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Guias e Dicas
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Curso Guerra Cultural - Olavo de Carvalho Aula 2, Transcrições de Cultura

Transcrição do curso ministrado pelo filosofo Olavo de Carvalho.

Tipologia: Transcrições

2019
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Guerra Cultural História e Estratégias
OLAVO DE CARVALHO
Aula 2
27 de setembro de 2016
[versão provisória]
Para uso exclusivo dos alunos do Seminário de Filosofia.
O texto desta transcrição não foi revisto ou corrigido pelo autor.
Por favor, não cite nem divulgue este material.
Então vamos lá. Boa noite a todos, sejam bem-vindos.
Hoje, segundo o programa, temos que expor a teoria da ação histórica. Quem é o sujeito da história e
quem é, portanto, o sujeito da guerra cultural. Mas, para introduzir esse assunto, vamos partir de uma
constatação do presente.
Quando nós observamos a atuação das forças que emergiram do antipetismo a partir de 2013-2015, e
que se expressam através da internet, de blogs, de algumas revistas, impressas inclusive, e de várias
candidaturas – a vereador, a deputado etc. temos a impressão de que todo esse pessoal imagina estar
dentro de uma disputa política em um grêmio de ginásio onde tudo o que interessa é falar
relativamente bem, impressionar um pouco a plateia, e tocar nos tópicos fundamentais do pensamento
liberal e conservador.
Isso não é política de maneira alguma. Isso é apenas um teatrinho muito superficial, muito bocó, que
reflete o fato de que o público liberal e conservador toma como seus orientadores e gurus tipos como
Rodrigo Constantino, Reinaldo Azevedo, entre outros. É um fenômeno semelhante ao que aconteceria
se, em 1964, destronados pelo golpe militar, os comunistas tomassem como seus mentores, guias e
líderes intelectuais o Luis Fernando Veríssimo e o Chico Buarque. Em vez de Caio Prado Junior,
Jacob Gorender, dentre outros tantos. Ou seja, existe uma confusão pública, hoje, entre o que é um
mero formador de opinião e o que é um estudioso especializado no assunto.
O amadorismo impera de uma maneira absolutamente catastrófica. Houve até quem promovesse um
encontro próximo para ouvir os maiores pensadores conservadores do Brasilentão estava eu,
Rodrigo Constantino, e outros tipos assim. Olha, não é um problema de eu me sentir ofendido porque
me nivelaram a um Rodrigo Constantino porque para mim se me nivelarem até com um macaco
nem sempre é injusto –, mas é um problema de praticidade, de confundir o mero propagandista de
ideias com um efetivo analista estratégico. A diferença é monstruosa gente.
Por exemplo, ninguém numa indústria confunde o departamento de produção com o departamento de
vendas ou propaganda, ninguém confunde isso aí. O sujeito não vai, na hora de montar o equipamento
seja um computador, ou um automóvel etc. –, perguntar para o sujeito da propaganda como é que
deve ser o carro. Isso simplesmente não se faz. Primeiro é preciso ter o produto. A venda e a
propaganda são um negócio posterior mesmo que se aceite alguma sugestão, por uma questão de
educação pode-se até perguntar ao cara da propaganda como deve ser o produto e tal, mas ele vai se
limitar aos aspectos “cosméticos”, a sugestão não irá entrar na mecânica, no funcionamento. Mas esse
erro é geral e endêmico entre os liberais e conservadores brasileiros.
Quem são as melhores inteligências desse meio? Por exemplo, o Luis Felipe Pondé, ele entende de
teorias, de ideais, de valores, etc., mas se perguntar para ele sobre estratégia, ele não entende
absolutamente nada. Quantos livros ele já leu sobre a KGB? Juro que nenhum! Ele leu Karl Marx,
Edmund Burke, Mises etc. – que é o que o pessoal está lendo e achando que entenderam tudo.
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Guerra Cultural – História e Estratégias

OLAVO DE CARVALHO

Aula 2 27 de setembro de 2016

[ versão provisória ] Para uso exclusivo dos alunos do Seminário de Filosofia. O texto desta transcrição não foi revisto ou corrigido pelo autor. Por favor, não cite nem divulgue este material.

Então vamos lá. Boa noite a todos, sejam bem-vindos.

Hoje, segundo o programa, temos que expor a teoria da ação histórica. Quem é o sujeito da história e quem é, portanto, o sujeito da guerra cultural. Mas, para introduzir esse assunto, vamos partir de uma constatação do presente.

Quando nós observamos a atuação das forças que emergiram do antipetismo a partir de 2013-2015, e que se expressam através da internet, de blogs, de algumas revistas, impressas inclusive, e de várias candidaturas – a vereador, a deputado etc. – temos a impressão de que todo esse pessoal imagina estar dentro de uma disputa política em um grêmio de ginásio – onde tudo o que interessa é falar relativamente bem, impressionar um pouco a plateia, e tocar nos tópicos fundamentais do pensamento liberal e conservador.

Isso não é política de maneira alguma. Isso é apenas um teatrinho muito superficial, muito bocó, que reflete o fato de que o público liberal e conservador toma como seus orientadores e gurus tipos como Rodrigo Constantino, Reinaldo Azevedo, entre outros. É um fenômeno semelhante ao que aconteceria se, em 1964, destronados pelo golpe militar, os comunistas tomassem como seus mentores, guias e líderes intelectuais o Luis Fernando Veríssimo e o Chico Buarque. Em vez de Caio Prado Junior, Jacob Gorender, dentre outros tantos. Ou seja, existe uma confusão pública, hoje, entre o que é um mero formador de opinião e o que é um estudioso especializado no assunto.

