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Guias e Dicas
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Curso de Alquimia - Olavo de carvalho, Notas de aula de Filosofia

Neste curso o filósofo Olavo de carvalho buscou delimitar de maneira clara a essência da Alquimia, para assim chegar a demonstrar de algum modo como este tipo conhecimento pode ser um grande "hormônio" para a inteligência humana.

Tipologia: Notas de aula

2020
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Compartilhado em 08/05/2020

HENRIQUEJ
HENRIQUEJ 🇧🇷

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Baixe Curso de Alquimia - Olavo de carvalho e outras Notas de aula em PDF para Filosofia, somente na Docsity! CURSO DE ALQUIMIA OLAVO DE CARVALHO PRIMEIRA AULA (09/01/96) A questão deste curso é a delimitação do que é alquimia. Não se trata portanto de um curso de alquimia. Pode haver um curso sobre alquimia, a respeito de alquimia, etc..., mas aprendizado alquímico é demasiado pessoal para poder ser objeto comprimível nas dimensões de um curso. Tudo o que poderei fazer aqui será transmitir um conceito, uma idéia do que é a alquimia levando em conta toda a distância que vai entre ter uma idéia do que é equitação e saber montar. No entanto, mesmo dentro deste limite estreito, este curso irá muito além do que pode ser uma exposição apenas teórica e informativo. O motivo disto é que em alquimia não existe uma distinção rígida entre teoria e prática; ela já é uma disciplina prática desde seu começo. Desde o momento em que você apreende as primeiras noções de alquimia, já está metido nela até o pescoço. Em astrologia e em outras ciências esotéricas essa distinção existe, mas aqui não. Na alquimia, a partir do momento que você começa a formar os primeiros conceitos, já está penetrando num certo mundo simbólico, num certo modo de pensar e de ver que já é o terreno propriamente dito da prática alquímica. E a alquimia é, pela sua própria autodefinição, uma ciência prática: ela não visa à descrição ou à explicação de um ser ou de uma área do ser, mas visa a uma mutação, a uma alteração a ser realizada no sujeito que a pratica, e que pode se ampliar em modificações do mundo físico em torno, embora não necessariamente. Uma das diferenças entre ciência teorética e ciência prática é precisamente esta. A ciência teórica esgota sua finalidade ao dizer o que é uma coisa ou por que a coisa é como é. Por exemplo, a Física teórica. Ela nos diz como é a constituição física do cosmos, e aí termina sua função. Uma ciência prática só encerra a sua função no momento em que completa a alteração ou transformação que se propõe realizar. A ciência prática pode estar voltada para uma alteração do mundo exterior, de um objeto qualquer, ou para uma alteração do próprio sujeito. Por exemplo, quando fazemos ginástica, não estamos alterando em nada o mundo externo; somente a nós mesmos. A alquimia também é uma ciência deste tipo. Com uma diferença: enquanto em ginástica há um abismo de diferença entre estudar teoricamente um movimento e praticá-lo, a absorção dos conceitos de Alquimia já é o exercício de uma modalidade de pensamento alquímica; que tem por efeito necessário desencadear, ao menos potencialmente, uma série de alterações que constituem o processo alquímico propriamente dito. A alquimia é uma transformação, uma mudança de estado. Não propriamente uma mudança de natureza. Quando o divulgador da alquimia diz que ela transforma uma espécie em outra, aí já há um engano. Na transformação de um metal em outro não existe uma mudança de espécie. A transmutação desses metais não seria possível se não houvesse algo de ouro no chumbo e vice-versa, isto é; se não houvesse uma interpenetração que faz com que chumbo e ouro não sejam propriamente espécies diferentes. Isto é uma noção fundamental: você não pode transformar uma galinha num porco ou um porco em camelo. Do mesmo modo, não se transforma propriamente o chumbo em ouro: você transforma um metal em ouro. O que no chumbo se transforma em ouro é o que ele tem de metal, não o que tem de chumbo; dito de outro 1 modo, a transmutação se apoia nas características comuns e genéricas dos dois metais, não na sua diferença específica. A diferente constituição e aparência do chumbo e do ouro são diferentes modalidades da mesma coisa, e não de coisas essencialmente diferentes. Um dos pressupostos da alquimia é precisamente este: que entre as diferentes espécies de metais há menos diferenças do que entre espécies animais; que o chumbo é mais parecido com o ouro do que uma galinha é parecida com um pato. Do ponto de vista meramente formal, o termo espécie tem o mesmo sentido quando aplicado ao par pato-galinha ou ao par ouro-chumbo. Mas, materialmente, há uma diferença de nuance que não é preciso explicar agora, porque vocês podem captá-la intuitivamente; mas essa nuance nos revela um princípio essencial da natureza: que quanto mais complexo é um ente, mais diferenças há entre sua espécie e as demais espécies do mesmo gênero. Entre dois metais há um parentesco mais profundo que entre duas espécies de animais. Para entender algo da Alquimia, temos que compreender primeiro o que é uma transformação, o que é uma coisa mudar de estado. Para isto vamos recorrer àquele que todos os alquimistas consideravam o seu mestre supremo: Aristóteles. A base de toda a Alquimia ocidental e islâmica é a Física de Aristóteles. Não por coincidência, o livro da Física sai da órbita de interesses dos cientistas mais ou menos na época em que a Alquimia vai perdendo prestígio nas camadas universitárias (por volta de l500 a l600). A saída da Física de Aristóteles e da Alquimia acontece pelo fato da formação de uma nova camada letrada mais ou menos improvisada. Esta camada era constituída não mais de estudiosos universitários, mas de membros da corte. Esta intelectualidade palaciana estava mais interessada nos aspectos literários, políticos e na recuperação da bela linguagem dos autores antigos, do que no aprofundamento da ciência constituída na Idade Média. Claro que existiu algum ganho nisso; mas, concomitantemente houve uma perda irreparável. Dessa perda, os itens mais lamentáveis foi justamente a Astrologia e a Alquimia. Quando você aprofunda um pouquinho o assunto da Alquimia e você questiona: vale a pena perder isto para ganhar aquilo que a outra camada deu? A resposta é taxativamente, não! Quer dizer que, para a gente adquirir os conhecimentos de Galileu Por ex.. fosse preciso perder os conhecimentos alquímicos, era preferível não ter Galileu. Se for para acrescentar, sim. Mas o fato é que, que quando uma dessas coisas entram em cena, acabam Por ex.pulsar outras. A gente sabe que a Física de Aristóteles foi contestada por Galileu pela questão do Movimento Retilíneo Uniforme. A Física antiga dizia que um objeto ao qual não se imprime nenhuma força interna, fica parado. Por ex.: esta cadeira está parada porque ninguém a está empurrando; não há nenhuma força externa que a mova. A capacidade de se mover sem nenhum impulso externo era a característica que Aristóteles identificava num ser vivo. Portanto, tudo o mais só se move se estimulado de fora. Galileu dizia o seguinte: o objeto no qual não é impelido nenhuma força externa, ele fica parado ou em movimento retilíneo uniforme. Porém, o M.R.U. como descreve Galileu numa nota de rodapé ele não existe. Ele é apenas uma suposição. Não existe M.R.U. porque tudo o que se move neste mundo encontra algum atrito e é desviado de seu curso pelo atrito. Então, M.R.U., é um conceito ideal, uma coisa que de fato não existe. Então, o que Galileu fez? Ele contestou a Física antiga? Não, ele 2 nós vemos que eles têm não apenas aparências sensíveis, consistências diferentes, mas também têm na imaginação humana papéis diferentes. Por ex.: se você tem um metal brilhante e opaco. é natural que você procure fazer adornos com o metal brilhante. Portanto, na hora em que damos preferência à adornos de ouro em vez de chumbo, nós sabemos perfeitamente o que estamos fazendo. Nós não estamos delirando, não é uma projeção subjetiva. A nossa imaginação, ela sempre se baseia naquilo que ela viu. Aristóteles não acredita em imaginação. Para ele existe Fantasia. E a Fantasia não é a capacidade de inventar imagens, de criar do nada. E sim a capacidade de combinar diferentemente as imagens plotadas na memória. De modo que tudo, tudo que a nossa imaginação cria, é feito com elementos tirados da experiência sensível e montados de uma maneira diferente. Se eu faço um homem com cabeça de leão como a esfinge, eu não inventei aquilo do nada: eu compus. Aristóteles crê que imaginação e memória são a mesma função operando diferentemente. Se ela se limita a repetir os dados mais ou menos na forma em que eles entraram, como as relações que tinham no momento da experiência real, isso chama-se memória. Se elas combinam elementos destas recordações de uma maneira diferente daquela pela qual ela recebeu, isto chama-se imaginação. Mas, o papel que os vários entes do mundo mineral, vegetal, animal exercem na imaginação humana não é inventado apenas pelo homem, mas depende das características que estes seres nos apresentaram no momento da nossa experiência sensível com eles. Ou seja, eu posso alterar os dados bastante; mas eu vou fazer esta alteração a partir de elementos da memória. Portanto, a divisão que nós fazemos entre constituição física do universo e o mundo da nossa subjetividade, da nossa imaginação, é uma distinção que só tem valor pedagógico. Mas que na realidade não funciona. Nós estamos tão acostumados com a tradição de ensino de alguns séculos. Uma coisa são as leis físicas: a constituição do cosmos etc.. e outra coisa são as fantasias poéticas que os artistas, os escritores puderam inventar a respeito. Ninguém ousaria tirar de uma descrição poética de uma paisagem uma conclusão de ordem física. No entanto, o mundo objetivo, real a respeito do qual o poeta fantasia, é o mesmíssimo mundo real a respeito do qual o físico faz as suas observações, comparações etc.. Isso quer dizer que a distinção da esfera do imaginário humano e a esfera da realidade física, é uma esfera que não é totalmente real. Ela é funcional, conveniente, mas não quer dizer que elas existam separadamente. Essa é a típica distinção que Aristóteles chamava de real-mental. Não é uma distinção totalmente real porque são coisas efetivamente distintas. Mas são coisas que não existem separadamente. Não é assim, digamos, a distinção entre a realidade do tipo geométrico e a do tipo biológico. Por ex.: se nós quiséssemos estabelecer uma relação qualquer entre o teorema de Pitágoras e a gestação da espécie bovina, nós não íamos conseguir de maneira alguma. Ou seja, estas coisas são efetivamente distintas. Porém, a distinção entre o mundo físico objetivo e o mundo imaginário não é descritivo. Porque através da nossa própria mente, do exercício da nossa própria mente é que nós desenvolvemos uma ciência chamada Física. E esta mesmíssima mente é que vai criar as imaginações etc.. Portanto, a distinção entre constituição física do universo e o mundo imaginário, é uma distinção apenas de enfoque de atenção. Mas não se trata de coisas que existam separadamente. Se entenderam isso aqui, já entenderam o principal da Alquimia. Quando falamos de metal, estamos falando da constituição físico-química deste metal, do que nós vemos nele com os nossos sentidos, do que nós 5 podemos apalpar da sua consistência, de todos os usos estéticos-econômicos-sociais etc. que podemos fazer dele, e de todo o simbolismo que nós podemos inventar a respeito dele. Tudo isto, está formando um todo organizado. A organização das ciências se preocupa cuidadosamente em separar todos aqueles aspectos (estéticos, econômicos, sociais etc.). A Alquimia faz precisamente o contrário: ela reúne tudo. Não para empastelar tudo mas sim para que você não perca de vista estes vários aspectos da realidade. Quer dizer, o conceito químico do ouro é um, o conceito físico é outro, o conceito econômico é outro. Uma pessoa pode ser a maior conhecedora do valor do ouro no mercado e não ter a menor idéia do que ele é constituído quimicamente. E vice-versa. Um joalheiro também não precisa entender muito da química do ouro. Estes aspectos na cultura, são totalmente distintos e separados. Alquimicamente, não. São todos a mesma coisa. Isso quer dizer que, a propriedade de um metal derreter à uma certa temperatura, faz parte da natureza alquímica deste metal, tanto quanto a propriedade que este metal tenha para ser usado como adorno ou até para aparecer no sonho de determinadas pessoas. ora isso mesmo que o raciocínio alquímico deve ser muito lento. Porque ele não permite atropelações e simplificações que nós usamos no raciocínio utilitário e científico. Em qualquer ciência você reduz o objeto de estudo a certos aspectos, cria para estes aspectos um conceito mais ou menos convencional e só opera com aquele, e esquece o resto. Por ex.: dada as características físico-químicas do ouro, você pode continuar estudando estes aspectos sem você ter que ser referir ao aspecto econômico, estético etc.. Você esquece tudo isso e continua a fazer. Portanto, você segue o raciocínio linear a partir de conceitos simplificados e especializados: só evoca um aspecto. Alquimicamente, todos os aspectos que o objeto ofereça em qualquer circunstância, para qualquer pessoa deve ser levado em consideração até a máxima extensão possível: porque todos eles fazem parte da constituição objetiva, concreta. Concreto vem de cum + crescior = crescer junto. Isso quer dizer que todos estes aspectos em que se subdivide o objeto, do ponto de vista das várias ciências que o estudam, todos eles crescem juntos no mesmo objeto real e concreto. Portanto, do ponto de vista das várias ciências, é abstrativo: separa um aspecto e olha para os outros simplesmente por uma questão de facilidade. Mas não quer dizer que este aspecto seja efetivamente separado dos outros na constituição objetiva daquele ente, daquele objeto. Estamos tão acostumados a pensar nos vários aspectos do objeto separadamente que fica difícil mesmo para gente entender isso aqui. Só existe um momento de nossas vidas no qual vemos estes aspectos todos juntos de novo: quando nós sonhamos! É por isso que nós dizemos que a linguagem dos sonhos é simbólica. Simbólico quer dizer precisamente: os 2 lados da bola. Dois é, por sua vez, o símbolo de muitos. Além disso o sonho é arbitrário: porque não somos nós que fazemos. Se estamos acostumados a raciocinar o objeto separadamente quanto à seus vários aspectos, podemos dizer que raciocinamos num mundo abstrato, irreal. De noite nos sonhos, nós recuperamos a concretude: Sim, para compensar. Os sonhos somos nós mesmos quem inventamos. Então é como se nós tivéssemos 2 linguagens deficientes: uma linguagem consciente de tipo abstrativo e uma outra linguagem inconsciente de tipo concreto. Esta última então é meramente projetiva porque sai tudo de dentro de nós. Quem está sonhando com uma vaca, não está percebendo uma vaca. Você está usando da vaca somente os aspectos subjetivos. Então, o sonho é abstrativo também. Porque: se a vaca do sonho der leite e você mamar, você estará alimentado? Não, você 6 apenas sonhou. Portanto, o sonho só lida com o que os objetos significam para você, e não o que eles são efetivamente. O raciocínio científico, por sua vez, só se ocupa com o que os objetos são sob determinados aspectos que lhe interessa e não pelo o que eles são em si mesmo. Quer dizer: quando estamos acordados, sabemos as coisas por pedaços. Quando nós estamos dormindo, nós vemos tudo junto mas é tudo subjetivo nosso. Então são duas visões ignorantes. Juntar e completá-las.. e tendo em vista uma linguagem que ao mesmo tempo seja de tipo concreto, sintética, não separativa, mas que, por outro lado respeite a constituição da matéria -e não se limite a projetar sobre ele a nossa própria subjetividade isto é Alquimia. Resumindo: no sonho nós temos um conhecimento global-subjetivo. E na realidade, nós conhecemos objetivamente, mas é um objetivo abstrato. Os dois tipo de conhecimentos são deficientes. É por isso mesmo que é uma balela você acreditar que a linguagem dos sonhos é mais profunda. não, ela é simplesmente diferente. Porque senão, para todo o mundo, bastaria dormir para virar um sábio. Claro que nos sonhos aparecem certos conhecimentos a respeito de você mesmo que você não tem na vigília. Mas, para compensar, desaparecem uma série de coisas que você sabia na vigília e que no sonho não aparece mais. Então, o que é misterioso e profundo é você perguntar: o que são as coisas, os entes do mundo real, quando considerados concretamente e não abstratamente. E quando considerados objetivamente i.é; no que eles são mesmo, não apenas naquilo que eu penso deles. Aí é que nós entramos num outro tipo de Física baseada em Aristóteles. Eu estudo isso há vários anos e posso garantir que a Alquimia é totalmente fidedigna. Primeiro: a Alquimia é coisa para velho. Porem, deve-se começar a estudar quando é jovem. Porque é demorado. A divisa, o lema da Alquimia é: Lege, lege, relege et invenies. Quer dizer: Ler, ler, reler e encontrarás. Isso significa o seguinte: todo o ensino alquímico está escrito. Quer dizer, não há necessidade de nenhuma adivinhação, não existe nenhum conhecimento que esteja oculto, está tudo escrito. Na verdade, nos 2.000 anos desde a morte de Aristóteles até o dia de hoje (há mais ou menos 2.400 anos), a Alquimia é o assunto sobre o qual mais se escreveu. Não é como certos conhecimentos de ordem espiritual que são muito raros, você só tem referências longínquas. Mais ainda, de tudo o que está publicado sobre Alquimia, tudo está repetido. Só que, a leitura alquímica, é uma leitura que tem que ser feita em sentido alquímico. Ou seja, a palavra ler também deve ser interpretada como nós interpretamos a palavra leão (num sentido pleno da coisa). O que seria isso? Você pega lá um texto alquímico. pega a famosa Tábua da Esmeralda. O que é um texto? Texto é uma série de grafismos escritos em cima de um papel. Mais, se você não souber a que sons se referem esses grafismos, você não vai ler nada. Bom, mas se souber somente o som, também não está sabendo nada. Por ex.: se você me der uma página escrita em russo, eu sou capaz de lê-la em voz alta sem muito erro de pronúncia. Só que eu não estou entendendo nenhuma palavra do que estou dizendo. Então o som não basta. Tem uma outra referência. Essa referência é aqui. É um objeto? Não, essa referência é um pensamento. Então, você pega uma palavra estrangeira: ela se refere a um som, que por sua vez se refere à um pensamento possível que eu posso ter. Este pensamento, por sua vez, se acoplado com outros pensamentos poderá se referir a um determinado objeto. Ou seja, uma ligação direta, entre a palavra, o grafismo e o objeto; mas é uma diferença feita através do pensamento. Essa é a diferença entre a 7 é outra. Do mesmo modo, Deus está relacionado à você. Deus pode pensar esta alma individual independentemente da matéria, do pedaço de carbono que ele vai usar para fazer você. Mas neste instante você existe apenas como pensamento de Deus. Aquelas pessoas que dizem: conversei com um morto. Esse cara está é doido. Conversou com algum bloco de energia física que após a dissolução daquele corpo falou com ele. Esses fenômenos existem. O que está errado é a interpretação que se faz deles. Assim, como se pode sobrar pedaços do corpo visível, pode sobrar blocos de um corpo que é invisível, mas físico. Você imagina o seguinte: em volta de cada fiozinho elétrico, você tem um campo. Se você pegar todos os nervos do nosso corpo e emendar, dá o fio mais comprido que você já viu. Você imagina o tamanho do campo magnético que tem em volta disso. Esse campo, ele pode se grudar acidentalmente em outros fios. E pode se reproduzir imagens, sons, palavras etc.. que são pedaços do seu campo energético em decomposição. Então, o cara não conversou com morto nenhum e sim com um pedaço dele. São resíduos. Isso não quer dizer que o indivíduo se tornou irreal. Ele é real na medida em que você tem a crença em que Deus sustenta as suas promessas. então você acredita que ele vai refazer. Todo mundo tem a idéia do que seja ir para o céu. Você tem uma série de coisas que você desejaria para este céu: que seu filho, seus pais etc. estivessem lá. Talvez não seja exatamente assim. Se não for assim, formule assim para que seja melhor; pior não. O que quer dizer melhor? Melhor não quer dizer diferente. Então, tem um poeta que disse ao ver uma paisagem: Eu não concebo que no céu possa haver uma paisagem melhor do que estas. O que pode ser melhor é o seguinte: Lá eu tenho um olho melhor do que este. Então, o que eu quero do céu? Quero que seja exatamente como é aqui em baixo, mas que eu tenha um olho melhor, mais limpo. É uma maneira de escrever: a capacidade de enxergar para melhor não quer dizer diferente. Se for totalmente diferente então é outra coisa, aí não serve. Há muito tempo atrás eu tive um sonho muito elucidativo: sonhei que fui para o céu e lá havia um parque de diversões e minha mulher estava lá só que criança brincando de boneca. Aí eu disse: Aqui não é o céu não, você me enganou, vou embora! Isso mostra uma desarmonia entre a necessidade das aspirações humanas e os símbolos de felicidade. Esses símbolos também são abstrativos. Porque uma coisa que representa a felicidade para você, em certo momento no caso da minha mulher e em outro momento pode se um tormento? Então, o céu não se compõe destas coisas. Deve haver uma certa adequação entre sujeito e objeto para poder ser um céu. Este tema é uma das meditações mais essenciais: o que seria o melhor? O que queremos dizer com melhor? Esse nosso melhor não é abstrato? Se ele é abstrato, é sinal de que você não vai obter. Pensar neste melhor e tentar realizá-lo é precisamente uma leitura alquímica. O que é o melhor considerado concretamente? Isso é; no conjunto que o torne real? A diferença entre real e irreal é apenas concretude. Eu posso dizer que você aqui são reais porque eu os estou vendo por inteiro, não em pedaços. Então, toda a sua vida, sua biografia, não está ali? Ou ela deixa de existir e só existe você aqui sob o aspecto abstrato de vocês serem alunos? Claro que não. Agora, se vocês se ausentam e eu penso apenas em vocês como alunos, eu não estou me referindo a um ser real: mas à um aspecto abstrativamente separado do ser real. Para certos tipos de pensamento e também para a investigação científica, basta o pensamento abstrato. Mas para o pensamento alquímico, não! Então, o que e o melhor