Baixe Caderno de Resumos rs.docx e outras Resumos em PDF para Filosofia, somente na Docsity! 1 Agradecimentos Agradecemos o apoio da secretaria em todas as etapas do encontro, especialmente de Geni Ferreira Lima, Luciana Nóbrega, Maria Helena de Souza, Marie Marcia Pedroso, Ruben Dario, Lucas Riello de Almeida, Samara Konno Fiuza e Susan Thiery Satake. Aos professores com os quais conversamos e que nos ajudaram a dar forma ao encontro: Alberto Ribeiro Gonçalves de Barros, José Carlos Estêvão, Léon Kossovitch, Moacyr Ayres Novaes Filho, Marcos Nobre, Maurício de Carvalho Ramos, Milton Meira do Nascimento, Ricardo Ribeiro Terra, Victor Knoll e Vladimir Pinheiro Safatle. Aos pós-doutorandos e professores pela coordenação das mesas. Ao Departamento de Filosofia pelo apoio institucional. Programação 16 a 20 de setembro 2 Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira 10h – 12h Credenciamento Mesas 3 Mesas 5 Mesas 7 Mesas 9 Almoço 14h – 16h Mesas 1 Mesas 4 Mesas 6 Mesas 8 Mesas 10 Intervalo 16h30 – 18h30 Mesas 2 “Presença da tradição crítica brasileira, formação do pesquisador em filosofia” Prof. Dr. Silvio Rosa Filho (Unifesp) “Percurso Acadêmico” Prof.ª Dr.ª Marilena Chauí (USP) “Cânone filosófico: sobre a possibilidade de uma Filosofia Oriental” Prof. Dr. Antônio Florentino Neto (Unicamp) Encerramento : “Filosofia, Universidade e Espaço Público” Prof. Dr. Vladimir Pinheiro Safatle (USP) Jantar 19h30 - 21h30 Abertura: Formação e Profissionalização na pós-graduação Prof. Dr. Ricardo Terra (USP) “Questões estruturais da pós: agências e políticas de fomento” Prof. Dr. Ernani Pinheiro Chaves (UFPA) “Percurso Acadêmico” Prof. Dr. Léon Kossovitch (USP), Prof. Dr. Ricardo Nascimento Fabbrini (USP) ”Pesquisa em filosofia: o significado do projeto a partir da unidade da trajetória de pesquisa” Prof. Dr. Maurício de Carvalho Ramos (USP) Mesas de comunicações Segunda-Feira 14h – 16h30 5 O corpo na filosofia da imanência Husserl (SALA 113) Coordenação: Dra. Silvana Ramos - Denise Damaris da Silva (Universidade Federal de Minas Gerais) O caminho de Husserl rumo à intersubjetividade - Tayrone Barbosa Justino Alves (Universidade Federal de São Carlos) Subjetividade e Tempo na Fenomenologia de Husserl - Afrânio Rami Coelho Sales (Universidade Federal do Ceará) Investigações para a genealogia do conceito de Mundo da Vida Wittgenstein (SALA 115) Coordenação: Dr. Antonio Ianni Segatto - Raquel Albieri Krempel (Universidade de São Paulo) Wittgenstein e o problema do mundo exterior - Roberto Carlos Pignatari (Universidade de São Paulo) SILÊNCIO IMEDIATO – Mística e linguagem primitiva no pensamento de Wittgenstein - Karina da Silva Oliveira (Universidade Estadual Paulista) 6 Linguagem, representação da realidade e existência: a capacidade de dar significado ao mundo na filosofia da linguagem de Ludwig Wittgenstein Segunda-Feira 19h30 – 21h30 Abertura: Formação e Profissionalização na pós-graduação - Prof. Dr. Ricardo Terra (USP) Terça-Feira 10h-12h30 Nietzsche (SALA 8) Coordenação: Dr. Eduardo Nasser - Ronaldo Zanella (Universidade Federal da Paraíba) Homero e o jovem Nietzsche - Eder Corbanezi (Universidade de São Paulo) Nietzsche e a distinção entre as artes de interpretação boas e ruins - Guilherme Lanari Bó Cadaval (Universidade Federal do Rio de Janeiro) A sedução da linguagem segundo Nietzsche - Daniel Quaresma Figueira Soares (Universidade de São Paulo) 7 A crítica a Schopenhauer durante o período intermediário da obra nietzschiana São Tomás de Aquino (SALA 113) Coordenação: Dra. Cristiane Negreiros Abbud Ayoub - Matheus Barreto Pazos de Oliveira (Universidade Estadual de Campinas) A dupla caracterização do bem em Tomás de Aquino: propriedade transcendental e transcendente? - Evaniel Brás dos Santos (Universidade Estadual de Campinas) Princípio de existência e princípio de movimento em Tomás de Aquino - Matheus Henrique Gomes Monteiro (Universidade Estadual de Campinas) Tomás de Aquino e possibilidade enquanto “poder ser feito” - Pedro Konzen Capra (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Lei Natural, Virtude Moral e Hábito para Tomás de Aquino Educação (SALA 115) Coordenação: Dr. Celso F. Favaretto - Tiago Brentam Perencini (Universidade Estadual Paulista) Um olhar arqueológico sobre a escassez e a restrição do debate sobre o ensino de filosofia no Brasil - Vandré Kopcak (Universidade Federal do ABC) 10 - Lourenço Fernandes Neto e Silva (Universidade de São Paulo) O Signo no Ensaio sobre a Origem dos Conhecimentos Humanos de Condillac - Homero Santos Souza Filho (Universidade de São Paulo) Educação e desnaturação no Emílio de Rousseau - Nelson Maria Brechó da Silva (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) A amizade e a precariedade humana em Montaigne: uma abordagem humanista Psicanálise I (SALA 24) Coordenação: Dra. Mariana Pimentel - Luiz Fernando Botto Garcia (Universidade de São Paulo) Hipóteses sobre o ser no seminário sobre o desejo - Guilherme Marconi Germer (Universidade Estadual de Campinas) Freud na Proximidade da “Escola de Schopenhauer” - Suzan Cristina dos Anjos (Universidade Federal do Paraná) A Metapsicologia Freudiana em Herbert Marcuse – Obsolescência e Provocação Terça-Feira 16h30-18h30 11 Presença da tradição crítica brasileira, formação do pesquisador em filosofia - Prof. Dr. Silvio Rosa Filho (Unifesp) Terça-Feira 19h30-21h30 Questões estruturais da pós: agências e políticas de fomento - Prof. Dr. Ernani Pinheiro Chaves (UFPA) Quarta-Feira 10h-12h30 Sartre (SALA 12) Coordenação: Dr. Márcio Alves de Oliveira (Instituto Federal de São Paulo) - Carlos Eduardo de Moura (Universidade Federal de São Carlos) As Ciências humanas e o inumano: a base antropológica da produção do saber e o resgate da subjetividade - Luciana Lima Fernandes (Universidade Federal do Ceará) Sartre, a liberdade e o engajamento - Lucila Lang Patriani de Carvalho(Universidade de São Paulo) 12 O estatuto da pintura em Sartre - Simone Teixeira Bernardo (Universidade Estadual do Ceará) Indivíduo versus multidão: a existência na perspectiva kierkegaardiana Descartes (SALA 10) Coordenação: Dra. Celi Hirata - Arthur Feitosa de Bulhões (Universidade Estadual de Campinas) As Regulae ad directionem ingenii e a naturalização do método cartesiano - Sacha Kontic (Universidade de São Paulo) A imagem como paradigma da ideia em Descartes e Leibniz - Louis de Freitas Richard Blanchet (Universidade Federal do Paraná) Movimento e continuidade na física cartesiana Filosofia e Sociedade (SALA 104-A) Coordenação: Dr. Ricardo Ribeiro Terra - Flávio Azevedo Reis (Universidade de São Paulo) Liberalismo e o bem: algumas questões sobre o debate liberal-comunitarista - Elisângela Amaral Soares Osório (Universidade Federal do Piauí) 15 - Beatriz Viana de Araujo Zanfra (Universidade Federal de São Paulo) Liberdade e temporalidade na fenomenologia de Merleau-Ponty Kant II (SALA 104-B) Coordenação: Dr. Valter José Maria Filho - Rodrigo Luiz Silva e Souza Tumolo (Universidade de São Paulo) Ética kantiana: recuperando as principais noções a partir da Fundamentação da Metafísica dos Costumes - Rodrigo Andia Araújo (Universidade de São Paulo) Kant e a História da Filosofia - Darley Alves Fernandes (Universidade Federal de Goiás) A distinção kantiana entre ação humana e evento natural Quarta-Feira 16h30-18h30 Percurso Acadêmico - Prof.ª Dr.ª Marilena Chauí (USP) Quarta-Feira 19h30-21h30 16 Percurso Acadêmico - Prof. Dr. Léon Kossovitch (USP), Prof. Dr. Ricardo Nascimento Fabbrini (USP) Quinta-Feira 10h-12h30 Filosofia e Literatura (SALA 10) Coordenação: Dr. Ricardo Nascimento Fabbrini - Gilberto Bettini Bonadio (Universidade Federal de São Paulo) Aproximações no diálogo entre Filosofia e Literatura - Benito Eduardo Araujo Maeso (Universidade de São Paulo) Forma e Estilo em Kafka: um diálogo conceitual entre Adorno e Deleuze - André Paes Leme (Universidade de São Paulo) A Crítica da Inteligência na obra de Marcel Proust Foucault (SALA 12) Coordenação: Dr. Maurício Cardoso Keinert - Caio Augusto Teixeira Souto (Universidade Federal de São Carlos) 17 Sobre o poder da norma em Michel Foucault: de O nascimento da clínica a Os anormais - Cicero Feitosa Gomes (Universidade Federal Fluminense) Controle e Disciplina na produção do Sujeito em Foucault - Valdir de Volpato Fornel Junior (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) A questão do Governo Pastoral em Segurança, Território, População de M. Foucault Filosofia Medieval (SALA 115) Coordenação: Dra. Cristiane Negreiros Abbud Ayoub - André Luís Tavares (Universidade Federal de São Paulo) A reelaboração da noção boeciana de Pessoa na Summa Theologiae de Tomás de Aquino (Primeira Parte, questão 29) - Gustavo Barreto Vilhena de Paiva (Universidade de São Paulo) A doutrina da causalidade concorrente em João Duns Escoto - Arthur Klik de Lima (Universidade de São Paulo) Conhecimento humano e Sabedoria divina: notas sobre a atividade profética em Averróis Empirismo Britânico (SALA 106-A) Coordenação: Dr. Caetano Ernesto Platino - Luama Socio (Universidade de São Paulo) 20 - Luiz Henrique Alves de Souza Monzani (Universidade Federal de São Carlos) Rousseau e Molière: a crítica ao teatro e a comédia - Hayane da Costa Freitas (Universidade Federal do Ceará) Estética e Política: O Lugar do Espaço Cênico na Filosofia de Jean-Jacques Rousseau - Rodrigo Lopes (Universidade Estadual Paulista) Mímesis: a tragédia na Poética de Aristóteles e na Ópera Francesa do Século XVIII Quinta-Feira 16h30-18h30 Cânone filosófico: sobre a possibilidade de uma Filosofia Oriental - Prof. Dr. Antônio Florentino Neto (Unicamp) Quinta-Feira 19h30-21h30 Pesquisa em filosofia: o significado do projeto a partir da unidade da trajetória de pesquisa - Prof. Dr. Maurício de Carvalho Ramos (USP) Sexta-Feira 10h-12h30 21 Estética (SALA 12) Coordenação: Dr. Luiz Roberto Takayama - Úrsula Passos (Universidade de São Paulo) A singularidade da leitura greenberguiana de Kant nos Seminários de Bennington - Mariana de Campos Bardelli (Universidade de São Paulo) A dialética negativa das vanguardas - Rosana de Oliveira (Universidade de São Paulo) A Mitologia no Romantismo e no Idealismo alemão - Artur Sartori Kon (Universidade de São Paulo) O petróleo e o sublime Platão II (SALA 10) Coordenação: Frank Viana Carvalho - Louise Walmsley Nery (Universidade de São Paulo) Aspectos normativos na República de Platão - Marcello Fontes (Universidade de São Paulo) A retórica filosófica do Fedro - Angelo Balbino Soares Pereira (Universidade de Coimbra) A compreensão pitagórica da metempsicose 22 Ética e Técnica (SALA 103) Coordenação: Dra. Daniela Rozados - João Batista Farias Junior (Universidade Federal do Piauí) O princípio responsabilidade como proposta ética para enfrentamento da crise ambiental e do niilismo ético contemporâneo - Nathália Cristina Alves Pantaleão (Universidade Estadual Paulista) De Turing à cognição situada e incorporada: O desenvolvimento de abordagens contemporâneas da Inteligência Artificial Política Moderna (SALA 104-B) Coordenação: Dr. Paulo Jonas L. Piva - Eduardo Leonel Corrêa Cardoso (Universidade de São Paulo) Política em Jean-Jacques Rousseau: entre Utopia e Realismo - Douglas Antônio Fedel Zorzo (Universidade Estadual do Oeste do Paraná) Maquiavel e a recusa aos mercenários: uma opção política Merleau-Ponty II (SALA 106-A) Coordenação: Dr. Alex de Campos Moura 25 Resumos Nome: Afrânio Rami Coelho Sales Instituição: Universidade Federal do Ceará – UFC Orientador: Prof. Dr. Ivanhoé Albuquerque Leal Título: Investigações para a genealogia do conceito de Mundo da Vida Resumo: As investigações que se seguem têm por objetivo desenvolver uma genealogia do conceito de mundo da vida (lebenswelt) apresentado por Edmund Husserl (1859-1938). Para tanto são investigados nos dois primeiros momentos dois elementos centrais ao projeto husserliano que entendemos como constituintes da ideia husserliana de Mundo da Vida, a saber: intuição e Mundo. Também relevante para a pesquisa é o conceito de horizonte em Husserl por partilhar sua origem com os conceitos principais estudados. O terceiro momento é dedicado à explanação de como os dois elementos iniciais são centrais à genealogia do Mundo da Vida sobretudo na forma em que este conceito aparece pela primeira vez na obra de Husserl, em relação aos juízos predicativos, apresentada em Experiência e Juízo [Erfahrung und Urteil] (1939) que embora seja de publicação posterior à A Crise das Ciências Européias e a Fenomenologia Transcendental (1936) é de concepção prévia e registra a forma original em que Husserl pretendia apresentar tal conceito. Nesta linha de pensamento as noções de intuição e Mundo são os germes que em seu desenvolvimento último se fundem gerando o conceito de Mundo da Vida encontrado em Experiência e Juízo, tal perspectiva parece mais acertada para tratar do surgimento do Mundo da vida em Husserl pois demonstra a continuidade de raciocínio entre as obras iniciais de cunho logicista e a última produção de Husserl – especialmente em se compreendendo Lógica Formal e Lógica Transcendental [Formale und Tranzendentale Logik] (1929), como esta havia sido inicialmente planejada por Husserl: uma introdução a Experiência e Juízo. Palavras-chave: Intuição, Mundo, Mundo da Vida Nome: Alexandrina Paiva da Rocha 26 Instituição: Universidade de São Paulo - USP Orientador: Prof. Dr. Milton Meira do Nascimento Título: Reformulação Arendentiana dos Direitos Humanos – Paradoxos, Fraquezas e Perigos. Resumo: O século XX foi marcado pela democracia totalitária, tema em que devemos destacar Hannah Arendt como uma das primeiras filósofas a oferecer uma reflexão sobre os horrores do totalitarismo na sua obra As Origens do Totalitarismo. Judia refugiada da Alemanha Nazista e considerada tanto por ela quanto pelos outros como uma pessoa sem Estado, situação que se arrastou por quase 20 anos tornou-se uma cidadã americana apenas em 1951. Nossa autora aborda a ruptura da tradição como resultado do fenômeno do totalitarismo entre a idade moderna e o século XX, argumentando que o regime totalitário rompeu com o fio da tradição, permitindo que todos pudessem discutir a política e a história, mesmo sem ser detentor do status de filósofo, ela mesma não se considerava uma. Para ela: ‘maioria das grandes tradições da filosofia política ocidental a partir de Platão em diante tinha dado uma impressão sistematicamente enganosa da natureza e as potencialidades da política’. A partir de sua reflexão sobre o regime totalitário e das respostas obtidas às crises culturais, políticas e intelectuais de sua época, Arendt chega a questão dos direitos humanos. A análise aredentiana faz uma descrição das transformações sofridas pelos homens que tornaram-se cadáveres humanos na Alemanha Nazista, evidencia os paradoxos de tais direitos vinculados à abstração das Declarações do século XVII, afirmando que Hobbes e Rousseau são os principais teóricos dessa tradição com idéias que se contrapõem as de Montesquieu e que levou o discurso dos direitos humanos ao fracasso. Por fim, Arendt não resta apenas nas críticas, mas propõe uma revalorização dos direitos do cidadão por meio da capacidade de garantir os direitos humanos e fundar uma articulação entre a universalidade e a diversidade, que tem sua fundamentação no conceito de humanidade a partir de um diálogo com as idéias do filósofo também alemão, Immanuel Kant. Palavras-chave: Totalitarismo, Declarações do século XVII, Direitos Humanos Nome: Ana Paula de Oliveira Instituição: Universidade Estadual Paulista - UNESP Orientadora: Prof.