O amadorismo impera de uma maneira absolutamente catastrófica. Houve até quem promovesse um encontro próximo para ouvir os “maiores pensadores conservadores do Brasil” – então estava eu, Rodrigo Constantino, e outros tipos assim. Olha, não é um problema de eu me sentir ofendido porque me nivelaram a um Rodrigo Constantino – porque para mim se me nivelarem até com um macaco nem sempre é injusto –, mas é um problema de praticidade, de confundir o mero propagandista de ideias com um efetivo analista estratégico. A diferença é monstruosa gente.

Por exemplo, ninguém numa indústria confunde o departamento de produção com o departamento de vendas ou propaganda, ninguém confunde isso aí. O sujeito não vai, na hora de montar o equipamento

  • seja um computador, ou um automóvel etc. –, perguntar para o sujeito da propaganda como é que deve ser o carro. Isso simplesmente não se faz. Primeiro é preciso ter o produto. A venda e a propaganda são um negócio posterior – mesmo que se aceite alguma sugestão, por uma questão de educação pode-se até perguntar ao cara da propaganda como deve ser o produto e tal, mas ele vai se limitar aos aspectos “cosméticos”, a sugestão não irá entrar na mecânica, no funcionamento. Mas esse erro é geral e endêmico entre os liberais e conservadores brasileiros.

Quem são as melhores inteligências desse meio? Por exemplo, o Luis Felipe Pondé, ele entende de teorias, de ideais, de valores, etc., mas se perguntar para ele sobre estratégia, ele não entende absolutamente nada. Quantos livros ele já leu sobre a KGB? Juro que nenhum! Ele leu Karl Marx, Edmund Burke, Mises etc. – que é o que o pessoal está lendo e achando que entenderam tudo.

O que estamos observando é: que apesar da imensa força popular do movimento liberal-conservador a partir de 2013, ele está sendo facilmente engolido e neutralizado por forças de esquerda. Pois, essas forças dominam todo o aparato superior, toda a elite – universidade, mídia, administração federal, sistema judiciário etc. É uma elite muito pequena, mas que detém na mão todos os “botões” que fazem a sociedade funcionar. Contra isso nenhuma maioria tem poder algum – se observarmos onde quer que os comunistas tenham tomado o poder, eles sempre eram a minoria, mas a minoria que tinha nas mãos os instrumentos de ação e contra os quais a maioria nada pode.

A maioria, por definição, é uma massa desorganizada, esparramada para tudo quanto é lado. E, que quando consegue agir de uma maneira unificada – por exemplo numa eleição, onde a população inteira é convocada para dizer um ‘sim’ ou ‘não’, e ela comparece aonde ela diz um ‘sim’ ou ‘não’ – [o faz de maneira extremamente controlada e premeditada, para decidir sobre questões colocadas pelo governo], isto é o máximo de ação integrada que a massa consegue. A massa desorganizada só age quando é convocada pelo próprio governo.

E eu vejo que se não forem tomadas providências urgentes, toda a massa liberal e conservadora no Brasil será dispersa e será integrada dentro de planos esquerdistas. Como aconteceu durante o processo de impeachment da Dilma. Quem ganhou com o impeachment da Dilma? A esquerda moderada e uma parte do próprio PT. E o pessoal liberal e conservador ganhou o quê? Nada, absolutamente nada, o poder deles não aumentou nem um milímetro. A autoria, o protagonismo daquilo, foi passado da massa popular para os velhos políticos de sempre, para o estamento burocrático, o qual evidentemente está comprometido com a esquerda até a goela.

Em vista dessas coisas é que eu vejo a urgência desse tipo de esclarecimento, a urgência deste mesmo curso. Para entender o que é guerra cultural é preciso sair da esfera da política – que aparece na mídia, na televisão, sobre disputa eleitoral e essa coisa toda – e olhar o processo a mais longo prazo. Este longo prazo nos coloca diante da questão do que é a ação histórica, ou seja, uma ação que afeta o curso da história – isso é fundamental.

É possível, por exemplo, vencer uma eleição, e até mesmo começar uma revolução, sem que isso mude absolutamente nada. Como foi o caso do nosso movimento da independência, a Inconfidência Mineira, que foi historicamente inócua, e que só depois, já tardiamente, serviu como um símbolo retroativo, quando houve um efetivo movimento pela independência. Que aliás, veio de cima, do próprio governo. Ou seja, pegaram aquele movimento fracassado, inócuo, e usaram retroativamente como um símbolo, e as gerações seguintes, idiotas, acreditaram que aquilo teve uma efetiva importância histórica.

Eu lembro que nosso grande historiador, o José Honório Rodrigues – que era um homem da esquerda, porém um tremendo historiador – lembrou em um artigo que, na Suíça, o episódio de Guilherme Tell, havia sido apagado dos livros de história porque chegaram a conclusão de que foi algo inócuo. Um negócio meramente simbólico que aconteceu ali numa cidadezinha, que ninguém deu importância e, portanto, não faz parte da história, mas do folclore por assim dizer.

