-Hernández et al., 2011). Sabe-se que a depressão Major é a principal causa do comportamento suicida em adolescentes, tendo os adolescentes pensamentos sobre a morte e o suicídio, assumindo, entre outros, que os outros ficariam mais felizes se ele não estivesse vivo. Embora não seja possível prever se um adolescente vai suicidar-se, sabe-se que as pessoas que estão em menor risco de suicídio são aquelas que pensam nesta questão uma ou duas vezes por semana, enquanto que as que estão em maior risco são aquelas que já adquiriram os materiais para cometer o ato suicida (Acosta-Hernández et al., 2011). A depressão não tem origem numa só causa mas sim em diversos fatores que aumentam a probabilidade da sua ocorrência, entre eles destacamos: fatores genéticos e biológicos - ser filho de pais que sofrem de depressão ou entrar na puberdade mais tardiamente; fatores psicológicos - imagem corporal negativa, baixa auto-estima ou problemas de ansiedade; fatores referente aos pares - baixa popularidade, experiências de rejeição, contacto reduzido com os amigos ou mesmo não haver proximidade com um melhor amigo; e fatores familiares - indisponibilidade emocional dos pais, relações disfuncionais entre pais e filhos, falta de coesão familiar, conflito conjugal, dificuldades financeiras e divórcio dos pais. O stress a que os adolescentes estão sujeitos diariamente ou em acontecimentos específicos é outro fator que aumenta o risco de depressão (Petersen et al., 1993). Cardoso, Rodrigues e Vilar (2004) realizaram um estudo com o objetivo de caracterizar a população adolescente em função de determinadas variáveis associadas aos sintomas depressivos. 11% dos jovens evidenciaram sintomas depressivos, tendo estes 10 prevalecido quando a mãe não era licenciada, quando os jovens viviam só com a mãe, quando estavam frequentemente doentes, quando tiveram doenças graves, quando estiveram internados ou tiveram familiares doentes, quando consumiam tabaco e bebidas alcoólicas, quando não gostavam da sua escola ou quando tinham valores elevados de insucesso escolar e quando não desejavam concluir uma licenciatura. A percentagem de raparigas com sintomas depressivos foi superior à dos rapazes. Os transtornos depressivos aumentam significativamente a partir dos 14 anos, sendo as raparigas duplamente mais afetadas que os rapazes, podendo, na população feminina, dever-se às alterações hormonais que ocorrem durante a fase da adolescência (Acosta-Hernández et al., 2011). Este facto pode ainda ser demonstrativo de uma maior resistência por parte dos rapazes em expressarem sofrimento e sintomas (Cardoso, Rodrigues e Vilar, 2004). Cruz, Sanfins, Lemos, Maltez e Felix (1999) realizaram um estudo para perceber de que forma a corporalidade e os acontecimentos biográficos significativos para o adolescente afetam a depressão. A grande maioria dos adolescentes com depressão apresentaram como acontecimentos biográficos mais importantes “problemas de relacionamento com os pais ou com pessoa íntima”, seguido de “nova amizade” e “sucesso nos estudos”. Relativamente à corporalidade, adolescentes deprimidos apresentaram uma percentagem mais elevada de problemas com a corporalidade e imagem de si do que os outros. Desesperança Stotland (1969, citado por Minkoff, Bergman, Beck e Beck, 1973) definiu desesperança como um sistema de esquemas cognitivos onde as expectativas negativas acerca do futuro são denominador. Até à data, a desesperança era vista como um conceito vago e impossível de ser estudado de forma sistemática. Para Stotland, um individuo que não tem esperança no futuro acredita que nada lhe irá correr bem, que nunca terá sucesso em nada que faça, que não conseguirá alcançar os seus objetivos e que o seu problema mais significativo nunca será resolvido. Beck (1963, citado por Minkoff, Bergman, Beck e Beck, 1973), através da observação de 50 pacientes deprimidos que estava a acompanhar, constatou que os pensamentos acerca do suicídio surgiam quando os sujeitos percecionavam o seu problema ou situação desesperançada como insustentável e impossível de solucionar. Após algum tempo de estarem a ser acompanhados por Beck, estes pacientes já conseguiam percecionar a sua antiga falta de esperança como uma distorção cognitiva ou como premissas erróneas e irrealistas. 11 Estudos posteriores encontraram resultados semelhantes, colocando a falta de esperança como um fator importante para que o suicídio ocorresse (Farber, 1968, e Kobler e Stotland, 1964, citado por Minkoff, Bergman, Beck e Beck, 1973). Curiosamente, Fragoso Mendes (1979, citado por Santos, 1998), define o suicídio como um comportamento que configura desesperança ou anulação do sentido da existência. Desde a década de 60 que diversos autores se têm debruçado sobre o papel das cognições no humor, em particular no que diz respeito à ideação e comportamento suicida. Abramson et al. (1987, 1988a, b, citado por Alloy, Abramson, Metalsky, Hartlage, 1988) reformularam a teoria do desamparo (helplessness theory) de Seligman de 1975 e chamaram- na de teoria da desesperança da depressão (hopelessness theory of depression). Esta teoria postula, no essencial, a desesperança como a causa de um subtipo de depressão, a “depressão desesperançada”, cujos sintomas incluem o comportamento suicida. Os autores descrevem a depressão como uma variável multifatorial, onde estão presentes 3 tipos de fatores: os que são necessários para que os sintomas da depressão se manifestem; os que não sendo necessários, se estiverem presentes contribuem para a manifestação dos sintomas; e aqueles que servem para aumentar a probabilidade dos sintomas ocorrerem, independentemente de serem ou não necessários. A desesperança encontra-se situada no segundo tipo de fator anteriormente mencionados. Esta teoria avança também a hipótese de existir uma sequência de eventos que culminem nos sintomas da depressão, sumariamente: Vários estudos têm sido realizados com o intuito de analisar a relação existente entre a desesperança, a depressão e o pensamento ou comportamento suicida. Minkoff, Bergman, Beck e Beck (1973) encontraram uma correlação positiva entre a desesperança e a intenção suicida, tal como entre a depressão e a intenção suicida. Foi Sintomas da depressão desesperançada: 1.Sintomas motivacionais 2. Sintomas cognitivos 3. Sintomas emocionais 4. Baixa auto-estima Expectativas de desesperança Eventos de vida negativos Atribuição global para eventos de vida negativos e elevada importância dada a esses eventos Se a atribuição for estável é internalizada 14 em Hong Kong e adolescentes que vivem nos Estados Unidos. Relativamente aos resultados, a auto-eficácia, a desesperança e os erros cognitivos foram correlacionados positivamente com a ideação suicida nas duas culturas, sendo a desesperança a variável cognitiva mais fortemente correlacionada. Também em ambas as culturas a desesperança e a depressão foram preditivas da ideação suicida. Ideação Suicida A palavra suicídio tem a sua origem no latim, de sui (se si) e cædere (matar), designando a morte de si ou do próprio (Santos, 1998). De acordo com Sampaio (1989), o suicídio pode ser definido como uma estratégia desesperada de libertação que ocorre quando já foram utilizadas todas as estratégias conhecidas para comunicar a tristeza e a solidão, não sendo somente um ato individual, mas também um ato cheio de mensagens. Devido aos números alarmantes de atos suicidas, o suicídio tem sido considerado um problema de saúde pública, tendo sido estimado pela Organização Mundial de Saúde (2002, citado por Gonçalves, Freitas e Sequeira, 2011) que, no ano de 2000, um milhão de pessoas cometeram suicídio em todo o mundo. Particularmente nos países europeus e, no que diz respeito aos jovens, o suicídio tem sido considerada a segunda causa de morte, sendo a primeira referente a acidentes (Sampaio et al., 2000). Existem diferentes formas do sujeito causar lesões a si próprio e, de acordo com a literatura específica da suicidologia, o comportamento suicida engloba três conceitos: a ideação suicida, caracterizada por pensamentos ou ideias acerca do suicídio e/ou planeamento da própria morte do sujeito; a tentativa de suicídio, referente a um ato levado a cabo com o intuito efetivo de pôr termo à vida; e o suicídio consumado, onde o ato anteriormente levado a cabo culminou na morte do sujeito. O termo parassuicidio é também amplamente referido na literatura, diferindo da tentativa de suicídio no facto de não existir o objetivo final de pôr termo à vida, sendo o grau de intenção letal muito inferior ao da tentativa de suicídio (Gonçalves, Freitas e Sequeira, 2011). Embora seja nosso objetivo estudar apenas a ideação suicida, dificilmente conseguiremos isolar este conceito, uma vez que é muito frequente os pensamentos acerca do suicídio serem silenciados a amigos e familiares (M. Laufer, 2000), despertando apenas estes para o facto do jovem não estar bem quando ocorre um comportamento mais grave, como uma tentativa de suicídio (Gonçalves, Freitas e Sequeira, 2011). 