considerado concretamente? Por ex.: eu imagino uma casa de campo. Aí eu penso. Quanto vai custar esta casa? Se me custar 10 alguma coisa, já não está muito bom. Subentende-se que não podemos obtê-la sem esforço. Se você está pensando no melhor do melhor subentende-se que aquilo não vai custar sofrimento. Continue neste raciocínio e você verá que não pode ser assim. Porque o mundo teria a instabilidade dos seus pensamentos. Por ex.: quero uma suíte presidencial no Sheraton e depois um castelo na Provence. Eu imagino as duas coisas boas e passo de uma para a outra. E se a casa melhor que você for ter no céu é assim, será uma bela porcaria. Porque você acabou de pensar numa suíte, depois pensou num castelo, já mudou. Não pode ser assim. Então se você tentar imaginar um mundo melhor concretamente meditando é com Deus. Tudo o que for melhor do melhor é com Deus. Tentar imaginar o melhor do melhor é a prática mais importante que existe. É melhor do que você ficar rezando. Reza-se quando você não consegue meditar. Quanto de esforço você já fez para tentar imaginar, conceber um melhor? Então você nunca pensou em Deus, na sua vida. Se você nem fez esta meditação que se destina ao propósito último da operação alquímica não tem Alquimia. Eis aí, já a primeira prática alquímica: meditação sobre o bem. O bem o que é ? O melhor. O Bem não expressa bem a idéia que ela contém. Porque o Bem é uma coisa boa; mas nós estamos falando de uma coisa que é melhor do que boa; é o melhor do melhor. É o maximamente bom, o bem infinito , ilimitado. Porém, um Bem infinito, ilimitado, que não é acessível à você, deixa de ser bom na mesma hora: se não podemos pegar o infinito, então escapou da minha mão. Então, um bem infinito, mas que esteja na escala humana, este me serve. Seria o sapatinho da Cinderela que não encaixa no pé: não resolve. O bem infinito na escala do humanamente possível, realizável, executável, isso é precisamente a esfera do Cristo. O Cristo é o divino humano. Daí as duas meditações: O supremo Bem e o supremo Bem na escala humana. Isto se exemplifica na seguinte frase de Cristo: ninguém vai ao Pai senão por mim! Ou seja, quanto mais você tentar pensar no supremo bem em si mesmo, mas não na escala humana, mais ele te escapa. Aí você está em dívida, aí vai para o inferno. Por isso Cristo usa a imagem do sujeito que entra pela porta e é recebido. E aquele que entra pela janela é espancado pelo dono da casa. Esse negócio do caminho que vai para o véu no Islamismo eles levavam perfeitamente a sério. Uma vez perguntaram a Maomé porque morriam criancinhas? Ele respondeu que as crianças quando chegavam na porta do céu se recusavam a entrar sem os pais. Aí Deus era obrigado a salvar o pai e a mãe dele. Então, muitas vezes isso aí é um recurso usado pela providência. Os pais foram salvos pela teimosia da criança e Deus atendeu. Então, muitas idéias infantis a respeito de céu são levadas muito a sério em doutrinas religiosas. Muito bem, o Cristo simboliza o ápice da condição humana. O Cristo é ao mesmo tempo que é divinizado, ele não perde a condição humana. Mas é transcendente e imanente ao mesmo tempo. Por isso mesmo que está na cruz, no limite. Isso é um dos simbolismo do ouro: O estado humano perfeito. Na escala humana é equivalente ao significado essencial do ouro e será a etapa final das transformações alquímicas. Mas o metal vai passar por um série de estágios: partindo do chumbo vai passar a ser estanho, ferro, etc. para chegar ao Ouro. O ouro é este estágio final que seria o metal perfeito. No mundo dos metais, o ouro corresponde aquilo que o Cristo é no mundo humano. Como é que nós vamos fazer isso se não conseguimos nem pensar. Então a operação alquímica número um é pensar. Pensar o que? O imaginar concreto. Imaginar a máxima perfeição do ser humano, não segundo um estereótipo mas segundo aquilo que te satisfaz efetivamente. 11 E, ao mesmo tempo imaginar a suprema felicidade, a bem aventurança humana. Uma das deficiências da doutrina cristã desses 2.000 anos foi que ela nunca descreveu o céu. A imagem do céu cristão é uma chatice: só tem anjinho tocando harpa. Isso é uma caricatura. Deus não nos mandou o Cristo que sofreu à beça para nos garantir um lugar que só tem anjo tocando harpa. Porém não faz parte muito do ensino da doutrina cristã imaginar o céu; o que é um grande erro. Na tradição islâmica pelo menos 1/3 de todo o Corão, é a descrição de como é o céu. É um céu co- proporcionado à mentalidade do povo árabe do século VII a quem aquela mensagem foi dirigida inicialmente. Então, prometia ao sujeito que ele ia ter 7900 mulheres, um castelo com paredes de diamantes. Tudo aquilo era o máximo, mas para aquele indivíduo humano concreto. Então, o céu é subjetivo: só pode existir o céu à medida da individualidade humana. É um céu para aquele cara lá; não um céu genérico. Um céu genérico não é céu para ninguém: é como fazer sapato 38 para todo mundo. Então, tem que ser um céu proporcionado não só à condição humana, mas à você também. Então, no Corão, tem aquelas descrições de céu (como transar com uma virgem depois ela voltava a ser virgem de novo) que pode parecer à indivíduos de outra cultura uma enorme chatice. Para os árabes era uma imagem hipertrófica, mas humanamente concebível; tanto que é dizível: se fosse inconcebível não dava para dizer. Bom, podemos imaginar um monte de maneira mas uma imagem tem que ter. E você tem que imaginar e criticar ao mesmo tempo esta imagem de céu. Se você não tem imagem, da beatitude, da bem aventurança, como é que você vai querer chegar lá? Vocês vejam quantos anos vocês tem e nunca nem um padre, nenhum professor de filosofia, te falou isso. Por isso que agente vive numa época bastante idiota. Platão vivia falando isso: tem que pensar no supremo Bem! Aluno: Você estava falando que para agente imaginar um Bem como a compra de uma casa vinha sempre acompanhado de um esforço. Prof.: É que este céu que estou falando teria que ser completamente destituído de esforço. Mas no meu entender, não. Porque se não tivesse esforço não teria tensão alguma. E não aconteceria absolutamente nada, porque o céu não é Deus. O tipo de existência eterna e imutável é do próprio Deus. Não foi isso que ele disse para nós. Ele não disse: você será Eu! Ele disse: você terá um pouco de glória, você terá uma existência que não será eterna, mas será perene. Eterno não pode ser porque o que é eterno não tem começo. A perenidade não significa uma coisa estática. Mas há um movimento de tipo cíclico: acontece um monte de coisas, você chega no fim e depois passa para outra. Igualzinho ou um pouco diferente. Exatamente como num jogo. Termina o jogo, você vai jogar o mesmo jogo. Não vai ser exatamente o mesmo jogo, vai ser um pouco diferente. Então, eu suponho que o céu seja uma existência cíclica indefinidamente variada conforme a felicidade de cada qual. Ora, neste jogo existe um esforço. Mas, se você quiser parar de jogar, não acontece nada de mal. O jogo, o brinquedo a brincadeira é um dos aspectos da felicidade. Certamente este elemento lúdico não pode estar ausente no céu. Motivo pelo qual no meu sonho apenas aquele jogo não me interessava: era um jogo de criança; não era aquilo que eu queria. Esta é a principal ocupação humana: você tentar pensar no melhor mesmo sem pensar em Deus. Como é que eu vou pensar em Deus sem pensar na minha própria satisfação? Se eu tento imaginar Deus fazendo abstrações da minha própria satisfação, eu estou 12 em que todos os hipopótamos possíveis tenham em comum, e que está exatamente englobado neste conceito. Portanto, você não está interessado num hipopótamo em particular que possa ser percebido pelos sentidos. Isso quer dizer que este uso, ele é seletivo: ele só se interessa por certos aspectos do ser designado. O uso simbólico, ele faz ao contrário: ele se interessa por todos. Ou seja, o conjunto do significado zoológico da palavra hipopótamo, está englobado também. Só que ele não se separa, Por ex.., da impressão sensível que te dá o hipopótamo. Por ex.: é impossível você ver um hipopótamo sem você ficar muito impressionado com o tamanho do bicho! Mas isto não é subjetivo, ele é grande mesmo! E isto, do ponto de vista zoológico, é irrelevante. Ou seja, as relações que existem entre essa espécie animal e a espécie humana no sentido da percepção de um pelo outro não fazem parte do estudo zoológico do hipopótamo, mas são uma realidade. Fazem parte do símbolo. Nem todas as projeções subjetivas são tão subjetivas assim. A maioria delas vêem de traços percebidos no objeto, não são projetivos. Por ex.: O leão é o rei dos animais! Parece uma coisa projetiva porque de fato, o leão não tem autoridade nenhuma sobre os outros animais. Porque atribuímos isto à ele? Porque o leão tem uma série de qualidades que você vê distribuídas em vários animais separadamente, mas que nele estão juntas. E formam um certo equilíbrio, uma certa centralidade no reino animal. Por ex.: pelo fato dele ser o mais forte e ao mesmo tempo o mais manso. É um bicho gregário, tem um comportamento do tipo paternal. e portanto onde se instalar uma tribo de leões, um leão sozinho não vai mandar nada, mas a tribo certamente domina. Exatamente como um rei, que não domina sozinho, mas através da tribo. Isso tudo são realidades, não é um modo de dizer. o leão exerce sobre sua tribo uma função real, não é uma projeção, uma figura de linguagem. Provavelmente existiam Reis Leões antes de existirem Reis humanos!. E não é impossível que uma certa estrutura da sociedade humana tenha sido copiada do reino animal. Todo simbolismo, se você cavar fundo, você verá que ele nada acrescentou ao objeto. Por ex., no simbolismo do chumbo, veremos que ele vai designar a melancolia. Saturno simboliza a melancolia. Porque? porque é aquele planeta frio, com uma roda de gelo em volta etc.. Agora, peque um indivíduo que se intoxique com chumbo. Ele vai ficar melancólico, desconfiado. Então isso não é tão simbólico no sentido pejorativo da palavra. É uma transcrição de propriedades que estão objetivamente naquele ser. Metáfora é o uso poético que você faz de uma palavra acrescentado à ela emoções subjetivas que não são de natureza universal; mas que estão ligadas a uma determinada experiência. Como Por ex., um lugar onde tive o 1 encontro com a minha namorada. Este mesmo lugar pode significar uma coisa completamente diferente para uma outra pessoa: ela pode ter sido assaltada lá. Agora, quando se trata de um simbolismo autêntico, basta você cavar um pouquinho, que você vai ver que aquilo expressa a universalidade da experiência humana com relação àqueles entes. Por ex.: o fato do céu ser elevado. E também o fato do céu ser chamado de firmamento. Porque que isto acontece? porque as estrelas estão sempre nos mesmos lugares. É a única coisa que permanece num mundo que está em contínua mudança. Se o homem antigo, das cavernas, associou à Terra como um mundo em perpétua mudança e associou o céu com a idéia de permanência e estabilidade, ele não estava fazendo uma descrição subjetiva, ele estava fazendo uma descrição óbvia da realidade das aparências. Por ex.: a paisagem que muda ao longo do ano. mas, em qualquer época do ano, esteja no céu aonde estiver, você pode tomar 15 as mesmas estrelas como orientação. O fato de que as estrelas também se movam, não modifica nada; porque elas se movem num tempo que, comparado com a mutabilidade terrestre, torna-se desprezível. Bom, então isso é um simbolismo no sentido estrito do termo e não no sentido literário da coisa; é símbolo e não metáfora. O que vai caracterizar estes grandes poemas sacros é que eles são constituídos inteiramente de símbolos. E a poesia, a literatura é um arremedo disto. A literatura todinha é apenas um comentário dos poemas sacros. Portanto, se você pegar toda a literatura universal, não existe um tema narrativo que já não esteja contido nas Bíblia, nos Vedas, etc.. As situações arquetípicas que são colocadas nestes livros, elas podem ser indefinidamente copiadas. Existe até um livro sobre isto: The Great Code; onde o autor pega a literatura do ocidente e a bíblia e ele vai mostrando que a literatura ocidental inteira é apenas um comentário da Bíblia. Da mesma forma, a literatura oriental inteira é apenas um comentário dos Vedas. Goethe observava que de toda a imensidão de poetas árabes que haviam, ele só levava a sério uns oito. Oito que, conseguiram falar alguma coisa do Corão que você não descobriria sozinho apenas lendo-o. Foi para isto que estes oito serviram, apenas isto. Um estudo aprofundado dos grandes textos sacros, terá pelo menos esta virtude de diminuir o seu interesse literário. a coisa terá menos graça do que parece. Você precisa também conhecer um pouco da língua para você poder entender a riqueza que se tem por detrás do texto. Por aí dá para ter uma idéia das propriedades inusitadas, da imensa profundidade que têm estes textos. Por ex.: no árabe você tem todo aquele negócio da permutação de letras. pela numeração das letras .você tinha uma frase, você pega por nome e obtinha outra frase. e todas elas interligadas. Não tem texto humano capaz de fazer um treco desse. Bom, aí se você não acredita em Deus.se você pega um texto sacro você que não tem humano capaz de fazer isso; é absolutamente impossível. Esta é a maior prova de Deus. Os capítulos, as Suras que quer dizer forma são considerados seres vivos. Cada Sura é um ser diferente. Sura age, anda, vai de um lado para o outro, toma decisões. As suras são individualidades, formas viventes; é um ser auto-consciente, como se fosse um anjo. É um conjunto de grafismos; só que não são grafismos humanos, e sim divinos. Você quando escreve, você usa palavras que significam coisas. Agora, quem foi que escreveu as coisas? Foi o próprio Deus! Isso quer dizer que estes textos sacros têm uma estrutura semelhante à realidade mesmo. Por trás da escrita, você vê uma outra escrita constituída de coisas. Não é que você vá interpretar um texto; ao contrário: você vai usar aquele texto para interpretar a realidade. O texto é como se fosse um mundo abreviado. Para se ler um texto sacro é preciso ter uma série de avisos, senão você não vai entender nada. Bom, mas o básico aqui, agora é entender estes conceitos fundamentais como esse da Potência e Ato. Se não tiver potência e ato, não vai ter alquimia nenhuma. Alquimia seria a ciência da transformação, da mutação. Como é que muda uma coisa em outra. Ora, essa mudança de uma coisa em outra pode tomar um sentido psicológico ou moral. Então, se você tiver um vício, como é que você o transforma numa virtude? Então é claro que você não pode transformar um vício em virtude se algo da virtude não estiver nem em potência contido no mesmo vício. Por ex.: os preguiçosos não são intrigantes. Para fazer uma intriga, dá trabalho, não é? O fato de você ter determinado vício te defende contra um outro. Num procedimento alquímico, a coisa seria você combater determinados vícios não fazendo face à eles com uma 16 virtude; mas com um outro vício. Se você estudar todos os códigos morais, você terá uma coleção de exigências. Então o que seria um homem virtuoso? Se ele cumpre os 10 mandamentos. O que são os 10 mandamentos? É a conduta ideal; E a conduta ideal não existe! Então ninguém os cumpre. Então, partindo do estado atual, como chegar até lá? Seria através de uma alquimia psicológica, moral etc.. Note bem que não é uma disciplina. Disciplina significa você se abster de fazer certas coisas. Por ex.: parar de fumar. Você corta este vício não se importando com as conseqüências psicológicas que isso vai ter. O procedimento alquímico não é este. Alquimia é transformar alguma coisa; não é substituir. Se você substituí, o processo é inorgânico; é por uma justaposição mecânica, de fora. O processo alquímico é transformar uma coisa para que ela vire a outra. Você não vai fazer uma contra-posição entre um vício e uma virtude. Você vai procurar sim, a raiz da virtude no próprio vício. É difícil; mas é por isso que poucas pessoas a praticam. Muito poucas pessoas têm capacidade para isso. Aí tem que ser por justaposição mecânica, tem que cortar uma coisa e colocar outra no lugar. Isto aí é um procedimento disciplinar; você proíbe o indivíduo de certos comportamentos. E ele, então, movido pelo medo vai internalizar este medo e corta o vício. Mas não houve transformação. Este tipo de educação disciplinar, ela não diz respeito à alma do indivíduo interiormente; ela diz respeito às relações entre o indivíduo. Por ex.: Um indivíduo que rouba e pára de roubar. Ele parou de incomodar os outros; ele não melhorou internamente. Então, a disciplina visa a manter uma ordem social; em cortar dos indivíduos aqueles vícios que sejam absolutamente intoleráveis. Mas ela não muda os indivíduo; eles continuam tão ruins quanto antes. O processo alquímico muda o indivíduo mesmo ainda que isto não se traduza em mudanças muito visíveis -. O estado interior dele não vai se expressar necessariamente em qualidades humanas tão brilhantes assim como se poderia esperar. Mas um outro indivíduo que tenha as mesmas qualidades, o reconhecerá! Por ex.: Se você lê Jean-Jacques Rousseau e depois lê Leibniz. Claro, os dois têm idéias diferentes. Porém, existe uma diferença a mais: As idéias que foram escritas por Leibniz, são o próprio Leibniz; aquilo é o interior dele, ele não está escondendo nada. Jean-Jacques Rousseau, não. Aquilo são apenas obras escritas de Jean-Jacques Rousseau: ele não está comprometido com aquilo que escreveu. Mas você precisa ter uma prática e uma certa realização interior para poder pegar esta diferença. Eu não vou levar a sério as idéias de Jean-Jacques se nem ele mesmo leva. é apenas alguma boa idéia que ele teve num determinado momento; mas que pode não significar grande coisa para ele mesmo. Então, a alma de Leibniz, é mais perfeita. As idéias dele pode não ser nem tão boas quanto a do outro, consideradas isoladamente. Mas, no conjunto, vai ter uma solidez, uma centralidade que o outro não tem. Agente só pode perceber aquilo que está no nosso plano. Quanto mais você vai se aperfeiçoando, mais você vai descobrindo outras virtudes e qualidades que você não via. Agora, você pode também ser um indivíduo culto, instruído mas não ter a cultura da alma. Então, está no estado mais baixo; está no estado chumbo: é um grosso! Quanto mais baixo você estiver, mais você vai tender a ver mais defeitos do que qualidades. Porque as qualidades são invisíveis, ao passo que defeito qualquer um vê. Agente percebe logo se o cara é feio, gordo, defeito aparece logo. Agora, as qualidades são potências que não aparecem o tempo todo. Por ex.: o caráter heróico. Ora, o caráter heróico só se mostrará quando as circunstâncias assim o exigir. Duas pessoas postas em situações 17 caminho, essa intermediação, também fosse ela boa? Como é que seria? Então, essa tendência de imaginar o melhor dos melhores, isso aí é que se chama Tímese Parabólica. Timos, em grego, quer dizer avaliação, valores das coisas. E parabólico, é porque descreve algo como se fosse uma curva. Assíntota é uma curva que se aproxima indefinidamente de um objetivo sem alcançá-lo. Então, é uma curva que vá se tornando cada vez mais reta, mas não chega. Então, o movimento da tímese é tentar imaginar um bem supremo do qual você se aproxima como uma assíntota. Ora, esta Tímese Parabólica é a principal capacidade cognitiva humana. Porque tudo, tudo que conhecemos, depende da nossa capacidade de imaginar um conhecimento mais perfeito que aquilo. Então, se você buscar a diferença entre um homem e um animal na base do uso da razão, você vai ver que o animal tem o mesmo procedimento racional que nós. A única coisa que o animal não consegue fazer é raciocinar uma hipótese infinitamente superior. Tentar imaginar as coisas infinitamente melhores do que são é isso que vai dar a linha central do conhecimento. Também vai ter o conceito do bem supremo, que é a realidade suprema, que é o próprio infinito, que é Deus. Se você retirar esta idéia da cabeça, então ele só vai poder julgar e pensar dentro do esquema relativo onde ele já está. Você vai comparar uma coisa com a outra apenas; mas não vai ter um critério abrangente. Quando você diz que uma coisa é ruim, é ruim em relação a o que? Se ela fosse a única alternativa possível. Se um sujeito te assalta, te bate etc.. todo mundo acha ruim. Ruim porque? Por que você queria que isso não acontecesse. Elimine esta hipótese. Imagine que fosse impossível você desejar que isso não acontecesse. Daí fica apenas o fato consumado, você não tem mais como julgá-lo. Se você achou que uma coisa é ruim, é porque você queria que acontecesse outra. Apague esta outra. Você não tem mais como rejeitar a primeira. Mesmo que esteja doendo, imagine que você não tenha nenhuma recordação de quando era quando não doía. Como é que faz? Conheci uma pessoa que tinha todas as doenças possíveis; passava sua vida no hospital. Essa pessoa dizia que a melhor coisa possível era a sensação do fim da dor. Ora, quando nós chegamos a identificar o prazer com o mero fim da dor, é porque estamos jogando muito baixo. A nossa escala diminuiu. Quer dizer, a nossa tímese parabólica não subiu muito. Mas, Por ex.: se além do fim da dor tivesse também um atendimento de um desejo. E se tivessem muitos desejos? A curva aumentaria. Quando eu era criança a expectativa que eu tinha de ganhar presentes era tão prazeirosa, eu sabia que eu ia ganhar. Porém este prazer nada tem a ver com o fim da dor. Portanto, você tem aí um exemplo elementar de um contentamento inteiramente positivo sem estar vinculado à dor. A pessoa que associa prazer e dor como extremos opostos, ela não sabe o que está falando. São gêneros diversos. O contrário da dor chama-se serenidade. Em grego chama-se ataraxia: não sentir nada. Serenidade não deixa de ser gostosa, mas não é um contentamento. E o contrário de prazer seria angústia, ansiedade, insatisfação. Insatisfação não é dor. Ela pode se traduzir por algum desconforto físico, mas não há angústia neste mundo que doa mais que uma dor de dente. E você pode ter uma dor de dente num momento de extrema felicidade: acabou de ganhar na loteria e está com dor de dente! É comum fazermos esta confusão de denominação de sentimentos. Então, esta clareza de sentimentos humanos, só é possível obter quando você os transformou exatamente como substâncias químicas. Se você pegasse todos os sentimentos e emoções humanas e encontrasse os seus equivalentes metálicos ou minerais. e se você 20 soubesse todas as combinações que eles podem entrar. aí você teria um dicionário das emoções humanas. Portanto, se