Desse modo, quando falamos em ação histórica estamos nos referindo a ações que mudam o curso da história pelo menos de um país inteiro. Mudar o curso da história significa criar uma situação que é irreversível, que não há como voltar. Por exemplo, quando Trotsky mandou matar toda a família imperial da Rússia. Não tem como tirar os caras do túmulo, isso não vai voltar mais. Ou quando Hitler invade a URSS, ali criou uma situação que não tem mais como voltar, pois até aquele momento havia um jogo de diplomacia, de colaboração e concorrência simultânea entre a URSS e a Alemanha Nazista, porém, agora acabou, agora é guerra, não tem como voltar atrás.

Essas situações, que são criadas para não voltar mais, e que afetam o curso das coisas de uma vez para sempre – isto é importante, é para sempre –, é isto que nós chamamos de ação histórica. Por definição, uma ação só tem alcance histórico quando ela ultrapassa a duração da vida dos seus

Então, essa continuidade ao longo dos tempos exige a formação de personalidades adequadas. E quando digo formação da personalidade, falo de algo que vai até o fundo da alma do sujeito. Não de convencê-lo de duas ou três ideias, de jeito nenhum. Mas, de moldar uma personalidade inteira ao ponto de o indivíduo sacrificar tudo por aquilo.

Se vocês forem estudarem a história da Maçonaria, observem os juramentos maçônicos. Por exemplo, há um juramento que diz o seguinte: “se você contar os nossos segredos, iremos abrir seu peito, arrancar o seu coração, e fazer mais isto e mais aquilo com você” – e o sujeito assina isso. É por isso que a Maçonaria dura, não tanto quanto a Igreja Católica, mas dura também. Maçonaria, Igreja Católica e partido comunista são exemplos de organizações que nós temos que estudar porque elas são exemplos de ação histórica – e ação histórica planejada para durar mais do que a vida dos seus primeiros protagonistas. Isto é, uma ação programada para continuar depois que os seus primeiros agentes morrerem.

Vocês conhecem alguém no mundo liberal e conservador inteiro que esteja pensando nesses termos? Não, essa ideia nunca lhes ocorreu. Se disserem a eles que devem fazer planos para cem ou duzentos anos, eles vão rir na sua cara, vão achar que isto é irrealista. Mas, só isto é realista. Só este tipo de ação prossegue e chega aos seus objetivos, o resto é tudo superficial, é “bolha de sabão”.

Por exemplo, se compararmos os partidos políticos brasileiros, veremos que alguns têm um senso de continuidade – sendo o partido comunista o que mais tem senso de continuidade, que oficialmente já nem existe, mas que continua agindo. Se nos perguntarmos sobre algo chamado ‘PT’ – que se formou numa certa época, para uma certa finalidade, e que já a cumpriu, e pode ser dissolvido a qualquer momento sem que isso faça a menor diferença – todos esses partidos são organizações de fachada, são nomes que se pode adotar para fins de propaganda, mas que não mudarão em nada a composição do produto.

Comparem isso com as famílias dinásticas. Estudem a história dos Habsburgos. Ou até mesmo as das que não sejam famílias reais, [estudem a história] dos Rothschild, que estão aí já faz quatro séculos e continuam mandando. [Estudem a] dos Rockfeller, que tem mais de cem anos, não são tão velhos mas continuam mandando. [A] dos Morgan, entre outros. Então vocês começarão a entender o que é a ação histórica. E a entender que, no curso de uma vida humana, se pode fazer muito pouco para alterar o curso das coisas se não houver a garantia da continuidade.

Uma segunda conclusão a que vocês vão chegar, é a resposta à pergunta: “quem são os agentes históricos, quem age na história?”

Por exemplo, temos livros chamados de “História do Brasil”. O Brasil age historicamente? Não. “Brasil” é apenas o nome de um território onde as coisas estão se passando, é o nome do cenário. Não dos agentes. Por quê? Porque os verdadeiros agentes da ação histórica foram trocados muitas vezes

  • tinha a Casa Real, e de repente houve uma conspiração militar, e que continuaram agindo durante certo tempo, depois se formou uma força regional no Rio Grande do Sul que toma o poder sobre o país inteiro, e que já está também dissolvido a essa altura, e assim por diante. Ou seja, há uma sucessão de agentes históricos de curta duração. É a mesma coisa que dizer: “não há nenhuma história do Brasil”. Mas sim várias ações históricas, separadas, de curta duração – e isto é tudo que nós chamamos de história do Brasil.

Se o sujeito disser: “ah, mas os Estados são agentes”. Existe, por exemplo, uma história da França? Não, de jeito nenhum. Os Estados nunca são os agentes históricos. Eles são a estrutura administrativa e militar da qual os agentes históricos se utilizam quando conseguem se apossar deles. Isto é, o verdadeiro agente histórico nunca é apossado por ninguém, ou ele existe e continua agindo, ou é extinto. Porque, por exemplo, se uma organização que está agindo historicamente é engolida por outra, o agente histórico passa a ser esta segunda organização e não mais a primeira. Portanto, as nações não são agentes históricos; os Estados não são agentes históricos.

Agora, vejamos as classes sociais, como pretendia Marx. É possível uma classe social ter ação unificada e consciente ao longo das eras? Tanto ao proletariado, quanto à burguesia, ou qualquer outra classe? Isso é absolutamente impossível. Quando se fala, por exemplo, a ideologia burguesa: quer dizer que os burgueses, os proprietários dos meios de produção, se reuniram para discutir quais eram os seus interesses, para em seguida contratar intelectuais que iriam defender esses interesses? Eles nunca fizeram isso, seria materialmente impossível. Falar de ideologia burguesa é falar de uma ideologia que é análoga aos supostos interesses dessa classe, que às vezes os traduzem de maneira mais ou menos perfeita.