15 Segundo Stengel (1980), o único objetivo de alguém tentar suicidar-se seria pôr termo à vida, contudo, existem muitos sujeitos que após tentativas de suicídio afirmam que lhes eram indiferente estar vivos ou mortos, ou negam a intensão evidente de se terem tentado matar. Para o autor, o facto do ato não ser bem sucedido, seria devido à intensão não ter sido suficientemente forte e genuína, ou devido ao sujeito ter ignorado que o método que iria utilizar tinha limitações, ou, ainda, devido a problemas de saúde mental que tiram a compreensão e o poder de decisão adequado. Stengel (1980) acha que o comportamento suicida deve ser resultante da junção de duas necessidades: causar dano a si próprio e, sentir que aqueles que lhe são próximos gostam de si e sentem tristeza e remorso pelo sucedido, agindo posteriormente em consonância com esse sentimento. Neste sentido e, segundo Sampaio (1989), mesmo que o ato suicida possa parecer individual e caracterizado por um grande isolamento, existe sempre uma vertente interativa e interrelacional, sendo bastante comum a pessoa comunicar previamente a sua intensão na esperança de ser salva. Os estudos demonstram que em mais de 50% dos casos, indivíduos que atentaram contra a própria vida comunicaram previamente o seu intuito a familiares, ao médico assistente e aos amigos. O suicídio deve ser entendido não só tendo em consideração o fator especifico que o desencadeou, como por exemplo o fim de uma relação, mas também tendo em consideração a história e personalidade do sujeito. Embora muitas vezes a ideação suicida apareça nos jovens sob forma de “apelo” ou “desafio”, deve ser valorizada ao invés de menosprezada ou ignorada, principalmente quando associada aos fatores de risco (Sampaio, 1989). Numa perspetiva mais cognitivista, o pensamento suicida tem origem em distorções cognitivas (Freeman e Reineck, 1993, citado por Soeiro 2006): Pensamento dicotómico (pensamento extremado e pouco flexível de tudo ou nada), sentimento de catástrofe (dificuldades percecionadas de forma exagerada), sobregeneralização (todas as vivências são generalizadas e construídas de acordo com um acontecimento negativo isolado), abstração seletiva (foco na informação ou vivências que apoiam as crenças de desespero), inferência arbitrária (conclusões tiradas independentemente dos factos suportados pela realidade), maximização ou minimização (eventos de vida negativos são valorizados e eventos positivos desvalorizados), racionalização emocional (confusão entre o que se sente e o que se é), condicionalismos (crenças disfuncionais que condicionam a finalização de projetos), rotulagem (sobregeneralização negativa referentes a 16 erros e imperfeições), personalização (interpretação de vivências externas como vivências pessoais), controlo de falácias (a falta de controlo vivida nalgumas situações é generalizada para todas as situações), pensamento comparado (comparação permanente com os outros), desqualificação do positivo (frases começadas por “sim, mas…”) e, falácia do belo (crença de que todas as experiencias têm de estar inseridas na categoria “belo”). Fatores de risco e fatores protetores Embora não seja possível prever se uma pessoa vai suicidar-se, é possível identificar fatores riscos (Jain, Singh, Gupta e Kumar, 1999). Um dos fatores de risco para que o comportamento suicida ocorra é a ideação suicida, onde estão presentes desejos, cognições, atitudes ou planos suicidas (Fensterseifer et al., 2004; Ferreira e Castela, 1999). No âmbito da intervenção precoce e, de forma a explorar quais os fatores associados à ideação suicida, Souza et al. (2009) realizaram um estudo, cujos resultados demonstraram que os fatores associados à ideação suicida são: ser do sexo feminino, consumir álcool e drogas ilícitas, apresentar sintomas depressivos e sintomatologia que indiquem transtorno de conduta. Fawcett (1990, citado por Jain, Singh, Gupta e Kumar, 1999), demonstrou que a desesperança e a história passada de comportamentos suicidas são preditores a longo prazo do suicídio, enquanto que a anedonia, sintomas de ansiedade e a dificuldade de concentração são apenas preditores a curto prazo. Outro estudo que vai de encontro a esta ideia, de que a desesperança é preditiva do suicídio, foi realizado por Jain, Singh, Gupta e Kumar (1999). O objetivo do estudo foi investigar a severidade e relação da depressão, da desesperança e da intenção suicida em adolescentes e adultos admitidos no hospital, após tentativa de suicídio. Os resultados demostraram que houve uma relação fortemente significativa entre a intenção suicida e a desesperança, entre a desesperança e a depressão e, entre a depressão e a intenção suicida. Foi também verificado que os pacientes deprimidos tiveram valores mais elevados na escala de desesperança. Também Borges et al. (2004) realizaram um estudo com adolescentes de forma a poder caracterizar a ideação suicida face à depressão e desesperança. Os resultados sugerem que 36% têm ideação suicida, existindo também uma associação significativa entre a ideação suicida a depressão e desesperança. 19 Memórias Autobiográficas Os primeiros autores a estudar as memórias autobiográficas foram Galton e Freud, ainda que em linhas de trabalho distintas. Galton tinha como objetivo descrever, quantificar e codificar as memórias de forma a criar uma taxonomia das recordações, enquanto que, Freud, tinha como objetivo tratar a neurose através da exploração da história de vida do sujeito (Robinson, 1986). Numa fase inicial, Galton (1883) pedia aos sujeitos que recordassem a mesa do pequeno-almoço e a definissem em termos de iluminação, nitidez e cor mas, como este método não permitia dar a devida atenção aos processos do pensamento, começou a utilizar o método da associação livre de ideias, fornecendo uma palavra a si próprio e pensando livremente acerca dela. Embora este último método fosse melhor que o anterior, nem todas as memórias que surgiam eram autobiográficas e, de forma a colmatar esta falha, Crovitz e Schiffman (1974) alteraram a instrução dada, pedindo aos sujeitos para pensarem nas palavras fornecidas até conseguirem associa-las a uma memória autobiográfica. Embora existam diferentes métodos para recordar memórias autobiográficas, este último tem sido um dos mais utilizados, diferindo as palavras fornecidas de estudo para estudo, consoante o seu objetivo. Segundo Tulving (1972, citado por Tulving, 1973), as memórias autobiográficas podem ser definidas como recordações de eventos experienciados pessoalmente, num espaço e num tempo definidos. Estas memórias, episódicas, diferiam das memórias semânticas no sentido em que as segundas seriam apenas referentes a conceitos, sem relação espácio- temporal, ou seja, sem manutenção do contexto. A memória episódica é uma memória de longo prazo, declarativa e com capacidade de armazenamento de informação ilimitada, tendo uma função associativa entre diferentes tipos de informação, nomeadamente visual, espacial e temporal, originando assim um estímulo complexo ao qual se denomina de “evento” (Carrillo-Mora, 2010). De acordo com Tulving (2002), para que uma memória seja considerada episódica, é necessário que se conheça o “quê”, o “onde” e o “quando” e, para que estas sejam recordadas, são necessárias 3 condições: um sentido de tempo subjetivo que nos permite viajar no tempo através da mente; uma consciência autonoética que nos permite estar conscientes de que existe um tempo subjetivo, diferente do tempo real; e, um self que consiga viajar num tempo subjetivo. Assim, este tipo de memória é a única que nos permite, de forma consciente, voltar a experienciar acontecimentos passados com precisão temporal. É este tipo de memória que dá sentido à expressão usualmente utilizada “recordar é viver” (Carrillo-Mora, 2010). 