você está ansioso, você sabe que você não está enfraquecido. Se você está com inveja, você sabe que você não está com ciúme. Às vezes, não é que não saibamos os nomes, é que não sabemos reconhecer os estados, os sentimentos. Então, aquele bolo de sentimentos, fica uma coisa compressiva, toda amarradinha, aonde você não tem clareza. Este amarradinho, este embolado, é precisamente a estrutura do chumbo. O chumbo é o metal que tem a estrutura mais confusa. Ele é constituído de nós. E o ouro, ao contrário, é aquele que tem a estrutura mais límpida. Então, você vai chegar ao ouro aperfeiçoando o chumbo. Como é que faz? Você vai separar suas partes e vai montá-las numa ordem límpida. Por exemplo, no campo das emoções, você continuará tendo todas as emoções que os indivíduos têm; só que elas estarão no seu devidos lugares. Então, você pode chegar a ver claro o seu próprio coração. Se alguém vier falar mal ou bem de você , você saberá direitinho o que tem de verdade e o que tem de falso. Sabe o que representa isso em termos de sossego humano? Você não ter que se preocupar mais com o que os outros falaram? A sua área de conflitos humanos diminuí assombrosamente. Essa limpeza se obtém pelas sucessões de transformações alquímicas. Essas transformações alquímicas consistem em pegar todos os metais e limpá-los com Mercúrio que é um solvente universal. Se usa Mercúrio em joalheria para se limpar a sujeira do ouro e dos outros metais. E o Mercúrio, vai simbolizar, ao mesmo tempo, o Mercúrio material e o raciocínio. Aí você vai limpando estas diferentes emoções, motivações, até que elas apareçam do jeito que elas são. Ora, se é para limpá-las, você não vai jogar nenhuma fora. Portanto, você não vai tentar se corrigir moralmente durante este período. Portanto, se eu sou mentiroso, toda vez que eu mentir, eu vou saber que eu estou mentindo, vou dizer para mim mesmo que estou mentindo. Isto é uma operação do entendimento. Bom, os metais vão significar uma condensação de todo o mundo mineral. Os metais são aqueles minerais no qual as propriedades de todos os outros aparecem de uma maneira mais nítida. Por isso mesmo são usados como resumo do próprio ser humano. Por outro lado, todo mundo conhece a equivalência entre os planetas e os metais. Mas isto será visto em uma ordem geocêntrica (Sol, Lua, Mercúrio etc.). Esta escala dos planetas representa um conjunto de uma série de experiências interiores, uma série de transformações pelas quais a alma do alquimista passa ao mesmo tempo onde ele está; no seu materialíssimo forno. A alquimia natural acompanha a alquimia interior. Do mesmo modo, se ele estiver fazendo apenas as alterações em espírito, outras tantas transformações materiais concomitantes estarão acontecendo no seu corpo. Nós temos também um forno alquímico: o nosso abdômen; é aí que acumulamos calor. É sempre a parte mais quente, e aonde você vai transformar os alimentos ingeridos em energia para você despender. Portanto, você já tem, não apenas um forno alquímico, como um compêndio de alquimia na sua própria barriga. Existem várias maneiras de você conduzir as operações alquímicas; a mais óbvia é a que se faz num laboratório onde você vai transformar os metais. Se o alquimista no seu laboratório vai tratando os metais assim, a sua alma vai passando ao mesmo tempo pelas mesmíssimas alterações. E, se a pessoa se dedica à alquimia espiritual, a sua corpo vai passar também por estas alterações do mesmo modo que os metais no forno alquímico. Um método muito interessante é usado no Tai-Chi onde tudo girava em torno de um acúmulo de energia consciente no abdome. Então, 21 primeiro você tinha que respirar, sentir o calor, o ar entrando, baixando. Então, ao mesmo tempo que você tinha uma concentração térmica no abdome, você ia tendo também uma concentração gravitacional. Então, aos poucos você ia percebendo o centro de gravidade do seu corpo- que está no abdome, que é a parte mais pesada. No Tai-Chi, aos poucos, você adquire uma estrutura que é uma bolinha. Você vira esta bolinha; porque todo os seus gestos giram em torno do centro do abdome. Então você ia acumulando o fogo alquímico; mas a medida que você acumulava, acontecia um outro processo. Mas, antes de você ter o fogo, você precisa ter o forno, materialmente. Para isso você precisa permitir que o barro do tijolo seque. Como ele seca? A água evapora ou cai. Então você tem aqui um forno de tijolos, a água pinga lá até que fique seco. Como é que faz isso? A técnica é simples; é desenvolver a sensação de peso. Todos nós gostamos de sentir o nosso corpo leve. Se você tenta sentir que o seu corpo está leve, ele vai pesar contra sua vontade. E se você fizer o contrário: sentir e ficar consciente do peso do seu corpo cada vez mais. sentir o peso do corpo significa em primeiro lugar, você se instalar sobre a Terra. Em segundo lugar, significa obter o pleno domínio de todo o seu corpo. Então, a sensação de peso do seu corpo é muito importante. Mas importante quer dizer pesado. Por ex.: fazer os gestos todos usando o mínimo de uso e o máximo de peso. Por ex.> se você quer bater em alguma coisa. Você põe um certo volume de impulso muscular. E se você em vez de fazer um impulso muscular, você simplesmente deixar a mão cair sobre sua perna. Se eu der esta mesma pancada usando impulso muscular, eu posso quebrar minha mão; ou minha perna. Desse modo, estarei jogando o peso de um membro contra o outro. Então esse treino de jogar o peso para cá, jogar o peso para lá, você acaba realizando um número de gestos muito complexos que você pode fazer com muito pouca força. Bom, isso aí é deixar cair a água. A água desce e o fogo sobe. A simples disciplina de ir deixando cair a parte pesada e móvel que é a água, primeiro você consolida a parte pesada e imóvel que é a Terra. Em segundo lugar, permite que o ar circule e o fogo suba. Isso acontece efetivamente; você tem alterações de temperatura. Só de aumentar a temperatura, você já se livrou de um monte de doenças, problemas, etc.. Vejam, o Tai-Chi, é só uma das vias possíveis para alcançar tal realização. Um outra tipo ou método, seria o Processo das Citações que é um livro usado nas igrejas ortodoxas. Tem um livro que se chama Relatos de um peregrino Russo. O peregrino russo é um sujeito que estava com problemas e recomendaram que fosse à igreja. E o padre estava naquela parte da Bíblia onde o Cristo diz para orar sem cessar. O peregrino procurou um monge que explicou que se tratava do método da prece perpétua. Consistia em você repetir um determinada frase, uma oração: Sr. Jesus Cristo, tende piedade de mim! Repetir isso 24 horas por dia sem parar. Isso é um outro processo alquímico onde você não vai usar forno, e nem mesmo uma referência direta à estrutura do seu corpo se bem que este método recomenda estritamente que você pense isso dentro do seu corpo; e que não afaste a atenção do seu corpo nem por um minuto que seja -. A atenção não pode voar. Porque? porque é necessário que toda a parte aquática da alma humana desça. A parte aquática que seriam as imaginações, emoções etc.. têm que descer e estar instalada no seu corpo. As águas descem e as nuvens sobem. E você já percebe que as emoções estão no seu corpo efetivamente. Se estão no seu corpo, você tem todo o movimento para baixo que te instala na realidade da Terra. Aí você tem uma limpidez de olhar para cima. Você continua tendo as 22 raciocínio, ele vai ver o céu. O céu representa o firmamento, a estrutura firme da realidade como um todo. Mas temos que começar por limpar as emoções. Como é que faz? Em primeiro lugar, você vai sujá-las; para sujar você tem que fazer chover para dissipar as nuvens. A medida que vai sujando as nuvens, você vai agindo sobre o pensamento. Na hora que age sobre o pensamento, vai limpando. mas na hora que limpa, suja em baixo. Se choveu, suja a água. Isso quer dizer que a atividade da inteligência, o estudo, o raciocínio etc., vai limpando a parte do elemento mental e vai sujando as emoções. É por isso que se você estudar muito, você vai ficando deprimido, com raiva etc.. Aristóteles dizia que a inteligência se desenvolve se ela for exercida moderadamente. Estudo bom é 2 a 3 horas por dia e olhe lá. Então, você não pode tentar espremer todas as nuvens de uma vez. alcançar a total lucidez intelectual de uma vez. porque senão vai sujar a água. Então, você tem que mexer um pouco aqui na nuvens, e esperar chover. o aprendizado intelectual, ele tem que ser alternado com uma espécie de sossego da alma. Então, tanto faz você fazer alquimia por Tai-Chi, no forno, ou só na mente, pela linguagem. Se você estiver fazendo no forno, isto está afetando seu corpo e outras tantas mudanças estarão acontecendo em torno de você. Porque o seu corpo existe vivo e mexe em outros corpos. Por ex.: gato cura dor de cabeça! Como faz? Você olha o gato colocando o olho nele de tal maneira contra a luz de modo que você veja o fundo (que parece uma lua). A hora que a luz bater lá e você olhar, a dor de cabeça pára. E o gato dorme quinze horas seguidas. Isto é magia. A definição de magia é você operar defeitos físicos através de imagens, através do olhar. Existem remédios para isso por via cutânea, sublingual, anal etc.. Eu estou dando um remédio por via visual! No budismo, existem certos ritos de iniciação que consistia em pegar mandalas e ficar desenhando-as por anos a fio. e pronto a pessoa já estava iniciada. Ora, se pode se fazer iniciação por mandala, porque não pode se curar uma dor de cabeça. Você sabe que você pode mudar o estado de espírito de uma pessoa através do olhar? Você pode mudar uma vida com um olhar. Dr. Müller fazia muito isso. aluno: ainda não entendi direito como que você mexendo no corpo você pode mudar o que está em redor. Prof.: Nós só podemos captar as coisas no exterior através do nosso corpo. Nós não podemos entender um objeto a não ser por analogia com nossas funções corporais. Como é que você sabe que essa cadeira é cadeira? Esse objeto é inteligível para você porque ele corresponde à uma função corporal idêntica no seu corpo. Qualquer coisa que você aja no mundo exterior está falando do seu próprio corpo ao mesmo tempo. A cadeira é apenas uma bunda ao contrário. Quando o sujeito fica louco, o ar está totalmente nublado e a água fica suja. Ele não enxerga em cima nem para baixo. Ele está totalmente comprimido na sua situação individual humana. 25 TERCEIRA AULA (16/01/96) A leitura alquímica, como vimos na aula anterior é diferente da leitura em seu processo normal. Nesta última, você evoca no máximo uma representação sensível; na melhor das hipóteses, uma imagem. Vamos dizer que esta imagem já seria o suficiente para você criar uma emoção; que pode dar à você uma ilusão de participação enquanto você está lendo. Num relato de ficção você pode até fazer um filminho para você acompanhar. Eu, Por exemplo, quando leio um romance, faço muito isso: vou fazendo a adaptação cinematográfica. Claro que isso ajuda e cria uma emoção. Mas tudo isso aí, sou eu que estou inventando: eu estou reescrevendo o romance de Dostoiévski, de Tolstói, a meu modo. Pode ser que se eles tivessem que fazer a adaptação cinematográfica iriam fazer completamente diferente. Então, você não vai passar nunca dessa esfera imaginária e emocional. Mas aqui nós estamos falando de uma coisa mais profunda: é você identificar os seres mesmos que estão designados pelas palavras não através de suas imagens, mas pela sua presença real. Vou dar um exemplo: Existe uma outra divisa alquímica que diz: Visita os interiores da Terra, retificando encontrarás a pedra oculta. O que é esta pedra? É a chamada pedra filosofal: aquela que tem o poder de, tocando o metal, liberar transformação ou transmutação. Como seria uma leitura alquímica deste negócio? Ela só estará realizada na hora em que cada um dos seres e situações que forem designados para isso seja real; ou seja, na hora em que você estiver fazendo isso, seguindo esta seqüência. Tudo o que é real é físico. Na última aula eu falei que só o que é corpo é que existe espacial e temporalmente. Não é absolutamente concebível uma forma de existência anímica em que seja totalmente independente um do outro. Bom, e se você me perguntar aonde vou colocar Deus? Vou colocar no corpo? Deus, vai ter muito mais do que um simples corpo. Porque você tem a possibilidade de produzir corpos. Então, o corpo está nele. Aí fica neutralizada a objeção. Então, para nós que temos uma existência corporal, é só o que é corporal que é real. Então vamos ter que realizar isso aqui corporalmente, tornar isso coisas. Então, em que sentido você pode visitar o interior da Terra? Você vai fazer um buraco e entrar? É claro que é materialmente impossível. Então, não é este o significado da sentença; porque ela não é para ser interpretada em sentido metafórico mas em sentido simbólico. Simbólico quer dizer forte: com plenitude de significado. O simbólico é uma espécie de hiper-literal: é mais literal do que o literal. Então, deve haver uma outra maneira de você visitar o interior da terra. Vamos supor uma outra hipótese: você pega um pedaço de terra mineral qualquer e o abre para ver o que tem dentro. Você o está visitando por algum acaso? Não, você está apenas vendo. Visita quer dizer que você tem que estar lá. Tem que ser algum aspecto da terra em que você esteja corporalmente presente; o qual, não podendo ser nem o planeta Terra nem um pedaço de terra, qual pedaço da terra que pode ser? Em que pedaço da terra é possível você estar no seu interior materialmente? Só tem um: Qual é? aluna: No corpo. Prof.: Isto mesmo. É a única parte da terra no qual você pode estar no interior dela. De fato, você está. Porém, você não está plenamente. E se é para fazer uma leitura alquímica, tudo tem que ser interpretado em seu sentido pleno. Repito que o 26 simbólico não é metafórico nem alegórico; e sim uma espécie de hiper-literal. Ora, se por Terra entendemos o planeta Terra ou um pedaço de terra, ela só tem estes significados de maneira precária, parcial, abstrata. Concretamente, ela significará isso tudo ao mesmo tempo. Terra é tudo aquilo que esteja na terra e seja composto de terra. Mas tudo, tudo. Se excluir um, já não é. Bom, então agente poderia dizer: se é o meu corpo não é o planeta terra. Então, deve ser alegórico: parece uma coisa mas quer dizer outra. Não! O que ele está querendo dizer é que se você visitar efetivamente o interior do seu corpo, isto é exatamente como visitar o centro da Terra como planeta; E também a constituição íntima da partícula de qualquer matéria. Ou seja, deve haver um ponto no seu corpo que seja suficientemente central para que conhecendo-o por dentro, você o conheça o centro do planeta Terra e a constituição interna da matéria. Por isso que eu digo que a coisa deve ser tomada em sentido forte: deve haver algum modo de conscientizar o seu próprio corpo, um certo ângulo de visão, no qual o centro de seu corpo coincida estruturalmente com o centro da estrutura da matéria mesmo. E também com o centro do planeta Terra. Você vai ao interior do seu corpo, e lá você vai encontrar não somente o núcleo central do funcionamento do seu corpo, mas também a constituição mais íntima da matéria em geral. E do próprio planeta Terra. Enquanto não fizer isso, a coisa não está realizada. Se você for até o centro da Terra você vai encontrar fogo não é? É mais quente lá dentro do que na superfície. Isso quer dizer que quando você alcançar a região do fogo, você ainda não está no centro. Você ainda não alcançou o fim da operação. Então, retificando, corrigindo a operação deste fogo, você encontrará a pedra oculta. Isso quer dizer que, por baixo do fogo, deve haver uma pedra: um ponto fixo. Na aula passada, vimos um diagrama do Tai-Chi que representava esquematicamente o corpo humano em forma de bolinha. Muito bem, a nossa atenção, ela circula perifericamente nos gestos que nós fazemos. Nos gestos, nos objetos que nós olhamos etc.. No máximo a atenção recua até uma superfície, até uma epiderme aonde você se sente mal. Então, as sensações que você tem na superfície do seu corpo se tornam um pouco mais conscientes. Porém, o que está dito aí na divisa é que você teria que recuar muito mais do que isso. E que numa certa região central, você encontraria algo a ser retificado; ou seja tornado reta: o que está torto será posto reto. E que este reto aqui, será a pedra filosofal. aluna: Mas, cada um tem o seu centro ou ele é igual para todo mundo? Prof.: As duas coisas são verdadeiras. Porque senão não atenderia à esse requisito que eu falei da leitura alquímica. Se você encontrar apenas o centro subjetivo, no sentido junguiano da coisa, você estará realizando apenas uma individuação; e aí não se completou uma operação alquímica: você está retificando apenas você. E o essencial na operação alquímica é compreender que a transmutação acontecida no interior do corpo do indivíduo, ela aconteceu no universo inteiro. Há uma certa simultaneidade e identidade das operações ocorridas no nível do nosso corpo, no nível da nossa psique e no universo em torno. Então, aqui não se trata somente de uma operação psíquica como pensa Jung, porém há uma dimensão espiritual mesmo; que afeta de certo modo o universo inteiro. Não precisa entender esse pedaço direito; eu também não o entendo direito, mas que acontece, acontece. outra aluna: Basta acreditar. 27 atos com o dos outros. Como é que eu vou saber o que é certo ou errado se eu nem sei quem foi que fez o ato? Se eu sou autor ou vítima daquilo lá. Qualquer investigação de ordem ético-moral pressupõe que você saiba fazer esta investigação. Todos os atos humanos têm um sujeito: quem foi que fez? É a estória dos Irmãos Karamazóv. O sujeito mata o pai e depois ele diz para o irmão: Fui eu quem matei, mas foi você quem pensou! E de fato, o sujeito quem pensou, acaba se sentindo mais culpado do que aquele que matou. É um engano uma ilusão, devido ao sujeito não conseguir perceber a diferença entre o ativo e o passivo. Isto é similar daquilo que eu falei da contração e do relaxamento: você perceber a diferença da atenção emissiva e receptiva é a mesma coisa que você perceber a diferença entre contração e relaxamento. Porque a contração é você mesmo que está fazendo. E o relaxamento, você não pode fazê-lo: você tem que esperar que venha. Ele é um ajuste passivo entre o corpo e a gravidade terrestre. Por isso que você pode fazer força voluntariamente; mas às vezes é difícil alcançar um estado de relaxamento voluntariamente. De certo modo, não é você quem relaxa. O relaxar é o deixar agir, é começar a ser agido. Agora, quando a pessoa faz massagem, a pessoa relaxa mais facilmente. Porque? Porque a ação é externa; é mais intensa e mais notável. Agora, você sentar e relaxar, é só a ação da gravidade. Essa ação é mais sutil que a ação do massagista. Então como a ação do meio é mais sutil, a sua ação tende a predominar sobre ela. Agora, se tem aquele puxa para lá, puxa para cá da massagem, aí você tende a ficar passivo. Então, tanto faz fazer isso mentalmente ou corporalmente que é a mesmíssima coisa. Agora, o problema da leitura alquímica, é um problema de relaxamento de certa maneira. Quer dizer, não se trata de você montar o significado; mas você deixar que aquele símbolo vá aos poucos se preenchendo de significado por si mesmo. Existem várias acepções para a palavra terra: tudo isso são coisas que você está montando na sua cabeça. Você está selecionando. mas não é para fazer nada disso. É para pegar a coisa tal como ela se apresentou. Na verdade a própria palavra terra, ela não quer dizer nenhuma destas coisas e nem exclui nenhuma delas. A palavra terra tem muitos significados: como é que você vai saber se ela significa uma coisa ou outra? Depende do contexto. Muito bem, mas aqui não depende do contexto não: é para ser tomado em toda a extensão dos significados. Então, o que quer que esteja ilegitimamente significado pela terra pode ser abrangido dentro do conceito que você está fazendo; exceto pelo impossível i.e..; tem um contexto que é dado pela própria situação. Quer dizer, visitar o interior da terra não significa que você vá fazer um buraco. Mesmo porque, você se deslocar corporalmente, exteriormente para dentro da terra também não significa visitar o interior da terra. Você precisa, ademais, prestar atenção. Você só vai excluir os significados absurdos, o resto vai valer. Então, em que pedaço de matéria nós podemos estar não só corporalmente, mas também em consciência, em atenção? Nesse meu corpo, que eu estou deslocando para lá e para cá. É o único lugar que eu posso conhecer na sua inteireza; o resto, não: só posso conhecer parcialmente. Eu não posso me identificar com uma pedra a ponto de me sentir pedra; porque aí eu teria consciência de pedra e não de um ser vivo. Agora, o importante é saber que não se trata de uma operação puramente psicológica no sentido imaginativo como se faz nessas terapias de sonho acordado e dirigido ou na programação neurolingüística. Sabe esse livro: Imagens que Curam do Isaac Epstein? O livro é muito bom: tudo aquilo tem uma profundidade psicológica, só que não é nada disto que nós estamos 30 falando. Porque aquilo é imaginar e aqui é perceber. O imaginar é emissivo. Quem é que cria as imagens: é você mesmo. Bom, como é que agente faria para entrar num estado de tamanho despreocupação que dá para você perceber não somente este ou aquele aspecto do funcionamento do seu corpo, mas o centro dele mesmo? Usei a palavra despreocupação em vez de relaxamento porque a primeira está carregada de conotações reichianas que não interessam aqui. Então, se a sua única preocupação é chegar a perceber de onde que vem a força do seu corpo i.é; qual é o centro vivo do qual emana todos os movimentos daqui para fora e que ao mesmo tempo recebe todo o impacto que vem de fora para dentro então, muito provavelmente, você vai acabar percebendo mesmo. Claro que existem técnica que facilitam isto, mas não são infalíveis. Tai-Chi e Ioga são uma delas. Ioga faz a coisa pela respiração (exatamente como mostrei antes). Mas eles não estão especificamente preocupados com isto. Eles vão dizer que nem tudo o que entra no ar lhe interessa. Para eles é somente uma parte que interessa que eles chamam de Prana. Quer dizer que para eles existe um elemento alimentício no ar; que é o que vai ficar no corpo quando o ar for embora. Então se nós pegássemos o ar e retirássemos todos os elementos poluentes e também os elementos químicos do ar. Sobrou alguma coisa? Se sobrou, isso aí é que se chama Prana. Se ele fosse totalmente inócuo. aí você diria: Ah, mas esse Prana é muito abstrato. Dito assim, ele parece abstrato mesmo. Porém, se você olhar por outro lado você vê que ele é concreto. É só você pensar: Do ar que entra e sai, não fica nada? Ele não deixou nenhuma transformação no seu corpo? O que chamamos Prana é justamente a alteração deixada no seu corpo do ar que entra e sai. É essa força agente que vem com o ar. Então, o esforço de você perceber a entrada e saída do Prana, é exatamente isso aqui: é uma outra maneira de você fazer isso aqui. O Prana, que é o elemento mais sutil da natureza, ele já é de certo modo o centro da natureza. Se ele pervade tudo, ele não é limitado por nada, então ele está no centro de tudo. Mas essa não é a única maneira de você realizar isso: pode ser aquela do Tai-Chi. Aonde você concentra num peso, você presta atenção em tudo o que no seu corpo vai para baixo, que tende a ir para baixo i.