ª Dr.ª Clélia Aparecida Martins 27 Título: Uma suposta contradição na noção de tempo apresentada por Kant na Estética Transcendental: da possibilidade do caráter temporal dos objetos Resumo: A análise que se pretende desenvolver concerne à acepção de tempo como a priori e como forma pura da intuição. Inicialmente, como problema a ser investigado nos deparamos na “Estética”, no segundo argumento da “Exposição metafísica do conceito de tempo” (§ 4), com afirmações de Kant que dão a entender um suposto caráter temporal dos objetos (A 30-31/B 46 e B 48). Mas se assim fosse, isso implicaria uma representação fundante a priori dos objetos. E Kant é claro em afirmar que o tempo (e não o caráter temporal dos objetos) como forma pura da intuição é dado a priori, é a “condição a priori de todos os fenômenos em geral; – condição imediata dos fenômenos internos (da nossa alma) e mediatamente dos fenômenos externos” (A 34/ B 50). No entanto, ele também afirma que “todos os fenômenos em geral, isto é, todos os objetos dos sentidos, estão no tempo e necessariamente sujeitos às relações do tempo” (B 51). Ora, não seria possível inferir dessas afirmações que o tempo, para ser compreendido em sua aprioridade mesmo, ainda carece do fenômeno? Supomos um aspecto aparentemente contraditório entre essas passagens, o que, por sua vez, justifica a necessidade de estudos exegéticos que nos permita esclarecer aquelas obscuridades. Essas passagens requerem maior investigação porque como aparentemente contraditórias, podem comprometer todo o sistema crítico de Kant, haja vista o conceito de a priori não ser remetido apenas ao tempo. Para Kant conceitos, juízos e intuições podem ser a priori. E, apesar de ter definido a priori como o que é “independente da experiência e mesmo de todas as impressões dos sentidos”, Kant não deixa muito claro o que é essa “independência”, o que de certa forma mantém essa noção de a priori como problemática, visto ser um tanto obscura. Sendo essa uma das noções mais problemáticas no texto kantiano, em relação ao tempo a dificuldade é evidente: se a sensibilidade é a capacidade de receber representações pelo fato de ser o Gemüt afetado por objetos, como o tempo como forma pura da sensibilidade pode vir antes, ser independente do objeto, da experiência das impressões do sentido? Palavras-chave: Kant, Idealismo transcendental, Tempo, Estética Transcendental Nome: Anderson Aparecido Lima da Silva Instituição: Universidade de São Paulo - USP Orientador: Prof. Dr. Franklin Leopoldo e Silva Título: Michel Foucault: considerações sobre democracia e parrhesia 30 Tal conversa se realiza seis anos após a publicação das "Meditações de filosofia primeira", sendo que conta com inúmeros apontamentos sobre a obra. Dentre eles, ressaltamos o argumento da indivisibilidade da substância pensante, o qual poderia vetar a segmentação entre pré-reflexivo e reflexivo, uma vez que a passagem ao Cogito apenas instaura na intuição imediata um pensamento idêntico ao precedente. A identidade absoluta entre “consciência” e “consciência de consciência”, portanto, atestaria a permanência do eu penso, subjacente a todos os atos téticos que o situam como sujeito do conhecimento. Assim, buscamos recuperar questões internas ao pensamento de Descartes, a fim de melhor contextualizar a posição de Merleau-Ponty, o qual investiga o vínculo existente entre pensamento e linguagem, Cogito e significação Palavras-chave: Cogito, Fenomenologia, Linguagem, Subjetividade Nome: André Luís Tavares Instituição: Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP Orientador: Prof. Dr. Juvenal Savian Filho Título: A reelaboração da noção boeciana de Pessoa na Summa Theologiae de Tomás de Aquino (Primeira Parte, questão 29) Resumo: Em nossa pesquisa, trabalhamos o uso que Tomás de Aquino faz na ST I q. 29 da noção de “Pessoa”, que retira de Boécio: Persona est rationalis naturae individua substantia - “Pessoa é a substância individual de natureza racional” ). A compreensão da noção de Pessoa (o termo vem dos cultos, manifestações teatrais e reflexões gramaticais greco-romanas) possui uma longa e disputada história no pensamento cristão; a “Pessoa” entra na filosofia ocidental a partir das querelas trinitárias e cristológicas do cristianismo antigo; esta noção só pode ser compreendida na Summa Theologiae se tivermos em conta outros dois elementos, presentes nas questões 27 e 28 da mesma Prima Pars: processões e relações. Estas noções possibilitam “abrir” aquela de Boécio, numa hermenêutica que possibilitará a Tomás inserir a definição boeciana em seu sistema de pensamento. Um conceito ôntico-estático é interpretado de modo a se tornar ontológico-dinâmico. Tomás, em sua Summa Theologiae, irá afirmar que a definição de Boécio se aplica também às pessoas divinas, desde que se entenda “racional” no sentido de “intelectual”, e “individual” no sentido de “incomunicável” . São estes conceitos que nosso autor irá utilizar para receber e reinterpretar a definição de Boécio; reinterpretará individua substantia como esse per se subsistens in natura intelectuali ." 31 Palavras-chave:Pessoa, Processão, Relação, Hermenêutica Nome: André Luiz Braga da Silva Instituição: Universidade de São Paulo - USP Orientador: Prof. Dr. Roberto Bolzani Filho Título: O método multidirecional e o blefe do Estrangeiro de Eleia: Sofista 232a Resumo: Uma das primeiras e mais notáveis dificuldades na interpretação do diálogo Sofista de Platão é o fato de a pesquisa da dupla Teeteto e Estrangeiro de Eleia apresentar, através da utilização do Método de Divisão, uma pluralidade de “definições” do mesmo objeto, o “sofista”. Cada definição é tratada pela dupla inquiridora como um “caminho” para alcance dele. De início a literatura secundária diverge quanto ao número de definições apresentadas: 6 (seis), segundo alguns autores; 7 (sete), segundo outros. Entretanto, maior do que esse problema é a divergência que pode ser notada no que tange à opinião dos comentadores sobre a validade da pluralidade de definições. Uma parcela significativa de comentadores de peso procurou demonstrar, por caminhos diferentes, que na verdade essa pluralidade não pode ser legítima aos olhos de Platão. Outros, todavia, não veem isso como uma impossibilidade, e aí estão formadas as duas principais posições acerca da questão: i) a posição de que alguma das sete definições é descartada, substituída e/ou não corresponde a uma definição dialética autêntica. São partidários deste time Pierre Pellegrin (1991), Francis Wolff(1991), Monique Lassègue (1991) e Thomas Szlezák (2011); ii) e posição segunda a qual todas as definições possuem verdade dialética e são caminhos legítimos para se chegar ao objeto de pesquisa. Esta é a posição de Néstor Cordero (PLATON, 1993) e Marcelo Marques (2006). É importante demarcar que os partidários da primeira posição sempre viram na passagem Sofista 232a o principal argumento para sustentação de sua tese, a saber: o de que o Estrangeiro estaria desmerecendo as definições até então alcançadas no diálogo. Apostando então num diálogo construtivo com estes autores, o presente artigo visa o estabelecimento de uma posição sobre o problema, apoiada fundamentalmente no próprio texto platônico. Aos nossos olhos, a atenção a outros trechos da obra apontam para a possibilidade de o Estrangeiro, na aludida passagem, estar tentando levar Teeteto para um caminho que o próprio eleata não entende ser o melhor – quase como se estivesse testando o menino. Contudo, nessa 32 hipótese de leitura, se o Estrangeiro revela-se um jogador experiente, Teeteto mostra também sua sagacidade e não aposta no “blefe” do mestre eleata. É interessante que uma tal hipótese abriria então a possibilidade da aceitação da legitimidade de uma pluralidade de caminhos para o alcance do mesmo objeto; na esteira dessa interpretação, o método do Estrangeiro poderia sim ser considerado como imbuído de algo que modernamente chamaríamos de... perspectivismo. Palavras-chave: Platão, Sofista, Divisão, Perspectivismo, Perspectiva Nome: André Paes Leme Instituição: Universidade de São Paulo - USP Orientador: Prof. Dr. Léon Kossovitch Título: A Crítica da Inteligência na obra de Marcel Proust Resumo: Proust cultivou em sua obra (e mesmo em sua vida) uma relação bastante ambígua para com a filosofia. Enquanto uma enorme quantidade de leitores vislumbra em O Tempo Redescoberto uma esclarecedora sistematização filosófica das ideias que teriam orientado a criação do conjunto de romances que o precede, o tratamento dispensado por Proust à figura do filósofo permanece sempre no campo da ironia e da comicidade. Embora não se possa inferir daí que sua posição sobre a filosofia encontre mesmo no escárnio uma palavra final fica difícil sustentar uma possível admiração proustiana pelas mais altas virtudes morais do pensamento abstrato. Tal como um genealogista nietzschiano, Proust privilegia, na análise do pensamento filosófico, a identificação de questões que coloquem em jogo o valor dos valores produzidos por determinada forma de pensamento. Ele se interessa por investigar, não exatamente o papel social, mas a maneira como se dá, digamos, a representação social daqueles que se vinculam a esta ou aquela tese filosófica. É nesse movimento que se percebe a cisão - por exemplo, no idealista Legrandin [personagem de À la Recherche du Temps Perdu], que defende a “irrealidade” do mundo exterior, mas não deixa de buscar nele uma posição favorável - entre a filosofia e a realidade. Legrandin não se trata de um caso isolado e a aparente ridicularização da filosofia e dos filósofos (não apenas os mundanos) deve ser compreendida no quadro de um movimento crítico mais amplo que buscaremos melhor explicitar. Em nossa apresentação, estaremos diante de uma clara dicotomia: se por um lado a crítica proustiana muitas vezes, como vimos, concebeu O Tempo Redescoberto como a determinação 35 empenhava para explicar a cognição, na falta de uma elaboração filosoficamente mais sofisticada, que só viria a partir da correspondência com Mersenne em 1630. Assim, o projeto epistemológico de Descartes traçado a partir da Regra XII se constitui numa resposta à questão de como é possível dizer que as operações mentais descritas nas regras anteriores são naturais, não precisando ser ensinadas pela dialética. Para este fim, lançar mão de uma fisiologia e uma filosofia natural mecanicistas, como Descartes faz na Regra XII para mostrar como seu método já é dado como possibilidade na própria constituição do homem, parecia suficiente para um autor prioritariamente interessado em fazer ciência da natureza, como parecia ser o caso de Descartes naquele momento. Com efeito, quase a totalidade dos produtos da ciência cartesiana foi desenvolvida durante um período em que a única epistemologia de que Descartes dispunha era aquela contida nas Regulae, mesmo que admitamos ter havido um abandono desse projeto epistemológico em benefício de outro elaborado a partir do desafio lançado pelas questões céticas como acontece nas Meditationes. Palavras-chave: Descartes, Epistemologia, Cognição, Diretrizes para o pensar, Dialética Nome: Arthur Klik de Lima Instituição: Universidade de São Paulo - USP Orientador: Prof. Dr. Moacyr Ayres Novaes Filho Título: Conhecimento humano e Sabedoria divina: notas sobre a atividade profética em Averróis Resumo: A profecia é um tema recorrente aos pensadores da falsafa. Sua importância pode ser associada ao fato de que a atividade profética representa diretamente a manifestação terrena da vontade divina, além de ser um dos principais dogmas do Islã, a revelação do Alcorão foi uma atividade profética. Mas a teoria do conhecimento pensada por Averróis parece não se adequar ao que tradicionalmente se compreende neste período como atividade profética. A recepção, pelo homem, de um conhecimento oriundo diretamente de deus ou de alguma inteligência celestial parece estar em conflito com a relação entre homem e intelectos celestiais pensada por Averróis. Para ele, os homens e os intelectos separados conhecem por modos completamente distintos, onde o conhecimento dos homens é da ordem dos seres particulares e o dos intelectos da ordem dos universais. A possibilidade de comunicação entre tais esferas somente e possível por meio de um processo de adequação mediado pelo intelecto material que tornaria o homem capaz de acessar certo grau de universalização do conhecimento próprio dos intelectos celestiais. Este processo 36 depende inteiramente da vontade humana, e, de forma alguma é recebido gratuitamente dos intelectos separados da matéria. Assim, parece improvável que o homem seja capaz de compreender algo que seja fruto de uma ""emanação"" direta dos intelectos separados. Ou ainda, que os intelectos separados sejam capazes, por si, de traduzir seu próprio conhecimento aos particulares. O problema que se levanta aqui leva em consideração o fato de que Averróis precisa reconhecer a atividade profética como um fundamento da religião, mas também precisa adequá-la a sua explicação filosófica do mundo. O que se intenta nesse trabalho é analisar a forma como ele relaciona o problema filosófico do conhecimento humano em face ao problema religioso da profecia e da providência divina. Palavras-chave: Averrois, Profecia, Intelecto, Providência Nome: Artur Sartori Kon Instituição: Universidade de São Paulo - USP Orientador: Prof. Dr. Ricardo Nascimento Fabbrini Título: O petróleo e o sublime Resumo: Tendo em vista a objeção de Jacques Rancière em relação às reflexões estéticas de Frances Jean-François Lyotard, será preciso abandonar de uma vez por todas a categoria do sublime ou é possível vislumbrar uma reconstrução? Se Rancière não pode aceitar a proibição da representação na arte - especificamente uma estética do irrepresentável como respeito e dívida para com um Outro trazida por Lyotard da oposição kantiana entre fenômeno e coisa-em-si - e ao mesmo tempo recusa um regime representativo em que a obra está submetida a um conjunto fixo de relações figurativas, será preciso lançar mão de uma estética verdadeiramente dialética para manter a potência do sublime em um campo sem fronteiras ontológicas estanques, um plano democrático de litígio e contradição. Mesmo que para compreender tal dialética haja necessidade de nos valermos da Teoria Estética de Adorno e da leitura que Slavoj Žižek faz de Hegel em seu recente Menos que nada, em última instância terá de ser certamente a própria arte a nos fornecer um modelo para tal reflexão. Partiremos aqui do espetáculo teatral Petróleo, escrito por Alexandre Dal Farra e dirigido por Clayton Mariano em São Paulo em 2011, e particularmente de reflexões do dramaturgo sobre o processo de escrita da peça, em que a tentativa de um teatro político de representar a situação do Brasil pós-Lula se quebra no embate com seu objeto, dando lugar a um 37 trabalho formal que busca induzir o colapso e a destruição das representações teatrais e políticas estabelecidas, abrindo espaço para a escavação do material explosivo que há por baixo. Palavras-chave: Teatro contemporâneo, Teatro