Mas uma classe social inteira ser agente da história é impossível pelo próprio número de pessoas que a compõe. Além disso, uma classe social é por definição uma entidade pública. Existe um proletariado secreto? Uma burguesia secreta? Seria possível existir isso? Ou seja, existe os proprietários dos meios de produção, mas ninguém sabe quem são eles. Isso não é possível. Portanto, eles estão permanentemente expostos a visão pública e não há nenhum meio de fazerem planos secretos para continuarem ao longo do tempo. Mas, dentro da burguesia pode haver alguns agentes históricos que tenham esta continuidade e perseverança – um exemplo: famílias.

Quando analisamos mais profundamente a Revolução Francesa por exemplo. Vemos que grande parte das famílias que enriqueceram depois da revolução, e se tornaram a classe burguesa, eram de origem aristocrática. Ou seja, é a mesma classe anterior que passa a reinar por outros meios, simplesmente trocaram um meio de poder por outro meio de poder, mas são ainda os mesmos grupos.

São estas entidades e grupos que devemos estudar – aquelas cuja ação continua ao longo do tempo e que pode transcender a duração dos seus primeiros agentes por uma, duas, três, dez gerações. Eu não sei os Rothschild em que geração eles estão, mas começaram quatro séculos atrás. E a família real britânica, a quanto tempo estão lá? Há séculos. Estas são as entidades que detém o poder, somente estas – o resto é tudo fachada, é tudo impressão, sobretudo o sujeito que é eleito ao cargo eletivo de presidente.

Imaginem o seguinte: o sujeito é eleito presidente dos EUA e há funcionários que estão trabalhando ali há trinta ou quarenta anos, e que tem milhões de informações que ele não tem e não terá jamais. Ou seja, essa classe dos funcionários se for capaz de se reproduzir ao longo do tempo, ela é quem detém o poder. E o presidente é claro, tem alguma influência, mas só se ele tiver o apoio dela. O que aconteceu com o Fernando Collor de Mello? Foi eleito, o povo votou nele, mas pensem bem: o funcionalismo público o aceitou? Nem por um único dia. Os funcionários estavam lá fazia mais tempo do que ele. E quem ganhou? Os funcionários – será sempre assim.

Portanto, eleger um sujeito para um cargo eletivo, não significa absolutamente que se está entregando a ele o poder, só está entregando a ele o poder nominal. O que é o poder nominal? Ele assina a coisa, e é ele o responsável, mas não quer dizer que ele seja o autor. Ele não é o autor, mas eventualmente é o culpado. Uma das principais funções de um presidente da república é ser o bode expiatório de decisões que ele não tomou absolutamente, e que às vezes ele nem compreende.

Vocês sabem que durante momentos aflitivos da história americana, por exemplo, o Barack Hussein Obama nem mesmo comparecia ao conselho de guerra. Ninguém nem sabia onde ele estava – estavam lá os generais, os secretários de estado discutindo tudo, tomando decisões, e o Barack Obama ausente, alheio às discussões.

Se estudarem a história do PT, verão que um cidadão chamado Luiz Inácio Lula da Silva tem uma característica: enquanto se desenrolam as assembleias do partido, ele saia para tomar um cafezinho, e quando terminava, ele voltava e perguntava o que eles haviam decidido, daí ele “vestia a camiseta” e saia repetindo aquilo. A influência dele sempre foi muito pouca, sempre foi mais um símbolo condensador do que um líder efetivamente. Como símbolo condensador ele foi de eficiência extraordinária. Porém, como símbolo condensador acabou se demonstrando que ele não tinha de fato

O Stalin era mil vezes mais inteligente. Não só do que o Hitler, mas mais do que todos os governantes do mundo. Era o único com visão de longuíssimo prazo, provavelmente o maior estrategista da história humana – isso não quer dizer que eu o admire moralmente, mas admirar intelectualmente não tem como deixar de fazer, é o sujeito que entendia como as coisas funcionavam e que sabia mudar a sua política para o inverso do dia para a noite. [Ele sabia] sobretudo explorar as fraquezas de seus inimigos.

Quando Hitler invadiu a Rússia, a URSS naquele momento só tinha armas de longo alcance – armas estratégicas, ofensivas – não tinha meios de se defender, ela precisava rapidamente fazer armas menores para um combate de rua. E de onde eles tiraram dinheiro para fazer isso? Do EUA. Pois eles não tinham dinheiro. O EUA financiou a vitória da URSS, e entregou a ela metade da Europa. Portanto, dizer que o USA ganhou a guerra [está errado]. Eles ganharam contra a Alemanha, mas perderam contra a URSS.

Então, são essas coisas que a gente tem que estudar. E, é preciso ver que os meios de ação da política eleitoral, da propaganda, etc., são tão diferentes da política profunda que é como se fosse outra coisa completamente diferente, coisa de outra natureza.

Por exemplo, criar movimentos populares na base da propaganda, criar congressos, publicar livros, etc., tudo isso é muito bom. Mas, faça as seguintes contas: uma vez, alguém estava discutindo corrupção policial, e eu disse: “quantas pessoas uma quadrilha de criminosos precisa infiltrar numa delegacia para paralisa-la completamente? Precisa comprar todo mundo? Não, só precisa comprar um. Só compra o escrivão. Um escrivão paralisa uma delegacia inteira. Por quê? Porque ele some com os papéis, ou os modifica. Então, pode até haver um bom delegado, bons policiais, bons investigadores, bons soldados, tudo – nada vai funcionar”. Isto aí o movimento comunista sabe a mais de 150 anos. O sujeito pode criar uma baita organização de massas, com recursos, com propagandas, etc., mas basta infiltrar um sujeito lá para paralisar tudo, modificar o sentido de tudo.