é; atraído para a terra. você verá que tem uma parte que irredutivelmente vai para cima. Uma parte que se recusa a ir para baixo ou seja; que se recusa a parar. É um elemento sutil que nunca pode parar. Quer dizer, tem algo que mesmo num estado de relaxamento máximo do seu corpo, este algo não está relaxado de maneira alguma. Então você encontra um limite do que vai para baixo e do que vai para cima: entre o fixo e o móvel (ou mutável). Aí você está no centro. Lembra a imagem do vidrinho onde tínhamos umas pedrinhas? Bom, as pedras, a poeira, tudo isto pode encostar no fundo e parar. A água também pode parar. E os elementos vivos? Se eles pararem completamente eles morreram. Então, existe uma espécie de limite que poderia ser simbolizado pela superfície da água. Que é o limite entre tudo aquilo que pode ficar em repouso (porque tende ao repouso) e tudo aquilo que tende ao movimento (porque é movimento). Existe uma terceira maneira, aliás existem centenas, é só você olhar as disciplinas espirituais: foi o assunto sobre o qual mais se escreveu no mundo. Mas, regra geral, é que para o sujeito fazer isso aí ele precisa estar despreocupado. Mas como é que faz para ficar despreocupado? Vai tentar resolver todos os problemas primeiro? Esta é uma santa ilusão. Quanto mais você tentar resolver os problemas, mais problemas vai ter e mais preocupação se terá. 31 Mesmo quando você fica rico, você começa a ter as preocupações de rico. A única maneira de você ficar despreocupado, é você ser totalmente cínico. Quer dizer, o resto não interessa, somente uma coisa é necessária. Ah, eu estou pobre, bom isso aí pode esperar mais um tempo. Se você disser: agora, tudo vai esperar lá fora, porque somente uma coisa é necessária. Aí você alcançou o grau de cinismo suficiente para poder perceber que de fato tem coisas que são mais importantes. Quer dizer, não existe nenhum estado no qual o ser humano possa alcançar na prática que justifique ele estar despreocupado. Portanto, agente vai ficar despreocupado por decreto! Por um ato arbitrário mesmo. Ora, nós fazemos este ato arbitrário todos os dias: quando nós dormimos. Dormir é decretar que todos os assuntos vão ficar para amanhã. Agente faz isso todo o dia; se não fizer, não dorme. Então, qualquer problema, qualquer preocupação, qualquer demanda, por importante que seja, pode ficar para amanhã. Veja a universalidade deste negócio: Todo mundo dorme. Se todo o mundo dorme, quer dizer que todo o mundo deixa alguma coisa para amanhã. Ora, se você pode fazer isso pela simples recuperação das suas energias orgânicas, porque você não pode fazer a mesma coisa para alcançar algo muito melhor? Isso aqui é uma verdadeira bomba moral. Uma das regras da alquimia é: Não se preocupe com o dia de amanhã. Lógico que isso não é um conselho de ordem prática. Isso é um conselho alquímico-espiritual: se vocês quiser alcançar algo na espiritualidade, você terá que seguir esta norma. Quando o Cristo diz : Não vos preocupeis com o dia de amanhã. Ele não quis dizer que se você tiver um dívida, você não precisa de preocupar-se em pagá-la. Como conselho de ordem prática, isto seria uma coisa insana. Então, isto não está se referindo à esfera pragmática da existência mas sim ao aspecto espiritual. Então, como prática espiritual a condição sine qua non é essa: não se preocupar com coisíssima nenhuma, exceto a única coisa necessária. Qual é a única coisa necessária? Agente tem a resposta naquele episódio de Marta e Maria. Cristo foi à casa delas. Maria ficava sentada ouvindo o Cristo e Marta ficava trabalhando. Marta reclamou e Cristo respondeu: Olha Marta, Maria escolheu a melhor parte! Qual é a única coisa necessária? É escutar a voz do espírito. Ou seja: não existe medida em comum das tarefas do cotidiano e as tarefas do espírito. A diferença é incomensurável. Qualquer tarefa do cotidiano pode ficar para amanhã: tanto que todo o dia nós deixamos todas para amanhã. Sabe porque as tarefas do espírito são urgentes? Porque você morre; e depois que morrer não dá mais. E você não sabe quando vai morrer. Ao passo que as tarefas do corpo, da matéria, elas só tem sentido enquanto você não morre. Tudo o que você faz na vida prática, você faz baseado na suposição de que amanhã você vai estar vivo. E no espírito, ao contrário: faço tudo baseada na suposição de que vou morrer agora mesmo. O que é muito mais realista. Porque se você não sabe quando vai morrer, é melhor você se considerar falecido desde já. No mundo espiritual as regras são contrárias à da vida prática. Na esfera prática, se você ficar pensando em morte, você vai ficar aterrorizado e não vai conseguir agir. E na esfera espiritual, ao contrário: se você não lembrar que vai morrer, você vai errar em alguma coisa. Quer dizer, a morte é um elemento constante; tem-se que lembrar dela 24 horas por dia. Acontece que no ensino religioso popular, as pessoas tomam tudo isso como um conselho de ordem prática; porque eles somente estão interessados na prática. Então, se não temos a perspectiva da morte e do significado total da sua existência em face da morte, então acabou o mundo espiritual, acabou tudo. Então, essa é a maior novidade: é que 32 mas se eu não sou capaz de reconhecer nem mesmo as pressões óbvias de uma vida prática, como é que vou reconhecer uma coisa sutil como essa daí? É por isso que existem uma série de requisitos de ordem moral. em geral, as pessoas começam a se preocupar com isso quando elas estão realmente liberadas para pensar sobre isso. Liberadas quer dizer o seguinte: moralmente no seu dever prático. Não praticamente. A vida prática tem essa característica: ela jamais está satisfeita nem resolvida. Estar resolvido não faz parte da natureza da prática. Mas, moralmente, você pode ter esgotado o seu dever. Aí, automaticamente libera para você uma outra dimensão. Mas se é o próprio Deus que vai mandar de volta você para a vida prática, ele vai mandar. Agente tem que dançar conforme a música. O próprio estudo, ele vai te revelar o que você tem que fazer. Ontem, eu descrevi esta primeira etapa como alcançar o fundo da alma: a água límpida na qual se você olhar para baixo vê as pedras. E se olhar para cima, vê o céu. O nosso propósito é alcançar plena lucidez com relação às coisas deste mundo. Também isso é representado pelo Tai-Chi; onde tem aquela coisa do quadrado e da bola. O quadrado é este mundo aqui. A bola é o céu. E você está no meio. Você só precisa reparar que você está lá no meio. Se você for chamado para vir para a terra, você vai. E se for chamado para cima, você também vai. É um engano pensar que exista uma transição da vida terrestre para a celeste, da vida prática para a vida contemplativa. Não se trata disso. Quer dizer, você começa a pensar um pouquinho nisso; e a sua consciência moral se torna mais alerta; e você começa a distinguir melhor o que é para fazer do que não precisa fazer. O sentido último da vida prática é a extrema simplificação. Ou seja, é a lei da eficiência: você resolver problemas com o menor investimento de energia, não o maior. Quer dizer, investimento excessivo na vida prática já é imprático. Cria aquele negócio da hiper-reflexão: é quando você pensa tanto num problema que você não consegue resolver. Quantas vezes eu esqueço nomes de pessoas. se eu ficar agoniado não vou lembrar mesmo. O negócio é acalmar as águas e aí o negócio vem. Hoje em dia, existe um apelo alucinante para que todo mundo faça reflexão dos problemas práticos. Por ex.: o sujeito tem uma dívida. Obviamente ele não tem meios de pagar aquilo. Se ele só for ter aquele dinheiro daqui a 3 a 4 anos, o que ele tem que fazer? Não é para fazer nada. Não é para pensar. Ele tem que ficar despreocupado, fazendo o que tem que fazer hoje, sem tentar resolver hoje o problema que ele só vai resolver daqui a 3 anos. Pior é ele acreditar que isso é realidade; isto é um pesadelo. O espiritual não é pensar; é contemplação. Contemplação é não fazer nada. A função da mente neste negócio é ficar calma e pensar menos. Se você estiver pensando obsessivamente em assuntos espirituais, você já não está pensando espiritualmente: você está pensando assuntos espirituais de maneira prática. aluno: Eu não entendi bem aonde entra o elemento fogo no processo alquímico. Prof.: Existe um centro do corpo humano que é o gerador dos movimentos que é representado como fogo. É lá que tem que chegar. Alquimicamente, no laboratório, isto é representado pelo forno. Não é bem energia. A palavra energia é um problema gravíssimo porque tem muitas conotações. No nosso caso, seria melhor dizer vida. Você pode começar por localizar o centro de gravidade. O centro de gravidade pode não ser exatamente o centro vital; mas ele vai estar por ali por perto. Localizar o centro de gravidade como se faz no Tai-Chi- já é um grande passo. Segundo, você começar a 35 fazer todos os seus gestos como proveniente do centro de gravidade e não de centros secundários. No Tai-Chi a coisa vem de dentro. O limite do Tai-Chi é só o corpo. Já na Ioga, você tem toda uma coisa atmosférica, que não interessa muito aqui. A coisa vem de fora: porque lida com circulação do Prana. A respiração não é um elemento tão importante aqui. O sujeito encontrar o centro de gravidade é mais importante. Por ex.: observe quando você anda de metrô e você de pé tenta se equilibrar. Existe, claro uma posição na qual você está mais firme. Se você não encontrar esta posição você faz o seguinte: você trava as pernas, uma ligeiramente mais para frente do que a outra e pressiona o joelho. Você acaba localizando. Geralmente o centro fica abaixo do umbigo. A partir do seu centro, você vai começar a produzir todos os seus movimentos. Você vai fazer praticamente o mesmo esforço do que antes só que agora ele estará bem distribuído. Você está fazendo uma economia. mas economia não significa gastar menos, mas sim centralizá-la. Aí então, é quase impossível que na esfera psíquica a tua atenção também não se torne mais econômica. Assim você vai liberando energia, vitalidade, tempo. Então, a medida que você vai se concentrando nisso aí, o tempo também vai esticando. isso quer dizer que, num prazo menor de tempo, você vai percebendo mais coisas: a realidade se torna mais densa, de certo modo, para você. Isso também quer dizer que num dia você pode ver a estória inteira; porque você viu a estória inteira! Você começa a tomar posse de uma espécie de temporalidade dilatada. Esse negócio de ser gênio, é relativo. Ser gênio é um problema de atenção e de objetivo, de você querer. Dante escreveu a Divina Comédia, não porque era gênio, mas porque quis escrevê-la. Tem haver com desejo. Quer dizer que existe um tempo para que aparecesse à ele todo aquele mundo interior e se transformasse em palavras. São Tomás de Aquino parou de escrever nos seus últimos anos de vida. Perguntaram à ele porque e ele respondeu que era tudo porcaria. Quer dizer, o indivíduo vai aprofundando tanto este mundo espiritual até que chega um ponto onde a capacidade expressiva dele vai falhar, as palavras não abarcam mais este tipo de conhecimento espiritual. O homem espiritual é chamado Ação de Presença. Ele não precisa fazer nada, a ação dele consiste em existir. Note que tudo isto aqui que eu estou falando se refere ao começo do processo alquímico. O começo até o ponto em que eu possa entender. O homem imagina que a busca humana do conhecimento é na base de criar uma coisa e perder outra: você só encontra uma verdade à custa de um erro. Não! Existe um ponto de conversão aonde não acontece mais isso. A coisa não é mais por aproximação. É por acréscimo, por soma. Hegel diz que quando a gente contempla a história a gente só vê ruínas. Bom, mas existe uma outra maneira de progresso que não é mais temporal. A obra de Sto. Tomás de Aquino é uma sucessão de intuições espirituais fulgurantes: uma atrás da outra. O pessoal não entende, acha que é uma obra de filosofia, de pensamento. Que nada! Aquilo lá é obra de trabalho interior. Se você não tem este subsídio da Alquimia, você não vai entender nada. Até 1600, estes assuntos alquímicos não eram grande novidade; todo mundo tinha uma certa visão astro-alquímica. S. Tomás de Aquino não percebeu tudo aquilo por força de raciocínio. é só fazer as contas e ver que não dá tempo de pensar tudo isso. Ele não pensou, ele viu! Ao longo do tempo agente vê que há um certo desinteresse por estes assuntos. Esse corte começa com a ciência matematizante que emburrece a mente. Toda a ciência dessa época se desinteressa pela fenomenalidade sensível. O ponto de inflexão 36 disso aconteceu com Galileu; onde a ciência passa ser a mãe da técnica. Na Alquimia temos o contrário do modelo simplificado. É uma penetração na natureza tal como ela se apresenta. Toda ciência moderna toma uma espécie de domínio mental, aonde você simplifica um esquema; e vê a natureza como uma máquina que você pode apertar o botão para funcionar assim ou assado. Aqui é contrário: você não vai transformar a natureza para virar outra coisa. Você vai pegá-la tal como está; portanto você não tem o domínio de coisa nenhuma; você está como uma gota no mar; você é o navegante. No séc. XVIII a Alquimia era considerada absurda. Hoje em dia há um pouco mais de interesse; mas como é que você vai adaptar este conhecimento nas universidades? Se vai dar certo ou não. Dar certo é chegar à realização da perfeição; e claro, da transmutação de chumbo em outro. E que só será plenamente realizada se implicar uma certa regeneração da própria natureza em torno. Não é uma coisa subjetiva. Aí é que entra o problema do Jung; porque o Jung confunde o processo alquímico como o seu equivalente psicológico. Que só afeta o indivíduo. Ele só fala da imagem da Alquimia na Psique, não no processo como tal. É mais ou menos como você descrever uma coisa no espelho. Ele faz um corte. Este assunto, não tem jeito de abordá-lo desde fora i.é; você projetá-lo numa tela e fazer disso uma ciência teórica. Daí porque Jung cai freqüentemente numa inversão total do processo. Ele vai dizer que tudo, tudo é psíquico; ele universaliza o conceito de Psique. Inverteu tudo. Nós estamos aqui neste trabalho alquímico para chegar no limite da Psique, para ir além dela. Mas a Psique termina onde termina a água. Dali para cima não é psíquico; nem dali para baixo. A posição alquímica é que a psique tenha uma posição muito modesta no processo. O problema do Jung é esta: ele tem um conhecimento monstro deste negócio mas é tudo exterior. Esse conjunto não pode ser olhado de fora senão se distorce. É mais ou menos como o mito ao tentarmos interpretá-lo. Interpretar significa explicá-lo segundo a clave de uma outra disciplina que pode ser a filologia, filosofia, história etc.. Isso são todas ciências especializadas. Acontece que o mito é uma produção de realidades metafísicas, universais que só pode ser explicada através do ponto de vista desta mesma realidade. Então o mito não é para ser interpretado; agente tem que interpretar a realidade através de mito. Ele é um instrumento de interpretação. O crente da igreja batista, que olha a vida através de sua crença, ele está entendendo mais que o mitólogo, o filólogo, que vai estudar a crença como se fosse um objeto. Porque estas ciências especializadas não tem universalidade suficiente para ela abranger o objeto. E na Alquimia é a mesma coisa: não tem jeito de explicá-la. Ela é um instrumento de explicação. O mito é para você escutar, decorar e quando for a acontecendo coisas que foram se parecendo com o mito, você vai montando de acordo com o mito. É uma regra de jogo. aluno: Mas o Jung não fez exatamente isso? Prof.: Fez o contrário. Ele referiu os mitos à conceitos psicológicos que não tem abrangência suficiente para explicá-lo. O certo é fazer o contrário: interpretar a Psicologia através do mito. O que é um psicólogo nas lentes de um mito? O psicólogo fica olhando a Psique entanto tal. Ele olha um pedaço da Psique e vê o outro lado da Psique. É um sujeito que olha um espelho através de um outro espelho e assim por diante. É um homem que vive de sonhos. Quem olha muito seus sonhos fica semelhante à suas sombras. O que é um psicólogo? É uma sombra de um Alquimista. É um ser fictício. É um sofista do mundo espiritual. A psicologia é uma pseudo-ciência 37 dirige idealmente em uma direção à uma conexão complexa de todas as verdades que ela conheça; formando uma verdade maior do que aquela em particular. Por ex.: os fatos que uma ciência conhece, eles não são verdadeiros no mesmo sentido que será a teoria final explicativa que vai abranger todos estes dados. Quando você pega vários fenômenos: o trovão, a faísca que sai quando você esfrega uma planta. e você chama isso de eletricidade, você está querendo dizer que esse conceito de eletricidade é mais verdadeiro do que essas várias denominações que você dá às diferentes aparições do fenômeno. Quer dizer, por trás deste fenômeno existe uma verdade chamada eletricidade. Toda a ciência raciocina assim. Então, ela não é só a verdade dos fatos mas sim um ideal de veracidade maior que a dos fatos que ela pretende alcançar. Ora, se você excluir como é que se vai fazer ciência? É balela esta estória de excluir problemas de valor. Não só é falso como inconveniente. Porém, no nosso caso que é uma ciência prática de transformação da matéria para a alma humana, é somente a tímese parabólica que nos vai dar a idéia de algo que nós temos, íntimo. Por ex.: nos julgamentos diários que nós fazemos sob as pessoas, está subentendido que nós sabemos algo do bem e do mal. Mas, raramente nós pensamos a respeito disso. Então, se você perguntar: é mal porque? você vai ver que a maioria das pessoas não sabem. Sabem apenas que é uma convenção. Mas, se o julgamento do bem e do mal é uma convenção, porque que você passa por uma emoção tão intensa ao condenar o mal? Quer dizer, no fundo você tem uma explicação do bem só que está inconsciente, você nunca pensa nela. Condenar o mal é menos importante que saber o que você mesmo pensa do bem. Por exemplo: o que seria para o indivíduo o homem perfeito? Se você nunca pensa nisto, a sua visão do bem é completamente nebulosa. E os julgamentos que você faz dos indivíduos são completamente aleatórios. Você está habituado a receber um modelo pré-determinado do bem através de alguma figura histórica ou mitológica: Jesus Cristo, Buda etc.. Você recebe isso pronto. Mas receber pronto não adianta se você não pensar nestas figuras. Uma coisa é você conhecer estas figuras nas escrituras e outra é tê-las na cabeça. Então, meditar continuamente o bem particularmente na forma de virtude humana i.e.; saber o que você realmente pensa disto, é até mais importante que receber os modelos prontos. Porque estes modelos são inteligíveis se você não pensar neles. Então pensar no que você concebe como o supremo bem na escala do humano, já é uma condição indispensável para poder entrar no destino de. Agora, cada um vai pensar de um jeito; mas não importa porque todas essas coisas que estas pessoas vão imaginar diferentemente, elas se referirão à um mesmo ideal. Claro que cada um vai enfatizar mais uma lado que outro, conforme as diferenças pessoais. Mas, como dizia Teilhard de Chardin, tudo o que, converge. Se você está pensando no supremamente bom, as diferenças entre os que as várias pessoas pensam, vão se neutralizando aos poucos. Na verdade, o bem, a virtude são simples. Os vícios é que são complicados e muitos. Uma conta de 2 + 2 = 4, só tem um resultado certo. O resultado errado são todos os outros números. Então esta faculdade da tímese, ela é até mais importante do que o próprio exercício da razão. No caso da nossa ciência de transmutação e como essa transformação em grande parte é interior- de fato você tem que saber para onde você está indo e aonde vai chegar. Chegar no termo final que é simbolizado pelo ouro. Essa curva parabólica é utópica, ideal porque é uma curva que tende a ser reta mas nunca chega a ficar totalmente reta. É assintótica. 