20 Brewer (1986), utilizou a terminologia de memórias pessoais para falar de memórias autobiográficas, definindo-as como “memórias para informação relacionada com o Self” (p. 26), que apareceriam num tempo e num local específico. As memórias pessoais seriam então a recordação de episódios específicos do passado do sujeito, acompanhados pela crença de que ocorreram efetivamente no passado do sujeito e que estariam a ser reproduzidos tal e qual como os eventos ocorreram originalmente. Funções das memórias autobiográficas Robinson (1986) referiu que “as memórias da vida dizem-nos qualquer coisa acerca do recordar e acerca de quem recorda” (p. 19) Embora a lembrança involuntária de uma memória possa parecer aleatória e desprovida de significado, as suas funções são diversas e, episódios específicos que são lembrados têm geralmente aspetos sobrepostos às preocupações atuais do sujeito, o que não significa que digam respeito ao contexto de recordação. Assim, estas memórias tornam-se fundamentais para a manutenção do self, para dar um sentido de continuidade de forma a ampliar o horizonte temporal subjetivo, para a reavaliação de comportamentos passados de forma a resolver problemas atuais, para atualizar a nossa existência pessoal de uma forma automática e para recordar ou reconstruir partes de informação que estão armazenadas na memória a longo prazo (Rasmussen & Berntsen, 2009). Neste sentido e, de acordo com as teorias vigentes, pode dizer-se que as memórias autobiográficas têm 3 funções gerais: diretiva (guia pensamentos e comportamentos presentes e futuros, auxilia na motivação, no planeamento e na resolução de problemas), individual (proporciona conhecimento do self tendo em consideração a história de vida passada) e social (facilita relações sociais presentes e futuras apoiando-se em comportamentos passados e, facilita a comunicação, empatia e intimidade quando as memórias são partilhadas com outros) (Rasmussen & Berntsen, 2009). Pensa-se que as funções das memórias autobiográficas nem sempre são as mesmas ao longo da vida. Cohen (1996, citado por Schlagman, Schulz & Kvavilashvili, 2006), sugere que com o avançar da idade os sujeitos começam a preocupar-se mais com o seu bem-estar e menos com funções sociais, ou seja, em idades mais jovens as funções seriam mais do âmbito interpessoal (interação e ajuda social) e, em sujeitos idosos seriam mais do âmbito intrapessoal (preservação do conceito de self e promoção da satisfação emocional). 21 Assink e Schroots (2011) realizaram um estudo longitudinal com o objetivo de estudar diversos aspetos das memórias autobiográficas e verificaram que os conteúdos das memórias variaram em função da idade (os jovens adultos recordaram menos memórias referentes a trabalho do que os sujeitos de meia idade e idosos e, os idosos recordam menos memórias referentes a escola e mais referentes a saúde, comparativamente com os outros dois grupos) e do sexo (as mulheres recordaram mais memórias referentes a saúde e nascimentos e os homens referente a trabalho). Também Conway e Holmes (2004, citado por Antalíková et. al., 2011) realizaram um estudo onde pediram para que os sujeitos recordassem memórias de décadas específicas, sugerindo os resultados que o conteúdo recordado refletiu a fase de desenvolvimento de cada década. Evocação de memórias autobiográficas As crianças de 3 e 2 anos de idade têm uma boa e precisa memória de longo prazo, conseguindo falar sobre eventos que ocorreram no passado, contudo, tem sido encontrada com alguma consistência uma dificuldade em recordar memórias dos primeiros três anos e meio de vida, período intitulado de amnesia infantil. Embora a grande maioria dos estudos sobre amnesia infantil seja referente a adultos, Peterson, Grant e Boland (2005) realizaram um estudo exploratório com crianças e adolescentes dos 6 aos 19 anos de idade. Os resultados demonstraram que a idade da primeira memória que as crianças dos 6-9 anos recordaram foi em média aos 3 anos e, nos jovens dos 10-19 anos foi em média aos 3 anos e meio, sendo que este último resultado é idêntico aos resultados encontrados em adultos. Para entendermos que memórias são recuperadas, temos de esclarecer os três tipos de memórias existentes. J. M. G. Williams e Dritschel (1988, citado por Brennen et. al., 2010) foram os primeiros autores a distinguir 3 tipos de memórias autobiográficas: memórias autobiográficas específicas, referentes a um único episódio que ocorreu num determinado espaço e tempo e que durou menos de um dia; memórias categóricas, referentes a eventos genéricos, como por exemplo “eu como pipocas quando vou ao cinema”; e memórias alargadas, referentes a eventos que duraram mais do que um dia, como por exemplo “Eu aluguei um apartamento quando fui a Chipre nas férias”. Os últimos dois tipos de memórias são memórias gerais, referentes a mais do que um evento, sendo que são as memórias categóricas que frequentemente são associadas à depressão. Williams e Broadbent (1986) realizaram uma investigação com o objetivo de estudar a recuperação de memórias autobiográficas em sujeitos que realizaram tentativas de suicídio 24 memórias específicas recordadas em sujeitos em risco de depressão e sujeitos que não estavam e risco. Relativamente à especificidade das memórias, tem sido encontrada uma maior recordação de memórias gerais em adolescentes com sintomas de depressão, em oposição aos que não têm sintomas de depressão (Johnson, Greenhoot, Glisky, e McCloskey, 2005; Kuyken, Howell e Dalgleish, 2006) e uma menor recordação de memórias específicas em raparigas vítimas de queimaduras (Stokes Dritschel e Bekerian, 2004, cit. por Kuyken, Howell e Dalgleish, 2006) e adolescentes expostos a situações de trauma na sua infância (Brennen et. al., 2010). Já Decker, Hermans, Raes e Eelen (2003), realizaram um estudo com o objetivo de perceber a especificidade das memórias e o trauma em adolescentes internados, sugerindo os resultados uma tendência para recordar um menor número de memórias específicas em adolescentes que sofreram traumas severos. Contudo, não houve uma correlação significativa entre variáveis emocionais, como a depressão e a desesperança, e a especificidade das memórias recordadas. Também Brennen et. al. (2010), de forma a estudar a especificidade das memórias autobiográficas realizaram dois estudos com adolescentes expostos a situações de trauma na sua infância, no estudo 1 provenientes da Bósnia e no estudo 2 provenientes da Sérvia. Os resultados foram idênticos para ambos os estudos, sugerindo menor recordação de memórias especificas e maior recordação de memórias gerais, comparativamente com o grupo de controle. Tal como no estudo anteriormente referido, não houve uma associação entre a especificidade das memórias autobiográficas e a depressão. Estes estudos vão de encontro à ideia de J. M. G. Williams (1996, citado por Brennen et. al., 2010), onde defende que o trauma precoce pode levar à diminuição de memórias específicas mas não necessariamente à depressão, como acontece em adultos, uma vez que antes da fase adulta pensa-se que a recordação de memórias gerais pode ser um processo adaptativo e protetor. Antalíková, Hansen, Gulbrandsen, Mata e Santamaría (2011) tiveram como objetivo explorar de que forma as pessoas que estão em redor do adolescente contribuem para o seu desenvolvimento, particularmente ao nível da autonomia. Para tal, foi pedido aos adolescentes que recordassem memórias autobiográficas com um significado importante, referente a cada uma das seguintes palavras - família, escola e amigos – uma vez que são três envolventes sociais centrais e de elevado significado no desenvolvimento do individuo no período da adolescência. Os resultados sugeriram que a idade das memórias para a palavra família foram 25 as mais antigas, seguindo-se as memórias para a palavra escola e, por último, para a palavra amigos. Os resultados demonstraram, ainda, que o rácio entre o número de vezes que o sujeito referiu os outros e o número de vezes que se referiu a si próprio foi mais elevado para a palavra família e menos para a palavra escola. Conclui-se, ainda, neste estudo que a quantidade de expressões associadas a autonomia foi superior em memórias para a palavra escola, seguindo-se em memórias para a palavra amigos e finalmente em memórias para a palavra família. Por considerar-mos que a família, os amigos e a escola são três entidades de socialização muito importantes na adolescência, como já referido no início deste capítulo, optámos por recorrer a uma metodologia semelhante à do estudo anterior. Embora a grande maioria dos estudos anteriormente mencionados analisem as memórias autobiográficas como variável dependente, achámos pertinente analisá-las como variável independente, uma vez que pensamos que o tipo de memórias recordadas para estas três entidades de socialização, podem influenciar, cada uma por si, a ideação suicida, a depressão e a desesperança. 