Ora, quantas pessoas vocês conhecem no meio conservador e liberal que estão preocupados em saber quem aqui é um agente comunista? Ninguém, eles acham até feio alguém se preocupar com isso, eles acham que isso é paranoia, teoria da conspiração.

Vocês estão entendo porquê que mesmo com uma força popular monstruosa, liberais e conservadores acabam perdendo? Eles simplesmente não entendem como a coisa funciona. A infiltração é o mecanismo principal de atuação dos comunistas desde que eles existem. A coisa é a seguinte: se o sujeito está na minoria, ele não pode agir com as próprias mãos, tem que agir com a mão do vizinho. É a regra do Lênin: “se você tem quatro inimigos, você se alia com três contra um, depois com dois contra um, depois com um contra um, e no fim você derrota o último”. Portanto, alianças e infiltrações são mecanismo absolutamente essenciais sem os quais a ação comunista jamais poderia ter alcançado o sucesso que alcançou.

Ora, onde se deve infiltrar pessoas? Por exemplo, as vezes interessa – se se trata de um governo – de infiltrar uma única pessoa, e colocá-la perto do governante, perto do homem que toma as decisões. Este infiltrado jamais vai abrir a boca a favor do comunismo, nunca na vida dele. Ele é um funcionário como qualquer outro, só que nos momentos decisivos ele vai sugerir certas decisões que favorecerão o movimento comunista na sua totalidade. É o caso por exemplo do Harry Hopkins, no EUA, onde o sujeito era tão próximo do Presidente Roosevelt que ele morava dentro da casa branca, e este cara era um homem da KGB. Então, basta isso para modificar radicalmente o curso das coisas.

Por exemplo, o ataque a Pearl Harbor. O governo inteiro estava informado de que o ataque ia acontecer, e havia todos os meios de aplacar o governo japonês – pois o governo japonês estava com certas reivindicações inteiramente justas, e estava sendo prejudicado por decisões internacionais do EUA – e a coisa mais fácil seria fazer uma paz antecipada com o Japão. Mas, por conselho do Harry Hopkins, o Roosevelt prosseguiu no curso de ação anti-japonesa até que aconteceu o que aconteceu,

pois era preciso que o EUA entrasse na guerra para defender a URSS. Ou seja, um sujeito modificou todo o curso das coisas. Não adianta ter a maioria, não adianta ter um belo sistema de propaganda. É preciso saber quem é quem, e sobretudo, a quem o sujeito dá ouvidos, quem são os seus conselheiros.

Por exemplo, quando estávamos na Colômbia. Lá estava havendo uma eleição, e tinha dois candidatos: um era o tal do Antanas Mockus – que era um personagem ridículo na verdade, uma espécie de sparring , estava lá para apanhar o coitado – e tinha do outro lado o Juan Manuel Santos. E nós conhecemos um cidadão que era o principal assessor do Juan Manuel Santos – esqueci o nome dele, ele não era colombiano, era venezuelano – mas era um indivíduo com uma concepção totalmente mercadológica da política, do tipo do pseudo-esperto, que achava que tudo quanto é tipo de trapaça é legítimo desde que fosse para ganhar a eleição etc. – se via que ele não estava muito bem-intencionado

  • e ele estava muito próximo do Juan Manuel Santos.

Na época, eu confesso que não percebi até que ponto ia isto. O Juan Manuel Santos se elegeu com o lema “ ¡NO MÁS FARC! ”, aonde ele ia o pessoal gritava isso na rua. 97% da população colombiana queria a extinção das FARC – as FARC dominavam naquela época 1% ou 2% do território, estava lascada, acabada militarmente – e parecia que no futuro eles iam tudo para cadeia, iam desaparecer. E o Juan Manuel Santos propôs um acordo de paz. Não se propõe um acordo de paz com um inimigo que já está derrotado, mas foi exatamente isso o que ele fez. Este acordo de paz transformou as FARC em um partido político, e em organizações comercias legítimas, de modo que eles continuam lá vendendo droga para tudo que é lado, fazendo dinheiro que não acaba mais, e em breve concorrerão as eleições com grandes chances de vitória.

O Juan Manuel Santos foi posto lá para isso. Ele e o Juan José Rendón, o assessor dele. E eu estava lá e não previ isso, me deixei envolver na atmosfera de entusiasmo da eleição. Eu estava fazendo conferências e, evidentemente, sem querer interferir diretamente na política colombiana, eu acabei favorecendo a candidatura do Juan Manuel Santos. O ambiente que cercava o Santos não me pareceu ter uma única pessoa honesta, parecia ter só bandido. Eu falava: “antes bandidos pacíficos do que bandidos armados” – análise errada, completamente errada.

Quer dizer, basta colocar um sujeito no lugar certo para virar toda a política de cabeça pra baixo. No Brasil não tem ninguém pensando nisso.

Desse modo, quando vocês virem muita propaganda liberal-conservadora, não liguem muito para o que está sendo dito. Se o sujeito falar “ah estamos aqui para fazer o livre mercado etc.” vocês investiguem quem está dando o aparato material para isso, porque no fundo é só isso que interessa: qual é a companhia de informática que esta por trás, qual é a agência de propaganda etc. Estes são os que conduzem o processo. Não são os líderes – este é critério nº 1.