40 Falamos também em símbolo na aula passada. Aqui, como se trata de uma ciência prática, não existe propriamente a teoria alquímica. Não existe nenhum livro de alquimia que seja teórico: na medida que você está lendo aquilo ali já é a prática de algum modo. E então é importante entender o que quer dizer a linguagem simbólica. Simbólico costuma ter uma significação de uma coisa oposta ao ideal ou ao utilitário. E nós não usamos neste sentido aí. Se usássemos neste sentido, nos afastaríamos muito da obras alquímicas. O simbólico tem que ser entendido como uma espécie de coisa hiper-literal. Hiper-literal quer dizer que cada palavra quer dizer exatamente aquilo que está dito nela. Mas, sem nenhuma restrição ou nenhuma separação abstrativa. Por ex.: Terra não quer dizer exclusivamente o planeta Terra nem exclusivamente um pedaço de terra nem exclusivamente o elemento terra da física antiga. Quer dizer tudo isso junto. Não é uma leitura abstrativa e sim concretiva. É isso mesmo é que é o simbólico. A linguagem abstrata vai num sentido de separar um significado e lidar exclusivamente com aquele ; até para não ter confusão e você poder pensar em linha reta. É uma dedução lógica que você faz: você estabelece o sentido e vai raciocinando dentro daquele mesmo sentido. Mas aqui, não dá para ir em linha reta. Aqui você anda um passo e dá um outro para trás. Porque você vai sempre esquecer algum significado lá para trás. E este contínuo retorno para recolher os significados que foram esquecidos, isto mesmo é que é a leitura alquímica. Porque a mente humana tende a ir obsessivamente no sentido da abstração por uma questão de economia de tempo. E também para você pensar mais, você reduz o significado. Porém a leitura simbólica requer o contrário: que você recolha todos os significados. Se você leu errado, você volta para trás porque você esqueceu uma acepção possível da coisa. Neste momento, agente tem que distinguir o que é leitura simbólica do que é leitura alquímica. A leitura simbólica é só uma etapa, uma condição prévia. Mas passando da simbólica para a alquímica, nós não só recolhemos todos os sentidos mas nós conseguimos presentificá-los ou seja, conseguimos reconhecer aqueles significados não em imaginação, mas concretamente. Quer dizer que quando eu estiver lendo Terra, o que vai ser evocado por isso não é a imagem, nem o conceito de Terra, mas a terra mesma, a terra tal como está no seu corpo. Cada um dos símbolos alquímicos (a terra, o chumbo, o ouro etc.) primeiro têm que ser lidos simbolicamente com plenitude de significado. Segundo têm que ser lidos alquimicamente com plenitude de presença física das coisas simbolizadas e não apenas mental. Então, quando se fala em Mercúrio, temos que dirigir a atenção não só para o símbolo, ou o conceito, mas também para o Mercúrio que esteja efetivamente presente em você naquele momento. Por ex.: Mercúrio é uma substância dissolvente. No momento da leitura alquímica, algo em você está fazendo a operação naquele mesmo momento. Algo está dissolvendo crostas de sujeira de esquecimento, etc.. A leitura alquímica, ela tende a ser de certo modo cada vez mais lenta. É como se para cada ente referido ali no texto, você tivesse que trazer algo. Mas a leitura alquímica tem um número finito de símbolos. Por ex.: a operação puramente mental que você faz de remover uma crosta que tem em torno de seu entendimento, uma crosta a que o impede de ver algo. isto aí tem um concomitante físico naquele mesmo momento. Outro ex.: eu estava assistindo uma aula do Dr. Müller sobre o tema Lua, e eu não estava entendendo nada. Aí Dr. Müller me deu umas gotinhas de Argentum metallicum. Dez minutos depois eu tinha entendido tudo. Nessa hora eu entendi qual era a relação que podia haver entre mente 41 e corpo. Para mim, todos nós somos cartesianos incuráveis. Quatro séculos de pensamento cartesiano nos levou a pensar em corpo e mente como coisas separadas. Mas tudo isso é evidentemente uma coisa só. É uma diferença de ângulo. É como cara e cora. Se você obtém a cara, você trouxe a coroa junto. Mente e corpo são abstrações. O que existe efetivamente é o chamado composto humano indissolúvel como dizia Aristóteles. Recapitulando, se um metal podia produzir repentinamente uma síntese simbólica na minha cabeça é porque era o corpo que estava pensando. Quem é que pensa? É o próprio corpo! É que quando você vai saindo da esfera das percepções sensíveis e indo para o pensamento abstrato, você tem a impressão que aquilo não é corporal. Mas é sim! Por ex.: se eu falo para você imaginar um indivíduo humano. você está me vendo corporalmente. Agora, se eu falo para você: uma multidão. Agora você já não vê com tanta precisão. E se eu digo para você: a humanidade. Aí já vira um conceito genérico, aparentemente incorpóreo. Mas, na realidade a humanidade existe corporeamente tanto quanto o indivíduo! Então, quando vamos subindo na direção dos conceitos abstratos, agente tem a impressão de que se afastou da corporalidade. Mas, ao contrário: a humanidade tem muito mais corporalidade que um indivíduo sozinho. É só somarmos pesos. Então, quando pensamos genericamente, cria-se um efeito ilusório. Eu posso conceber uma árvore sem pensar em terra. Mas, quando faço isso, eu estou fazendo uma separação, uma abstração. Agora, quando eu penso a árvore não isoladamente, como se ele estivesse boiando no ar mas, como uma árvore que brota da terra, me aproximei mais da realidade. Estou tendo um conceito mais real. Por isso mesmo que CONCEITO vem de CON + CEPTIO = Ceptio vem Cepire, que quer dizer agarrar, captar. Quando nós pensamos numa coisa estamos tendo apenas uma idéia. Mas, se esta idéia agarra alguma realidade nós chamamos conceito. Lamentavelmente em inglês, Concept significa qualquer coisa que você pensou mesmo que não exista. O Conceito é uma idéia que agarra uma realidade e diz o que ela é efetivamente. Agora, uma idéia é apenas uma atenção que permite reconhecer a coisa. No conceito eu me aproximo do real. Ora, para eu me aproximar do real, eu tenho que enxertar um ente individual Por ex., dentro do conjunto dos seres. Isso quer dizer que eu vou ter que falar de mais seres e aumentar a escala do que eu estou falando. Ora, na medida que eu aumento a escala, eu me afasto da percepção sensível. E daí, eu tenho a impressão que eu estou indo para o ar, estou ficando cada vez mais abstrato e é exatamente aí que eu estou indo para o concreto. A cavalidade Por ex.. não é um conceito; é apenas uma idéia. A espécie cavalo é que é um conceito! Agora, se você falar a qualidade que distingue a espécie cavalo, ela só existe abstratamente. Agora, a espécie existe materialmente. O que é a espécie cavalo? É todos os cavalos que existiram, mais todos os espermatozóides em número finito que estão dentro de todos os testículos de todos os cavalos existentes e mais os espermatozóides de cavalos que poderão brotar destes. Até completar todos os cavalos que existam. Isto é material! Muito grande mas é material. É limitado, finito. Agora, a cavalidade é a qualidade separativamente considerada que você verá em todos estes cavalos. Agora, nossa mente tem uma dificuldade de perseverar no concreto usando instrumentos abstratos. Quando ela se desliga da percepção sensível, ela perde o concreto. Não podemos confundir concreto com sensível. O sensível também é abstrato. Prova disto é que você só pode perceber fisicamente uns quantos aspectos da realidade. Por ex.: neste momento eu só percebo esta sala, mas eu sei que esta sala não está boiando no ar; 42 mesma coisa. No plano das emoções é a mesma coisa. Por aí você vê que a falta de cultivo do hábito de julgamento, imbeciliza as pessoas. A faculdade cognitiva que mais se aproxima da tímese parabólica seria a jupiterina. A imaginação deve produzir uma reação neurológica semelhante ao dos estímulos reais mas só que diminuída. Deve porque esta é a função dela. Se você puder balancear as reações de maneira que, ante o perigo real, você tenha uma emoção equivalente à x. e no caso análogo - porém imaginário você ter a mesma reação, mas muito diminuída e atenuada, você estará com o pé no chão. Isso não acaba em absoluto com os artistas. Se você pega Goethe, Shakespeare, todo mundo sabe disso aí. Agora, hoje em dia agente tem um subjetivismo atroz. O indivíduo só fala daquelas coisas que afetaram a sua alquimia numa determinada circunstância que só aconteceu à ele; e casualmente aconteceu à outros indivíduos da mesma cultura. Só que, passam alguns anos e aquilo ali não significa mais nada para ninguém. É por isso que você vê que a arte hoje em dia, ela envelhece muito rápido. Porque é subjetivo: só quem compartilha daquela referência é que pode ter emoção análoga. Agora, se você penetrar na esfera do simbolismo universal. aí você não tem muito como escapar. É isso que vai diferenciar emoção real da emoção artística. Por ex.: se você vê o quadro da Crucificação, onde aparece o Cristo todo ensangüentado. A reação que você tem ao ver o quadro é diferente do que se você visse realmente o Cristo ensangüentado! Qual é a diferença? A diferença é que no quadro, o Cristo é imaginário, interpretado. E aquele impacto não deve se dirigir aos seus sentidos; mas sim à sua capacidade de julgamento. É isso que é emoção artística. Caso contrário, seria emoção real. A emoção real, ela tem um impacto físico direto: não tem mediação. A emoção artística, se dirige à sua imaginação: ela dá um intervalo, um sossego para você poder pensar e julgar. Então, ela se torna um elemento de valor intelectual- espiritual coisa que a emoção direta não tem. Aliás, a emoção direta te impede de julgar. Portanto a arte, ela ajusta o que é o imaginar, o sentir e o julgar; coisas que na vida diária estão separadas. Por isso que a arte ajuda a entender o mundo. O evento artístico, se você não entende, você não sente nada. E os acontecimentos da vida diária? Bom, se você não os entender, você sente do mesmo modo. A arte transmite experiências e emoções inteligíveis e que estão ali montadas exatamente para isso. Agora, para ela fazer isso é preciso que a emoção imaginativa esteja muito atenuada. Histeria é exatamente a total confusão entre a emoção imaginada e emoção real. O histérico finge que está sendo ameaçado e fica apavorado; finge que está sendo ofendido e fica mortalmente ofendido. E não tem meio de você explicar para ele que aquilo não aconteceu. A emoção imaginária toma o seu corpo e você não entende; quer dizer existe uma diminuição da inteligência. Mas na emoção artística atenuada, a inteligência continua funcionando; então você entende aquela emoção. Por isso que a emoção artística não é violenta; mas no fundo ela é mais comovente: ela tem significado. E numa obra de arte que você não atine o significado, você não entenderá e, portanto não sentirá. E portanto, é na arte que você vê essa junção do sentir e do entender- que na vida diária não acontece. Na vida diária quanto mais você sente, menos você entende: quanto mais violenta a emoção, menos você entende. Concluindo: esta ida do homem do seu interior subjetivo para o vasto mundo real, isto é a Jornada do Imbecil até o Entendimento. Quando somos pequenos, somos idiotas: só acreditamos naquilo que nós mesmos imaginamos. Depois acordamos para o 45 mundo real e constatamos que ele é maior do que imaginamos; e acabamos gostando dele. A criança se protege no mundo subjetivo: o que faria mal a ela, ela faz de conta que não vê; e esquece. daí que surge os traumas, as neuroses. É a mentira esquecida na qual você ainda acredita. Essa idiotice é como a casca de ovo na qual você pode se proteger durante algum tempo; mas não adianta, depois você tem que quebrar a casca do ovo. E agente passa o resto da vida quebrando a casca. Então, este tipo de meditação que vai tentar presentificar as coisas até que você veja umas que estão de fato presentes e outras que você só imaginou isso aqui tem um impacto tremendo sobre a personalidade. Isto aqui é como se fosse uma curva que vai no sentido de uma perfeita conformação com o real: uma reconciliação com o real. O sujeito vai desde uma revolta subjetiva até um sim que ele diz à tudo que acontece. É aí que ele está com o pé no chão. Aí chega-se na condição humana. A condição humana é quando você pode ver um cenário imenso, que você não escolheu, que você não conhece de antemão, e que praticamente você não pode mudar; exceto por uma pequena esfera de ação pessoal que na melhor das hipóteses, se você for um homem muito poderoso- abrangerá a vida de uns quantos outros seres humanos. Então, você não vai mudar a estrutura da terra, a órbita dos planetas, o fluxo dos tempos, o curso da história, você não pode mudar nada disso. Então, nós não viemos aqui para mudar, nós viemos aqui para saber o que é. Aí você vê que a verdadeira missão do homem é conhecer e não mudar; é esta a transformação, a sua transformação. Você não veio aqui para transformar mas para ser transformado. E quando você morrer, acaba o seu ciclo de transformações; e pior, pode ser que você passe pela vida e nem entenda, nem perceba o real, a operação alquímica. Esse mundo é um forno alquímico onde todos estamos sendo transformados. A onipotência é até certo ponto necessária, como as ilusões infantis; porque senão você não agüenta: a casca de ovo quebra de repente e você fica um pouco assustado; porém temos que lentamente quebrá-la e ver que nós aqui não estamos fazendo absolutamente nada; estamos sendo feitos. Você pega um homem extremamente poderoso como Napoleão Bonaparte: Quanto sobrou da obra de Napoleão? Todos os seus reinos foram desfeitos, à exceção da Suécia. Isso Napoleão, agora imagina você! A nossa ilusão do agir, do fazer, é enorme. A nossa ação existe mas é tão pequenininha, que ela só começa a fazer sentido na hora que você a encaixa dentro do processo do mundo mesmo; você está sendo feito: o melhor que você tem que fazer é colaborar com isso mesmo. Relaxe e aproveite. Isto chama-se obedecer à Deus. Você vai ser transformado naquilo que Deus quer te transformar. Porque tem esta margem: você pode colaborar ou não. Se você não colaborar a obra não sai bem feita. Chega-se à perfeição. Perfeição quer dizer completo, inteiro, por igual em todos os sentidos. É o sentido do caixão do defunto. O caixão de defunto é uma forma sextavada que significa as 6 direções do espaço: o indivíduo foi nas 6 direções e está completo nelas. Às vezes fica faltando alguma coisa, não completamos o trabalho. Mas, idealmente, todos nos formamos uma forma sextavada: evoluímos no sentido para frente, para trás, para esquerda, para direita, para cima e para baixo. Esta Contemplação é exatamente o objetivo da obra alquímica. Heráclito dizia: os homens que dormem, estão cada um no seu mundo; os homens acordados estão todos no mesmo mundo. Quer dizer que esse negócio de ficar no seu mundo subjetivo. Só na cabeça do sujeito é que ele está no subjetivo: Ele pode pensar que está no Palácio de Versalhes, mas ele está é no hospício. Todo mundo enxerga, só ele que não. Seria bom 46 que ele soubesse para depois ele ter a chance de sair. Nós vivemos cada um no nosso hospício privado, no nosso ovo. O objetivo desta coisa é tornar-se humano. O cara tem que saber que ele é só mais um: tem uma infinidade de gente que veio aí, passou pela mesma coisa, nasceu, passou por todas estas transformações, estes dramas, teve que um dia romper sua casca e enxergar a realidade. está todo mundo no mesmo barco há muito tempo. Porque que Saturno é o último? Veremos isso com mais detalhes na próxima aula: existe uma seqüência geocêntrica (Terra, Lua, Mercúrio,Vênus, Sol., Marte, Júpiter e Saturno). A travessia da última esfera (Saturno) vai representar a completação da forma, da perfeição humana. Isso no esoterismo islâmico é associado à sucessão dos profetas que foram sendo enviados à humanidade. O Corão tem 144.000 profetas. Agora, para nós estes 7 profetas representam não só uma sucessão de mensagens que marcam a evolução da história; mas também a travessia da alma individual neste processo da transformação alquímica. Mas, note bem, tudo isso aí é o que se chama de Os Pequenos Mistérios. Os pequenos mistérios são os mistérios da condição humana aonde o homem vai conhecer a si mesmo. Depois que ele chegou na culminação da condição humana, aí começa os mistérios divinos: aí que você vai conhecer os anjos etc.. Vamos ver agora a esfera lunar. A Lua representa o primeiro e o último profeta. O primeiro profeta é Adão. E o último profeta é Maomé. É ali que começa a história humana; e é ali que ela se perfaz ao uso da mensagem do Corão. A esfera da Lua representa a mensagem no fundo da alma: a água. Neste recipiente vemos as pedras no fundo, a água acima e mais acima o ar. E no meio, temos as formas viventes. Quando assentou toda a sujeira limpando a atmosfera, a água calma forma um espelho: do qual você vê o céu ou vê o fundo. Então, isto aqui é que é o estado de perfeita conformidade: é o começo da obra alquímica. Quando você chega no fundo da alma, você vê as coisas como elas são. Isso é representado por Adão, que é o primeiro homem a quem Deus revelou o verdadeiro nomes das coisas. Então, a mensagem Adâmica é: o que as coisas realmente são. É também, representado pelo último profeta que perfaz a mensagem; Ele tinha uma prece que ele rezava todo dia que era: Deus, mostrai-me as coisas como são! Este estágio é representado pela Lua. Alcançar o fundo da alma é alcançar esta água plácida na qual você pode, olhando por um certo ângulo ver o fundo: o mundo material etc.. Olhando de um outro jeito você vê o reflexo do céu límpido. Adão quer dizer: homem são. A próxima esfera é de Jesus Cristo. Jesus, é o logos, a linguagem, a inteligência. Essa inteligência é aquela que cria, a ação e a restauração das criaturas. A mensagem do Cristo é essencialmente a mensagem da criação e da salvação. É basicamente a mensagem da cura, a restauração da forma perdida, a medicina, o resgate dos pecadores. É a esfera de Mercúrio. Depois você tem Vênus que é a esfera de Moisés. A mensagem de Moisés é o mundo da imaginação, dos símbolos, onde as coisas umas se transformam nas outras: a serpente que se transformava em cajado, os milagres etc.. Então é o tecido simbólico do mundo. Depois chegamos na esfera do Sol. A esfera do Sol é dada pelo profeta Enoch ou Idris. É o correspondente ao que seria Hermes Trimegisto que é o portador de todas as 47 não é inimigo de Deus. Ele não se revolta contra Deus, ele se revolta contra um ato de Deus. Ele pensou assim: Como é que essa criatura carnal, temporal, vai saber aquilo que nós criaturas eternas sabemos? É como se fosse um ciúme. É também mais ou menos como se você pegasse a sua mulher compartilhando segredos com um gato. Deus se entende com o diabo. Mas estabelece limites para o diabo: tem lugares em que o diabo não pode perseguir o homem, como a casa do senhor Por exemplo. Então, a atuação do diabo é condicional. Então, tudo aquilo que seja a esfera da necessidade natural, da natureza, o diabo não entra; só entra onde existe a liberdade humana i.e.; quando você tem uma opção de agir de uma maneira ou de outra, ali o diabo pode entrar naquilo que não está predeterminado. O que está predeterminado? Bom, tem a necessidade natural (de baixo) e tem a ordem celeste lá em cima. Então o diabo entra aonde? Ele entra aqui na água e no ar. A água é o mundo das emoções, da psique humana; e o ar é o pensamento abstrato, as idéias. Mas existe aqui uma esfera infra- natural aonde ele entra: existe uma esfera de fenômenos preternaturais. Preternaturais é aquilo que não está previsto na ordem da natureza mas que pode acontecer. Preter quer dizer quase. São efeitos que acontecem que não tem causa natural nem sentido sobrenatural: tipo assim, você fica resfriado e morre no dia seguinte.é uma piada demoníaca.São coisas sem saída, que não dão mais margem para ação humana. Essas situações sempre acontecem artificialmente, são montadas, tem uma vontade maligna. Tem um filme que chama O Mago. É a estória do exército nazista que invadiu uma cidade grega e prendem 4 pessoas da Resistência amarrando-as num poste. Também prendem a população inteira num estádio de futebol. Dá para o prefeito uma metralhadora e diz: Ou você fuzila esses 4 na frente do povo ou nós vamos fuzilar o povo. Tem saída isso aí? Faça você o que fizer, é mal. Então, uma situação em que todas as alternativas são más, elas nunca existe naturalmente e nunca no desenrolar normal das ações humanas. Ela só acontece quando alguém monta com este propósito: Isto é caracteristicamente demoníaco. Se existe um intenção, tem uma inteligência atrás e portanto não é um processo natural. Você acaba ficando preso entre a comicidade e a angústia. Não é como a angústia natural da vida. Porque na vida, o que é triste é triste; o que é alegre é alegre; ou você ri ou você chora. Nesta situação não dá para rir nem para chorar nem para não fazer nada. Este desconforto sem saída, cria uma agitação da alma e derruba você. A igreja católica (vide S. Tomás de Aquino) nunca falou em sexo só por procriação; sexo é você fazer uma deleitação no corpo do outro. E S. Tomás de Aquino diz que a finalidade é essa; é um direito humano: deleitação no corpo amado. Tem povos inteiros como na Austrália que ainda acreditam em sexo por procriação. 