26 CAPÍTULO II OBJETIVO E HIPOTESES DO ESTUDO Com o presente estudo pretende-se perceber se a depressão, a desesperança e a ideação suicida estão correlacionadas e, perceber se o tipo de recordação de memórias autobiográficas para as palavras família, amigos e escola influencia as primeiras três variáveis. Após a realização da revisão de literatura, é possível afirmar que a ideação suicida, a depressão e a desesperança são fatores relevantes para o comportamento suicida. Jain, Singh, Gupta e Kumar (1999) encontraram uma relação fortemente significativa entre esses três fatores em adolescentes que realizaram uma tentativa de suicídio. Também Borges et al. (2004) também encontraram uma associação significativa entre a ideação suicida e as variáveis depressão e desesperança numa população de adolescentes. Num estudo realizado por Rudd (1990, cit. por Reifman e Windle, 1995), a depressão e a desesperança foram ambas preditores da ideação suicida em jovens, embora a depressão tivesse parecido ser um melhor preditor do que a desesperança. Da mesma forma, Cole (1989), com o objetivo de perceber a relação existente entre algumas variáveis cognitivas e a depressão face a comportamentos relacionados com o suicídio, verificou que a depressão foi mais fortemente correlacionada com o comportamento suicida do que a desesperança. Noutro estudo, com o mesmo objetivo e numa população masculina, Cole (1989) constatou que desesperança não é uma variável muito relevante para o comportamento suicida, embora tenha sido relacionada com os pensamentos acerca de morrer, ao contrário da depressão. Face os resultados obtidos nestes estudos, colocamos a seguinte hipótese: Hipótese 1. Em adolescentes, a depressão, a desesperança e a ideação suicida estão fortemente correlacionadas. A depressão tem origem em diversos fatores, entre eles citamos: fatores genéticos/biológicos, fatores psicológicos, fatores referentes aos pares e fatores familiares (Petersen et al., 1993). Cruz, Sanfins, Lemos, Maltez e Felix (1999) realizaram um estudo para compreender de que forma os acontecimentos biográficos significativos para o adolescente afetam a depressão. Os resultados revelaram que a grande maioria dos adolescentes com depressão 29 Dos 196 adolescentes, 94,8% (n=184) têm nacionalidade portuguesa e 5,2% (n=10) são de outras nacionalidades (Anexo 3.1). Da amostra total, 64,9% (n=126) afirmaram nunca ter pensado em suicidar-se e 35,1% (n=68) afirmaram ter pensado em suicidar-se. Destes últimos, 13,9% (n=27) pensaram em suicidar-se uma vez, 7,7% (n=15) duas vezes e 13,4% (n=26) mais do que duas vezes (Anexo 3.1). Já no que respeita às tentativas de suicídio, 90,7% (n=176) dos adolescentes nunca tentaram suicidar-se e 9,3% (n=18) dos adolescentes já tentaram suicidar-se. Destes últimos, 5,2% (n=10) tentaram suicidar-se uma vez, 2,1% (n=4) duas vezes e 2,1% (n=4) mais do que duas vezes (Anexo 3.1). Quando perguntado aos jovens se conheciam alguém que se tivesse suicidado, 33,5% dos jovens responderam que sim e 66,5% que não, sendo que 90,7% desses suicídios foram referentes a conhecidos/vizinhos/amigos e 9,3% foram referentes a familiares. A tabela 3 mostra distribuição dos sujeitos por conhecimento de alguém que se tenha suicidado e sexo (Anexo 3.3). Tabela 3: Distribuição dos sujeitos por conhecimento de alguém que tenha cometido suicídio e sexo. Conhece alguém que cometeu suicídio Feminino Masculino Sim Não 41 24 59 70 Instrumentos Escala de auto-avaliação da Depressão (DSRS) A Escala de auto-avaliação da Depressão é um instrumento de auto-preenchimento e avaliação que permite medir os sintomas afetivos e cognitivos e comportamentos da depressão, originalmente desenvolvido por Birleson (1981), na sequência de uma adaptação da escala de Zung (1965). A escala, contendo inicialmente 18 itens, foi posteriormente alterada por Asarnow e Carlson (1985), ficando com mais 3 itens da depressão e 3 itens da desesperança, estes últimos provenientes da BHS. Ao nível da consistência interna, o alfa de Cronbach encontrado foi de .76 (p. < .01) e o coeficiente de fidelidade de Spearman-Brown de .67. (Marujo, 1994) 30 Para o presente estudo foi aplicada a versão da DSRS utilizada por Marujo, H. (1994), onde foi excluído um item, referente ao suicídio. A escala ficou assim composta por 20 itens da depressão e 3 da desesperança, existindo três possibilidades de resposta para cada item (“quase sempre”, “às vezes” ou “nunca”), sendo que metade dos itens afirmam o sintoma e a outra metade negam o sintoma. Cada item tem uma pontuação possível de 0 a 2, o que resulta numa pontuação máxima de 40 para os sintomas depressivos. Escala da Desesperança de Beck (BHS) A Escala da Desesperança de Beck é um instrumento de auto-preenchimento e avaliação de Beck, Weissman, Lester e Trexler (1974, cit por Beck, A. T. & Steer, R. A., 1988), constituído por 20 itens, que permite medir as atitudes negativas acerca do futuro, percecionadas por adolescentes e adultos. Destes 20 itens, 9 são classificados como verdadeiros e 11 como falsos, podendo os resultados obtidos ir de 0 a 20. Se o valor encontrado estiver entre 0 e 3 é considerado mínimo, se estiver entre 4 e 9 é considerado médio, se se encontrar entre 9 e 14 moderado e, se for maior que 9 é considerado severo. Ao nível da consistência interna, o nível de fidelidade Kunder-Richardson (KR-20) foi de .92, .93, .91, .82, .92, .92 para sujeitos com ideação suicida, com tentativa de suicídio, alcoólicos, dependentes de heroína, com um único episódio de Depressão Major, com episódios recorrentes de Depressão Major e Distúrbios Distémicos, respetivamente. A correlação teste-reteste com intervalo de 6 semanas entre as aplicações foi de .66 (p < .001). O instrumento que será utilizado é a versão traduzida para a população portuguesa por Viveiros et al. (1997, citado por Soeiro, 1997). Questionário de Ideação Suicida (QIS) O Questionário de Ideação Suicida é um instrumento de auto-preenchimento primeiramente desenvolvido por Reynolds (1988), que permite avaliar a gravidade dos pensamentos suicidas em adolescentes e adultos. A versão que irá ser utilizado é a de Ferreira e Castela (1993/94), aferida e validada para a população portuguesa. Nesta versão ao nível da consistência interna o alfa de Cronbach encontrado foi de .96 e a correlação teste-reteste com intervalo de um mês entre as duas aplicações foi de .76. O instrumento é constituído por 30 itens, variando as respostas de 1 – “o pensamento nunca ocorreu” até 7 – “o pensamento ocorreu sempre”, podendo o resultado oscilar entre 0 e 180. 