paulistano, Sublime, Jacques Rancière Nome: Beatriz Viana de Araujo Zanfra Instituição: Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP Orientador: Prof. Dr. Alexandre de Oliveira Torres Carrasco Título: Liberdade e temporalidade na fenomenologia de Merleau-Ponty Resumo: Na obra A estrutura do comportamento, de 1942, Maurice Merleau-Ponty, por meio da noção de estrutura, combate o naturalismo e o intelectualismo, mostrando que o corpo não é um agregado de músculos e de nervos que opera de acordo com a causalidade mecânica e funcional e que a consciência reflexiva não é a única forma da consciência e nem sua primeira manifestação, mas sim dependente da consciência perceptiva e indiscernível do corpo como princípio estruturante. Nesse sentido, no capítulo destinado à questão das relações da alma e do corpo, Merleau-Ponty mostra que todos os problemas a esse respeito se reduzem ao problema da percepção, entendida como “o ato que nos faz conhecer existências” e vê a necessidade da filosofia transcendental ser redefinida a fim de integrar nela o fenômeno do real, sendo tal filosofia a fenomenologia, com a investigação da percepção desempenhando um papel fundamental em tal filosofia. Em Fenomenologia da Percepção, de 1945, Merleau-Ponty retoma o problema das relações da alma e do corpo abordado no livro anterior, mostrando que a temporalidade resolve tal problema, pois a ideia de subjetividade como temporalidade nos permite ver que o para-si, a revelação de si a si, é o vazio no qual o tempo se faz, e o mundo “em si”, que é o horizonte de nosso presente, fazem o problema redundar em saber como um ser que é porvir e passado tenha também um presente, o que suprime o problema, já que o porvir, o passado e o presente estão ligados no movimento de temporalização. Sendo assim, a solução de todos os problemas de transcendência se encontra na espessura do presente pré-objetivo, onde encontramos, entre outras coisas, o fundamento de nossa liberdade. Palavras-chave: Liberdade, Temporalidade, Estrutura, Fenomenologia Nome: Benito Eduardo Araujo Maeso Instituição: Universidade de São Paulo - USP 40 presente, mas para marcar justamente uma ruptura na ordem dos acontecimentos que foi correlata a uma mudança na ordem do saber, donde concluía que a medicina moderna só se tornou possível a partir do surgimento de uma instituição como a clínica, que congrega uma prática terapêutica (de intervenção, portanto, sobre os indivíduos) e a criação e ensino de um saber específico, absolutamente novo, a medicina moderna. Uma noção foi essencial a essa modificação na ordem do saber e no âmbito das práticas: a noção de norma, que passou a se definir como um princípio de separação dos indivíduos. No curso proferido no Collège de France entre os anos de 1974-1975, intitulado Os anormais, Foucault amplia aquelas análises acerca das condições históricas de formação do saber médico inserindo em seu campo teórico a noção de dispositivo. Tal noção abrange não só a relação entre um saber e as condições de observação de seu objeto (como no caso da relação entre a medicina e a clínica), mas também as relações entre o saber e o que Foucault passa a denominar mecanismos e tecnologias de poder. A noção de norma continua a ser priorizada, mas agora sob um modo diferente: ela não mais funciona como princípio de distribuição de objetos e sujeitos nos campos do normal e do anormal, mas passa a remeter à ideia de mecanismos e estratégias de constituição dos objetos e sujeitos, ou de intervenção do poder nessa constituição; não remete às noções de repressão ou exclusão, não significa impor limites a determinadas condutas, mas remete, ao contrário, a estados ou situações a partir dos quais, e por meio dos quais, uma tecnologia positiva de poder é possível, de tal forma que, normalizar, significaria agenciar a produção de condutas esperadas; não um princípio de repressão, mas um mecanismo produtivo de poder. Palavras-chave: Foucault, Norma, Normal, Anormal, Medicina Nome: Camila Sant'Ana Vieira Ferraz Milek Instituição: Universidade Federal do Paraná - UFPR Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Brandão Título: A moral sensualista de Helvétius pelo princípio do interesse Resumo: Analisando a fundamentação da moral proposta por Helvétius no século XVIII, procuramos a possibilidade de um elo consideravelmente forte entre uma descrição do homem como dotado de sensibilidade à construção de um entendimento que possibilita a moral e a organização política entre homens. Tal questionamento visa uma fundamentação da moral que, diferente da moral religiosa do período, se propõe como universal e abrangente à todos os homens 41 e por isso mesmo, seja a mais sólida fundamentação. Para que esta fundamentação seja atrelada à verdade, Helvétius usa um método tão empírico quanto a física, que o leva ao sensualismo. O sensualismo nos diz que o que causa o primeiro impulso no homem e é responsável por todo o desenvolvimento de seu espírito é apenas a sensibilidade física. O espírito é entendido neste trabalho em relação ao indivíduo, como o conjunto de ideias e paixões, que são obtidas através das faculdades que, em última análise, são apenas desdobramentos da própria sensibilidade. Diante disto, como esperar que a sensibilidade física norteie um desenvolvimento de juízos complexos e fortaleça o espírito do homem a ponto de organizar sociedades compostas por homens justos e felizes? Deve haver um elo claro e preciso entre os campos da formação das ideias e da moralidade. Mostraremos como a moralidade está inteiramente ligada à tese sensualista principalmente pelo princípio do interesse, entendido como busca pelo prazer e a fuga da dor. Este princípio faz com que a moral entendida por Helvétius, como vemos no conceito de virtude, seja de grande variabilidade já que deve atender ao interesse de cada indivíduo, e que também dependa da educação e da legislação, para fazer com que os interesses pessoais sejam concordantes com o interesse geral, a fim de tornar possível que os homens obtenham felicidade na convivência em sociedade. Palavras-chave: Helvétius, Sensualismo, Moral Nome: Carlos Eduardo de Moura Instituição: Universidade Federal de São Carlos - UFSCar Orientador: Prof. Dr. Luiz Roberto Monzani Título: As Ciências humanas e o inumano: a base antropológica da produção do saber e o resgate da subjetividade Resumo: Pretende-se, com esta exposição, apresentar alguns apontamentos teóricos sartrianos acerca das Ciências Humanas. Partir-se-á, portanto, do pressuposto de que a “Compreensão do Homem” (“O que é o Homem?”) encontrará seu fundamento no seio das Ciências Humanas, produzindo-se “verdades” a partir da relação do “homem-questionador” com o “homem- questionado”, o que apontaria, por sua vez, para outro problema: as implicações (práticas e teóricas) em torno de uma antropologia que desvelaria este homem-objeto. Corre-se o risco, no entanto, de se ocultar uma realidade humana que é o ser pelo qual o tornar-se-objeto vem ao homem. Trata-se aqui de considerar (e demonstrar) que o fundamento das Ciências Humanas tem 42 como ponto de partida a relação (em permanente situação) do homem com o homem (relação com o outro) e do homem com o mundo (ser-aí, circuito da ipseidade). Todavia, se considerar a antropologia (estrutural e a-histórica) uma disciplina que visa definir (conceito, verdade, saber) a essência do homem e a condição humana – limitando a priori o objeto de sua pesquisa –, não se poderá apreender as Ciências Humanas como uma antropologia. Deste modo, procurar-se-á resgatar a ideia de que o discurso do absoluto acaba por revelar que o homem é para si mesmo no seio do relativo (o homem como transcendência do dado). O dado (um absoluto) desvela duas dimensões que não deverão ser suprimidas: a percepção e a praxis. A relação sujeito-objeto se estabelece sob o fundo de uma estrutura significativa da percepção, já que o conhecimento científico, como afirma Sartre, não pode nem suprimir e nem superar a estrutura potencializante da percepção: o mundo aparece no interior do circuito da ipseidade e o observador não será ser excluído. As Ciências Humanas, consequentemente, não poderão eliminar a subjetividade em nome de um cientificismo que quer se proclamar puro saber – o objeto a ser analisado não será uma variável independente (autônoma) do fenômeno humano. O discurso sartriano será resgatado aqui com a finalidade de se apresentar – na constituição do sujeito como objeto no percurso metodológico das Ciências Humanas – a presença de uma base antropológica enquanto produtora de Saber, mas na perspectiva do homem (organismo prático) produzindo Saber como um momento de sua praxis. Não se trata de defender uma Ciência Humana que fundamente o sujeito como ens causa sui (uma teologização do homem), mas sim revelar-lhe que a apreensão, o conhecimento e a prática de si dão-se como relação a si mediada pelo “saber” (ou pelos “saberes”) produzido historicamente pelas Ciências Humanas. Palavras-chave: Ciências Humanas, Antropologia, Subjetividade, História Nome: Caroline Ferreira Fernandes Instituição: Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia - Faje Orientador: Prof. Dr. Elton Vitoriano Ribeiro Título: Um novo modelo de raciocínio prático como uma possível resposta ao fenômeno do multiculturalismo em Charles Taylor Resumo: Nosso escopo fundamental nesse trabalho é mostrar que o modelo de razão prática proposto por Charles Taylor é um possível caminho para o problema do multiculturalismo contemporâneo. Problema esse que tem se mostrado urgente nos tempos atuais e sido respondido 45 Schopenhauer. Ao mesmo tempo, o valor da ciência – que, no período de juventude, sobretudo na Segunda Consideração Extemporânea, era majoritariamente negativo – aparecerá agora como positivo, contrariando mais uma vez a influência recebida de Schopenhauer. De modo geral, pode- se mesmo cogitar que a filosofia nietzschiana do período positivista torne-se uma espécie de mundo invertido em relação ao sistema schopenhaueriano, no qual alguns dos principais operadores do pessimismo metafísico do filósofo de Danzig são desmistificados em sua “origem vergonhosa” (na terminologia de Aurora). Contudo, é impossível não notar uma ausência nesse rol. Se é correto afirmar que alguns dos principais elementos schopenhauerianos tornam-se alvo de crítica durante este período da obra nietzschiana, a principal noção da filosofia de Schopenhauer – estruturadora de todas as demais – não é atacada pelo Nietzsche positivista: a Vontade. Nietzsche aparenta mesmo evitar o confronto direto com a Vontade schopenhaueriana durante este período, referindo-se a ela apenas em momentos isolados. Não seria irrelevante, portanto, compreender o porquê dessa estratégia silenciosa. Para isso, será necessário atentar para uma estratégia paralela em curso durante o período intermediário: também a noção de vida, que aparecia como central na obra do jovem Nietzsche, desaparece quase por completo entre 1878 e 1882. A partir da compreensão do vínculo essencial entre essas duas estratégias, procuraremos apontar brevemente como Nietzsche vai progressivamente colhendo as armas necessárias para o grande confronto com a filosofia de seu “educador”, algo que ocorrerá apenas no período final de sua obra, particularmente por meio da concepção da vontade de potência. Palavras-chave: Nietzsche, Schopenhauer, Metafísica Nome: Daniel Soares da Silva Instituição: Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP Orientador: Prof. Dr. Plínio Smith Título: Referência, necessidade e ciência na filosofia de Saul Kripke Resumo: O objetivo principal da comunicação, resultado de uma pesquisa desenvolvida no âmbito de mestrado, é analisar a relação existente entre o conjunto de idéias elaboradas por Saul Kripke a respeito da referência de expressões da linguagem natural e a concepção essencialista sobre a atividade científica que daí decorre. Em outras palavras, pretende-se examinar de que maneira a perspectiva semântica desenvolvida, dedicada à explicação da função referencial dos nomes 46 próprios e dos termos para espécies naturais, articula-se como fundamento para o surgimento de uma perspectiva que permite compreender a ciência enquanto prática humana capaz de revelar as propriedades essenciais dos objetos que investiga. Para tanto, a comunicação divide-se em três grandes partes. Na primeira parte, o foco recai principalmente sobre o quadro teórico em oposição ao qual Kripke avança a sua proposta sobre a referência. Assim, procura-se expor o descritivismo (e as suas principais versões), abordagem que até meados do século XX constituía o modelo explicativo dominante dentro da tradição da filosofia analítica da linguagem e cujas raízes remontam à recepção de certas contribuições associadas a Frege e Russell. Essa discussão é introduzida a partir do contraponto com a concepção sobre os nomes tradicionalmente atribuída a Mill. Em seguida, pretende-se avançar em torno da perspectiva kripkeana sobre a linguagem. São aí apresentadas as principais noções desenvolvidas no seu esforço de crítica ao paradigma descritivista, como a distinção entre os diferentes tipos de modalidades, a idéia de mundos possíveis, a separação entre o uso de uma descrição enquanto instrumento para se fixar a referência e o seu uso para dar o significado do nome e o conceito de designação rígida. Ocupam também parte central desse capítulo os próprios argumentos usados com vistas à rejeição do descritivismo, bem como a concepção histórico-causal proposta como alternativa explicativa. Por fim, a última parte é dedicada ao chamado essencialismo científico. Antes de tal discussão, entretanto, é feita uma caracterização sumária da posição essencialista em geral, bem como a análise de uma conhecida objeção devida a Quine, a qual, se bem-sucedida, colocaria em questão a possibilidade mesma de se separar inteligivelmente propriedades necessárias e propriedades acidentais. Palavras-chave: Kripke, Linguagem, Referência, Necessidade Nome: Darley Alves Fernandes Instituição: Universidade Federal de Goiás - UFG Orientadora: Prof.ª Dr.