50 QUINTA AULA Uma coisa importante para gente ver é o paralelismo entre as operações alquímicas realizadas no metal e aquelas realizadas na alma humana. Engraçado que as coisas não dão certo se romper este paralelismo. Na verdade é mais do que paralelismo: é uma identidade. Quer dizer, a operação alquímica não visa nem ao metal físico nem ao metal da alma. Visa à uma coisa que é uma síntese simbólica de ambos. Quer dizer que o conjunto das operações alquímicas age num a esfera que não é nem psíquica, nem material, mas que é propriamente o ponto de convergência destas coisas. Não existe a distinção entre alquimia material e espiritual: ela é absurda em gênero, número e grau. Quer dizer, se é alquímico, o alquímico se caracteriza precisamente pela inexistência destas distinções; que em outros setores pode não ser tão importante. Quer dizer, tanto faz você falar da alma dos metais quanto do metal da alma: é exatamente a mesma coisa. E é por isso que a linguagem simbólica é entendida como um hiper- literalismo. Claro que tudo isso se baseia numa idéia que é mais do que uma analogia; é uma homologia para a estrutura do ser humano e a do cosmos. Provando assim, o princípio do: Assim como é em cima é em baixo. Você tem um macrocosmo organizado à sua imagem do microcosmo e vice-versa. Isto é: por um princípio de simpatia que, quando se mexe em um, se mexe no outro. Este é o princípio de toda a operação dita válida. E hoje em dia, você encontra o equivalente parcial disto aí na idéia de Ressonância Magnética. A Ressonância Magnética se usa para explicar certos efeitos ocorridos à distância e aparentemente sem a intermediação de nenhum instrumento. Eles colocam um ratinho num labirinto e o ensinam a sair deste labirinto. Imediatamente todos os ratinhos de outros laboratórios começam a aprender aquilo mais depressa. Isso quer dizer que, entre membros da mesma espécie existe uma ligação qualquer. Não muito bem explicada e que os caras chamam de Ressonância Magnética. É mais ou menos como o sincronismo do mundo. Então, a teoria da R. M., é menos uma teoria do que um simples fato. É mais ou menos como o sincronismo de Jung. Só que a soma de observações convergentes foi tamanha que não tem mais como negar. Essa ressonância acontece não só na esfera animal como na mineral. E se você entrar mais na decomposição da matéria até as substâncias químicas elementares, parece que tem isso. quer dizer, quando você num laboratório está tentando uma certa reação química, a partir da hora que se consegue esta reação, o tempo dela fica acelerado em outros laboratórios que não tem nada a ver com aquilo. É como se aquela substância tivesse aprendido, introjetado uma informação. Mas, na verdade, esse negócio de teoria da informação, hoje permite explicar coisas que até 30 anos atrás era considerado totalmente inexplicável. Agora, agente não pode confundir o que é real do que é explicável. A ciência é a tentativa de uma explicação racional dos fatos. Ou seja, uma ordenação racional explicativa dos fatos. Agora, se não temos fato, não temos ciência. Claro que os fatos sozinhos não compõem a ciência, mas é o começo da ciência. Se você rejeitar os fatos porque você não tem explicação para eles, a ciência não pode começar. Porque a ciência começa precisamente na hora em que você tem uma fato não explicável. A ciência começa por um espanto. Então, por um efeito até compreensível, na medida em que o estabelecimento científico progride e se consolida, 51 ele tenta ter uma certa ilusão e um certo domínio no campo dos fatos. Então, o que quer que venha de fora que pareça contrariar o esquema teórico já montado, eles negam os fatos. Então, você cria uma espécie de proibição de fatos que já não estejam dentro da teoria pronta. Mas isso aí acaba com a ciência. Se você só aceita fatos que já tenham explicação, acabou. Isso contraria todo o conceito de ciência. Se todos os fatos que você observa já tem um arcabouço teórico e pronto e só resta encaixar os fatos subseqüentes, acabou a investigação. Você só tem a aplicação da ciência. Isso também é compreensível. O princípio de ciência aplicada acaba predominado sobre o princípio de ciência teórica que são mais fáceis, por uma espécie de acomodação. Então, esses fatos de ordem alquímica, basta estudá-los para ver que eles são amplamente comprovados; o que eles não têm é a menor explicação nos termos da ciência atual. Você precisaria encontrar outros esquemas teóricos. Ou então, ficar sem nenhum: ou você aceita as explicações baseadas nestes princípios de correspondência, simpatia, analogia e toda aquela cosmovisão medieval, ou você vai ter que aceitar o fato bruto, colocar um ponto de interrogação e continuar investigando. Na realidade, o que as ciências modernas fazem é sempre, sempre buscar uma explicação antiga e dar um nome moderno. Não tem nenhuma diferença entre o que hoje chamamos de Ressonância e o que os medievais chamavam de simpatia; e que as nossas avós chamavam de simpatia. Só que elas não usavam simpatia no sentido teórico. Somente no sentido da operação: se você coloca um pote de mel e coloca o nome da garota que você ama e no dia seguinte você conquista a garota. a semelhança entre esta simpatia e o comportamento dos ratos é a seguinte: é a possibilidade de você, agindo num objeto pequeno, você desencadear um efeito grande sem a mediação de um instrumento racionalmente concebível. É um efeito mágico. Isso significa que para diferentes partes do Cosmo que estão separadas no espaço, existe um elo de simpatia conforme a forma dos entes. Quer dizer, entes que tenham a mesma forma respondem à mesma influência ainda que estejam separados pela distância. Isso quer dizer que o princípio da forma, da divisão das espécies em gêneros etc.. predomina sobre a distância. Quer dizer: o fato de um ente pertencer à mesma espécie de um outro cria uma ligação mais forte do que se os dois estivessem juntos no espaço. É a famosa questão da ação à distância: existe ou não existe ação à distância? Por este princípio, toda a ação é a distância. E quando não houver reação próxima também não haverá ação à distância. Aí você age não sobre o ente físico considerado na sua singularidade na hora em que você está agindo sobre o esquema da espécie. Quer dizer, espécie definida como uma forma. Essa forma é como se fosse um programa de computador. O que quer que tenha um programa e funciona de acordo com este programa, será alterado quando você mexe num dos seus exemplares. Não vejo outra maneira de explicar isso aí. Então, todo raciocínio alquímico se baseia nisso aí. Na hora em que você mexe em certos componentes internos seus, você está mexendo nos equivalentes externo dele. Os alquimistas sempre diziam que a operação que eles fazem não é para regeneração nem do homem nem do metal; mas para a regeneração da natureza inteira. Ora isto pressupõe que, se não existe nenhum alquimista humano fazendo a operação, ela está se fazendo de algum modo na própria natureza. Se ela parar, a coisa vem abaixo. Então, para o alquimista, a transmutação do metal não é um caso excepcional: não é uma exceção, é justamente a regra. Quer dizer, os metais que nós conhecemos, com todas as suas distinções, já são um efeito de uma contínua 52 não capto, propriamente o números, mas a minha idéia de números. Mas, quando eu faço a conta eu não penso nos números, mas estou pensando aquilo que eu penso sobre os números. Pensando signos que representam os números. Porém, eu sei que para além destes signos existe, objetivamente, estes números e estas relações. Eu só chego a perceber que 2 + 2 = 4 através daquilo que eu penso a respeito. Mas eu sei que 2 + 2 = 4 independentemente de eu pensar nele ou não. Então, é por aí que você vê que a psique vai, além de si mesmo. Aliás, a psique só serve para isto. Para que serviria um vidro se não fosse para você ver através dele ou ver o reflexo? Então você imagina um vidro sem espessura, ideal. Ele em si mesmo, não é nada. Ele é apenas uma superfície de transparência ou de espelho. Então, a verdadeira natureza da psique é esta. Ela ser uma transparência através do qual se aparece a realidade do mundo físico e ser o espelho através do qual se percebe dentro de si algo que transcende você mesmo. É um veículo. É menos que um veículo. A idéia que a psique é um espelho é uma das idéias mais velhas do mundo. Na mitologia você tem o espelho de Netuno que tem no fundo do mar onde aparece o mundo inteiro. E exatamente o mesmo simbolismo do fundo da alma. Quando você encontra este espelho, você finalmente chegou na realidade. A conquista desta etapa, ela é prévia à operação alquímica. É aí que tudo começa. Mas já é uma conquista alquímica. Podemos dizer informalmente que a chegada neste fundo da alma é Alquimia. Formalmente não é. Formalmente a transmutação começa a partir daí. A Psique sempre esteve nos mostrando o mundo físico e o mundo espiritual; o mundo supra- físico. Ela não é nem física nem supra-física. Mas, ela é apenas o espelho pelo qual nós vemos um lado e ou outro. Isso quer dizer que o esforço total da disciplina que vai caracterizar o processo alquímico é exatamente a diminuição da atividade psíquica; diminuição e simplificação. Por isso que você vê que uma verdadeira psicologia a alquímica iria a contra corrente de praticamente toda a psicologia do século XX. Quanto mais você remexer naquele negócio, mais você vai agitar a água, e menos a psique vai aparecer com aquela translucidez que ela deve ter. É exatamente que quer fazer as doutrinas antigas; que é para parar o pensamento, abdicar do ego etc.. É um modo de designar esta necessidade de encontrar o fundo da alma. Quanto mais você remexe nos sonhos, pior. Porque o sonho o que é? Através do sonho você vê 2 coisas: ou você vê a realidade espiritual ou você vê a realidade física. Agora, se você ficar vendo a própria psique, você não está vendo nada. É o espelho do espelho do espelho do espelho. É o espelho que espelha a si mesmo de milhões de maneiras e não sai disso. É uma masturbação mental em toda a extensão da palavra. Este espelho, a natureza dele é ser translúcido e reflexivo. Isso é tudo: não há mais nada o que saber dele. Então, se nós seguimos o caminho contrário i.é; formos inflando a psique, achando que ela é a única coisa interessante. a psique é tanto mais importante quanto mais modesta ela for. Por isso que a superfície da água não é água nem não- água. Ela é uma película sem espessura. É exatamente essa película que é um nada mas no qual aparece tudo. é isso que quer dizer o chinês com o tal do Yin. O Yin é tanto mais grandioso quanto mais ele consente em não ser nada. É por isso que é sincronizado com a vaca, por ser um bicho paciente, obediente. A psique está lá para obedecer, não para ter vontade própria. O Yin é exatamente esta Psique em face do espírito. Porém na medida que o psíquico reflete o espiritual, ele está refletindo algo que abarca o mundo físico. Abarca e transcende. Então ele tem um poder sobre o 55 mundo físico. Então, está feita a hierarquia do negócio. Que é o famoso Wong: O céu, o homem e a Terra. Terra é o mundo físico. O céu, o mundo metafísico e o homem é a psique. E a psique aonde ela está? Esta no encontro de céu e da Terra. E você verá que todas as disciplinas espirituais do mundo vão existir sempre numa espécie de individualidade psíquica. Na simplicidade desta psique e não na complicação. Se agente presta muita atenção na Psique, é como querer agarrar uma fumaça. não tem nada ali: Quem olha muito seus sonhos fica semelhante às suas sombras. No livro: Passagem para Índia de Forster usa este ditado hindu como epígrafe do livro. Forster era sem dúvida um sábio: um homem que enxergava as coisas como elas são. A problemática toda daquela moça do filme foi um fosforescência. A mensagem é que você deve esquecer os seus sonhos. Se você nem mesmo tem certeza da coisa, então não importa. A mensagem é claríssima: é aquela caverna cheia de coisas que não são nada. E no fim, a realidade era muito melhor; era um homem indiano bom, simpático e que só estava querendo ajudar. Isso não quer dizer que o mundo psíquico seja inexistente, mas ele só existe se você quer. Agora, a Terra e o Céu, a sujeição do nosso corpo material existem; e por outro lado o mundo meta-físico também existe porque as leis do princípio de identidade. tudo isso presida a realidade com mão de ferro. O mundo meta-físico é mais duro que o mundo físico. Mais implacável que o mundo físico. Muito dos conselhos de ascetismo dever ser entendido neste sentido. Não adianta nada você ficar sem comer. Se você não comer, você fica delirando. É melhor você comer e parar de inventar coisa. É na verdade mais um ascetismo da alma do que do próprio corpo. A psique não podendo atuar sozinha, ela pega alguma coisa no concreto. Então vai partir de necessidades corporais e vai ampliar formidavelmente. Qualquer necessidade corporal que você comece a pensar muito nela a psique amplia de tal maneira a que não há o mais o que te satisfaça. Qualquer coisa que você se acostuma a querer. corpo tem um limite do que ele precisa. A psique não! Quantas vezes você precisa comer, quantas vezes você precisa de sexo. Aí a psique se volta contra o corpo. As práticas ascéticas tentam cortar o pretexto de que a alma se serve para ampliar as necessidades. Eu não acredito muito nisso: o que eu acredito é nesse negócio aristotélico do meio-termo. E eu acho que quase todo mundo acredita nisso sem saber. Como diz Aristóteles. A virtude é o meio termo entre 2 vícios. Você está com um vício aqui, pega o vicio contrário e acha o ponto de equilíbrio. Por ex.: a ambição e a preguiça. A ambição é recompensada pela preguiça e vice-versa. Então não precisa ter virtude nenhuma; basta ter todos os vícios e jogar um contra o outro. Esse fundo da alma, uma vez alcançado, por um lado ele é o começo da obra alquímica. Por outro lado ele é um coroamento, uma conquista. Esta conquista representa o estado adâmico alcançado. Você virou gente. Assumir que você é gente significa o que? Olha, hoje em dia o homem pensa muito em direitos etc.. Mas, o homem verdadeiro não tem nada disso. Que direitos tinha Adão? Ele nunca pensou nisso. Não é o respeito que os outro têm por você que vai te dar um estado humano. Ao contrário, ninguém pode te dar o estado humano.. A conquista do estado humano é a conquista de uma centralidade. E neste sentido que se deve entender o simplismo do geocentrismo. Quer dizer: o que está no centro do universo não é a Terra. É o homem? E essa centralidade. primeiro temos que entender o sentido vertical para entender depois o horizontal. E o sentido vertical significa que o homem é exatamente o mediador entre o mundo físico e o mundo espiritual. Quer dizer que entre o conjunto 56 de leis que rege este mundo espiritual e este mundo físico só tem um ser no meio que capta os 2 lados por eqüidistância e compreende a relação entre um e outro. Explicarei melhor baseado no princípio de identidade: vamos supor que no desenho o mundo físico é o mundo dos Porcos. Por ex.: entre um mundo e outro só tem uma único ser capaz de conectá-los. Porque, como nós (seres humanos) temos um corpo, nós também padecemos das mesmas contingências que aqui estão sujeitas os porcos, as galinhas etc.. Só que nós podemos além de perceber o que se passa conosco, podemos perceber o que se passa com eles. E eles não. O porco só entende de porco. Os animais para não falar das plantas- se desconhecem uns aos outros. Em primeiro lugar, existem espécies animais que nunca se viram a não ser quando do homem juntou-os no zoológico. Pergunto eu: quando o primeiro urso polar ficou sabendo que existia uma girafa? Além de estarem separados geograficamente, os animais ainda estão separados pelas suas respectivas esferas de percepção que um não abarca o outro Por ex.: as formigas sabem que existem tamanduás que as comem? Não, provavelmente as formigas sabem que existe morte. Mas, quem as mata só nós sabemos. O único ponto de junção de toda a natureza terrestre é o homem. É o único que está informado de tudo. Por isso que o homem é a única espécie que não tem um habitat específico. Todos os bicho precisam de um certo clima, de certas condições. O homem praticamente se adapta à tudo. Ele tem essa mobilidade horizontal que os outros bicho os vegetais e mineiras não têm. Mais ainda o homem é o único bicho que pode mudar as coisas de lugar. Por ex.: hoje em dia a superfície da Terra está cheia de minerais que foram retirados de dentro da Terra e postos em outro lugar. E isto pode ter conseqüências terríveis; mas mostra o poder que ele tem. Esta esfera das leis metafísicas, ela determina o que se passa em baixo mas não é afetado por nada. Esta de baixo só sofre determinação e não apita nada. O único que sofre e age é o homem! Não existe nenhum outro ser que faça estas 2 coisas. Mesmo se você falar da anjos. Anjo é um modo de você dizer uma ação celeste. Então, o anjo também não padece ação alguma. Ele não pode padecer a ação de Deus porque ele é a ação de Deus. É como o raio do Sol está para o Sol: o raio do sol não sofre ação do sol; ele é ação do Sol. O anjo, a mesma coisa: Ele é uma aspecto da inteligência divina. Agente pode colocar a coisa como agente e ação: o agente é Deus e ação é a do anjo. Então você tem uma esfera da ação e uma esfera da paixão. O homem tem uma vida corporal, um ser biológico vivente e ao mesmo tempo ele tem uma inteligência capaz de abarcar o conjunto dos seres que o rodeia e agir sobre eles. ao mesmo tempo que ele sofre a ação do Cosmos. Então o que ele é? Ele é gente. Esteja onde estiver, tenha nascido aonde for. Ao mesmo tempo, ele tem um corpo que se move. Mas ele não se limita a se mover e sofrer o impacto do mundo. Ao contrário, ele consegue abarcar de certo modo a sua inteligência no conjunto dos seres viventes e agir sobre eles. O único bicho que faz isso chama-se homem. Com todas as suas diferenças. A não ser que você vá fazer de diferenças acidentais, diferenças específicas: Ah, mas tem 1,20 m. eu não acredito que eu vá ficar mais assustado quando eu ver um Extraterrestre do que o primeiro pretinho da África ficou quando viu o primeiro português. Imagina um pigmeu preto vendo um homem branco, parecido com um fantasma, de 1,80 m de altura. E me diga aonde que está escrito na definição de homem que ele tem que nascer na Terra. O homem é um animal racional venha de onde vier. Então, essa conjugação da animalidade que o sujeita à existência material e da racionalidade que lhe permite ao 57 disciplinas espirituais que acreditam que você se liberta do seu destino, da ressurreição física. No Corão, o profeta Maomé por 2 vezes sofreu atos de bruxaria que o atingiram. Então, nenhum profeta está fora da bruxaria. Ele pode se livrar de coisas. Porque? Porque esta será uma ação que será desencadeada por meios psíquicos na ação física. Então ele vai acertar. Vai acertar tanto quanto o outro acertaria uma bala na cabeça. Que, pode se libertar é a psique. O corpo não pode se libertar da usa própria condição. Isso significa que o esforço humano não é para ser anjo, é para ser gente. E ser gente significa assumir a condição corporal na sua inteireza para que a alma se liberte dela, não para que o corpo se liberte. O que significa a alma se libertar? Significa não que você não vá sentir dor, tristeza. você vai sentir tudo só que isto não mudará a sua convicção, porque ele sabe isso. Por ex.: se uma pessoa fica brava, ela fala tanta besteira; ou ela simplesmente vai falar aquilo que ela não falou calma? Isso é uma diferença brutal. É a diferença entre o imbecil e o sábio. Então o que falou o que pensou mesmo estando bravo, ele não é um sujeito que está possuído pela raiva: ao contrário ele é um sujeito que tem raiva. Ele tem tanta raiva como qualquer outro. Só que a raiva é dele. Ele tem a soberania na esfera cognitiva. Não significa que não terá acesso de cólera. Veja o quanto é errada esta idéia de que o homem sábio é aquele cara que nunca se altera. A liberação é um liberação da consciência. A consciência não está não está sujeita à flutuações: aquilo que você sabe você sabe. A sua mudança de estado não muda o que você sabe. Mas você muda de estado do mesmo modo. Quer dizer que você enquanto indivíduo vivente, está sujeito à todas as flutuações emocionais como qualquer outro. Só que estas flutuações emocionais afetaram somente os aspectos inferiores das psique não as superiores; mais precisamente não afetou a parte cognitiva. Quer dizer que você não vai ver as coisas diferentes porque você está bravo. Isto quer dizer que a grande mutação que existe a partir daí é que as próprias emoções dos indivíduos começam a ser órgãos cognitivos. Quando Cristo diz assim: na verdade há mais do que devia se odiar. ele está querendo dizer: você deve odiar aquilo que é odioso. E amar aquilo que é amável. Não conseguimos fazer isso porque a água mexe e você confunde tudo. Se o homem chegar a este ponto, e ele odiar uma coisa é porque esta coisa é odiosa mesmo. Não é mias subjetivo. É isto que é a verdadeira imparcialidade. Imparcialidade não é pairar acima das coisas feito um passarinho e ficar num nirvana idiota. É você não vai ver um único sábio que viveu neste estado de Nirvana que seria uma verdadeira anestesia. Pode até alcançar um estado de frieza que seria demoníaco. Para que serve as emoções e os sentimentos? Eles são repercussões físicas de conhecimentos que você tem. Representa sua resposta personalizada. Por exemplo: se uma pessoa te dá um presente. Evidentemente isto aumenta o seu patrimônio. Mas eu digo, isto é tudo? Se você dá um isqueiro à um retardado mental que não sabe o que é isqueiro, você também aumento o patrimônio dele. Se você dá um presente para um morto também aumentou o patrimônio dele. Mas acontece que o homem reage personalizadamente. Ele fica contente. Ele fica afetado. Por isso que a emoção se chama afeição ou afeto. A emoção é a média da alteração que você sofre pelas coisas que acontecem. Você sempre será afetado e alterado. E se parou de ser alterado significa que você não reage mais personalizadamente. Ora, seria isto uma perfeição? Não a perfeição é exatamente o contrário. A perfeição é quando a sua alteração reflete exatamente o que está acontecendo. Ele se tornou a media correta: Porque se esse homem odeia o que é 60 para odiar e ama o que é para amar. Ele não é indiferente. Os valores das coisas aparecerão na alma deste indivíduo. Por isso mesmo que eu acho um absurdo esse negócio de que a ciência não pode entrar em problema de valores. Ora, se não entrar não é ciência. Porque a ciência mesma se baseia numa valor que se chama veracidade; e num outro que se chama conhecimento. Tirar estes 2 valores acaba com a ciência. O que o cientista não deve fazer é projetar valores sobre as coisas. Mas se ele puder perceber os valores que estão lá, melhor. Daí pode parecer algum engraçadinho: Mas Kant demonstrou que os valores estão na nossa mente e não nas coisas. Bom não é nada disso: Kant não entendia nada sobre este assunto. Agora, tem um segundo sentido em que Kant era muito profundo. Se você ler toda a obra de Kant, não como teoria, mas como obra de ascese que era o que Kant queria mesmo porque ele era um carola você verá que ele concorda com tudo isto aqui. Mas isso é outro assunto. Eu não vou demonstrar isso aqui mas é claro que os valores estão objetivamente nas coisas: o Bem e o Mal existem objetivamente. Eles são enormemente confusas. E é precisamente esta confusão que define a nossa condição existencial. Se o bem e o Mal estivessem devidamente separados, agente estaria num ou estaríamos no outro. Isso quer dizer que se eu estou no bem, eu não vou nem ver o Mal. E se eu estou no Mal, eu não vou ver o bem. Ou sou anjo ou sou capeta. Isso não seria uma maneira de resolver o problema; mas seria uma mentira de eliminar o sujeito que tem o problema: você cortou o homem, ficou só os anjinhos. Mas, se existe esta mistura do Bem e do Mal e se o homem está no meio desta mistura tal como ele está no ponto de interseção entre o céu e a Terra? Também é evidente que a distinção do Bem e do Mal não coincide com esta aqui. Porque aqui (na Terra) não tem o mal, e em cima (no céu) não tem mal. Só tem aqui: o Bem e o Mal estão nesta dimensão horizontal. O Mal está para um lado e o Bem está para o outro. Mas note bem que isso só existe para nós. Do ponto de vista de Deus não tem mal nenhum. Nem o capeta é mal;. se ele faz o que Deus quer. Isso quer dizer que o Bem está embaixo, está em cima, está no meio. E o mal está só no meio e só para um dos lados. O Mal está na condição existencial do homem. O Mal existe objetivamente par o homem. Quer dizer, na condição vital que ele está colocado. Mas não é só na cabeça dele. Os melhores interpretações de Jó formam feitas por William Blake. Jó tinha alcançado a centralidade mas não a sabedoria. Jó passaria do homem verdadeiro para o homem transcendental (nos termos chineses). Transcendental quer dizer: o homem não somente está no meio mas ele enxerga bem em cima. Uma coisa de estar aqui no meio é alcançar a potência disto. Mas não é tê-la realizado. Então entre o começo do livro de Jó e o fim, você tem toda a operação alquímica. Mas só que quando começa, Jó já está no centro. Ele vê aquilo que ele pode ver. Ver como é em baixo e em cima. Ao mesmo tempo ele vai ver o Deus e vai ver a profundeza do inferno. Ele vai ver tudo. Como Dante; Dante vai ver a escala inteirinha. Quer dizer, você alcançou isto equilíbrio, essa horizontalidade da água, agora você vai mergulhar para depois subir. Você vai ver o que está abaixo da natureza humana e o que está acima do próprio céu. Este céu não é bem Deus. Também não é bem o