Alguém já tinha avisado vocês disso? Não, ninguém vai avisar.

Vejam, os slogans lançados em público, os ideais lançados, é claro, que eles são uma parte do processo. Mas, eles não são a parte substantiva. E para vocês saberem quem está conduzindo o processo, vocês têm que perguntar que resultado produziu, e daí vocês juntam os pontos – olha aqui está todo o processo, e aqui está o resultado final.

A massa de pessoas que estava na rua entre 2013-2015, dava a impressão de que todas as forças de esquerda iam ser eliminadas, varridas do cenário, ia sumir todo mundo, não ia sobrar ninguém. No entanto, todas sobreviveram, ainda dominam todo o aparato cultural brasileiro, e pior, a partir dessa derrota que eles sofreram – e isto nós não podemos negar, a saída da Dilma foi uma derrota – eles resolveram endurecer e falar grosso. Isso quer dizer, por exemplo, que a hegemonia comunista nas universidades se tornou muito mais intransigente nos últimos tempos. E o anti-comunismo está proibido em todo o território nacional. Do mesmo modo está proibido na mídia – o sujeito pode falar mal de comunistas de outras épocas, por exemplo, pode falar mal de Stalin, não tem nenhum

gaullista francês, ou qualquer outro que tenha esse processo de reprodução da personalidade? Não. Então significa o seguinte: no presente momento só tem um único agente no mundo, e este agente é o movimento comunista – não há mais nenhum. Existem, é claro, as famílias dinásticas. Porém, alguém as persuadiu a mudar de lado, e hoje elas colaboram com o movimento comunista, com invasão islâmica etc. É claro, que eles estão zelando pelos seus interesses em primeiríssimo lugar, eles continuam como sempre, basta eles descobrirem que entrar numa guerra ideológica com o comunismo não é vantagem.

Por exemplo, existe a famosa entrevista do dirigente da Fundação Rockfeller dizendo: o nosso objetivo é unificar a URSS e o EUA – isso aí ele falou a mais de 30 anos atrás. E naquele momento havia grandes estudiosos trabalhando para esse fim – existe um livro do Pitirim Sorokin, o grande sociólogo russo-americano, chamado Rússia e Estados Unidos , que é praticamente um estudo preparatório para essa unificação. Do mesmo modo, se vocês pegarem o livro do Arnold Toynbee, Um Estudo da História , é um estudo preparatório para implantação de um governo mundial. Não é uma obra de história, é uma obra de estratégia. Quando ele diz que, para o sujeito derrubar uma civilização, ele precisa jogar contra ela um proletariado interno e outro externo – nos vemos que isso as vezes aconteceu durante a história – isso passou a ser praticado contra o império britânico no EUA. Mas nunca foi praticado contra nenhuma nação comunista.

Em contraposição ao movimento comunista que já tem um século e meio de continuidade – de existência contínua mas que mudou muitas vezes o seu discurso, sua ideologia, etc., porém ainda perseveram na sua identidade, pois hoje eles podem estar lutando pela socialização dos meios de produção, amanhã pela liberação da mulher, ou pelo gayzismo, ou pelo abortismo, ou seja lá o que for, já que os agentes são os mesmos e a concentração de poder é a mesma – e que é um movimento unificado, de escala mundial, que tem mais agentes a seu serviço do que qualquer outra organização jamais teve; contra estes, só vemos reações pontuais e descontínuas no mundo inteiro.

Então, isso quer dizer o seguinte: ele, [o partido comunista], sempre levará vantagem, inclusive podendo tirar vantagens de suas próprias derrotas, podendo mudar completamente de identidade externa sem que isso o afete no mais mínimo que seja. Agora, por exemplo, dizem que o Putin está criando uma nova KGB, mas quando foi que acabou a outra? Nunca acabou. Ele está simplesmente mudando a fachada de novo. Quantos nomes já teve a KGB? Vinte, desde que ela existe. Sempre mudando de identidade, mas são sempre as mesmas pessoas. Quando vemos as pessoas que estão subindo ao governo em países da Europa Oriental com um discurso vagamente de esquerda, estes são os filhos e netos dos dirigentes comunistas. Ou seja, dentro do movimento comunistas existe o princípio dinástico também.

Então, quem quer que leve a sério uma luta anticomunista tem que pensar nisso, meu Deus do céu. Se não existir uma organização desse tipo para contrapor o comunismo, ele vai sempre vencer. Ele pode ter derrotas temporárias, quase todas elas causadas pelo fato de que a economia comunista é impossível, mas o movimento comunista não é. Jamais conseguiram criar uma economia comunista e jamais vão conseguir, mas conseguem criar um poder comunista cada vez mais amplo, cada vez mais profundo, cada vez mais indestrutível, inclusive hoje.

Se for para mudar a ideologia cento e oitenta graus, como o Putin está fazendo, eles o farão sem nenhum escrúpulo, isso não é problema. Não se pode esquecer que o tipo de formação específica, dada pelo partido comunista, tem em comum com os outros [agentes históricos] – como a católica, como a maçônica etc. – a sua continuidade, a sua exigência, e o cerco da personalidade. Mas, tem algo mais que [o partido comunista tem que] os outros não tem. Que é a formação de psicopatas, de pessoas cuja a moralidade obedece a um único princípio: a glória do partido. O partido se torna “o supremo bem” e tudo que seja para favorecer o partido é bom, e tudo que é o contrário é mau, é só isso que existe. Isso quer dizer que, para um comunista, a perspectiva de matar um milhão de pessoas pode ser uma obrigação moral – a obrigação de morrer então nem se fala.