ª Márcia Zebina de Araújo da Silva Título: A distinção kantiana entre ação humana e evento natural Resumo: O objetivo desta comunicação é explorar e traçar a partir do argumento kantiano a distinção entre ação humana e evento natural. Tal discussão surge no âmbito da “Dialética transcendental” – Crítica da razão pura – depois do confronto cosmológico entre liberdade e 47 determinismo nas antinomias da razão pura. A solução kantiana para o confronto consiste em recorrer ao “idealismo transcendental” que já havia sido desenvolvido na “Estética transcendental” e demonstrar que todos os objetos de uma experiência possível são fenômenos, isto é, meras representações. Os objetos que são dados na experiência só são reais na percepção, obedecendo às regras da unidade da experiência. Paralelamente, aquilo que existe independente de nossa intuição é denominado coisa em si. A partir de tal distinção, fenômeno e coisa em si, a tarefa consiste em determinar como são possíveis as duas espécies de causalidade, pela natureza e pela liberdade, num único e mesmo objeto. Neste ponto a solução de Kant é apresentar a noção de um duplo caráter, empírico e inteligível, subjacente a todo e qualquer fenômeno. Isto é, todo objeto fenomênico possui um caráter empírico e está submetido à ordem temporal e as leis naturais e possui, também, um caráter inteligível que é atemporal. A partir desta distinção Kant pretende satisfazer a exigência da unidade da experiência desenvolvida na “Analítica transcendental” abrindo, paralelamente, espaço conceitual para a liberdade da vontade. Demonstraremos as distinções entre ação humana e evento natural a partir de três argumentos que consistem em: (i) apresentar a noção geral de caráter empírico e inteligível que deve ser concebida a todos os objetos estabelecendo as distinções entre eles; (ii) explorar e enfatizar tal distinção a partir da noção de “espontaneidade da razão” e de apercepção como atividade reflexiva capaz de dar conteúdo a ideia de inteligível; (iii) apresentar a noção de causalidade da razão como uma atividade que é capaz de originar outras ações, isto é, produzir efeitos. Palavras-chave: Ação humana, Evento natural, Empírico-inteligível, Causalidade da razão Nome: Deivisson Oliveira Silva Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG Orientador: Prof. Dr. Eduardo Soares Neves Silva Título: Notas sobre a mediação entre racionalidade subjetiva e objetiva no Eclipse da Razão de Max Horkheimer Resumo: Escrita por Max Horkheimer com base em uma série de palestras proferidas em 1944 nos Estados Unidos, a obra Eclipse da Razão foi publicada em 1947. O livro foi redigido durante o período de colaboração com Theodor W. Adorno na elaboração da Dialética do Esclarecimento, também publicada em 1947, e o próprio Horkheimer afirma que o seu objetivo seria apresentar aspectos de uma teoria filosófica desenvolvida em colaboração com Adorno. No entanto, embora 50 imanência da minha consciência, o que se desdobraria na crítica solipsista, que Husserl recusa. Para ele, se tudo que existe, existe para mim, devo alcançar o Outro e a transcendência através da minha própria consciência. A subjetividade transcendental é, dessa maneira, o universo de sentido possível; é a partir da intersubjetividade, constituída em mim, que constituo um mundo objetivo, comum a todos. Palavras-chave: Husserl, Fenomenologia, Outro, Intersubjetividade Nome: Diego dos Santos Reis Instituição: Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Orientador: Prof. Dr. Guilherme Castelo Branco Título: Neoliberalismo, Individualismo e Crise Resumo: Aprofundando algumas das abordagens desenvolvidas por Michel Foucault nos cursos “Territoire, Sécurité, Population” (1977-1978) e “La Naissance de la Biopolitique” (1978-1979), proferidos no Collège de France, este trabalho visa a investigação dos principais pressupostos da doutrina (neo)liberal, bem como seus efeitos e suas estratégias de governamentalidade levadas a cabo por políticas de securitização, desregulamentação da economia e dos mercados, e flexibilização de direitos sociais e trabalhistas. Políticas estas que imputam aos sujeitos a total responsabilidade por seus sucessos/fracassos, malgrado a desigualdade das condições de “competição” e a redução dos direitos civis do Estado de direito, ocasionada pelas demandas do capital financeiro. Nesse sentido, enquanto indivíduos “empreendedores de si” e responsáveis pelo desenvolvimento de suas habilidades pessoais, acentua-se o individualismo e os insulamentos provocados por uma perda de vínculos com a comunidade e, sobretudo, com os movimentos sociais. Ora, as crises constantes deste modelo político-econômico, sustentado pelo sistema capitalista como modelo de gestão privilegiado, mormente a partir da década de 70 do século passado – mas cujo desenvolvimento teórico remonta já às décadas de 20-30 -, colocam em xeque a operacionalidade de determinados esquemas para os quais a primazia dos mercados sobrepujaria a ingerência estatal, restando ao Estado a mera função de mediador das relações sociais, a detenção dos aparatos coercitivos de segurança, e de assegurador da dinâmica “natural” e autorreguladora dos mercados e sistemas financeiros. Crises, ainda, que integradas à estrutura de funcionamento do capitalismo, revelam a fragilidade dos sistemas de créditos e dos governos, e reverberam no corpo social sob a forma de desemprego, diminuição da renda e agravamento das dívidas 51 intermináveis – eficientes também como modelo de governamento, na medida em que forjam subjetividades mutiladas e inseguras, dóceis e flexíveis, centradas na “expiação de sua culpa/dívida”, como desenvolve o filósofo e sociólogo italiano Maurizio Lazzarato, a partir das considerações de Nietzsche, Foucault e Deleuze. Deste modo, nossa proposta é analisar os imbricamentos entre estes três conceitos que atravessam diversos campos das ciências humanas, com objetivo de esboçar uma possível zona de interseção, na qual o trinômio neoliberalismo- individualismo-crise nada mais é do que uma maneira de, em sublinhando os aspectos positivos de uma suposta liberdade, submeter as populações ao modelo securitário em detrimento da derrocada do Estado de direito. Palavras-chave: Neoliberalismo, Segurança, Subjetividade, Michel Foucault, Filosofia Política Contemporânea Nome: Djamila Taís Ribeiro dos Santos Instituição: Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP Orientador: Prof. Dr. Edson Luis de Almeida Teles Título: Simone de Beauvoir e Judith Butler: aproximações e distanciamentos e os critérios da ação política Resumo: Nosso projeto de pesquisa tem o propósito de promover uma análise comparativa entre as filósofas Simone de Beauvoir e Judith Butler no que diz respeito às obras, O segundo sexo e Problemas de Gênero. Analisaremos as linhas interpretativas de Beauvoir, demonstrando suas aproximações ou distanciamentos da interpretação de Butler, assim como as ferramentas conceituais em que as filósofas se apoiam para explicar e problematizar a categoria das mulheres. Veremos também como os argumentos apresentados nestas duas obras possuem relevância para se pensar esta categoria em termos de ação política. Palavras-chave: Ação política, Categoria, Mulheres, Feminismo Nome: Douglas Antônio Fedel Zorzo Instituição: Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE Orientador: Prof. Dr. José Luiz Ames Título: Maquiavel e a recusa aos mercenários: uma opção política 52 Resumo: Maquiavel dedica considerável parte de seu pensamento político-militar para criticar um modelo de exército amplamente utilizado durante o Cinquecento: os mercenários. Com isso em vista, nosso trabalho possui um duplo propósito: por um lado apresentar como as críticas ao mercenarismo são erigidas no pensamento maquiaveliano, situando a discussão fomentada a partir dessa polêmica, e por outro aduzir uma proposta política como fundamento da recusa desses exércitos. Para Maquiavel as armas e as leis são os fundamentos de todo Estado. No entanto, o aparato militar se revela extremamente nocivo ao corpo político quando baseado em armas mercenárias. Em um tom fortemente pejorativo afirma que essas tropas são desunidas, ambiciosas, indisciplinadas, infiéis e covardes. Essa instabilidade reside no fato de combaterem motivados financeiramente, de modo que aquilo que os instiga no campo de batalha é um pequeno soldo, mas algo insuficiente para mantê-los fiéis e capazes de morrer pelo Estado. Todavia, essa absoluta recusa de Maquiavel pelas tropas mercenárias foi alvo de uma série de críticas e considerações. Alguns historiadores, por exemplo, denunciam Maquiavel por alterar deliberadamente dados de algumas batalhas florentinas baseadas em tropas mercenárias para acentuar sua aversão por essas tropas. Porém, se Maquiavel é um mau historiador é porque sua pretensão é de caráter normativo e não descritivo. Outros comentadores o acusam de incorrer em um erro mais grave: incluir em um mesmo e indistinto grupo mercenários e condottieri, rechaçando qualquer força profissional. De acordo com essa linha argumentativa Maquiavel não teria se dado conta do papel fundamental das tropas profissionais em alguns exércitos, como o da monarquia francesa e da espanhola, que se serviam de mercenários suíços e alemães, mas não recorriam aos condottieri. De certa forma, teria universalizado a situação política-militar florentina que padecia e dependia exclusivamente do condottierismo para assegurar sua delicada posição política. Contudo, o sentido geral das acusações aos exércitos mercenários ganha respaldo na medida em que compreendemos a finalidade pela qual ele as dirige: a justificação de um exército próprio fundado em soldados cidadãos. As atividades militares, como uma das pilastras sobre as quais todo o edifício político é erigido, não podem ser confiadas a estrangeiros. Porém, formar uma milícia cidadã não é justificável apenas por vantagens bélicas, mas é sobretudo um movimento político para Maquiavel: é na formação de tal milícia que se revela a importância do povo na construção de um Estado forte. Além disso é a própria disciplina militar um meio para cultivar algumas virtudes cívicas nos cidadãos, sem as quais um Estado não se conserva. Assim a predileção pelos 55 interpretação e as artes ruins de interpretação. Desse modo, Nietzsche rejeita a ideia de que tudo é permitido nos procedimentos interpretativos, assim como a ideia de que as interpretações são equivalentes. Por um lado, aquela distinção permite superar algumas dificuldades, que se mostram por fim aparentes. Tendo em vista as passagens em que Nietzsche define a boa arte de leitura como uma leitura que não falsifica o texto com interpretações ou as passagens em que caracteriza a filologia, em sentido geral, como a capacidade de decifrar fatos sem falsificá-los com interpretações, poder- se-ia pensar inicialmente que Nietzsche exige a supressão de todo procedimento interpretativo, o que não estaria de acordo com a ideia, central em sua filosofia, de que necessariamente interpretamos. Se, porém, não considerarmos a interpretação como um procedimento indiferenciado, mas à luz da mencionada distinção entre artes de interpretação boas e ruins, então podemos ler naquelas passagens a exigência de supressão não de toda interpretação, mas de artes ruins de interpretação. Por outro lado, não nos parece possível uma distinção absolutamente estrita entre artes de interpretação boas e ruins, pois não nos parece possível suprimir totalmente elementos que caracterizam artes ruins de interpretação, de modo que em alguma medida tais elementos também deverão estar presentes nas artes boas de interpretação. Nietzsche critica, para oferecermos um exemplo, a arbitrariedade – ou a desavergonhada arbitrariedade – de algumas artes ruins de interpretação. Contudo, parece-nos legítimo perguntar se, sendo perspectivístico, um procedimento interpretativo não implicará necessariamente alguma medida de arbitrariedade, ainda que ele se oriente pelo ideal de suprimir toda e qualquer arbitrariedade. O objetivo de nossa comunicação será, pois, examinar essa tensão presente na noção nietzschiana de interpretação. Palavras-chave: Nietzsche, Artes de interpretação, Artes de leitura Nome: Eduardo Leonel Corrêa Cardoso Instituição: Universidade de São Paulo - USP Orientador: Prof. Dr. Renato Janine Ribeiro Título: Política em Jean-Jacques Rousseau: entre Utopia e Realismo Resumo: Diante da diversidade de registros deixados pelo pensador Jean-Jacques Rousseau, a dissertação que se segue propõe a análise da sua filosofia política de acordo com duas chaves de 56 leitura política: a utopia e o realismo. Com base em referências como as encontradas em Milton Meira do Nascimento e Luiz Roberto Salinas Fortes, pretende-se encontrar a legitimidade da política na tensão entre a utopia e o realismo. É em virtude dessa tensão que não se pode afirmar que Rousseau é um pensador utópico ou realista, entretanto, há elementos tanto de uma como da outra perspectiva teórica que permitem a utilização desse método para a investigação de seu pensamento. Tais elementos são conceitos que servirão de hipóteses para se chegar àquilo que se pressupõe, aqui, o fundamento do agir político em Rousseau: o homem. Sendo assim, a dissertação foi dividida em duas partes: a primeira trata dos aspectos utópicos de Rousseau, enquanto a segunda os realistas. Como consideração final consta o vínculo entre as duas leituras políticas em Rousseau, isto é, a convergência da sua filosofia política que pode ser entendida, em extremo, como utópico-realista. Não menos importante, como consequências dessa pesquisa poderão ser alocados alguns conceitos e livros de Rousseau no seu escopo conceitual e no conjunto da sua obra filosófica. Da teoria à prática, entre a escala e o programa político, Rousseau prevê que a ação política só é legítima por haver um homem livre, que em conjunto com os seus, forma um corpo político a fim de erigir uma vida pautada na liberdade. Palavras-chave: Utopia, Realismo, Liberdade Nome: Eduardo Orsolini Fernandes Instituição: Universidade de São Paulo - USP Orientador: Prof. Dr. Marcus Sacrini Ayres Ferraz Título: Metafísica na investigação sobre Natureza em Merleau-Ponty Resumo: De 1956 até 1960, após os seus cursos sobre o conceito de Instituição, dedicados a estabelecer um aparato conceitual destinado a combater a oscilação correlativa entre objetivismo científico e subjetivismo idealizante através, sobretudo, do desenvolvimento de um conceito de tempo como campo, i.e.: como aquilo que ultrapassa a constituição operada pela consciência, uma vez que o instituído possui sentido para além dos atos téticos da consciência individual, Merleau- Ponty dedicou-se a elaborar um conceito de Natureza o qual, segundo o filósofo, diferentemente das concepções tradicionais, não a considerasse como um puro objeto em si mesmo exterior, tributário de uma atividade igualmente exterior advinda seja da criação divina seja da constituição por parte da consciência. Consequentemente, a Natureza deixa de ser considerada como objeto passivo e inerte e passa a possuir uma atividade própria e imanente, sendo concebida como solo e 57 sustentáculo da existência e atividade humanas, como um tipo de ser pré-objetivo o qual, por meio de uma atividade de autoprodução de sentido, desdobra-se espaço-temporalmente. A partir de então, a Natureza deixa de se constituir como sucessão desarticulada de flashes temporais instantâneos, não necessitando de Deus ou da consciência humana para se ""manter"" e ""sustentar"" no ser. Nota-se aí um certo deslocamento do papel central que a consciência humana desempenhou, de modo geral, tradicionalmente, visto que a atividade humana de criação transforma-se em um processo de metamorfose, ou de deformação coerente, do sentido pré-objetivo presente na Natureza fixando-o em sentido objetivo – o que, por sua vez, faz com que este sentido objetivo retorne circularmente para a Natureza como sentido adquirido. Mas até onde se estende esta mudança do conceito de Natureza? Merleau-Ponty busca, reiteradas vezes, reforçar de que não se trata aí de compor uma teoria dogmática em sentido pré-crítico, procurando não fixar esta Natureza como uma potência de ser separada do homem, como uma causalidade à segunda potência que, no final das contas, reporia os problemas advindos de uma concepção objetivista da Natureza – problemas estes que deram ensejo em primeiro lugar à própria tentativa de elaboração de um novo conceito de