espírito santo. É a ação do Espírito Santo. É a asa do anjo. Bom, mas atrás da asa tem o anjo, atarás do anjo tem quem mandou no anjo. Então, é aí, que agente tem a passagem dos pequenos mistérios para os grandes mistérios ( você alcançou a centralidade e agora nós vamos te mostrar tudinho). Os pequenos mistérios é o conhecimento da realidade sensível da Terra e das 61 leis metafísicas que as determinam. E os grandes mistérios significam conhecer Deus. Não é um teste que Deus está fazendo. Trata-se sim, do que Platão chamava de A Segunda Navegação: você completou uma viagem, agora vamos conhecer outra maio ainda. Essa outra não é obrigatória. Pode chegar como não chegar. Então em toda a história ou você está falando de uma iniciação de pequenos mistérios que é o mundo da alquimia propriamente dito Ou você está falando de uma segunda Alquimia mais elevada que vai levar ao conhecimento do que é o espírito mesmo. Aí já entre a no mundo do inimaginável. O mundo físico não tem mal porque ele é só obediente. Se ele não age, ele não tem mal. Se tem um terremoto o que a terra pode dizer? Não fiz por má intenção. Este é o mundo da inocência. Lá em cima também: é a inocência da sabedoria e a inocência da ignorância. Mas tem um negócio aqui no meio que é a nossa parte: a parte que nos cabe neste latifúndio. É o papel que o homem está desempenhando neste conjunto. E é um papel que por definição não pode estar totalmente determinado de antemão. Por ter uma condição intermediária, o homem não pode ser nem escravo, nem inocente por ignorância nem inocente por sabedoria. Então, ele tem Por excelência um papel ativo. Mas ativo em relação à Terra e passivo em relação ao mundo celeste. Essas divisões, elas não são rígidas. Porque tudo o que se refere à simbolismos de mundos, você tem significado sucessivo: a coisa prossegue. Não é um a pluralidade no sentido contraditório. É tudo coerente. Mas a coisa pode ser vista em várias dimensões (é como uma cebola). Então, você consegue enxergar até um certo números de etapas. Daí para diante você não enxerga mais: daqui para diante tudo pá mim é céu. Então na parte dos mistérios dos céus aí a coisa se complica mais ainda. Tem mais andares que o homem não tem nenhuma obrigação de imaginar. Tem uma história do Dante que é a do Papa que escreveu um tratado das hierarquias evangélicas. Morreu, foi pró céu e lá ficou sabendo que não era tudo aquilo que havia escrito estava errado. No Paraíso do Dante tem isso. Isso quer dizer que em vida ele não tinha alcançado os grandes mistérios.. Então, o que tem que tratar é aqui: é a finalidade da condição humana: Torna-te aquilo que és. A conquista dos bens terrestres sejam eles de natureza material, sejam de natureza espiritual é muito relativo. Por ex.: você vai conhecer as artes. Se você for capaz de convergir este conhecimento para a sua finalidade, ótimo. Tudo, qualquer bem ou conhecimento, alegria ou tristeza, tudo é ambíguo. Porque pode contribuir para te levar para lá ou para te tirar de lá. Só uma coisa determina: que é você mesmo. Não importa muito o que aconteça. Qualquer coisa que aconteça o negócio é você tentar virar a coisa para resultar neste tipo de benefício. Este é o caminho reto, caminho do meio: tem que chegar lá. Você estudando a vida dos grandes profetas, você vê uma conquista de uma tamanha objetividade ante o real que não precisa nem antecipar o que vai acontecer. Muitas das capacidade proféticas não implicam nem mesmo uma mensagem celeste especifica que tenha ensinado à essas pessoas isso aqui. Mas às vezes o simples exercício normal das faculdades humanas, você chega lá. O único profeta sobre o qual temos uma documentação extensa é Maomé. A gente se baseia nesse mais ou menos para saber o dos outros. É difícil você distinguir nele o que é uma coisa que foi mandado pelo céu e o que é uma simples consenso dele. Uma coisa que está meio limítrofe à outra. A vida de qualquer modo seja humana seja divina é sabedoria. O limite é que você não sabe. Agora, ele o profeta, sabe. É por isso que eu acho infame esse pessoal que fica 62 às vezes chamamos de realidade é a fantasia mais boba que existe. Por isso que eu não acredito em revolução, governo melhor etc.. Isso às vezes dá certo ou dá errado por pura sorte. Você vai ver que as propostas mais absurdas dão certo por sorte: A história é o conjunto dos resultados impremeditados das nossas ações. E essa estória de tentar dirigir o desenvolvimento social para uma certa direção é a idéia mais maluca que já vi. Às vezes as coisas dão certo não por aquilo que você estava pensando; dá certo por causa de outro fator. Você veja: qual é o país que no mundo inteiro representa a forma de governo mais democrática do mundo? É os EUA, não é? Bom, mas nos EUA, 70% da população não lê jornal, não participa da política, não vota. E a coisa dá certo justamente por causa da não participação! Então, quando a coisa dá certo é por motivos que ninguém previu e, quando dá errado é pelos mesmíssimos motivos. A capacidade que o homem tem de prever alguma coisa antecipadamente é muito limitada. Você pega qualquer historiador que tentou fazer qualquer projeção de cultura e você vai ver que raramente deu certo. Isso nos dá uma idéia de impotência humana. E esta impotência humana é uma das características advindas da queda. Por um lado você vê que o homem está assim. Por outro lado, às vezes, ele não está assim i.é; às vezes ele tem a capacidade de enxergar as coisas como são e conduzir as suas ações de maneira muito correta. Se deu certo uma única vez significa que pode dar certo e que não é impossível. Significa que o homem tem a possibilidade real de alcançar um estatuto melhor. Mas se ele tem porque que ele não alcança? Este algo que impede é que se chama A Condição do homem depois da Queda. Ou seja, não é que ele perca as capacidades intelectuais etc.. é que ele passa a ser um ser mais desprezível; na escala ontológica ele não é tão importante. Na maior parte dos indivíduos verificamos que o ser humano ainda é um bicho vivendo abaixo de suas capacidades. Isso não acontece totalmente com os outros animais. Se dissermos que 98% das vacas não estão dando leite, diremos que é uma espécie em extinção. Quando um animal não cumpre a capacidade para a qual foi destinado, é porque tem algo errado com ele. Agora, se o homem tem a tal da capacidade de ser o centro da criação, de ter consciência, ter retidão, agir consistentemente etc., porque ele não consegue? Porque ele não consegue sempre ou quase sempre? Não existe este tipo de dificuldade - de manifestar suas próprias capacidades - na espécie animal. Mas para o homem existe. Por isso mesmo que cada vida humana quando começa, é um conjunto de esperanças, e quando termina é um conjunto de frustrações. Hegel diz que quando contemplamos a história, a primeira coisa que vemos é um amontoado de ruínas: tudo o que foi feito foi destruído e temos que continuamente refazê-lo. Tanto individual quanto coletivamente o homem está sempre abaixo do que ele pode. Porém, nem todos os homens. Uma vida bonita é quando o homem fez tudo o que ele queria fazer e se tornou quem ele queria ser. Então o que faz o homem não realizar aquilo que ele vislumbrou? É um fator de dispersão qualquer que faz com que em vez de ele estar consciente do lugar onde está, do seu encaixe no meio, ele não enxergue mais onde está. Ele está obcecado, hipnotizado naquela coisa como a cachorra estava presa na corda. Agora não é só o homem que baixa. O homem baixando, começa a tal da degradação ambiental. A degradação ambiental não começa com revolução industrial. Eu falei que o animal não fica abaixo de suas capacidades. Mas, se você fizer a conta do número de espécies animais que foram extintas - não agora na revolução industrial- é um negócio assombroso! Quem sofreu a queda não foi apenas um homem 65 chamado Adão, mas o modelo da espécie humana. Podemos depreender daí que a narrativa bíblica não se passa aqui na Terra; se passa no próprio Jardim do Éden o que é este Jardim? Não é a terra planeta. Quer dizer, todo este drama relatado pelo Gênesis é um drama de ordem espiritual. De certo modo tem a ver com o universo material: na hora em que o modelo da espécie humana cai, o universo inteiro se ressente daquela coisa. A obra alquímica visa colocar o homem dentro de um estatuto onde ele possa legitimamente se considerar centro da criação humana. Você veja: porque a cultura de 4 séculos para cá parece se comprazer em negar a importância do homem no cosmos? Ela diminuí o homem. Atualmente parece mais verossímil que ele seja um amontoado de átomos de carbono do que ele ser um modelo do cosmos! Isso parece ser adequado à condição presente do homem, mas não à sua condição essencial. Moisés foi um cara que levou 40 anos para que alguém acreditasse no que ele falava. Como é que ele fez para manter suas opiniões durante todo este tempo? Isso quer dizer que as questões de frustrações e felicidade para ele já estava muito aquém dele. O isolamento moral é muito ruim para nós. Colocar um sujeito numa situação desta é o que se chama numa indústria de Operação Salame: você vai cortando os canais de comunicação do indivíduo com o seu meio. Se ninguém entende ou acredita no que ele fala, ele não pode agir. Cannon ganhou um prêmio Nobel por um trabalho que fez sobre reações corporais no pânico e na raiva. Qualquer sujeito colocado numa situação desta, em 99% dos casos ele morre. Morre porque isso cria um desequilíbrio na circulação capilar, paralisa todos os órgãos do corpo isso é estudado num livro do Lévy-Strauss - Antropologia Estrutural- É assim que se mata o sujeito por bruxaria: total isolamento moral, aí ele não agüenta e morre. É claro que isso só funciona numa comunidade homogênea aonde todo mundo trata o sujeito do mesmo modo. Moisés agüentou isso 40 anos e saiu inteiro; é claro que com isso ele adquire um poder maior que de toda a comunidade junta! O ser humano na sua plenitude é um bicho capaz de fazer isso. O ser humano não precisa de ninguém: ele não precisa que a mãe dele goste dele, que a mulher ou o cachorro gostem dele etc.. Por que ele tem uma comunicação direta com a verdade, ele sabe o que é. Então ele não se preocupa mais com essas coisas. Isto ele pode fazer. Tanto pode que já fez. Agora, o ser humano em geral, ele não resiste a nada, nada, nada. Se sente o tempo todo ameaçado. Então quando você vê a impotência, a incapacidade de agir, o hipnotismo, o limite, você verifica que algo está errado. É a perda da condição ontológica. Não é só a perda de uma capacidade. É que ele se torna um bicho desimportante, um bicho que se pode substituir, que se joga fora e põe outro no lugar. Ele é substituível. Moisés se torna então insubstituível perante a comunidade e aos olhos de Deus. O ser humano foi feito para ter esta importância espiritual. Toda obra alquímica foi feita para restaurar isto aí. Isto aí é que introduzirá o conceito de senso de eternidade. Este fenômeno da prisão do indivíduo é uma restrição do tempo ao momento presente. Quer dizer que o sujeito não consegue ver nem o hoje nem o amanhã. Ele perde o fio de sua historicidade: ele não sabe de onde vem nem para onde vai. Aquela situação de prisão é tão envolvente que cria uma situação de compressão do antes e do depois: o cara não presta atenção em mais nada. É assim com qualquer situação de perigo ou de angústia. Ela parece que naquele momento ela é toda a sua história. Mas como diz o ditado: A situação é perigosa demais para você 66 se dar ao luxo de ficar com medo. É justamente na hora do perigo que você tem que enxergar! O medo é assim: é uma criancinha que tem quem a socorra. Mas se ela estiver sozinha, ela tem que perder o medo, porque senão é um luxo. É da mais alta conveniência que você mantenha um estado de consciência, que o perigo expanda sua consciência. Porque a tua salvação tanto física quanto hipnótica depende disto. Essa reação de corte de consciência, de compressão não se justifica nem mesmo numa situação de perigo real. Ela se explica mas não se justifica. Ela é sempre injusta, má e inútil, não vai fazer bem a ninguém: se um indivíduo numa situação de perigo entra em pânico, isso não vai fazer bem para ele nem para os outros. Não faz bem para ele porque ele não pode escapar da situação. Não faz bem para os outros porque os outros ainda vão ter que socorrê-lo. Os outros não têm obrigação nenhuma de te carregar. Se você tem medo, trate de ficar com mais medo porque daí você vai agir. Se você pegar um cachorro vira-lata e um com pedigree, a diferença entre ambos não vai ser tão grande quanto se você comparar um cidadão comum com Moisés. A diferença é incomensurável; então como pode pertencer à mesma espécie? O homem tem direito a conseguir um estatuto ontológico melhor. Só que ele não está colocado nesta condição melhor naturalmente; ele vai ter que chegar lá artificialmente, por sua própria iniciativa. E é justamente isso que quer dizer o ditado: Ganharás o teu pão com o suor do teu rosto. O pão é o símbolo das ações corretas. O pão é a esfera da moral. O vinho representa os conhecimentos espirituais. O homem para agir corretamente ele vai ter que passar medo (é isso que quer dizer o ditado acima). Você não conseguir o seu estado anterior de nobreza de graça. É essa a condenação do homem passado. Mas veja, é uma condenação que não é eterna, é temporária. Se você quiser retornar ao estado Adâmico, já vimos que o homem pode. Agora se você não quiser nada, você vai cair cada vez mais e mais e mais. Agora é claro que você vai ter pagar alguma coisa por isso, pode perder bens materiais Por ex.. Mas, qual é a diferença de você afundar num navio em 1 classe ou em 3 classe? Existe alguma diferença mas é irrelevante. A sociedade que incute na cabeça das pessoas o desejo de uma Condição econômica melhor é monstruosa. Isso é pior do que a própria miséria. Pior do que a miséria é o desejo de sair dela. Porque se você não ligasse muito para ela, a coisa talvez até se resolvesse melhor; porque você teria miséria sem humilhação, você sofreria menos. Mas o pensamento de hoje é: se você está duro, você não presta. Mas, já não basta você estar duro e ainda ter uma condenação moral em cima de você? Aquela ideologia que diz que quer que todos tenham bens iguais está provando exatamente que só vale quem tem. Quer dizer que tanto faz aquela sociedade que aprecia estes bens quanto aquela que a condena: são igualmente ruins. Porque ambas são baseadas em valores falsos. O certo é dizer para o indivíduo que essas coisas são muito relativas: se você conseguir juntar bens materiais, ótimo. Se não conseguir, dane-se! Tem coisa mais importante. Este círculo do momento presente é que tem que ser rompido. E ele é rompido não pela revolta contra ele: porque quanto mais você se envolve com a situação presente, mais ela cerca tua atenção. Então isto será rompido pela concentração na interioridade, no que é importante. Existem no mundo milhões destas técnicas (islâmicas, budistas etc.) e que vão representar exatamente este trabalho do forno. Esta concentração é que fará você perceber que todos os momentos anteriores e subseqüentes estão de certo modo no momento presente. Por ex.: você pode prolongar 67 mas agir, não (estória de Marta e Maria). Na vida contemplativa, deixamos que a realidade molde nossa mente em vez de tentarmos inventar uma outra. Isso aqui é um gigantesco forno alquímico onde nós estamos sendo transformados. Claro que dentro destas transformações, algumas são frutos da tua ação, mas isso aí é muito pequeno. Basta você tentar mudar sua vida e você vai ver que alterações mínimas requerem esforço de anos! Vaca foi feita para dar leite, passarinho para voar. Nós que temos capacidade cognitiva muita acima da nossa capacidade de ação, portanto o conhecimento é mais importante. Então, o primeiro passo seria a concentração e a admissão da realidade. Já vimos a consciência de tempo e espaço. O que é consciência de eternidade? É a visão de simultaneidade de todos estes momentos. Isso quer dizer que do ponto de vista de Deus, o momento que os anfíbios começaram a andar na Terra é tão atual quanto este momento agora. Para nós este momento parece mais importante; mas objetivamente este momento é só mais um dentro da seqüência. Isso quer dizer que em cada ato que temos deve haver nele uma consciência de eternidade. O ato que é feito com esta consciência ele é moldado pela eternidade. Se cada ato é feita com esta consciência, cada ato é eterno também. Basta que ele não pretenda ser o único. Na eternidade existe um script do seu papel que você desempenha ou não. Então, o que seria o ato melhor possível dentro de cada momento? É o ato que corresponde àquilo que na eternidade corresponde a seu modelo, à sua perfeição: a idéia que Deus sempre teve a seu respeito antes mesmo de fazer você. Voltamos ao tema inicial do bem supremo, a permanente concentração no bem supremo. Qual é o melhor ato possível? O ato que é plenamente significativo dentro da tua escala. O ato que eu posso fazer. A fugacidade não existe objetivamente. A fugacidade é uma impressão: todos os momentos ficaram, nada se perdeu, estão sempre presentes. Não está presente na mesma modalidade porque seria auto-contraditório. 70 ALQUIMIA E ASTROLOGIA (30/01/96) Leremos 2 textos hoje: Um, não por coincidência, foi tirado de um livro de Alquimia. E o outro, de um livro que não tem nada a ver com Alquimia. É um romance de Georges Bernanos (um escritor francês que morou no Brasil por muito tempo). Vamos ler o primeiro parágrafo, depois agente volta para comentar. O SENTIDO ESPIRITUAL DA NATUREZA (por Julius Evola) A relação do homem moderno com a natureza pertence à tradição hermética- alquímica. Comentário: Porque ele usou a palavra ciclo entre aspas? Porque não existe uma divisão temporal clara entre uma época pré-moderna e uma época moderna. Mesmo porque, existem sociedades que ainda estão no chamado ciclo pré-moderno. Inclusive se nós perguntarmos: como é que o sujeito que está na época moderna pode saber destas coisas que foram escritas pelos antigos? Bom, existem três argumentos. O primeiro é pela convivência com sociedades primitivas que revelaram alguma coisa à esse respeito. Em segundo lugar, através de documentos, pela reconstituição da história. Em terceiro lugar, pela própria estrutura da alma humana que é um microcosmo (não só no sentido cósmico como no sentido histórico). Isso quer dizer que qualquer experiência que tenha sido vivida pelo homem de qualquer época da civilização tem um análogo dentro de nós; e procurando direitinho agente encontra este análogo. Quer dizer, nós podemos voltar a sentir as coisas como outros homens se for escavada a imaginação. É claro que você vai vivenciar por momentos aquilo que para eles é uma experiência constante. Também é claro que essa experiência puramente imaginativa, reconstitutiva não vai ter a intensidade da experiência real das pessoas. Mas dá para gente saber do que se trata. Ora, precisamente no trajeto alquímico, o que se faz é uma reconstituição sistemática deste outro modo de ver a coisa. Você não somente tem a atitude do historiador que evoca imaginativamente as experiências anteriores deste povo mas você vai atualizar, resgatar as possibilidades perdidas através de um esforço sistemático que é justamente essa trajetória alquímica. . A natureza esgota-se hoje fixadas unicamente por relações matemática. Comentário: O que se entende hoje do estudo da natureza física, alquímica etc.? São ciência que procuram estudar da natureza somente os seus aspectos diretamente mensuráveis, matematizáveis. Quer dizer, é uma espécie recorte da natureza (onde vai pegar apenas os seus aspectos quantitativos mais facilmente captáveis e organizáveis no conjunto de relações). Relações que quando se revelam constantes, cíclicas, repetitivas, adquirem o nome de Leis. Lei científica é uma espécie de equação matemática que se verifica repetidamente estabelecendo uma relação entre fatos da natureza. A ciência hoje em dia é do tipo descritiva geométrica da natureza e que busca somente as repetições. Ora, o aspecto repetitivo e mensurável de um fenômeno, é evidente que é só uma faixa, um corte uma fatia por assim dizer. Se você pegar antes do ciclo chamado Ciclo Moderno que começa com a Renascença, você verá que a ciência Física se ocupava de muito mais coisas. E a questão do significado que ele 71 coloca ali. O significado pressupõe uma intencionalidade. Ora, em todo o ciclo moderno praticamente toda a cultura universitária se baseia na idéia de que só existe intencionalidade no reino da intencionalidade humana e nada mais. Somente o ser humano possui intenções e portanto que age com um significado. Ao passo que todo o reino da natureza terá que ser explicado independentemente de significados. Ou seja, a ciência não se interessa prelo que a natureza fale a nós. Mas, apenas em descrever e medir o seu comportamento desde fora. Há um recuo. Evidente que esta concepção vem diretamente da divisão cartesiana entre a coisa pensante que é a nossa mente e a coisa extensa que são o objeto da natureza. No século XVIII, Leibniz vai mostrar que apenas o aspecto quantitativo, a medida, não bastava para constituir um conceito de um ente real; e que portanto o mundo estudado pela Física, não era propriamente real. Mas, um esquema matemático que coincide em certos pontos com o mundo real. Podemos fazer uma analogia da seguinte maneira: imagine uma figura humana qualquer. Se você marcar determinados pontos nesta figura, você pode descrever todos os movimentos desta figura só a partir destes pontos. Aonde essa figura se movesse estes pontos se moveriam junto com ela. E a descrição dos movimentos destes pontos corresponderiam rigorosamente ao real. Só que não se parece em nada com a figura como um todo. Então, toda a operação que nós chamamos ciência física consiste em fazer isso aqui: marcar determinados pontos que são mais fáceis, os mais matematizáveis, e acompanhar o desenrolar deste aspecto da realidade buscando as simplicidades e as repetições. E a hora que você conseguir vincular este movimento aos conceito básicos como matéria, movimento etc., você diz que estabeleceu uma lei. É claro que essa lei funciona. Você poderia estabelecer neste mesma figura, uma equação das distâncias máximas possíveis entre este ponto e um outro ponto conforme as várias posições do indivíduo relacionando são mesmo tempo uma certa distância com outra qualquer. Você pode denominar x, y, z. você pode fazer uma equação dizendo que a distância máxima de z a y varia conforme a distância de x a y. E você tem aí uma