Vejam, até a Roxane me lembra que no tempo que ela estava sobre a influência de trotskistas, eles passavam a seguinte ideia: “se você perdeu tudo na briga com o adversário, você pode conquistar uma vitória: pela sua morte, a sua morte é uma vitória”. Isto é, o adversário estará carimbado como sendo seu assassino evidentemente. Então, com isso aí, o partido ganhou – se o sujeito morre a serviço do partido, por pior que seja a sua condição, isto aí é uma vantagem para o partido –, esta arma ninguém pode tirar da sua mão. Vocês conhecem algum liberal ou conservador que pense assim: “se não der para fazer nada, tem uma coisa que eu posso fazer, eu morro”? Não, mas comunistas são todos educados para isso.

O esvaziamento dos sentimentos morais e sua troca pela “ideia da onipotência do partido”, é evidente que favorece os psicopatas. Não é que eles vão transformar as pessoas em psicopatas – é claro, que não, não dá para fazer isso – mas só psicopatas podem subir na hierarquia do partido, os outros vão sendo deixado de lado, ou então viram meros tarefeiros, como eles chamam – o sujeito está lá para obedecer às ordens e não dar palpite.

Então, se estudarmos todas as lideranças comunistas do mundo, todos eles são psicopatas, do primeiro ao último. E o psicopata tem a seguinte característica: ele não tem os sentimentos morais, mas ele sabe imitá-los. Experiências feitas pela equipe do doutor Andrew Lobaczewski demonstram que se ao se mostrar cenas “tocantes” a uma pessoa normal, enquanto se está fazendo um scan do cérebro dela, se vê que as áreas ativadas no cérebro dessa pessoa são as áreas emocionais. Mas, no psicopata não. Neste, são as áreas linguísticas. Ou seja, a pessoa normal está participando de uma emoção, já o psicopata está aprendendo signos, está aprendendo uma linguagem. E pode chegar no domínio dessa linguagem ao ponto de não apenas persuadir, mas ao ponto de ser mais persuasivo que o sujeito que reflete uma emoção normal.

Eu acho que todo mundo viu um vídeo de uma manifestante que estava soprando uma língua de sogra na cara de um policial, e chega uma hora que o policial toma aquela porcaria, e a menina vira paro lado e começa a chorar desesperadamente. É claro, que era um choro fingido, mas ele é tão enfático, tão enfático, que você fica perturbado. Então, esta afetação de sentimentos é uma coisa normal para todo e qualquer militante comunista de certo grau para cima, e os de baixo estão logo aprendendo.

Então vocês vejam, se está lidando com a maior organização política que já existiu, com a de mais longa duração, com a única que tem alcance mundial, e ela é toda composta de psicopatas com os quais vocês não podem de maneira alguma. Quantas pessoas já levaram isso em conta no movimento liberal-conservador? O liberal estuda um pouco de economia, lê Ludwig von Mises e diz: “ah esse negócio de comunismo não funciona, já ganhamos”. Então, estamos lidando, por um lado com pessoas de uma malícia ilimitada, sem nenhuma complacência, e por outro lado, temos um jovem adolescente entusiasmado com ideias que ele leu em Ludwig von Mises – quando não em Ayn Rand, que é por assim dizer, do ponto de vista da defesa do hemisfério ocidental, “o que pode haver de mais destrutivo”. Esta é situação na qual nos encontramos.

Quando eu fiz aquele artigo, “Estudar antes de falar”, eu tinha em vista, em parte, o que eu estou dizendo aqui. Ou seja, é preciso conhecer esse movimento comunista em profundidade – e quando eu falo comunista, não me refiro àquele comunista ex professo que sai aí falando da socialização dos meios de produção, isto é apenas um discurso ideológico, o discurso ideológico pode mudar, o partido comunista pode mudar o discurso em vinte e quatro horas e todo o pessoal obedece.

Por exemplo, até 1933-1934, o discurso comunista internacional era destruição da burguesia e a implantação da propriedade pública dos meios de produção. [01:00] De repente muda cento e oitenta graus e diz: “não, nos temos que cultuar os valores positivos da burguesia, a democracia, os direitos humanos etc.” E com isso eles criaram o que eles chamaram na França de Frente Popular. E um monte de conservadores, que estavam angustiados já de ver o crescimento do movimento comunista, respiraram aliviados – “agora eles são nossos amigos”.

maliciando.” Então, as próprias vítimas da fraude defendiam o autor.

Houve o famoso caso do Robert Graves, o poeta inglês, na qual dois malandros indianos certo dia chegaram para ele e lhe disseram que tinham em mãos a cópia mais antiga do poema do Omar Khayyam, Rubaiyat , que eles haviam traduzido para o inglês e que gostariam que o Robert o pusesse em versos, e ele pôs. A coisa foi publicada, foi um sucesso mundial, só que aí apareceu um professor de língua persa, leu aquilo e disse que estava muito parecido com uma paráfrase americana do século XIX. Então, o sujeito foi para o Afeganistão – pois os dois malandros diziam que o manuscrito [original] estava com um tio deles no Afeganistão; que este era um homem da nobreza, um homem do governo etc. – para procurar o tal do tio. O tio, o cargo mais alto que ele tinha exercido na vida era de chofer do primeiro ministro. E o que foi que o tio falou para ele? “Que manuscrito que nada, esses meus sobrinhos são uns vigaristas” – ele disse. Muito bem, o Robert Graves morreu com oitenta e tantos anos, e negando até o fim que tinha sido feito de trouxa por vigaristas orientais.