Natureza. Entretanto, não nos encontramos aqui nos seguros limites estabelecidos por uma investigação simplesmente transcendental, já que o próprio objeto de investigação, a Natureza, ultrapassa, ou antecede, por definição, as condições de possibilidade da experiência a partir do ponto de vista da consciência, sendo concebido como aquilo que envolve o homem – e envolve-o em duplo sentido: como ser pré-objetivo, que nos antecede e fornece as bases para a nossa existência e criação, por um lado, e, por outro, como aquilo para o qual retornam e se depositam os sentidos humanos criados culturalmente. Desta forma, buscaremos expor, em linhas gerais, os sentido e limite filosóficos desta investigação sobre o conceito de Natureza, buscando contrapô-la àquela transcendental. Palavras-chave: Natureza, Metafísica, Fenomenologia, Consciência, Ontologia Nome: Elisângela Amaral Soares Osório Instituição: Universidade Federal do Piauí - UFPI Orientador: Prof. Dr. Helder Buenos Aires de Carvalho Tútulo: O papel da História na construção da filosofia moral de Alasdair MacIntyre 60 Nome: Evaniel Brás dos Santos Instituição: Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP Orientador: Prof. Dr. Márcio Augusto Damin Custódio Título: Princípio de existência e princípio de movimento em Tomás de Aquino Resumo: O propósito deste texto é explicitar a articulação entre as noções de divindade, tida como princípio de existência, e natureza, enquanto princípio de movimento, em Tomás de Aquino. Essa articulação se dá mediante a noção de criação, a qual é atribuída tanto para a causa, a divindade, quanto para o efeito, o mundo. Dita para a causa, “criação” significa a operação divina que confere existência aos entes. Porém, este texto enfatizará a criação como efeito da operação divina, isto é, o surgimento do mundo. Isso será feito pela consideração da operação dos instrumentos, sobretudo os naturais e, ademais, seu vínculo com a operação divina que conserva o ato criador. É justamente nesse vínculo entre a conservação e a operação dos instrumentos que a cosmologia de Tomás pode ser compreendida. No intuito de explicitar como isso se dá, o texto possui duas seções. Primeiramente, explicito o sentido metafísico da constituição do mundo caracterizada pela dependência ontológica com relação à operação divina de criação. Além disso, como a noção de natureza entendida como operação pertence ao tratamento sobre o governo divino, recorrerei, nessa seção, ao sentido dessa noção, para, assim, explicitar a articulação entre o princípio que confere existência e o princípio de movimento. Posteriormente, na segunda seção, exponho os sentidos da noção de relação. Isso porque a relação entre a divindade e o mundo designa-se como relação racional. A relação entre o mundo e a divindade, por sua vez, bem como entre as coisas que constituem o mundo, designa-se como relação real. Palavras-chave: Princípio, Existência, Movimento, Criação, Natureza Nome: Fabiano Barboza Viana Instituição: Universidade de São Paulo - USP Orientador: Prof. Dr. Ricardo Nascimento Fabbrini Título: Walter Benjamin e o mito da linguagem adâmica. Resumo: A seguinte comunicação pretende esboçar alguns contornos da leitura benjamiana, dos anos 1910 até o final dos anos 1920, sobre a Cabala e a língua hebraica em sua mediação com o mito de uma linguagem essencial tendo assim como horizonte normativo um conjunto de utopias 61 messiânicas/restitucionistas alinhavadas posteriormente a crítica marxista. Tal leitura histórico- cosmogônica permitirá o aclaramento do caráter fragmentário do mundo e do pensamento, da dissolução do conhecimento, e da mecanização do trabalho conforme evidenciados na modernidade. Seguiremos em nosso percurso a análise dos ensaios "Sobre a linguagem em geral e sobre a linguagem do homem" (1916) e "A tarefa do tradutor" (1921). Será justamente nesses escritos que irá se ressaltar uma vertente metafísica do pensamento benjaminiano, fundamentada em uma reflexão radical sobre a linguagem. Segundo JeanneMarie Gagnebin, “muitas vezes julgada supérflua ou tratada como um erro de juventude, essa dimensão metafísica (do pensamento benjaminiano faz com que) se combinem fundamente (na reflexão desse filósofo) aspectos religiosos, teológicos, estéticos e políticos" (Walter Benjamin – Escritos sobre mito e linguagem 1915-1921, São Paulo: Editora 34; Duas Cidades, 2011. p. 9). Se por um lado, nos textos de juventude de Benjamin, o mito de uma linguagem essencial é aquele lugar responsável por lançar as bases para a crítica histórica (adensada nos escritos posteriores do filósofo alemão), por outro, será a própria pregnância da concepção de mito, contraparte insuperável de sua noção de história, que será alvo de uma crítica com tintas materialista histórica em escritos como suas teses “Sobre o conceito de história” de 1940. Palavras-chave: Cabala, Linguagem, Fragmento Nome: Felício Ramalho Ribeiro Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG Orientador: Prof. Dr. Verlaine Freitas Título: As duas faces de Circe: a tortuosa dialética entre prazer e autoconservação em Adorno Resumo: O intuito de nosso trabalho é fazer uma análise do encontro de Ulisses com Circe na Dialética do esclarecimento a partir de uma abordagem que enfatize os aspectos psicanalíticos desse momento da obra. A figura de Circe é expressão emblemática da dialética tortuosa entre felicidade e civilização, entre natureza pulsional interna e renúncia autoconservativa, entre sujeito e objeto – no caso, o corpo – , e outras polarizações do processo de esclarecimento. Ela representa a incerteza e a indeterminação que marcam enfaticamente a desconfortável relação do sujeito com a alteridade, ao mesmo tempo, atraente e repulsiva. O encontro entre Ulisses e Circe é uma evidência simbólica da relação repressiva que o homem estabelece com todas as coisas dotadas de um alto grau de periculosidade 62 desagregadora para o ego, entre elas, a figura feminina, reflexo da natureza, em sua força descentradora e na fragilidade de sua submissão. A postura autoconservativa de Ulisses de controle do seu desejo diante da tentação de Circe coloca ela sob o seu domínio e tem como prêmio um prazer a sua medida, ou seja, mitigado, diferente do castigo concedido pela feiticeira para os companheiros, que mergulharam por completo em seus ímpetos pulsionais sem se aterem aos princípios mutiladores da autoconservação. A união amorosa entre Ulisses e Circe prefigura o casamento, indica a origem dessa instituição social em sua capacidade de apaziguar os ânimos dos envolvidos por meio do encobrimento do conflito e da instabilidade existentes entre eles para o prosseguimento civilizacional. Assegurado de seu domínio sobre uma das faces da alteridade pelo resfriamento dos seus afetos a partir da normatização do amor em um regime de relações ordenadas de reprodução, o sujeito estabelece uma convivência “saudável” e inócua com a figura feminina da mulher, subjugada a ele, como toda a natureza, interna e externa. Desse modo, o casamento, simultaneamente base e produto da civilização, pode ser entendido dentro do processo de esclarecimento como uma das formas sociais pela qual o ego conseguiu manter o seu princípio narcísico de unidade autoconservativa para se salvaguardar do poder dissolutivo dos ímpetos pulsionais de sua natureza interna em contato com o outro, com a realidade sensível. Desse quadro, estruturado por outros textos além da Dialética, como Para introduzir o narcisismo e o Mal-estar na civilização, ambos de Freud, teceremos a trama da tortuosa dialética entre prazer e autoconservação existente no encontro de Ulisses com Circe. Palavras-chave: Prazer, Autoconservação, Alteridade, Narcisismo Nome: Felipe Augusto de Luca Instituição: Universidade de São Paulo - USP Orientadora: Profª. Dr. Tessa Moura Lacerda Título: De Mônadas a Sistemas: expressividade e comunicação nos pensamentos de G. W. Leibniz e N. Luhmann Resumo: O conceito mônada no pensamento leibniziano guarda em si um aspecto fundamental que é o de expressividade: este remete a pensar o indivíduo não só como dotado de uma lógica interna fenomênica como também pertencente a uma lógica metafísica baseado nos princípios de melhor e de causa final; interligados os princípios se refuta o dualismo cartesiano e se alcança, ao nosso ver, um novo conceito que é o de individualidade sistêmica. Isto abre ao filósofo um universo 65 polêmicas teses “Sobre o Conceito de História” (1940), a fim de fazer emergir deles alguns elementos que possibilitem a articulação dos conceitos de diagnóstico e prognóstico a partir de sua obra. Evidentemente, houve a necessidade de circunscrever alguns temas no interior destes próprios textos: nesse sentido, será desenvolvido, então, um dos elementos de sustentação do diagnóstico, a saber, o declínio ou a crise da experiência e sua configuração moderna enquanto “vivência do choque” (Chockerlebnis), constatada por Benjamin no ensaio sobre Baudelaire a partir do cotidiano em meio à multidão que habita as grandes metrópoles. Quanto ao prognóstico, será tomada como objeto de análise a linha fundamental do último conjunto de prognósticos formulado por Benjamin, esboçado nas teses, isto é, a interpretação da história “a contrapelo”, cuja ênfase nas esperanças fracassadas dos vencidos permite vislumbrar a redenção (Erlösung) dos oprimidos através da revolução das classes oprimidas. A noção de memória (Gedächtnis), por sua vez, possui um papel decisivo nesta problemática, constitui na medida em que a dificuldade em conservá-la devido aos choques acentua a crise da experiência coletiva (Erfahrung) em seu sentido pleno, e é pelo seu resgate, através da rememoração (Eingedenken), ainda que por seus cacos e resquícios, que o historiador materialista deve proceder. Assim, a questão maior que acompanhará essa apresentação e, por conseguinte, a pesquisa, pode ser formulada do seguinte modo: como pensar, em conformidade com Benjamin, a ideia de emancipação da humanidade, ou redenção, no léxico benjaminiano, por intermédio da rememoração, justamente num estágio histórico no qual nem ela, tampouco seu objeto – a memória – são mais a norma? Palavras-chave: Declínio da experiência, Memória, Redenção, Diagnóstico, Prognóstico Nome: Fernando Sepe Instituição: Universidade Federal de São Carlos - UFSCar Orientadora: Prof.ª Dr.ª Thelma Lessa da Fonseca Título: Para além do estruturalismo em história da filosofia: Deleuze e Foucault Resumo: Sabemos como no Brasil há uma tradição “estruturalista” da prática historiográfica em filosofia, tradição que tem em autores como Gueroult e Goldschmidt exemplos paradigmáticos. Tal método estrutural é caracterizado por uma dupla intenção: (1) a busca por um método científico de leitura; (2) dotar a história da filosofia de uma relevância filosófica. Nesse sentido, a leitura estruturalista se define a partir de uma leitura rigorosa e absolutamente interna dos textos filosóficos e o recurso à noção de “sistema” como critério fundamental de toda filosofia. 66 Foucault e Deleuze, sem dúvida, foram autores formados dentro da tradição de leitura estruturalista dos textos filosóficos, corrente dominante na universidade francesa na época de suas formações. Porém, em ambos os casos, sem abrir mão da análise interna e sistemática, encontramos uma tentativa de superação de tal paradigma. Em Foucault, por exemplo, há a tentativa de abrir o texto filosófico ao externo, inserindo-o em seu contexto histórico e mostrando como todas as filosofias - muito antes de se autofundarem – tem suas regras enraizadas no momento histórico de sua formação, regras essas compartilhadas por outras formas de saber de sua época. Tal proposta pode ser exemplificada pela leitura foucaultiana da primeira meditação de Descartes e na decorrente polêmica com Jacques Derrida. Já Deleuze é conhecido por suas interpretações sistemáticas de diversos autores (Hume, Bergson, Nietzsche, Spinoza), porém interpretações marcadas por inversões e deslocamentos conceituais. Nesse caso, trata-se de fazer um uso pragmático da história da filosofia, uso esse que visava a criação de novos conceitos. Sendo assim, nosso trabalho tem um duplo movimento: (1) apresentar em linhas gerais o método estruturalista em história da filosofia a partir da leitura de textos de seus mais importantes expoentes (Gueroult, Goldschmidt); (2) pensar formas de superação de tal paradigma a partir de análises pontuais do recurso à história da filosofia tal como encontramos em Foucault e Deleuze. Palavras-chave: História da filosofia, Estruturalismo, Foucault, Deleuze Nome: Flávio Azevedo Reis Instituição: Universidade de São Paulo - USP Orientador: Prof. Dr. Ricardo Ribeiro Terra Título: Liberalismo e o bem: algumas questões sobre o debate liberal-comunitarista Resumo: A comunicação pretende abordar dois temas que, segundo as definições gerais do debate liberal-comunitarista ocorrido no final do século XX, determinam as diferenças entre os autores que participaram deste debate. Em primeiro lugar, as definições gerais identificam o projeto político e filosofófico do liberalismo contemporâneo com a justificação de princípios políticos de justiça independentes de considerações relativas ao bem, enquanto os comunitaristas buscariam estabelecer uma relação entre a política e a “boa vida”. A questão da relação entre princípios políticos e concepções de bem se desdobra em diversos problemas. Ao supor que o liberalismo está conectado com uma visão particular do bem, os autores comunitaristas sugerem que a avaliação dos princípios políticos liberais deve ser considerada em conjunto com uma 67 avaliação do valor das concepções de bem que os acompanham. Neste caso, a suposta relação entre o liberalismo e concepções de bem implica em possíveis críticas à concepção individualista de bem que, como argumentam alguns autores comunitaristas, estaria implícita na política liberal. O segundo problema é o “ethos democrático”: o modo como os cidadãos concebem a si mesmos enquanto membros de uma comunidade política. Segundo as definições gerais, ao desvincular a política do bem, os liberais atribuiriam prioridade aos direitos individuais em relação ao bem comum. Os comunitaristas, por outro lado, buscariam uma dentificação coletiva mais forte entre os cidadãos. Ao conectar princípios políticos e concepções de boa vida (ao admitir que concepções religiosas, filosóficas e morais participem da vida política), os comunitaristas pretendem apontar para a formação de uma “comunidade ética” que, segundo eles, poderia estabelecer ligações sociais mais profundas entre os membros da sociedade. Os autores liberais, por outro lado, argumetam em defesa de uma distinção entre liberdade e bem e, assim, pretendem distinguir questões políticas de discussões sobre concepções religiosas, filosofóficas e morais em relação ao bem. O objetivo desta comunicação é explorar estes dois temas no debate liberal comunitarista: a relação entre liberailsmo e bem e o chamado “ethos democrático. Palavras-chave: Política, Ética, Liberalismo, Comunitarismo, Justiça Nome: Fran de Oliveira Alavina Instituição: Universidade de São Paulo - USP Orientador: Prof. Dr. Luís César Oliva Título: Das paixões aos afetos: distintas concepções de amor no Breve Tratado de Espinosa Resumo: Esta comunicação procura analisar o que representa a amizade e a precariedade humana em Montaigne. Para tanto, num primeiro momento, a fim de fazer um estudo minucioso, esboçar- se-á um comentário sobre o primeiro parágrafo da seção De l’amitié dos Essais com o objetivo de expor uma condição humanista diferente dos humanistas da época, que priorizavam o ser humano como centro do universo. Em Montaigne, notar-se-á outra face do humanismo, na qual o humano reflete sobre o “eu”, ou seja, a razão não é o centro e sim perde sua centralidade, de maneira que ensaiar pode tornar presente no papel a imagem do amigo La Boétie e a reconstrução do “eu”. Desse modo, constatar-se-á a possibilidade de uma interpretação triádica do ensaísta: ler, experimentar e refletir. Além disso, num segundo momento, ilustram-se a relevância dos estudos montaignianos mediante os seguintes intérpretes. Primeiro, para Loque, ver-se-á que Montaigne 70 gênero ou Gattungswesen). Influenciado por F. Scheleiermacher, Feuerbach enfatiza o papel do sentimento na crença, e a falta de envolvimento afetivo na filosofia de seu tempo será a base para a crítica feuerbachiana da filosofia de seu tempo. Segundo Cabada-Castro, Se Kant investigará o dever; o universal; a “religião dentro dos limites da simples razão”, Feuerbach dará grande estima ao amor; ao indivíduo; e à “religião dentro dos limites da mera humanidade”. Nosso propósito, recorrendo tanto a textos de Kant quanto de Feuerbach, bem como a comentadores de ambos, é confrontar suas visões sobre a crença, com intuito de refletir sobre qual a sede da mesma: a razão ou a afetividade, buscando-se evitar uma saída unilateral. O que buscamos demonstrar é como, a nosso ver, tanto a razão quanto a afetividade estão em jogo na crença. A questão é a compreensão acerca de qual nível de consciência se considera o ser humano. Busca-se também, ao longo da exposição, refletir sobre como Kant, ainda que tenha buscado fundar uma moral a priorística, acabou inserindo na mesma vários elementos históricos e contingentes, como fica nítido pela a influência do cristianismo. Palavras-chave: Crença, Deus, Feuerbach, Kant Nome: Gilberto Bettini Bonadio Instituição: Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP Orientadora: Prof.