31 Tarefas de Memórias Autobiográficas A tarefa de memórias autobiográficas consiste em pedir aos adolescentes que recordem memórias referentes às palavras família, escola e amigos, experienciadas pessoalmente e o mais detalhadas possível. Neste estudo, de forma a evitar qualquer efeito de primazia ou recência, as três palavras foram colocadas por seis ordens diferentes. A tarefa tal como é apresentada, foi desenvolvida por Antaliková et al. (2011), tendo sido baseada na tarefa utilizada no estudo de Wang (2006). A codificação desta tarefa foi realizada tendo em consideração três parâmetros: - Especificidade - no qual se distinguem três tipos de memórias autobiográficas: Memórias Especificas, referentes a um único evento, com duração inferior a um dia; Memórias Categóricas, referentes a episódios genéricos e Memórias Alargadas, referentes a eventos com duração superior a um dia (conforme referido na p. 24, capítulo I). As respostas que não foram memórias (ex. opiniões) foram consideradas Não-Memórias. - Valência - positiva, negativa ou neutra. - Categorias – relações encontradas relativamente ao conteúdo das memórias para as palavras família, amigos e escola. As categorias definidas serão apresentadas no capítulo III. O instrumento aplicado aos adolescentes encontra-se no Anexo 1. Procedimento Com o intuito de recolher uma amostra de adolescentes para o presente estudo, pediu- se autorização por escrito a diversas escolas da área da Grande Lisboa (Anexo 2), obtendo-se o consentimento da direção de duas dessas escolas para a realização deste trabalho. Agendou- se a recolha dos dados com a direção e com os professores, tendo sido os instrumentos aplicados no decorrer dos tempos letivas. A participação no estudo foi consentida pelos pais (Anexo 2.1), tendo a tarefa demorado cerca de 45 minutos a ser realizada. Após os questionários terem sido preenchidos, procedeu-se à codificação das memórias autobiográficas com três júris independentes e licenciados em psicologia. Só foram consideradas as respostas em que pelo menos dois dos elementos do júri estiveram de acordo. As respostas foram posteriormente inseridas na versão 20 do software IBM SPSS. Para se proceder a análise dos resultados, teve-se em consideração que amostras superiores a 30 34 Tabela 5: Diferença de médias entre sexo em relação à depressão, desesperança e ideação suicida. Género Média Desvio-Padrão t Valor-p Depressão Feminino 13,26 5,52 4,31 0,00 Masculino 10,11 4,61 Desesperança Feminino 5,28 4,03 3,09 0,00 Masculino 3,68 3,09 Ideação suicida Feminino 1,90 1,04 2,24 0,03 Masculino 1,59 0,94 Estes resultados foram de encontro ao esperado, uma vez que ser do sexo feminino tem sido considerado um fator de risco para a presença de ideação suicida (Lopes et al., 2001; Fensterseifer et al, 2004; Santos, 2006; Souza et al., 2009). Estes resultados referentes à população feminina, como já referido anteriormente, podem dever-se às alterações hormonais que ocorrem durante a fase da adolescência (Acosta-Hernández et al., 2011), como também podem ser demonstrativos de uma maior resistência por parte dos rapazes de expressarem sofrimento e sintomas (Cardoso, Rodrigues e Vilar, 2004). Constata-se igualmente que outro dos fatores de risco para a ideação suicida, frequentemente descrito na literatura é conhecer alguém que tenha cometido suicídio. Na Tabela 3, já como anteriormente mencionado, verificou-se que existiu um maior número de raparigas do que rapazes que conheceu alguém que tenha cometido suicídio. Já através da observação da Tabela 6, é possível verificar que a média de ideação suicida e de tentativas de suicídio é superior nos adolescentes que conheceram alguém que tenha cometido suicídio do que naqueles que, pelo contrário, não conheceram indivíduos nesta situação. Contudo, esta diferença foi apenas significativa ao nível da ideação suicida (p. < 0,05), embora também interpretável para as tentativas de suicídio (p. < 0,10) (Anexo 4.4). Estes resultados são congruentes com a literatura, uma vez que o facto de conhecer alguém que se tenha suicidado tem sido encontrado como um fator de risco para o suicídio (Santos, 2006; Lopes, Barreira e Pires, 2001). Tabela 6: Diferença de médias entre as ideias suicidas e tentativa de suicídio em relação a conhecer alguém que tenha cometido suicídio. Conhece alguém que cometeu suicídio Média Desvio-Padrão t Valor-p Ideias Suicidas Sim 2,05 1,23 3,24 0,00 Não 1,52 0,96 Tentativa de Suicídio Sim 1,25 0,64 1,65 0,10 Não 1,11 0,49 35 Relativamente à especificidade das memórias autobiográficas, uma vez que a percentagem de sujeitos que recordou memórias categóricas foi reduzida (6,8% para a palavra família; 4,6% para a palavra amigos; e 4,7% para a palavra escola), comparativamente com a percentagem de sujeitos que produziu memórias específicas (47,9% para a palavra família; 43,3% para a palavra amigos; e 48,7% para a palavra escola) e memórias alargadas (42,6% para a palavra família; 46,4% para a palavra amigos; e 40,9% para a palavra escola), optou-se por considerar as memórias gerais no seu todo (categóricas + alargadas). Assim sendo, os resultados apresentam uma percentagem mais elevada de recordação de memórias autobiográficas gerais do que específicas para todas as palavras e maior percentagem de não- memórias para as palavras amigos e escola (Anexo 4.5; Tabela 7). Tabela 7: Percentagem da especificidade das memórias recordadas referentes às palavra família, amigos ou escola. Mais uma vez, sendo que a percentagem de memórias com valência neutra (4,9% para a palavra família; 5,4% para a palavra amigos; e 9,3% para a palavra escola) foi bastante reduzida comparativamente com as de valência positiva e negativa, como se pode verificar na Tabela 8, optou-se por retirar esta valência na análise estatística que será efetuada para a confirmação das hipóteses do estudo (Anexo 4.5). Tabela 8: Percentagem da valência das memórias recordadas para as palavras família, amigos ou escola. Valência da M.A. Família Amigos Escola Positivo Negativo 48,9% 46,2% 56,5% 38,0% 48,4% 42,3% De acordo com a análise estatística, houve maior percentagem de recordação de memórias positivas para a palavra amigos do que para família ou escola e, maior percentagem de recordação de memórias negativas para a palavra família do que para amigos ou escola. É também notória uma percentagem bastante mais elevada de memórias positivas para a palavra amigos do que negativas, não acontecendo o mesmo com as palavras família ou escola. Especificidade M.A. Família Amigos Escola Específica Gerais (Categóricas + Alargadas) Não-memória 47,9% 49,4% 2,6% 43,3% 51% 5,7% 48,7% 45,6% 5,7% 36 Os amigos ganham efetivamente uma maior relevância na vida dos adolescentes, podendo o facto de os adolescentes passarem mais tempo com o grupo de pares e partilhem pensamentos e intimidade, levar a um maior afastamento por parte dos pais, acabando por existir divergências de crenças, atitudes e valores (Palmonari, Kirchler e Pombeni, 1991). Num estudo realizado por Amaral et.al (1998) com o objetivo de perceber as representações da escola em pré-adolescentes e adolescentes, os jovens evidenciaram como aspetos positivos da escola a relação entre pares, por oposição à relação com os adultos e tipo de aulas. No que diz respeito às categorias, após a leitura de todas as memórias, foram encontradas as seguintes categorias para a palavra família: conflitos, apoio familiar, divórcio, mudança, lazer, despedida/reencontro de familiares, saúde, nascimento e morte. Já para a palavra amigos, as categorias foram as seguintes: amizade, conflitos, mudança, lazer, início escolar, comportamentos desregrados, despedida/reencontro de familiares e saúde. Ainda referente à palavra escola, as categorias que surgiram foram as seguintes: amizade, conflitos, namoro, mudança, lazer, início escolar, atividades escolares, desempenho escolar, comportamentos desregrados e saúde. No anexo 9 encontram-se exemplos de memórias que os adolescentes recordaram para todas as categorias. Em traços gerais, verificou-se uma recordação mais elevada de memórias referentes a lazer e conflitos parra a palavra família, uma maior recordação de memórias alusivas a lazer e amizade para a palavra amigos e, ainda, uma recordação mais significativa de memórias alusivas a desempenho escolar e atividades escolares e para a palavra escola (Tabelas 9, 10 e 11). Tabela 9: Categorias encontradas nas memórias autobiográficas para a palavra família. Categoria_Família N Conflitos Apoio familiar Divórcio Mudança Lazer Despedida/Reencontro familiares Saúde Nascimento Morte 24 14 12 8 67 7 14 16 18 39 Relativamente às memórias referentes a “nascimento”, estas foram maioritariamente alusivas ao nascimento de irmãos e sobrinhos, encontradas como motivo de grande felicidade pelo adolescente. Tabela 13 – Média da ideação suicida nos efeitos principais ao nível das memórias autobiográficas para a palavra família. Média Especificidade das memórias_Família Especificas Gerais F(1,144)=0,04; p.