formula que será inteiramente verídica em todos os casos. Você não pode dizer que isto seja irreal. Mas também não pode dizer que seja real. É um mundo, um tecido de relações matemáticas. E o reino da intencionalidade, da significação? Ele fica combinado pelo mundo da linguagem humana. Só o que pode fazer sentido para o homem da civilização moderna é a fala humana. (o resto não precisa fazer sentido. O resto apenas se comporta de uma maneira mais ou menos mecânica). Também é claro que este despersonalização da natureza traz como conseqüência um excessiva personalização do mundo da fala humana: porque o homem, vivendo num universo hostil sem significado, é lógico que ele se sente mal; e as suas necessidades de expressão e comunicação se tornam exacerbadas. Daí que ao mesmo tempo a ciência vai descrevendo um mundo cada vez mias impessoal. Você vai vendo na prática o processo inverso: um processo de subjetivação cada vez maior. Por ex.: quando Shakespeare no século XVIII no período romântico, as pessoas começam a falar de suas emoções interiores das mais subjetivas que nunca o homem tinha tido em toda sua existência. Então, memórias de Jean Jacques Rousseau você vai ver o indivíduo pegando a sua vidinha a alminha se desdobrando nos mais íntimos detalhes para todo mundo ver. Isto aí é um reflexo de uma despersonalização da natureza. Então, é um espécie de excesso para compensar um excesso contrário. É justamente desse processo da subjetivização da expressão artística concomitante à perda da 72 .nenhuma pradaria, jorrando luz e orvalho no candor da aurora, ele não se apodera do seu ritmo interior e sua profunda dominação. Comentario: O ritmo interior que precisamente falava Julius Evola. Note bem que Georges Bernanos nunca leu Julius Evola e nem o contrário. São pessoas completamente diferentes; não só por cultura como por mentalidade. Mas que passam exatamente o mesmo fenômeno: que existe um movimento interior da natureza. Exatamente este ciclos das transformações alquímicas. E que é ao mesmo tempo o movimento interior da nossa própria alma. E é justamente aí que o homem que impõe a usa presença na natureza não pode captar mais. Se você manda a natureza calar a boca e começa a falar em cima dela, com você ela não fala mais. .todavia se está no homem impor à natureza a sua presença, e não responde senão à elas somente. Comentário: Quer dizer que o canto da natureza continua. E esse é todo o nosso esforço: você vai ter que sintonizar para saber o que ela está falando. Seja o pessoal que está querendo aprisionar a natureza como relações matemáticas, seja aqueles que em reação contra isso, transformar a natureza no palco de suas emoções eles, vão ouvir mais nada. Quer dizer que as 2 grandes correntes da cultura moderna (que seria a ciência matemática e o protesto subjetivo do artista) essas 2 estão se afastando do que estava lá para trás. .Não é assim com as paisagens de ferro e de alvenaria, construídas que são na dor e no suor? Comentário: Veja, as cidades, a civilização humana é as vezes colocada como o reino da liberdade. Nas cidade, o homem se libertou da sujeição da natureza. É o reino da democracia, do socialismo etc.. Então como que poderia ser um monumento da liberdade este negócio que foi construído na base da exploração do cosmos, da escravidão, Que liberdade tem nisso? . ..a liberdade se são fortalezas. ante a rebelião das coisas e dos elementos Adão vencido? Comentário: Como ela poderia renunciar a liberdade se elas são o abrigo onde Adão vencido pela rebelião das coisas, dos elemento foi buscar refúgio? Os elementos são exatamente a natureza. Adão passa a ter medo da natureza e foge para dentro das cidades. .a vida essa morada transitória, guardiãs de nada mais que nossos ossos? Comentário: A situação urbana é por um lado, a expressão de toda esta ciência técnica. E dentro das cidades surge um tipo de cultura que é especificamente subjetivista como compensação. Como as pessoas estão muito oprimidas ali, então todas as pessoas têm que exprimir os seus sentimentozinhos para sentir que são gente. Mas é uma expressão muito pobre e que vai corromper o sujeito ainda mais. O que quer que venha de bom para a civilização humana, qualquer intenção humana, 75 ela se superpõe à realidade, é demência mesmo. O empregado que tira férias e vai para montanha, ele acredita que está sonhando. E depois quando ele volta para o trabalho, ele acredita que voltou para a realidade. Mas é ao contrário: as montanhas, o mar são realidades que já estavam aí há milênios. Isso não que dizer que temos que acabar com a civilização, com as máquina; mas que temos que colocar as devidas proporções nas coisas. Os mares, as estrelas, os planetas existem mesmo e nós estamos há num mundinho pequenino de civilização colocando as nossas intenções. Mas este não é efetivamente o mundo real. E somente uma forma de adaptação humana à um mundo real que já preexistia. A redução matemática que se faz da natureza é fácil entender que ele é uma reação causa da pelo mundo. Quer dizer, ela é uma espécie de refúgio intelectual no qual o homem, aterrorizado dentro da complexidade da natureza, se esconde dentro de uma versão simplificada que ele mesmo inventou. Isto é uma reação primitiva. Essa simplificação mental que é feita pelo homem para não ver a realidade porque você está como medo dela (vem vez de você estabelecer uma espécie de diálogo para você tentar entender do que está se passando) esta reação não é do mundo moderno; ela sempre existiu no homem. Tem um historiador de arte que observou isso aí: Quanto mais você remontava para trás na historia da arte, as formas de desenho eram mais simplificadas, esquemáticas e geométricas. Porque que o homem primitivo em vez de desenhar o que via, desenhava figuras geométricas? É simples porque ele estava no meio de confusão natural. Tendo medo daquilo, ele recuava para um mundo inventado, geométrico um mundo matematizável (dentro das possibilidades matemáticas que ele tinha). Quando você chaga mais ou menos na época do império greco-romano, você começa a ver que se alcançou aí um certo domínio da natureza que permite que o homem olhe de novo para a natureza, sem medo, e comece a gostar dela. Porém se você avançar mais, quando a civilização urbana cresce e tampa a natureza, aí você começa a idealizar a natureza dada vez mais: daí surge o romantismo essas coisas todas. É uma natureza, uma naturalidade inventada. Quando agente fala em naturalidade inventada, não é só a visão do universo natural onde você tem a introdução do artificialismo. Mas na própria expressão dos sentimentos humanos. Na época de Jean-Jacques Rousseau onde era moda ser sincero, ele inventa emoções que ele não tinha, inventa até pecados que ele não fez em nome de ser sincero. Isso quer dizer que até no contato consigo mesmo, não só com a natureza exterior mas com a sua própria natureza íntima), o homem substitui o inventado ao observado. A pesquisa histórica comprovou que muitas das sacanagens que Rousseau atribuía à si mesmo eram mais uma super-pose de sincero. O pessoal descobriu que ele não era tão ruim quanto ele dizia, quer inventado mesmo. Essa coisa de você tentar parecer pior do que é, essa sinceridade posada, é uma típica invenção deste terceiro estágio da civilização onde a civilização urbana já tampou completamente a natureza. Como você não pode chegar nela, você a inventa. Ora, na mesma medida que você inventa a natureza exterior (como já dizia a divisa alquímica: como é em cima é em baixo) na medida em que você se afastou completamente da natureza sensível e agora você tem que inventá-la você acaba se afastando da sua própria natureza interior e tem que inventá-la. Então você já não sabe mais o que se passa dentro de e você. Você pode inventar uma fantasia lisonjeira ou deprimente. Mas tanto faz, você pouco sabe a respeito de si: a imaginação está inventado tudo. Se você verificar as doutrinas modernas a respeito do inconsciente, existem tantas criações 76 diferentes do inconsciente (Freud, Jung, Reich) que estou seriamente inclinado a acreditar que não tem nenhum santo. Porque ninguém pode observar tudo isto. E pergunto eu: será que um auto conhecimento autêntico seria tão diferente de pessoa para pessoa? Então eu teria um inconsciente freudiano, você teria um inconsciente Reichiano. Inconsciente dever ser mais ou menos igual para todo mundo. Quer dizer, estão tentando pegar a natureza interior do homem desde fora e com uma grade de conceitos mais ou menos inventada: exatamente como da a Física com a Matemática Tem-se que deixar a alma falar. A condição sine qua non para a alma falar é entender que ela não vai falar nada de acordo com a divisão dos conhecimentos que nós inventamos. Quer dizer, a natureza não vai dar hoje para você uma aula de Física, uma aula de química depois uma aula de gramática; ela não vai fazer isso. Então para começar a entender é preciso admitir em primeiro lugar que as nossas divisões universitárias do conhecimento forma inventadas por nós mesmos. E que a natureza é uma só e ela só pode falar de tudo junto. Você é que tem que depois separar e classificar. Mas se você espera que ela fale em qualquer das linguagens, que nós concebemos, para isso, ela não vai falar. Ela vai ter que ter uma linguagem própria que é prévia, que é anterior, que é mais básica do que todas estas divisões. Mas precisamos entender esta linguagem que é a linguagem simbólica. A Ciência Natural (no tempo que os filósofos ainda eram capazes de interpretar algo da ciência natural) era simultaneamente uma ciência espiritual. E os muitos sentidos dos símbolos remetiam os diversos aspectos do conhecimento mesmo. Agente só vai entender a Física de Aristóteles se entender isto aqui. A física antiga podia ser ao mesmo tempo uma teologia e uma psicologia transcendental. O que é psicologia transcendental? É a psicologia dos aspectos superiores, cognitivos do homem. Ora, para o nosso conceito atual de ciência física qualquer consideração de ordem teológica ou de psicologia, transcendental é totalmente extemporânea (porque a física só se ocupa de medir relações matematizáveis: ela entende disso como ciência natural). Bom, por um lado tem uma ciência natural por outro lado tem o estudo da natureza que é por um lado a física, a matemática; e por outro lado existe o estudo do homem que é história, sociologia etc.. E os aspectos espirituais da própria natureza, aonde fica? Não ficam, não tem lugar para eles. Eles não podem ser captados nem pela Física, nem pelas ciências naturais, nem pelas ciência humanas? Porque é mais básico do que essa divisão do natural e do humano. Ela é intrinsecamente inseparavelmente natural e humana. É justamente essa síntese do natural e humano no divino que caracteriza este ciclo pré-moderno. Se você pega a linguagem humana, alguns dos símbolos humanos então é ciência humanas (astrologia história, lingüística etc.) Por outro lado, você tem uma linguagem cósmica (que é a ciência da Física etc.); mas não é bem uma linguagem; é um conjunto de esquemas). Mas quando junta isso aqui? No mundo cartesiano porque a mente e o corpo a coisa extensa não junta. Ora, isso aí é simplesmente uma divisão do saber. E absurdo que essa divisão do saber coincida exatamente com a divisão da realidade. Porque estas 2 coisas não estão realmente separadas. Aonde está o mundo humano (o mundo histórico, da línguas etc.) está dentro do Cosmos chega à nosso conhecimento se não através das estruturas dos conceitos, da linguagem que nós mesmos inventamos para captá-la? Esse é o máximo problema do conhecimento do 77 crianças de depois de um tempo resolveram consultar o Pajé que localizava qualquer pessoa ou coisa desaparecida. O Pajé entrou numa oca reunindo toda a tribo e disse: vamos ficar por aqui, quando terminar a reunião, as crianças estarão aqui na porta. Parece maluquice mas aconteceu exatamente assim e as crianças apareceram. Isto aí é um mito. O rito é baseado em mitos tanto quanto o comportamento dos índios mexicanos. Só que um o mito funciona. outro não. Tem mágica que funciona e tem outras que não. Agora, antropologicamente não há diferença. A Antropologia me parece assim como uma ciência que fosse estudar o casamento fazendo abstração das diferenças sexuais. Faça a abstração das diferenças reais entre os sexos e explique o casamento. Então se você faz a abolição de um dado objetivo, as instituições culturais que você está estudando ficam boiando no ar absolutamente inexplicáveis. E é tudo uma invencionice terrível. A diferença de sexo é uma dado natural (não antropológico, mas biológico) e as instituições todas que o homem criou em cima deste dado pressupõe a existência dele. E não pode ser explicada sem eles. Isso quer dizer que do ponto de vista exclusivamente antropológico e sociológico que faz abstração de um dado real só vai produzir maluquice. Porque os índios do Xingu acreditavam no rito do Pajé que traz as crianças de volta? Porque de fato ele traz as crianças de volta! Então a crença aí pode ser explicada simplesmente pela experiência. Porque os índios do México acreditavam naquela maluquice? Bom, aí você tem achar outra explicação. Você não pode dizer que era simples experiência que os havia persuadido. Podíamos explicar que era um povo tão carregado de angústias e de culpas que só podia conceber um Deus sob forma de um ser terrível que vinha para matar todo mundo. E de certo modo, eles estavam pedindo para vir um Deus e acabar com eles. Quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece. Isso chamava-se auto-enfeitiçamento) Bom isso aí nos permitirá estabelecer uma certa diferença qualitativa entre culturas. Ah, mas diferenças qualitativas em antropologia não existe. Então, o mundo de símbolos e mitos é um modo de instalação na realidade num cosmo físico. Existem modalidades que funcionam e que não funcionam. Ou seja, Alquimias reais e existem falsa alquimias, mitos reais e mitos falsos. Uma coisa que me espanta muito é a popularidade que atingiu a Epopéia de Gilgamesh. Todo mundo está lendo isso e não percebe que é a Epopéia do fracasso espiritual. Gilgamesch se dá muito mal. Ele é uma espécie de anti-Moisés. Ele vai lá atravessar o mar vermelho e morre afogado. Para eles a Epopéia de Gilgamesch é mitologia primitiva como qualquer outra. E o fator qualitativo: ora tem imagem que funcionam e outras não. Essa diferença para a ciências humanas não existe. É a mesma coisa que se você fosse estudar a Física dos séculos passados em distinguir as leis físicas que funcionam e as que não funcionam. Como Por ex.: a geração espontânea. Então é como se hoje pegássemos um livro de biologia e estudaríamos a teoria da geração espontânea e as contestações como se fosse ambas verdadeiras. Isso é demência. Historicamente do ponto de vista histórico das ciências humanas, tanto a doutrina da geração espontânea quanto à sua refutação por Pasteur, são ambos produtos culturais de uma mesma era. Só que antropologicamente, sociologicamente, historicamente, tem o mesmo valor. Isso para mim é a maior prova de que estas ciências são curada na base. Quando você fala ciência humanas, bom mas isso é ciência do homem desligado da realidade, do mundo da linguagem humana como se tivesse boiando no vazio. O livro mais interessante de antropologia do século é de Edgar Morim Le Nature de La Nature; aonde ele faz esse 80 apelo: olha se agente não encontrar um ponto comum aqui, nós vamos ficar tudo louco. Quer dizer, se não se encontrar um elo entre o homem e o Cosmos, a ciência vai tudo para o lixo. Só tem esse elo se você descobre o que há de humano na natureza que é o próprio homem. Ou seja deve haver algo na natureza que de fato nos fala e ao mesmo tempo dever haver dentro de nós certos processos naturais que permitem que se estabeleça este diálogo. E é exatamente este ponto de confluência onde a alma humana passa por processos naturais (que repetem tais e quais os processos da natureza) é justamente disso que fala a alquimia. E a rigor, é disso mesmo que fala a Astrologia. Quer dizer que a astrologia é um pedacinho da doutrina alquímica. E se a astrologia for separada do sentido alquímico, ela não faz o menor sentido. Quer dizer, se você for estudar símbolo planetários fazendo de conta que ele não tem nada a ver com simbolismo terrestres correspondente? A começar pela ligação dos planetas com os metais. Quer dizer que estes metais seriam simbolizados pelos planetas. E onde estão? Estão no seu corpo mesmo. Voltemos para o primeiro texto, segundo parágrafo. ..Estas possibilidades recentes. comunicação. imagem lua e ao mesmo tempo um especial e poderoso tom emotivo. Comentário: Donde vem este significado e este tom emotivo? De acordo com esta expectativa dualística moderna, qualquer significado só pode ter sido acrescentado pelo homem. Ou seja, a natureza seria uma máquina neutra no qual você projeta arbitrariamente o que você quiser. Então entendemos que toda a cultura pós-renascentista é baseada no pressuposto não declarado da inexistência do simbolismo natural. Baseado na idéia de que a natureza nada nos fala; nós é que atribuíamos à ela intenções que ela não tem. É claro que o homem de fato faz isso: inventa e atribui. Mas será que todas são inventadas por nós? Será que não tem um jeito da gente escapar deste duplo engano? Por um lado esta natureza nua e crua constituídas de relações matemáticas. E opor outro lado este falatório humano projetado? A esperança de encontrar isso é se abrir para possibilidades de uma linguagem natural diferente; e sobretudo que tenha como principal característica esta abrangência e múltiplos significados ao mesmo tempo. É isto que diz a leitura alquímica. Isto quer dizer que um fato natural, ele fala alguma coisa. Mas ele não fala em nenhuma linguagem específica. Ele não fala para um indivíduo em particular. E nem para alguma classe particular. Ela está falando ao mesmo tempo para todos os homens, qualquer que seja o tipo de interesse que este homem esteja olhando. Cada um olha para um lado, mas a natureza está falando para todos ao mesmo tempo. Portanto é necessário que o signo do indivíduo tenha a possibilidade de ter todas esta significações ao mesmo tempo e organizadamente. Por isso que a leitura alquímica consiste em você tomar os símbolos não como uma alegoria ou invenção humana mas como uma espécie de plenitude da literalidade. Ou seja, cada símbolo significará tudo aquilo que ele pode significar para todos os homens que buscarem para qualquer ângulo que seja incluindo nisto até as significações embutidas projetadas. Isso que dizer que para o poeta romântico, a chuva pode significar a melancolia da natureza porque ele perdeu a namorada ontem. Talvez ele não esteja totalmente errado. Talvez significa isto também mas só significa para ele. Visto de um outro ângulo pode ter um significado totalmente distinto. Pode representar Por exemplo a fecundação do solo, 81 milhões de coisas. Juntando todos estes significados, obtendo o núcleo que é a chave do todo simbolismo ligado à chuva, aí você pegou o que é o sentido alquímico da coisa. O significado essencial é aquilo que de fato, não poderia deixar de significar no fundo para qualquer homem. Ou seja sem a qual a diversificação de significados subjetivos não seria possível. Neste sentido é que só existe alguns simbolismos que são muito básicos e inequívocos. Por ex.: a luz que é o símbolo dos símbolos. A luz nunca pode significar trevas, ignorância (isso aí é a teoria da tripla intuição). É quando o homem primitivo um dia percebeu que havia luz. Ora, como é que ele percebeu que existe sol sem na mesma hora ter percebido a distinção entre enxergar e não enxergar? Ou seja este é um dado externo da natureza que não pode ser percebido sem a percepção simultâneas de algo que está se passando dentro do sujeito. Os demais dados da natureza não são assim. Por ex.: eu posso perceber que existe lobo, árvore, urso tudo isso eu posso perceber de fora mas a luz eu não posso. Perceber luz é me perceber. E de maneira indissolúvel e inseparável. E esse símbolo ele vira a ligação triangular entre sujeito, o objeto e o ato de conhecer. Esta ligação é a base da nossa linguagem, do nosso raciocínio. Nós não falamos, não pensamos e não tiver este triângulo. No caso da luz a identificação do sujeito com o objeto é inseparável. Nos outros objetos não; nós não vimos os outros objetos diretamente mas nós os vemos pela luz que toca neles e chega até lá. O que é ver um objeto? é ver o reflexo da luz refletida neles. Se sumir a luz, os objetos somem também. A verdadeira presença do mundo externo é dada pela luz e não pelos objetos. O simbolismo natural do sol é incontestável. Mas tem outras coisas que você pode demonstrar também que são simbolismos naturais Por ex.: a Lua. Como é que você faz para perceber a Lua? Se cada vez que ela vem ela está com uma cara diferente É impossível você perceber a Lua se você não perceber que no mesmo objeto pode haver várias formas. Não tem jeito de você perceber Lua a não ser juntando a unidade da substância com a diversidade das aparências. Agora, tem alguma outra cosia no mundo que seja assim? Nenhuma. Nada tem um ciclo abarcado no tempo onde tem uma sucessão de aparências que depois se repete. Só Lua. Ciclo é sucessão de mudanças que oculta uma permanência da estrutura. O sol. muda de aparência mas esta aparência não é cíclica (conforme o tempo esteja chuvoso o sol pode estar mais ou menos brilhante.) Mas não tem o ciclicidade; esta mudança é irregular). Quando a pessoa percebeu a diferença entre luz e treva percebeu automaticamente a diferença entre enxergar e não enxergar. Ele não o fez por raciocínio desenvolvido no tempo na mesma hora. E com a Lua? Não pode nem ter sido na mesma hora e nem por um sujeito sozinho. Precisa de um testemunho porque é uma coisa que se desenvolve no tempo. Pode ser esquecida, precisa ser anotada para que se torne um patrimônio coletivo. Então a descoberta da Lua implica em consciência da temporalidade, consciência da ciclicidade, da coletividade, consciência de causa e feito. Então a descoberta da Lua já tinha algo a ver com toda a armadura lógica desenvolvida. Ao passo que a descoberta da luz não, ela se tema a ver coma a estrutura básica que permite fundamenta o pensamento lógico do homem. Mas é um fundamento simultâneo. No meu livro Astrologia e Religião, no capítulo Lógica e Astrologia vocês podem ler sobre isso. O pensamento humano no mundo dos símbolos não é separado da natureza. Ao contrário, a natureza está ensinando à ele a pensar logicamente. Através deste luminares no céu. Platão diz que: através do Sol, Lua e 82