ª Dr.ª Arlenice Almeida da Silva Título: Aproximações no diálogo entre Filosofia e Literatura Resumo: A compreensão de uma obra literária pela filosofia pressupõe uma análise do texto que visa à sua interpretação. Se a obra pode ser encarada como um instrumento de busca por uma verdade que se apresenta como ficção, então se supõe que ela possa ser compreendida pelo sujeito que articula seu pensamento no trabalho de interpretação requerido pelo texto e, doravante, impõe- se a necessidade de estabelecer um método que guie o intérprete no desvendamento do texto. Nesta tarefa a hermenêutica pensada por Gadamer oferece uma senda comum em que filosofia e literatura podem se aproximar, efetuando no plano interpretativo da obra um método entre o leitor e o texto que, sob o foco da narrativa literária, busca nela a sua verdade enquanto ficção, autorizando o diálogo com a filosofia. De acordo com Gadamer, a obra deve sempre ser pensada como algo histórico, pois sua compreensão necessita que o horizonte presente do leitor seja confrontado com o horizonte passado aberto pelo texto; dessa forma, levando em consideração a historicidade de toda compreensão, evita-se uma interpretação pretensamente objetiva da obra, mas que acaba 71 pautando-se em critérios estritamente subjetivos. O jogo de compreensão do texto literário se firmará, então, para Gadamer, na reflexão sobre a pergunta feita pelo texto e para a qual ele já é uma resposta, sendo que nesta tentativa de elucidação da obra, no método entre o leitor e o texto, o próprio movimento do compreender humano se estrutura. Diante disso, Gadamer irá sugerir que a distância entre a literatura e a filosofia é menor do que se imagina, pois, segundo ele, ambas procuram por meio do diálogo da alma consigo mesma aquilo que na obra poderia ser considerado universal. O autor observa que, semelhante à literatura, o que é dito pela filosofia também não existe de fato e está em constante tensão com a linguagem cotidiana que é orientada para a ação no mundo e não para o auxílio da reflexão nos meandros do pensamento. Desse modo, a filosofia irá sempre dizer, assim como a literatura, sobre coisas que não são dadas em lugar algum, mas que, conforme sugere Gadamer, existem enredadas no texto como elemento linguístico, possibilitando a interpretação e a descoberta do que ali fala sempre mais uma vez, permanecendo atemporal. Palavras-chave: Literatura, Filosofia, Hermenêutica, Gadamer Nome: Guilherme José Santini Instituição: Faculdade de São Bento de São Paulo - FSB-SP Orientador: Prof. Dr. Pedro Monticelli Título: A abolição da teleologia sobrenatural na Weltanschauung do Renascimento Resumo: O leitmotiv do Humanismo italiano, desde a metade do século XV, foi a supervalorização da sabedoria profana dos antigos, ao que se seguiu a separação conceitual entre o ideal de sabedoria e a perspectiva filosófica fundada na noção de um logos transcendente. Essa mudança de perspectiva, de tendência imanentista, promoveu, desde as cortes das cidades-Estado italianas, a dissolução do edifício conceitual medieval, hierarquizado teologicamente e assentado numa cosmovisão de base metafísica realista. A paideia escolástica, subsidiada pela pedagogia das sete artes liberais, vinha abaixo diante da nova pedagogia humanista subsidiada por sua vez pelos studia humanitatis. O propósito primeiro da paideia humanista era um novo ideal de perfeição humana, e, por conseguinte, uma nova ética. Estava em jogo, desde Petrarca, isto é, desde o século XIV, uma reforma do conhecimento e uma reforma do homem ocidental; uma reforma, dir-se-ia, de toda a sua arquitetura conceitual, mas que a partir da metade do século XV, e especialmente das Descobertas, daria lugar a uma 72 Weltanschauung, a uma nova cosmovisão cuja atitude fundamental fora a aceitação jubilosa deste mundo, isto é, do homem como ser-no-mundo. A paideia humanista supunha que pelo conhecimento dos padrões intrínsecos da natureza do homem e da natureza do mundo, que os sábios da Antiguidade clássica teriam estudado profundamente e que os medievais teriam menosprezado, conquistaria o homem a sua autonomia natural. Donde o ideal ético humanista do uomo universale. Todos os socorros para o aperfeiçoamento humano estariam contidos na sua própria natureza ‘’micro-cósmica’’. A ética humanista abolia assim a noção, cara aos medievais, da destinação sobrenatural da pessoa. Atribui- lhe, em seu lugar, como razão última e sentido de sua vida o domínio do mundo terreno. Donde a articulação da ética imanentista com a pedagogia da sabedoria profana e a política da virtù. Dito de outro modo, em suma, a pedagogia do Humanismo renascentista previa o aperfeiçoamento do ser humano de modo totalmente natural, sem a necessidade do auxílio da graça divina; logo, sem a necessidade de uma filosofia metafísica e de uma teleologia sobrenatural na base conceitual de sua Weltanschauung. Desde a metade do século XV o homem ocidental citadino já vivia segundo uma nova forma mentis marcada pela imanentização do logos divino na existência profana. Por isso, segundo Dilthey, o Renascimento deve ser celebrado porquanto é a partir de sua Weltanschauung que cede o homem à aceitação da história como sua condição intrínseca, ao que se segue a aceitação de sua experiência contingente como um valor em si. O objetivo deste trabalho é apresentar, desde as contribuições de Dilthey e demais estudiosos do Renascimento enquanto ''cosmovisão'', como Cassirer, Toffanin, Kristeller, Piñera Llera, entre outros, quais são os elementos da Weltanschauung renascentista que conduziram à abolição da teleologia sobrenatural, ensejando concomitantemente a apreciação filosófica da contingência e da subjetividade. Palavras-chave: Filosofia do Renascimento, Weltanschauung do Renascimento, Humanismo italiano, Studia humanitatis, Teleologia Nome: Guilherme Lanari Bó Cadaval Instituição: Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Orientador: Prof. Dr. Rafael Haddock Lobo Título: A sedução da linguagem segundo Nietzsche 75 Resumo: É possível elencar João Duns Escoto (c. 1265-1308) dentre os mestres de teologia mais influentes em fins do século XIII e início do XIV. Tendo atuado na Universidade de Oxford e na Universidade de Paris, ele discutiu os principais temas filosóficos de sua época, dentre os quais a noção de causalidade, que reterá nossa atenção aqui. Um dos principais elementos na doutrina da causalidade de Duns Escoto é a sua exposição acerca da concorrência de diversas causas para um único efeito, sendo essa concorrência melhor estudada na 3a distinção do primeiro livro da versão de seus comentários às “Sentenças” conhecida como “Ordinatio”. Nesse texto, Duns Escoto considera atentamente as várias maneiras pelas quais duas causas podem concorrer para um mesmo efeito. Há o caso [1] em que duas causas concorrem igualmente (‘ex aequo’) para um efeito, tal como dois homens que empurram um corpo. Porém, há também o caso [2] em que duas causas concorrem não igualmente (‘non ex aequo’), mas essencialmente ordenadas entre si, de tal modo que uma causa seja superior à outra. Pois bem, esse segundo caso pode ocorrer de duas maneiras: ou bem [2.1] a causa inferior só age movida pela superior – isso ocorre, por exemplo, quando um graveto é movido pela mão de alguém, uma vez que o graveto só se move porque a mão o moveu; ou bem [2.2] tanto a causa superior como a inferior possuem a virtude de se mover por si mesmas, porém a inferior possui uma virtude menos perfeita e a superior uma virtude mais perfeita – na geração de uma árvore, por exemplo, o Sol é um agente mais perfeito e a semente um agente menos perfeito, uma vez que o Sol é indeterminado em ato para a geração de qualquer coisa, enquanto que a semente determina a ação do Sol para a geração desta espécie de árvore. Ou seja, quanto mais indeterminado em ato for um agente, mais perfeito e superior ele será com relação aos outros com os quais ele pode concorrer para produzir um efeito. Por fim, Duns Escoto afirma também que essa causa superior é, em geral, equívoca, o que nos remete à sua distinção entre agentes unívocos e equívocos. Os primeiros são aqueles agentes que induzem no passivo a mesma forma pela qual agem; os segundos são os que agem por uma forma, porém induzem no seu passivo uma outra forma distinta. Esse segundo caso, como vimos, é precisamente o que ocorre com a causa superior na causalidade concorrente, pois ela é ativa indeterminadamente para a produção de vários efeitos cujas formas não estão nela, sendo a causa inferior o fator que a determina para um efeito preciso. Dessa maneira, o Sol age para a geração da árvore quando determinado pela ação da semente, porém não há no Sol a forma da árvore – ou seja, o Sol é uma causa superior (indeterminada) e equívoca. Enfim, com esses elementos espero apresentar um quadro daquilo que Duns Escoto considera que seja a causalidade concorrente. 76 Palavras-chave: Causa, Efeito, Metafísica, Causalidade Concorrente, João Duns Escoto Nome: Gustavo Luis de Moraes Cavalcante Instituição: Universidade Federal de São Carlos - UFSCar Orientadores: Prof.ª Dr.ª Débora Cristina Morato Pinto e Prof. Dr. Franklin Leopoldo e Silva Título: A fé perceptiva como primeiro passo do conhecimento, segundo Merleau-Ponty Resumo: Merleau-Ponty propõe pensar novas teorias que pudessem unir a filosofia com as novas descobertas da psicologia, além de encontrar novas respostas a antigos problemas postos pela filosofia, como, por exemplo, a dualidade cartesiana. Através de um estudo do livro “Fenomenologia da Percepção (1945/2006)” de autoria de Merleau-Ponty, buscaremos entender os argumentos usados contra a psicologia clássica e contra alguns filósofos modernos como, por exemplo, Descartes, filósofo o qual Merleau-Ponty deu grande atenção e as críticas a este autor o fez pensar e encontrar o seu cogito tácito. Como em Descartes há o cogito como o fundamento primeiro do conhecimento, ou no limite, de sua filosofia. Em Merleau-Ponty também o há(esse fundamento), em nosso trabalho tentamos mostrar que sempre há algo anterior ao que conhecemos reflexamente, sempre há o irrefletido, ou seja, sempre é necessário haver algo como o cogito tácito para haver um cogito reflexivo. Extrapolando este argumento podemos pensar que sempre há algo anterior, sempre há um fundamento para o nosso conhecimento, ou melhor, para a nossa vida. Há em Merleau-Ponty uma certeza e todos estão cientes dela, entendemos que esta certeza, em nosso filósofo, é a fé perceptiva. E esta fé é primeira a tudo em nosso conhecimento. Trataremos nesta apresentação a fé perceptiva, explicando o que é ela, tentado mostra-lá como sendo uma crença inabalável de que percebemos o mundo, de que nele vivemos concreta e não ilusoriamente. Este é o primeiro plano de conhecimento. A fé perceptiva, a vivencia silenciosa, que é a aceitação realista e ingênua do mundo, só é quebrada pela filosofia. Palavras-chave: Fenomenologia, Percepção, Cogito, Conhecimento, Fé Perceptiva Nome: Hayane da Costa Freitas Instituição: Universidade Federal do Ceará - UFC Orientador: Prof. Dr. Luiz Felipe Netto de Andrade e Silva Sahd 77 Título: Estética e Política: O Lugar do Espaço Cênico na Filosofia de Jean-Jacques Rousseau Resumo: Apresentamos aqui a crítica à cultura feita por Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) através da crítica da arte como representação. Parte-se da discussão presente na Carta a D'Alembert sobre os Espetáculos (1758), dando ênfase à questão de como a organização dos espaços em que se dão os espetáculos teatrais – que serve de condição material e conceitual aos espetáculos de palco, a ópera e o teatro –, é também ela própria determinada pela forma como as sociedades que se reconhecem nestes determinados espetáculos se organizam politicamente ao longo da história. Embora no imaginário popular contemporâneo o espetáculo teatral esteja sempre enclausurado naquilo que chamamos de palco à italiana, Rousseau fala a partir de um horizonte que dialoga também com a forma primitiva do teatro, sobretudo em sua matiz grega clássica, a partir de onde este pode tecer a oposição entre o espaço cênico antigo e o moderno e assim avaliar aquilo que é alvo da crítica de Rousseau à modernidade e seus espetáculos: o advento universal da Representação. O que se demonstra por fim é que somente refazendo do caminho do relevo da importância do espaço cênico na obra de Rousseau é possível reconstruir propriamente a reflexão rousseauniana e que só assim pode-se retirar desta os reais benefícios trazidos pela reflexão acerca da arte e em particular acerca do teatro, a saber: a consciência de que a organização do espaço material em que se dá o espetáculo não é de ordem necessária para a arte teatral como um todo, mas sim historicamente determinada. Palavras-chave: Teatro, Espetáculo, Espaço cênico Nome: Henrique Gonçalves de Paula Instituição: Universidade de São Paulo - USP Orientador: Prof. Dr. Roberto Bolzani Filho Título: A crítica ao hedonismo no Górgias de Platão Resumo: O diálogo Górgias apresenta a mais contundente crítica de Platão à