=0,86 1,71 1,80 Valência das memórias_Família Positivo Negativo F(1,144)=0,18; p.=0,67 1,62 1,93 Categoria das memórias_Família Conflitos Apoio familiar Divórcio Mudança Lazer Despedida/reencontro de familiares Saúde Nascimento Morte F(8,144)=0,64; p.=0,74 2,03 1,83 1,85 1,57 1,62 1,96 2,02 1,27 1,99 Quanto à dimensão depressão, não se verificaram efeitos de interação entre a especificidade, valência e categorias das memórias autobiográficas para a palavra família. O mesmo se verificou para os efeitos principais referentes às mesmas variáveis (Anexo 6.2). Contudo, é possível verificar que a média de depressão é mais elevada em adolescentes que recordaram memórias gerais, memórias negativas e, memórias referentes a “despedida/reencontro de familiares”, “morte” e “conflitos”. Já para a categoria “nascimento”, a média de depressão foi mais baixa (Tabela 14). No que respeita à categoria “despedida e reencontro de familiares”, as memórias foram referentes a imigração de pais e outros familiares, ao encontro de pais e familiares que já não viam há anos. As memórias referentes à categoria “morte” foram maioritariamente relativas a falecimento dos avós e outros familiares. 40 Tabela 14 – Média da depressão nos efeitos principais ao nível das memórias autobiográficas para a palavra família. Média Especificidade das memórias_Família Especificas Gerais F(1,144)=0,55; p.=0,46 11,58 12,02 Valência das memórias_Família Positivo Negativo F(1,144)=0,56; p.=0,46 10,83 12,88 Categoria das memórias_Família Conflitos Apoio familiar Divórcio Mudança Lazer Despedida/reencontro de familiares Saúde Nascimento Morte F(8,144)=1,10; p.=0,37 13,08 11,79 12,42 12,00 10,96 15,14 10,36 8,75 14,61 No que respeita à desesperança, não se verificaram efeitos de interação entre a especificidade, valência e categorias das memórias autobiográficas para a palavra família. Da mesma forma não se registaram diferenças significativas ao nível dos efeitos principais na ideação suicida, depressão e desesperança. De qualquer forma, através da Tabela 15 é verificável que a média de desesperança foi mais elevada para as categorias “apoio familiar” e “despedida/reencontro de familiares”. Este resultado relativamente à categoria “apoio familiar” pode eventualmente dever-se às situações que levaram à necessidade de receber esse apoio. A média da desesperança foi mais baixa nas categorias “mudança” e “nascimento”, possivelmente por serem acontecimentos que pressupõem uma alteração na vida a curto ou longo prazo. Embora não se tivessem verificado efeitos principais para a especificidade e para a valência destas memórias, a média da desesperança, foi superior em adolescentes que recuperaram memórias gerais e memórias negativas (Tabela 15; Anexo 6.3). 41 Tabela 15 – Média da desesperança nos efeitos principais ao nível das memórias autobiográficas para a palavra família Média Especificidade das memórias_Família Especificas Gerais F(1,144)=0,01; p.=0,91 4,44 4,73 Valência das memórias_Família Positivo Negativo F(1,144)=0,00; p.=0,99 4,44 4,91 Categoria das memórias_Família Conflitos Apoio familiar Divórcio Mudança Lazer Despedida/reencontro de familiares Saúde Nascimento Morte F(8,144)=1,55; p.=0,15 3,75 6,57 4,92 3,12 4,16 6,43 5,93 3,25 5,44 Passamos a apresentar, em quadro síntese (Quadro 1), todos os resultados referentes à recordação de memórias autobiográficas ao nível da especificidade, valência e categorias, para a palavra família, embora estatisticamente não significativos. Quadro 1 – Síntese esquemática dos resultados relativos à recordação de memórias autobiográficas para a palavra família. Memórias autobiográficas referentes à palavra família Variável Especificidade Valência Categoria Especifica Geral Positiva Negativa Ideação suicida - + - + + Conflitos, Saúde - Nascimento F(8,144)=0,64; p.=0,74 F(1,144)=0,04; p.=0,86 F(1,144)=0,18; p.=0,67 Depressão - + - + + Despedida/reencontro de familiares, Morte, Conflitos - Nascimento F(8,144)=1,10; p.=0,37 F(1,144)=0,55; p.=0,46 F(1,144)=0,56; p.=0,46 Desesperança - + - + + Apoio familiar, Despedida/ reencontro de familiares - Mudança, Nascimento F(8,144)=1,55; p.=0,15 F(1,144)=0,01; p.=0,91 F(1,144)=0,00; p.=0,99 Legenda: + Valores mais elevados na média das variáveis; - Valores mais baixos na média das variáveis. 44 Tabela 16 – Média da ideação suicida nos efeitos principais ao nível das memórias autobiográficas para a palavra amigos. Média Especificidade das memórias_Amigos Especificas Gerais F(1,147)=0,03; p.=0,95 1,74 1,79 Valência das memórias_Amigos Positivo Negativo F(1,147)=1,07; p.=0,30 1,65 1,84 Categoria das memórias_Amigos Amizade Conflitos Mudança Lazer Inicio escolar Comp. Desregrados Despedida/reencontro de familiares Saúde F(7,147)=0,60; p.=0,76 1,76 2,07 1,84 1,75 1,30 2,26 1,21 1,41 Para a dimensão depressão, não existiram efeitos de interação entre a especificidade, valência e categorias referentes às memórias recordadas para a palavra amigos, bem como também não existiram efeitos principais significativos (Anexo 7.2). Porém, é possível constatar que sujeitos que recordaram memórias autobiográficas gerais e memórias autobiográficas negativas tiveram uma média de depressão superior aos outros. Já na variável categoria, sujeitos que recordaram memórias referentes ao “inicio escolar” tiveram uma média de depressão mais baixa que os restantes, por oposição aos que recordaram memórias acerca de “conflitos” (Tabela 17). As memórias acerca do “início escolar” foram referentes a: medos e angústias por não conhecer ninguém nos primeiros dias de aulas, embora posteriormente houvesse a construção de novas amizades e reencontro de amigos. 45 Tabela 17 – Média da depressão nos efeitos principais ao nível das memórias autobiográficas para a palavra amigos. Média Especificidade das memórias_Amigos Especificas Gerais F(1,147)=0,03; p.=0,87 11,19 12,13 Valência das memórias_Amigos Positivo Negativo F(1,147)=1,11; p.=0,29 11,08 12,64 Categoria das memórias_Amigos Amizade Conflitos Mudança Lazer Inicio escolar Comp. Desregrados Despedida/reencontro de familiares Saúde F(7,147)=0,55; p.=0,79 12,28 14,24 11,96 10,54 9,75 12,86 12,25 10,38 No que é referente à dimensão desesperança, também não existiram efeitos de interação entre a especificidade, valência e categorias referentes às memórias recordadas para a palavra amigos, tal como também não existiram efeitos principais significativos (Anexo 7.3). Similarmente ao que aconteceu nos resultados apresentados anteriormente, os adolescentes que recordaram memórias gerais e memórias negativas tiveram uma média de desesperança mais baixa do que os outros. Tal como na dimensão depressão, sujeitos que recordaram memórias referentes ao “inicio escolar” tiveram uma média de desesperança mais baixa que os restantes, por oposição aos que recordaram memórias acerca de “conflitos” (Tabela 18). 46 Tabela 18 – Média da desesperança nos efeitos principais ao nível das memórias autobiográficas para a palavra amigos. Média Especificidade das memórias_Amigos Especificas Gerais F(1,147)=0,97; p.=0,33 4,36 4,77 Valência das memórias_Amigos Positivo Negativo F(1,147)=2,41; p.=0,12 4,06 5,33 Categoria das memórias_Amigos Amizade Conflitos Mudança Lazer Inicio escolar Comp. Desregrados Despedida/reencontro de familiares Saúde F(7,147)=0,27; p.=0,97 4,63 6,38 4,65 4,05 3,25 5,00 5,50 4,00 Passamos a apresentar o quadro síntese (Quadro 2) referente a todos os resultados alusivos à recordação de memórias autobiográficas ao nível da especificidade, valência e categorias, para a palavra amigos, embora estatisticamente não significativos. Quadro 2 – Síntese esquemática dos resultados relativos à recordação de memórias autobiográficas para a palavra amigos. Memórias autobiográficas referentes à palavra amigos Variável Especificidade Valência Categoria Especifica Geral Positiva Negativa Ideação suicida - + - + + Comportamentos desregrados, Conflitos F(7,147)=0,60; p.=0,76 F(1,147)=0,03; p.=0,95 F(1,147)=1,07; p.=0,30 Depressão - + - + + Conflitos - Inicio escolar F(7,147)=0,55; p.=0,79 F(1,147)=0,03; p.=0,87 F(1,147)=1,11; p.=0,29 Desesperança - + - + + Conflitos - Inicio escolar F(7,147)=0,27; p.