retórica. O personagem Sócrates realiza a empreitada em três atos contra Górgias, Polo e Cálicles, vinculando aos pressupostos básicos do trabalho dos sofistas posições éticas e políticas que também deseja atacar. As ofensivas socráticas dirigem-se a não cientificidade do trabalho dos sofistas, seus objetivos pedagógicos e a utilidade prática do que ensinam. É neste último ponto que a acusação de imoralidade recai sobre a sofística. Sócrates mostra que a especialidade da retórica é conservar maculada e impune a alma injusta a qual deveria impor-se um castigo. Os argumentos de Sócrates 80 palavras: pelas exigências de sua natureza, de um lado, e pelas da sociedade, de outro. Rousseau propõe, então, no Emílio, uma possível resolução desse conflito pela educação que, por sua vez, forme o homem tão natural quanto sociável. É assim que a educação se torna decisiva no pensamento de Rousseau, pois ela consistirá no recurso que lhe permitirá pensar num processo de socialização do Emílio, personagem do tratado, sem que a natureza deste se corrompa. A educação do Emílio o impedirá, portanto, de se desnaturar, ou antes, regulará seu grau de desnaturação conveniente para que ele viva em sociedade. “Existem, afirma o autor, tantas contradições entre os direitos da natureza e nossas leis sociais que, para conciliá-los, é preciso deformar e tergiversar sem cessar, é preciso usar de muita arte para impedir o homem social de ser totalmente artificial”. Tal arte envolverá, sobretudo, uma educação para um novo filosofar, ou, segundo o vocabulário de Rousseau, para o verdadeiro filosofar. Pois, será preciso que o Emílio “pense como filósofo”, o que significa ter seu espírito e seu juízo bem constituídos, necessários para viver em sociedade, e então compreender a si e os homens em suas relações, de modo que o impeça de se corromper pelas paixões e opiniões. Somente assim, no atual estado de coisas, que este “aluno imaginário” se realizará como homem natural, guiando-se pelo seu próprio juízo na observância dos erros dos homens. “O mesmo homem que deve permanecer estúpido nas florestas, escreve Rousseau, deve tornar-se razoável e sensato nas cidades se permanecer como mero espectador”. Assim, pretendemos aqui analisar o quanto a educação, concebida por Rousseau, desnatura ou não o Emílio, e, consequentemente, se este suposto “filósofo” permanecerá, ainda, homem natural. Palavras-chave: Educação, Desnaturação, Natureza, Filosofia Nome: Jean George Farias do Nascimento Instiuição: Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Cecília de Miranda de Nogueira Coelho Título: Platão, o filósofo da intertextualidade Resumo: Segundo Platão, a cidade crescerá justa se a educação promovida for a educação filosófica. No contexto do século V a.C. tal proposta é uma sugestão reformista ao modelo vigente, pois sabemos que primordialmente a educação da Grécia clássica é a educação poética. Platão, ao contestar o modelo poético, ataca e expulsa os poetas da cidade, seu principal alvo é Homero pois, crê o discípulo de Sócrates, seus personagens inspiram aspectos negativos para a alma dos cidadãos e causam a degeneração da cidade. Aquiles é, no livro III da República, o principal alvo de Platão. 81 O personagem principal da Ilíada é, na perspectiva crítica do filósofo, um exemplo de corrupção para alma, suas atitudes nas epopeias homéricas de modo algum promovem caráteres concernentes ao bom cidadão. Aquiles é o exemplo que Platão explora ao extremo para demonstrar que a poesia não é capaz de influenciar positivamente. No entanto, meu artigo propõe analisar a figura do guardião forjada por Platão na República à luz do personagem homérico Heitor. Proponho uma leitura comparativa das passagens nas quais Platão descreve as características necessárias para o guardião da cidade e personalidade do herói Heitor, apresentadas na Ilíada. Pretendo, portanto, analisar em minha comunicação as implicações relativas à similaridade entre Heitor e o modelo de guardião ideal. Uma destas implicações explicita um aspecto importante da filosofia platônica. Platão inquestionavelmente apropria-se de sua tradição para compor seus diálogos. O filósofo apropriou-se dos atores sociais de seu tempo (Sócrates, Trasímaco, Górgias, Protágoras, entre outros) e não menos das tragédias e da poesia, para assim compor o cenário que julgou adequado para expor os fundamentos de sua filosofia. Um outro aspecto, e mais interno a proposta filosófica de Platão, é de que a mimese poética, contrariando o que ele próprio defendia, não necessariamente inspira apenas aspectos negativos, tendo em vista as similaridades entre o guardião e Heitor. Palavras-chave: Platão, Poesia, Educação filosófica Nome: João Batista Farias Junior Instituição: Universidade Federal do Piauí - UFPI Orientador: Prof. Dr. Helder Buenos Aires de Carvalho Título: O princípio responsabilidade como proposta ética para enfrentamento da crise ambiental e do niilismo ético contemporâneo Resumo: Este projeto de pesquisa propõe uma discussão em torno do problema da crise ético- ambiental hodierna tendo como horizonte a crítica à modernidade tecnológica feita por Hans Jonas. Nesse sentido, a análise da questão dar-se-á a partir crítica feita por Jonas ao grande desenvolvimento técnico moderno e às limitações das teorias éticas no trato com tecnologia, bem como tal crise ampara-se no problema do niilismo. Em termos mais específicos, o problema que se coloca é o de saber-se como a teoria ética jonasiana se propõe a combater a crise ecológica e os perigos advindos do grande desenvolvimento técnico que se vê cada vez mais próximos de suas realizações. Os perigos do uso desenfreado da técnica e o alto desenvolvimento desta são problemas esquecidos pelas teorias éticas tradicionais, assim, Jonas propõe que tomemos esta 82 como algo a ser urgentemente pensado, já que vemos agora a técnica ser amparada pelo niilismo moderno e vice-versa. Com tal objetivo em mente traçamos o seguinte caminho: primeiro fazemos uma rápida explanação sobre o conceito de niilismo dentro da tradição filosófica, mostrando como este historicamente se constituiu como um problema filosófico crucial para a tradição ocidental; segundo, dada a importância do niilismo para a filosofia, e, mais especificamente, para a ética, passamos então para o estudo que Jonas desenvolve a respeito da relação do niilismo antigo/gnóstico com o niilismo moderno/existencial; e, por último, analisamos de que modo a obra de Hans Jonas se apresenta como uma proposta de superação do niilismo ontológico/ético, a partir da crítica que o filósofo institui ao dualismo que perpassa os antigos, os modernos e culmina na desvalorização da natureza em nosso tempo. Trabalharemos com a ideia de que o princípio ético formulado por Hans Jonas servirá tanto como princípio deontológico para a orientação das ações na sociedade tecnológica atual, bem como bussola que orientará o caminho para superação do niilismo contemporâneo e do perigo de sua realização na técnica, possibilitando um amparo ético a partir do conceito de responsabilidade e de um conceito mais amplo do fenômeno da vida. Palavras-chave: Hans Jonas, Ética da Responsabilidade, Técnica, Niilismo Nome: João Gabriel Rizek Instituição: Universidade Estadual Paulista - UNESP Orientadora: Prof.ª Dr.ª Lia Tomás Título: Construindo a Tradição: As vanguardas musicais no pós-guerra Resumo: Dentro do âmbito da estética as pesquisas relativas à filosofia da música vem ganhando cada vez mais espaço no panorama mundial. De igual maneira, se insere nesse movimento de constante ampliação as pesquisas relativas à recepção das obras. O acento neste tipo de estudo recai sobre as questões da resposta, da audiência e do que o musicólogo Carl Dalhaus, seguindo Walter Benjamin, chamou de “pós vida” das obras musicais. Trata-se portanto de uma investigação que busca os motivos responsáveis pela inscrição ou obliteração de uma determinada obra do repertório aceito. Este trabalho investiga, por sua vez, as razões que levaram o serialismo integral a estabelecer-se como espécie de linguagem oficial nos anos seguintes à Segunda Guerra. Inventado na década de 1920 por Arnold Schoenberg e potencializado por seu discípulo Anton Webern, o serialismo - 85 a mulher em seu lugar de imobilidade, porém, de modo geral, sem um exame da situação da mulher como Beauvoir propõe, não há a mesma clareza em relação ao que nos apresentam como privilégios, como o a beleza feminina que tanto se exalta. Assim, discutiremos os olhares que se voltam para a mulher, que não são para reconhecê-la enquanto ser humano, mas sim enquanto coisa. Palavras-chave: Simone de Beauvoir, Mulher, Vestuário Nome: Karina da Silva Oliveira Instituição: Universidade Estadual Paulista - UNESP Orientador: Prof. Dr. Lúcio Lourenço Prado Título: Linguagem, representação da realidade e existência: a capacidade de dar significado ao mundo na filosofia da linguagem de Ludwig Wittgenstein Resumo: Esta comunicação pretende discorrer acerca da relação entre representação da realidade e existência mediada pela linguagem, tendo em vista, as dificuldades envolvidas em compreender a relação entre denominações e significação à luz das Investigações filosóficas (1953) de Ludwig Wittgenstein. Trataremos da investigação acerca da linguagem e sua capacidade de dar significado ao mundo, através da relação entre aquele que conhece e dá sentido ao mundo, e aquilo que recebe significado justamente a partir desta atividade. Demonstrar-se-á a problemática, ao tratar que o significado de uma palavra não requer apenas analisar um objeto de qualquer espécie, mas antes seu uso com decorrente significação em conformidade com as regras gramaticais. Com efeito, para reconhecer que algo é um objeto material eu preciso que a linguagem lhe permita essa designação, porém ele tem de existir antes da linguagem “se ele não existisse, não se poderia também nem ao menos nomeá-lo e, portanto, não se poderia afirmar absolutamente nada sobre ele” (IF § 50). Para esclarecer os conceitos que servirão de base para a pesquisa proposta, tais como significação, uso e mesmo denominação, consideramos que as elucidações ostensivas não fornecem uma conexão entre linguagem e realidade, então, o gesto ostensivo, constitui apenas uma amostra que fornece padrões para o uso correto, sendo, sob esse aspecto, parte de determinada gramática. Wittgenstein parece querer dizer isso no mesmo § 50: “Aquilo que, aparentemente, tem que haver, pertence à linguagem. Existe um paradigma em nosso jogo; algo com que se compara. E constatar isso pode significar fazer uma constatação importante; mas é, todavia, uma constatação que diz respeito ao nosso jogo de linguagem – ao nosso modo de exposição” Nosso trabalho vai expor, em linhas 86 gerais, o caráter de premissas básicas para uma compreensão e análise de certo essencialismo permeado pela linguagem, onde tais elucidações utilizam o significado que o símbolo possui associado ao uso que se faz desta determinação em certas proposições, e precisamente neste ponto a elucidação ostensiva apresenta seu déficit, indicamos que o mesmo som, ou a mesma imagem representativa do objeto pode estar apontando para um sentido diverso daquele que a elucidação no processo de aprendizagem figurava. Neste sentido, pretende-se situar a problemática em que se insere o significado de um signo, bem como a relação destes signos entre sua representação da realidade mediada pela linguagem, pois não está relacionado apenas ao objeto que este signo nomeia, mas também ao uso que se faz deste nome em determinadas situações, o uso empregado para os objetos em determinadas proposições e que vai conferir significado a palavra na linguagem. Palavras-chave: Linguagem, Realidade, Representação, Elucidação ostensiva, Investigações Filosóficas Nome: Larissa Drigo Agostinho Instituição: Universidade de Paris IV-Sorbonne Orientador: Prof. Dr. Bertrand Marchal Título: Da racionalidade do real Resumo: Através de uma comparação entre a função e o lugar das modalidades na Crítica da razão pura e na Ciência da lógica hegeliana procuraremos demonstrar de que maneira Hegel constrói a racionalidade do real a partir das noções de acaso, possibilidade e necessidade. As modalidades Kantianas, a tese dos postulados, presente no fim da analítica são responsáveis pela constituição das condições de possibilidade do mundo físico. Este é o papel das antinomias: pensar o sistema do mundo físico, newtoniano, a partir das sínteses a priori do Eu penso que trabalha sobre as formas a priori da sensibilidade segundo as regras das categorias. Trata-se de compreender como o julgamento coloca, compreende toda existência possível, efetiva ou necessária, ou seja, as modalidades Kantianas examinam a relação entre o conteúdo mundano e a faculdade de conhecer. A grande crítica de Hegel contra a filosofia kantiana é que, neste caso específico, por exemplo, Kant não procura compreender a gênese empírica do real, apenas os julgamentos que podemos tecer com relação a este. O que transforma as modalidades em abstrações subjetivas. Para Hegel a lógica não é apenas o espaço onde se configura e se define o pensar correto ou as condições de 87 possibilidades da razão. Hegel procura unificar existência e essência na própria Wirklichkeit, ou seja, examinar como a essência e a existência se unificam e adquirem realidade. Na verdade o objetivo da lógica hegeliana neste primeiro momento, na lógica objetiva, é dissolver a distância instaurada pelo pensamento kantiano entre o mundo físico e os possíveis julgamentos que podemos estabelecer a partir deste, construindo uma gênese empírica do real através da dialética entre o possível, o contingente e a necessidade. Procuraremos demonstrar que enquanto em Kant a contingência aparece como uma “falha” da razão que desaparece diante da causalidade encontrada de um fenômeno determinado, para Hegel a contingência é um elemento fundamental na constituição e determinação do real. Esta distinção tem como conseqüência principal a necessidade de um conceito renovado de razão, que como o real será determinado pelo caráter indeterminado e instável da contingência. Palavras-chave: Contingência, Real, Dialética, Lógica Nome: Louis de Freitas Richard Blanchet Instituição: Universidade Federal do Paraná - UFPR Orientador: Prof. Dr. Marco Antonio Valentim Título: Movimento e continuidade na física cartesiana Resumo: Um problema da física cartesiana é a continuidade do movimento. Guéroult defendia que Descartes subscrevia a uma tese da descontinuidade do tempo. De acordo com Guéroult essa deveria ser uma das teses fundamentais da filosofia cartesiana, a ponto de ter consequências nas sua epistemologia e na sua física. Segundo o comentário de Guéroult, “Leibniz: Dynamique et Metaphysique”, Descartes foi incapaz de formular uma física dinâmica pois a maneira como ele fundamentou sua epistemologia o obrigou a fragmentar a certeza em intuições instantâneas separadas. Assim, segundo Guéroult, a epistemologia cartesiana o obrigou a se limitar a uma física estática. Ricahrd T. W. Arthur escreveu alguns artigos refutando a existência da descontinuidade do tempo na filosofia cartesiana. Em um deles, “Beeckman, Descartes and the force of motion”, Arthur quer mostrar que a física estática de Descartes tem origem na teoria física de Beeckman, a qual estava fundamentada na observação de fenômenos e não na epistemologia cartesiana. Ainda que sua física seja semelhante à de Beeckman, Descartes recusa a noção de que o movimento seja fragmentado em átomos, o que nos leva a crer que ele não subscrevia a descontinuidade do tempo. Embora os dois comentadores concordem que os problemas da física cartesiana irão dar o mote 90 Resumo: Em Berkeley a matéria existe a partir da mente. No primeiro diálogo de “Filonous e Hilas” o pensamento é passível de classificação porque reveste uma forma: há o pensamento do vulgo, senso comum, e há o pensamento do filósofo. Filonous vai mostrar que o pensamento (palavras) do vulgo parece útil, mas para o filósofo revela-se supérfluo, ao passo que o pensamento (palavras) do filósofo parece supérfluo mas revela-se uma prática (a filosofia). Paradoxalmente Filonous mostra o “nada da matéria” através da palavra, duvidando da mesma palavra. Assim Berkeley incita a reaver a palavra como prática, em tempos em que ela é marginal como critério de noção da prática. A visão materialista, científica, impõe a palavra como expressão de uma outra prática: extra-linguística. Ou seja, a preponderância da matéria sobre a mente nas concepções das ciências domina a esfera das experiências. Concomitante, a idéia, a abstração percebida diretamente pela mente, continua a existir sem ser percebida como mera abstração, mas sim como consequência da observação da matéria. A forma do pensamento do filósofo já tem uma qualidade reconhecível sob o ponto de vista do vulgo: é possível conter “conceitos fantásticos” “mistério”, “enigma”. O enigma proposto por Hilas a Filonous é que este explique a afirmação de que “a matéria não tem existência”. O artifício de Filonous é ter a pretensão do senso comum, mas praticar a filosofia. E mostra a Hilas que classificar o sujeito que nega a existência da matéria, de “cético”, é inexato, pois o cético é alguém que duvida de tudo, ao passo que quem nega alguma coisa está na verdade tendo a intenção de afirmar algo: a negação. A aparente idealidade de Filonous se revela na lógica comum através de um exemplo da mais simples apreensão da matéria pelos sentidos significando um acesso a algo “não-material”: o significado de uma palavra escrita, por exemplo, distanciando-se do sentido da visão presentificado no ato de ler a palavra. E Filonous acaba por tentar persuadir Hilas de que as qualidades do que é perceptível existe no ser que percebe e não nas coisas percebidas. Palavras-chave: Berkeley, Matéria, Mente, Palavra, Ciência Nome: Luciana Lima Fernandes Instituição: Universidade Federal do Ceará - UFC Orientador: Prof. Dr. Emanuel Ricardo Germano Nunes Título: Sartre, a liberdade e o engajamento Resumo: Desde o final do século passado há uma discussão em torno da emergência de um chamado “silêncio dos intelectuais”. A data que marcaria o início desse silêncio seria 1980, ano 91 da morte do filósofo, escritor, teatrólogo e jornalista Jean-Paul Sartre (1905 – 1980), tido por muitos como o último intelectual engajado. Sartre defendia a obrigatoriedade do engajamento e sobretudo a do escritor, uma vez que a literatura tem, a seu ver, a função de conduzir o leitor a determinado pensamento e conduta. Por ter grande força e influência dentro da sociedade, o escritor e o intelectual (que, aliás, podem ser a mesma coisa) devem se engajar, devem pensar e interferir diretamente nas questões de seu tempo. Sartre foi, se não o maior, pelo menos um dos maiores expoentes da literatura engajada na França, participando ativamente da vida política no pós-guerra e de vários momentos importantes do século XX: a Guerra Fria, as descolonizações de países africanos, o comunismo em Cuba e o movimento de maio de 68. Seu engajamento era feito principalmente a partir de sua escrita, seja ela literária ou filosófica. É sobre esse engajamento e sua relação com a literatura que tratará o presente trabalho, buscando analisar o posicionamento do autor sobretudo a partir da obra Que é a literatura? e em algumas de seus outros livros e peças teatrais produzidos entre as décadas de 1940 e 1950. Dentre estes, destaca-se As mãos sujas (1948), peça que trata da relação entre dois intelectuais e suas posições quanto ao engajamento e à violência, cujo fim – a opção pelo uso desta – representa o próprio posicionamento de Sartre frente a polaridade da Guerra Fria: às vezes é preciso de valer da violência (socialismo) para se evitar algo mais cruel (capitalismo). A reflexão e a posição tomados por Sartre serão assim objeto de reflexão, tendo como plano de fundo tais problemáticas, além de analisá-las dentro de uma estrutura de sociabilidade constituída com seus pares, com os quais forjaram inclusive a cultura política francesa de toda uma geração. Palavras-chave: Sartre, Liberdade, Engajamento Nome: Lucila Lang Patriani de Carvalho Instituição: Universidade de São Paulo - USP Orientador: Prof. Dr. Franklin Leopoldo e Silva Título: O estatuto da pintura em Sartre Resumo: Neste trabalho pretendemos apresentar um esboço sobre a questão da pintura em Sartre. Conforme é sabido entre seus leitores o filósofo não possui uma obra estruturada relativa a uma teoria Estética, propriamente dita, mas podemos, a partir de um recorte exposto em algumas obras que tocam o tema da estética e da pintura, traçar algumas considerações a respeito do tema que reflitam o pensamento de Sartre. 92 Em nossa exposição passaremos por dois pontos distintos: o primeiro faz referência às artes, consideradas como gênero, no pensamento sartreano e consideraremos, especialmente, a situação e o estatuto da pintura em relação às outras artes e, particularmente, em relação à literatura. Em um segundo momento, pretendemos esboçar as considerações do filósofo a respeito da pintura e de noções que a envolvem como, por exemplo, o conceito de belo, o imaginário, entre outros. Embora as artes e o tema da pintura se encontrem pulverizados na obra sartreana, faremos um recorte e exporemos o tema conforme um percurso estabelecido a partir de algumas obras especificamente, tais como O que é a literatura?, de 1947,por um lado e, de outro, a Conferência realizada por Sartre no Brasil, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, no ano de 1960 e posteriormente transcrita e publicada. Em meio a isto, estruturando a nossa exposição, nos apoiaremos pontualmente em algumas obras do filósofo, a exemplo de O Imaginário e O sequestrado de Veneza, que, entre outros, auxiliarão a clarear a exposição de Sartre sobre a pintura e a melhor delimitar o posicionamento do autor sobre o tema. Palavras-Chave: Sartre, Filosofia Francesa Contemporânea, Pintura, Estética Nome: Lúcio Vaz Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG Orientadora: Prof.ª Dr.ª Telma Birchal Título: Problemas conceituais entre suicídio e auto-sacrifício Resumo: A comunicação pretende analisar criticamente as diferentes propostas de distinção entre suicídio e auto-sacrifício bem como oferecer uma definição dos dois conceitos, a saber: por ‘auto- sacrifício’, intenciono significar a escolha da morte ou, pelo menos, a sua aceitação por parte de um agente sendo tal escolha eventualmente necessária à consecução de um fim em favor de outras pessoas, ao passo que o suicídio consiste na escolha consciente de um ato ou da omissão de agir, escolha que é, do ponto de vista do agente, causa suficiente, mesmo que não imediata, de sua morte, ou seja, da abreviação de sua vida, sendo tal escolha motivada pelo desejo de se livrar de um mal ou de buscar um bem maior para si mesmo. Em seguida, analiso e rejeito três outras tentativas historicamente oferecidas de distinção: em primeiro lugar, a notadamente presente na tradição cristã (Van Vyve, Gabriel Marcel) de traçar uma separação entre os dois conceitos de maneira valorativa; segundo lugar, de diferenciar suicídio e autosacrifício pelo fato de que apenas no primeiro a morte ser visada como fim (como propõe Fairbairn); terceiro, outros recortes 95 instrumento para o ensino da virtude, no primeiro e ao questionar a verdadeira natureza do sofista, no segundo. De maneira geral, tem-se a impressão de que a retórica só serviria como instrumento para um grupo contemporâneo de Platão, os sofistas. E a assim chamada sofística representaria uma suposta alternativa à cultura tradicional ateniense, em particular, embora não considerada desta forma por Platão. Sua atuação persuasória e pragmática teria então na retórica a ferramenta a ser por excelência utilizada. O Górgias em particular, mas também O Protágoras apresenta esta visão quase que identificadora do Sofista como usuário da retórica, e de um procedimento ou de uma ação que dependeria deste uso, a persuasão. No entanto, o Fedro parece nos apresentar a retórica de forma muito menos restritiva e mesmo a inclui entre as possibilidades de instrumento também da própria Filosofia. A psicagogia apresentada por Sócrates como real sentido da retórica a serviço da verdade deverá ser capaz de saber que espécies de discursos convencem a determinados tipos de almas, além de conhecer verdadeiramente o assunto a ser tratado. Temos então o real “uso” que a Filosofia poderá enfim fazer da retórica, utilizando-o para educar a bem da verdade e do bem: discernir quais almas combinam com quais discursos, conduzir as almas ao bem e à verdade por meio de discursos adequadamente produzidos." Palavras-Chave: História da Filosofia Antiga, Platão, Fedro, Retórica Nome: Marcos Daniel Camolezi Instituição: Universidade de São Paulo - USP Orientador: Prof. Dr. Franklin Leopoldo e Silva Título: Causalidade na obra de Jules Lachelier Resumo: Almejamos expor o papel da causalidade na obra de Jules Lachelier (1832-1918), em especial em sua tese de doutorado intitulada Do fundamento da indução (1871). Nascido na França, o filósofo licenciara-se na École normale supérieure de Paris, onde permaneceu na condição de professor. O período de docência nessa escola fora fundamental, direta ou indiretamente, na formação de grande parte dos filósofos mais reconhecidos no final do século XIX e início do século XX, a exemplo de Émile Boutroux, Henri Bergson e Léon Brunschvicg. Lachelier reconhecia-se herdeiro do criticismo, mas, com o intuito mais geral de compreensão do pensamento em sua plenitude, o filósofo dá alento à corrente do realismo espiritualista e, nessa mesma medida, 96 subverte o kantismo. Toda a preocupação de Lachelier concentra-se no estatuto da sensibilidade tal como aparece na primeira crítica de Kant: se a intuição aproveitável pelo entendimento fosse unicamente pura, toda a realidade da experiência humana estaria fadada ao desprezo em prol do entendimento enquanto entidade ideal. A atitude filosófica de Lachelier não procura, então, privilegiar o pensamento enquanto idealidade, mas enquanto realidade: no ato do pensamento o empírico faz-se presente e, portanto, ele é no próprio pensamento. Essa atitude, que diz respeito a uma ontologia do pensamento, é acompanhada de uma alternativa epistemológica muito peculiar, fundamentada no campo aberto pela terceira crítica kantiana. Afinal, segundo qual conceito o empírico que se realiza no pensamento poderia tornar-se inteligível e ser compreendido? Lachelier acredita que, ao lado da causalidade eficiente, adequada à compreensão das séries de fenômenos, é preciso resguardar o valor epistemológico da causalidade final ou, simplesmente, finalidade. Se toda relação entre fenômenos ocorre por meio da relação de causa e efeito, ainda seria preciso reconhecer que, na natureza, os fenômenos obedecem a relações de meio e fim. O pensamento consistiria na entidade em que se cruzam duas ordens do ser, de modo que, com a finalidade associada à causalidade eficiente, o real empírico tornar-se-ia inteligível em toda a complexidade das formas naturais. Desse modo, procuraremos mostrar como Lachelier busca alargar a dimensão ontológica do pensamento até fazê-la coincidir com a da própria natureza e como, em razão da integração entre causalidade eficiente e da causalidade final, pretende efetuar a passagem do idealismo a um realismo do pensamento. Palavras-Chave: Causalidade, Finalidade, Idealismo, Realismo, Espiritualismo Nome: Maria Fernanda Novo dos Santos Instituição: Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP Orientador: Prof. Dr. Luiz Orlandi Título: A ciência dos problemas em Henri Bergson Resumo: Henri Bergson sempre se inclinou a produzir uma filosofia próxima das inquietações sobre conceitos tradicionalmente pouco explorados pela filosofia como o movimento e a multiplicidade. E na medida em que os percebe atualizando uma estreita relação com a vida estende-os por toda sua obra, construindo pouco a pouco conexões que se sustentam por suas próprias remissões, mas que também são animadas por conexões para além da filosofia. Em 97 momentos notáveis de sua obra, Bergson nos permite vê-lo tecer as linhas dos conceitos fluídos que não apenas sugerem o movimento, mas também são capazes de se arranjar a cada novo lance em que as variações da filosofia e suas conexões os impõe. Por isso, o filósofo parece oferecer conceitos que possam responder a cada nova proposição de problemas que devem abrir-se as transfigurações operadas por quem os percebe, ou ainda acompanhar os deslocamentos daquilo que os problemas procuram resolver. Podemos dizer, de outro modo, que, para Bergson, a formulação de problemas está ligada a um dinamismo pelo qual se conecta os próprios conceitos. A hipótese que iremos perseguir neste estudo será balizada pela atração científica de Bergson que atravessará o Ensaio, de onde partiremos para chegar aos limites da combinação entre filosofia e os temas da ciência que Bergson pôde experimentar, tal como a multiplicidade e o movimento. Combinação esta que inaugura um campo de experimentação do qual o filósofo nunca abandonará. Deste modo, exploraremos uma leitura que pode considerar os objetos científicos e suas temáticas como componentes da problemática pela qual inserem certos conceitos bergsonianos. Em suma, pretendemos apresentar quais as possíveis maneiras de reconhecer que a relação de Bergson com as ciências pode ser considerada um tipo de aliança em que vê-se modelar certas formas as quais sua filosofia estariam à disposição das relações entre o pensamento filosófico e o domínio científico. Palavras-Chave: Problema, Multiplicidade, Duração Nome: Mariana de Campos Bardelli Instituição: Universidade de São Paulo - USP Orientador: Prof. Dr. Celso Fernando Favaretto Título: A dialética negativa das vanguardas Resumo: Pretendemos traçar um paralelo entre o conceito de perlaboração, engendrado por Lyotard, e o procedimento da dialética negativa, conforme a concepção de Adorno. O filósofo francês compara o trabalho realizado pelas vanguardas com uma anamnese tal como proposta pela psicanálise. Ele associa o trabalho realizado pelos artistas vanguardistas, ao repensar os próprios trabalhos modernos, com o processo pelo qual se submete um paciente na tentativa de “elaborar sua perturbação presente associando livremente elementos aparentemente inconscientes com situações passadas”. Mas a ressalva de Lyotard é a de que não se trata de buscar os “fatos ocultos” que deram origem à perturbação, pois o esforço para relembrar o “pecado original” faz com que