=0,97 F(1,147)=0,97; p.=0,3 F(1,147)=2,41; p.=0,12 Legenda: + Valores mais elevados na média das variáveis; - Valores mais baixos na média das variáveis. No que concerne a todas as análises realizadas para a validação da hipótese 3 (Quadro 2), constatamos o seguinte: 49 Relativamente à depressão, mais uma vez não existiram efeitos de interação entre a especificidade, valência e categorias das memórias referentes à palavra escola, contudo, existiu um efeito principal para a variável categoria da memória autobiográfica (Anexo 8.2). Aquando a realização do Teste de Scheffé, não foram encontradas quaisquer diferenças significativas, possivelmente pelo design ser muito desequilibrado, ou seja, o número de sujeitos ser diferente entre as categorias. De qualquer forma, é possível aferir que a média de depressão foi mais elevada em adolescentes que recuperaram memórias gerais e memórias negativas. Adolescentes que recordaram memórias referentes a “lazer” tiveram uma média de depressão mais baixa, por oposição aos que recordaram memórias referentes a “saúde” (Tabela 20). Na categoria “lazer” as respostas foram referentes a: jogar às cartas; pôr a conversa em dia; fazer uma guerra de água; jogar futebol; ir passear com a avó depois de ficar livre das avaliações do ano letivo e fazer um jantar para a diretora de turma. Tabela 20 – Média da depressão nos efeitos principais ao nível das memórias autobiográficas para a palavra escola. Média Especificidade das memórias_Escola Especificas Gerais F(1,124)=1,67; p.=0,20 10,93 12,66 Valência das memórias_Escola Positivo Negativo F(1,124)=2,19; p.=0,14 10,50 12,84 Categoria das memórias_Escola Amizade Conflitos Namoro Mudança Lazer Inicio escolar Atividades escolares Desempenho escolar Comp. Desregrados Saúde F(9,124)=2,26; p.=0,02 12,93 12,27 14,17 14,94 9,13 10,09 10,11 10,17 12,75 15,67 Na dimensão desesperança, não foram encontrados efeitos de interação entre a especificidade, valência e categorias das memórias referentes à palavra escola, bem como não existiram diferenças significativas nos efeitos principais (Anexo 8.3). Todavia, a média de desesperança foi mais elevada em adolescentes que recuperaram memórias gerais e memórias negativas. Adolescentes que recordaram memórias referentes a “desempenho escolar”, 50 “atividades escolares” e “inicio escolar” tiveram uma média de desesperança mais baixa do que os outros adolescentes, por oposição aos que recordaram memórias referentes a “saúde” (Tabela 21). As memórias de “desempenho” escolar foram referentes: esforço para melhorar o aproveitamento ao longo dos três períodos e transitar de ano; reprovar de ano devido a faltas; ter a primeira negativa; a receber um teste com nota elevada; receber prendas devido a boas notas; entrar para o quadro de excelência da escola, entre outras. Já no que respeita às “atividades escolares”, as memórias foram alusivas a: jogos organizados pelos professores; festas de natal organizadas para os pais; ser DJ numa festa a escola; entrar numa peça de teatro da escola, entre outros. Relativamente ao “início escolar”, foram recordadas memórias referentes a: primeiro dia de aulas (ficar com medo ou nervos, não saber onde são as salas ou o refeitório, etc); construção de amizades no primeiro dia de aulas ou inicio do ano letivo, entre outras. Tabela 21 – Média da desesperança nos efeitos principais ao nível das memórias autobiográficas para a palavra escola. Média Especificidade das memórias_Escola Especificas Gerais F(1,124)=0,88; p.=0,35 4,27 4,72 Valência das memórias_Escola Positivo Negativo F(1,124)=2,69; p.=0,10 3,65 5,48 Categoria das memórias_Escola Amizade Conflitos Namoro Mudança Lazer Inicio escolar Atividades escolares Desempenho escolar Comp. Desregrados Saúde F(9,124)=1,37; p.=0,21 5,40 4,87 5,00 5,71 5,00 3,65 3,48 3,28 4,50 8,00 Passamos a apresentar o quadro síntese (Quadro 3) referente a todos os resultados alusivos à recordação de memórias autobiográficas ao nível da especificidade, valência e categorias, para a palavra amigos, embora estatisticamente não significativos. 51 Quadro 3 – Síntese esquemática dos resultados relativos à recordação de memórias autobiográficas para a palavra escola. Memórias autobiográficas referentes à palavra escola Variável Especificidade Valência Categoria Especifica Geral Positiva Negativa Ideação suicida - + - + + Namoro, Saúde e Mudança F(9,124)=1,36; p.=0,12 F(1,124)=0,08; p.=0,77 F(1,124)=2,36; p.=0,13 Depressão - + - + + Saúde - Lazer F(9,124)=2,26; p.=0,02 F(1,124)=1,67; p.=0,20 F(1,124)=2,19; p.=0,14 Desesperança - + - + + Saúde - Desempenho escolar, Atividades escolares e Inicio escolar F(9,124)=1,37; p.=0,21 F(1,124)=0,88; p.=0,35 F(1,124)=2,69; p.=0,10 Legenda: + Valores mais elevados na média das variáveis; - Valores mais baixos na média das variáveis. No que concerne a todas as análises realizadas para a validação da hipótese 4 (Quadro 3), constatamos o seguinte: - A variável categoria tem um efeito principal na depressão. No que diz respeito à ideação suicida e desesperança, não se verificaram qualquer influência das memórias autobiográficas nestas dimensões. A escola está muito associada à presença do grupo de pares (Rodrigo e Machado, 2002) e, no nosso estudo, embora sem diferenças estatisticamente significativas, foi encontrada uma tendência de recordação de memórias referentes a “lazer” para adolescentes com médias mais baixas de depressão. No processo de interação educativa, ao nível das categorias das memórias destaca-se a “saúde” (acidentes escolares), transversal às variáveis ideação suicida, depressão e desesperança, apresentando uma média superior. Num estudo realizado por Amaral et.al (1998), no 9º ano de escolaridade, as capacidades pessoais do individuo - inteligência e compreensão – surgiram como sendo um pré-requisito para ter sucesso escolar e, como aspetos negativos da escola os jovens realçaram a relação com os adultos, o tipo de aulas, as condições e organização da escola e situações de avaliação. A escola surgiu também fundamentalmente como entidade importante e fundamental para o futuro profissional. No nosso estudo, embora sem diferenças estatisticamente significativas, foi encontrada uma tendência de recordação de memórias referentes a “desempenho escolar” e “atividades escolares” para adolescentes com médias mais baixas de desesperança. Estes resultados não vão no mesmo sentido dos estudos 54 memórias específicas e memórias positivas para adolescentes que apresentaram menor média de ideação suicida, depressão e desesperança. Por último, no que respeita às limitações do nosso estudo, consideramos o facto de termos registado valores baixos para a ideação suicida, a depressão e a desesperança, provavelmente condicionados pela população estudada ter sido não clínica. Assim, consideramos pertinente realizar outros estudos semelhantes com populações diversas. 55 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Acosta-Hernández, M. E., Mancilla-Percino, T., Correa-Basurto, J., Saavedra-Vélez, M., Ramos-Morales, F. R., Cruz-Sánchez, J. S., & Niconoff, S. D. (2011). 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Deves seguir a sequência das páginas e não virar a página enquanto não acabares de preencher a anterior. O questionário é totalmente ANÓNIMO E CONFIDENCIAL. É importante que sejas completamente sincero(a). Não existem respostas certas ou erradas. 69 Acabaste de escrever um acontecimento relacionado com a palavra “escola”. Gostava que agora fizesses exatamente o mesmo com a palavra . Peço-te que escrevas o acontecimento o mais pormenorizado possível. Estimativa da idade que tinhas quando o acontecimento que descreveste ocorreu: _____ anos Frequência com que pensas no acontecimento que descreveste: Nunca 1 2 3 4 5 6 7 Muito Frequente Frequência com que pensas na palavra “amigos”: Nunca 1 2 3 4 5 6 7 Muito Frequente Importância que atribuis à palavra “amigos”: Nenhuma Importância 1 2 3 4 5 6 7 Muito Importante AMIGOS 70 Acabaste de escrever alguns acontecimentos sobre a família, a escola e os amigos. Gostava agora que pensasses um pouco sobre ti próprio(a). Assinala com uma cruz (X) a resposta que mais se aplica no teu caso atualmente. Cada item tem três possibilidades de resposta: 1 2 3 1. Durmo muito bem. 2. Quando olho à minha volta acho que o mundo tem mais coisas desagradáveis do que agradáveis. 3. Sinto vontade de chorar. 4. Imagino o que me vai acontecer com tanto prazer como antigamente. 5. Sinto vontade de fugir. 6. Tenho dores de estomago. 7. Tenho muita energia. 8. Sei que o meu futuro vai ser bom. 9. Como com prazer. 10. Penso que a vida não vale a pena. 11. Consigo resolver sozinho(a) os meus problemas. 12. As coisas que faço dão-me tanto prazer como antigamente. 13. Gosto de conversas com a minha família. 14. Tenho sonhos horríveis. 15. Sinto-me muito sozinho(a). 16. Quando estou “em baixo” consigo facilmente animar-me e ficar satisfeito. 17. Sinto-me tão triste que acho que não vou aguentar. 18. Sou bom/boa naquilo que faço. 19. Sinto-me muito aborrecido(a). 20. Gosto de me divertir. 21. Acho que não vale a pena tentar obter qualquer coisa que quero porque provavelmente não vou conseguir. 22. Estou sempre “na lua” e não me consigo concentrar. 23. Fico aborrecido(a) e zangado(a) com muita facilidade. 1 Nunca 2 Às vezes 3 Quase Sempre 71 Gostava que continuasses a pensar sobre ti próprio(a). Assinala com uma cruz (X) a resposta que melhor expressa a tua atitude nesta ultima semana, incluindo o dia de hoje. Cada item tem duas possibilidades de resposta: V Verdadeiro F Falso V F 1. Eu antevejo o futuro com esperança e entusiasmo. 2. Posso desde já desistir porque não há nada que eu possa fazer para tornar as coisas melhores para mim. 3. Quando as coisas estão a correr mal, ajuda-me saber que elas não podem ficar assim para sempre. 4. Não consigo imaginar como será a minha vida daqui a 10 anos. 5. Tenho tempo suficiente para realizar aquilo que quero fazer. 6. No futuro, eu espero ter sucesso no que me preocupa mais. 7. O meu futuro parece-me negro. 8. Acontece que eu sou particularmente sortudo, e espero obter mais das coisas boas da vida do que a média das pessoas. 9. Eu simplesmente não consigo as oportunidades, e não há razão para que eu as consiga no futuro. 10. As minhas experiências passadas prepararam-me bem para o futuro. 11. Tudo o que consigo ver no futuro é desagradável em vez de agradável. 12. Eu não espero ter o que realmente quero. 13. Quando eu penso no futuro, eu espero vir a ser mais feliz do que sou agora. 14. As coisas simplesmente não resultam da maneira que eu quero. 15. Eu tenho grande fé no futuro. 16. Eu nunca tenho o que quero, por isso é tolice querer alguma coisa. 17. É muito improvável que eu venha a obter alguma verdadeira satisfação no futuro. 18. O futuro parece-me vago e incerto. 19. Eu posso contar com mais bons momentos do que com maus momentos. 20. É inútil tentar esforçar-me por qualquer coisa que eu queira porque provavelmente não vou conseguir tê-la. 74 Por fim, gostava que respondesses a algumas perguntas sobre ti: 1. Idade: _____ anos 2. Género: Feminino Masculino 3. Ano de escolaridade: _______ 4. Estás ou já estiveste num psicólogo? Sim Não 4.1. Se respondeste “Sim”, indica há quanto tempo iniciaste as sessões _________, há quanto tempo finalizaste as sessões _________ e qual foi a duração das sessões _________. 6. Tens conhecimento de alguma pessoa que cometeu suicídio? Sim Não 6.1. Se respondeste “Sim”, menciona quem: Conhecidos: Vizinhos Colegas Amigos Conhecidos Outros:_____ Familiares: Mãe Pai Irmãos Avós Outros:_____ 7. Já alguma vez tiveste ideias suicidas? Coloca um círculo à volta da opção que melhor descreve o teu pensamento: 1 2 3 4 Nenhuma vez Uma só vez Duas vezes Mais do que duas vezes 8. Já alguma vez tentaste suicidar-te? Coloca um círculo à volta da opção que melhor descreve o teu comportamento: 1 2 3 4 Nenhuma vez Uma só vez Duas vezes Mais do que duas vezes Obrigada pela tua colaboração! 75 Se precisar de ajuda, podes dirigir-te ao NES - Hospital de Santa Maria de Lisboa, Serviço de Psiquiatria, de 2ª a 6ª feira das 11h às 13h. Morada: Avenida Professor Egas Moniz, 1649-035 Lisboa Telefone Geral: 21 780 5000 Urgência Geral (Informações): 21 780 5111 Consulta de Psiquiatria: 21 780 5143 E-mail: [email protected] 76 ANEXO 2 Pedido de autorização para as escolas e encarregados de educação 79 Género do sujeito Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent Valid Feminino 101 51,5 51,8 51,8 Masculino 94 48,0 48,2 100,0 Total 195 99,5 100,0 Missing 999 1 ,5 Total 196 100,0 Ano de escolaridade Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent Valid 8 59 30,1 30,3 30,3 9 62 31,6 31,8 62,1 10 74 37,8 37,9 100,0 Total 195 99,5 100,0 Missing 999 1 ,5 Total 196 100,0 Conhece_alguem_Suicidio Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent Valid Sim 65 33,2 33,5 33,5 Não 129 65,8 66,5 100,0 Total 194 99,0 100,0 Missing 999 2 1,0 Total 196 100,0 Quem Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent Valid Vizinhos 17 8,7 26,2 26,2 Amigos 6 3,1 9,2 35,4 Conhecidos 31 15,8 47,7 83,1 Avós 2 1,0 3,1 86,2 Outros_conhecidos 5 2,6 7,7 93,8 Outros_familiares 4 2,0 6,2 100,0 Total 65 33,2 100,0 Missing 999 1 ,5 System 130 66,3 Total 131 66,8 Total 196 100,0 80 Ideias_Suicidas Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent Valid Nenhuma vez 126 64,3 64,9 64,9 Uma só vez 27 13,8 13,9 78,9 Duas vezes 15 7,7 7,7 86,6 Mais do que duas vezes 26 13,3 13,4 100,0 Total 194 99,0 100,0 Missing 999 2 1,0 Total 196 100,0 Tentativa_Suicidio Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent Valid Nenhuma vez 176 89,8 90,7 90,7 Uma só vez 10 5,1 5,2 95,9 Duas vezes 4 2,0 2,1 97,9 Mais do que duas vezes 4 2,0 2,1 100,0 Total 194 99,0 100,0 Missing 999 2 1,0 Total 196 100,0 Nacionalidade do sujeito Frequency Percent Valid Percent Cumulative Percent Valid Portuguesa 184 93,9 94,8 94,8 Outras 10 5,1 5,2 100,0 Total 194 99,0 100,0 Missing 999 2 1,0 Total 196 100,0 81 Anexo 3.2 Crosstabs Case Processing Summary Cases Valid Missing Total N Percent N Percent N Percent Idade do sujeito * Ano de escolaridade 195 99,5% 1 0,5% 196 100,0% Idade do sujeito * Ano de escolaridade Crosstabulation Count Ano de escolaridade Total 8 9 10 Idade do sujeito 13 27 0 0 27 14 30 23 12 65 15 1 26 49 76 16 1 8 11 20 17 0 5 2 7 Total 59 62 74 195 Anexo 3.3 Crosstabs Case Processing Summary Cases Valid Missing Total N Percent N Percent N Percent Idade do sujeito * Género do sujeito 195 99,5% 1 0,5% 196 100,0% 84 Anexo 3.6 Crosstabs Case Processing Summary Cases Valid Missing Total N Percent N Percent N Percent Idade da memória da familia * Idade do sujeito 178 90,8% 18 9,2% 196 100,0% Idade da memória dos amigos * Idade do sujeito 179 91,3% 17 8,7% 196 100,0% Idade da memória da escola * Idade do sujeito 178 90,8% 18 9,2% 196 100,0% Idade da memória da familia * Idade do sujeito Crosstabulation Count Idade do sujeito Total 13 14 15 16 17 Idade da memória da familia 2 1 1 0 0 1 3 3 3 1 1 0 0 5 4 1 0 2 0 0 3 5 1 2 4 1 1 9 6 1 2 2 0 0 5 7 0 6 2 0 0 8 8 1 4 4 0 0 9 9 1 1 4 0 0 6 10 4 6 5 1 1 17 11 5 4 1 1 0 11 12 5 10 9 3 0 27 13 3 18 13 4 1 39 14 0 8 13 3 0 24 15 0 0 8 3 1 12 Total 26 63 68 16 5 178 85 Idade da memória dos amigos * Idade do sujeito Crosstabulation Count Idade do sujeito Total 13 14 15 16 17 Idade da memória dos amigos 3 1 0 0 0 0 1 4 1 0 2 0 0 3 5 0 2 0 0 0 2 6 0 1 0 1 0 2 7 0 0 2 1 0 3 8 0 0 3 0 0 3 9 2 3 2 0 1 8 10 2 3 3 1 0 9 11 2 6 2 1 0 11 12 10 9 9 2 0 30 13 8 23 12 0 0 43 14 0 13 25 3 2 43 15 0 0 8 9 1 18 16 0 0 0 1 2 3 Total 26 60 68 19 6 179 Idade da memória da escola * Idade do sujeito Crosstabulation Count Idade do sujeito Total 13 14 15 16 17 Idade da memória da escola 2 1 0 1 0 0 2 3 0 0 0 1 1 2 5 0 1 2 0 0 3 6 3 0 1 0 0 4 7 0 2 1 0 0 3 8 0 1 1 1 0 3 9 2 1 1 0 0 4 10 4 9 7 1 0 21 11 0 4 7 3 1 15 12 7 11 10 4 0 32 13 6 19 13 1 0 39 14 0 11 18 1 0 30 15 0 0 11 4 2 17 16 0 0 0 1 2 3 Total 23 59 73 17 6 178 86 ANEXO 4 Análise descritiva Anexo 4.1 Reliability Scale: Depressão Case Processing Summary N % Cases Valid 182 92,9 Excluded a 14 7,1 Total 196 100,0 a. Listwise deletion based on all variables in the procedure. Reliability Statistics Cronbach's Alpha N of Items ,806 20 Scale: Desesperança Case Processing Summary N % Cases Valid 180 91,8 Excluded a 16 8,2 Total 196 100,0 a. Listwise deletion based on all variables in the procedure. Reliability Statistics Cronbach's Alpha N of Items ,823 20