Então, esse truque do envolvimento da vítima num processo de paralisia por vergonha, por vexame, até uma seita vagabunda consegue fazer isso, ainda mais na KGB, meu Deus do céu. Isto eu aprendi com a vida: quando te fizerem de trouxa você diga: me fizeram de trouxa, eu não sou mais inteligente do que esses caras, poxa. Daí você se liberta, daí você exorciza a coisa.

Para vocês terem ideia dos meios de ação de que esse pessoal se socorre, leiam o livro do Stephen Koch, Double Lives. Onde ele mostra como foi a ação soviética entre os intelectuais e escritores americanos. Eles arrumavam pessoas para casar com esses fulanos, passar a vida junto com eles, os fazendo de trouxa e os usando para fins úteis a URSS. Agora, você imagina o sujeito que depois de vinte anos de casado descobre que sua mulher era agente soviética, que ela o sugeriu isso e aquilo, e que ele assim o fez. O sujeito vai confessar? Só se for um herói moral fora do comum. Mas, se fosse um herói moral fora do comum já não teria caído nessa, né. Eles fizeram isso com o Felix Frankfurter que foi juiz da suprema corte. Fizeram com Sinclair Lewis, autor de Babbitt e Rua Principal , e com muitos outros. Este é um livro de profundidade da ação de um serviço de inteligência como o soviético. Os outros serviços secretos não conseguem fazer isso, porque eles são baseados na estrutura do estado. E, a estrutura do estado não molda seus servidores com a mesma profundidade como o partido comunista, ou como a Igreja Católica, ou como o Islam moldam os seus seguidores. Apenas se faz o concurso e pronto, virou um funcionário público. O sujeito conserva toda a sua autonomia moral, emocional, intelectual etc. Nenhum serviço secreto profissional pode competir com isso. Governos não podem competir com isso. Para fazer face a isso, só se existisse um movimento de igual profundidade com um comprometimento tão profundo quanto este. Como isso não existe então, o que aparece no lugar, às vezes são certos movimentos radicais, que tentam competir com o comunismo usando as armas dele, como o movimento fascista e nazista. Mas são movimentos puramente emocionais, de uma superficialidade atroz.

Aluna: O senhor acha que o regime aristocrata poderia fazer frente a isso? Uma aristocracia?

Olavo: Não é um regime aristocrata, pois depende de ter as famílias dinásticas nos seus lugares certos. Então a continuidade das famílias dinásticas assegura alguma estabilidade na coisa, e isso é uma característica da democracia. A democracia só sobrevive enquanto existe a aristocracia dos seus fundadores para garanti-la. O que é a aristocracia? É a classe guerreira.

Vejam, ao longo do tempo, na idade média, somente os aristocratas tinham obrigação de entrar na guerra, o povo estava liberado. E ainda existia o conceito de campo de batalha, eles iam fazer a guerra lá no “raio que o parta”, não os afetavam ali [onde moravam]. A progressiva diluição desta proteção aristocrática é uma das características do século XX, à medida que os exércitos se profissionalizam e surge o recrutamento militar obrigatório e essa coisa toda, a classe guerreira se dissolve e eles não são mais os protetores. A carreira militar se torna uma profissão como qualquer outra, e então passa a ser a mentalidade burguesa – o sujeito vai lá buscando as vantagens, seu plano de carreira, sua aposentadoria, essa coisa toda e aí pronto, acaba a conexão entre as famílias dinásticas e o poder

militar. Vejam que em alguns lugares eles se conservam, por exemplo a Família Real Inglesa. Os seus membros, seus futuros herdeiros, são obrigados a fazer carreira militar. E não é qualquer carreira militar, qualquer exerciciozinho, o sujeito tem que ir para guerra. E ele vai para lá, mas a sua situação não somente será igual, mas talvez será pior que a dos outros soldados. Então, ali ainda tem um pouco dessa mentalidade.

Mas pensem bem. Que família milionária no Brasil quer que os seus filhos façam carreira militar? Nenhuma. Isso é para pobre. E um dos orgulhos das nossas forças armadas, é o seguinte: os nossos soldados e oficias vêm do povo – vejam, isso pode ser bonito do ponto de vista da propaganda patriótica, mas é mau sinal; é sinal que a classe guerreira não é mais uma aristocracia, é como se diz, é o povo em armas; muito bonito, mas se não há mais conexão entre as famílias dinásticas e as forças armadas, então simplesmente não há mais continuidade histórica. De uma geração para outra a mentalidade dos militares toda pode ser mudada, e não pensem que não existe gente trabalhando para isso.

Vocês sabem que na Unicamp tem um sujeito chamado Quartim de Moraes que há quarenta anos a finalidade dele é essa: estudar a esquerda militar, tentar infiltrar gente nas escolas militares, etc., e está tendo muito sucesso nisso aí. As famílias dinásticas no Brasil estão em um estado de corrupção e de fraqueza que é muito impressionante. Durante uma certa época da minha vida eu tive a chance de conviver muito com a classe rica de São Paulo, isso foi nos anos setenta. E, uma coisa que me impressionava muito era como eram pessoas frágeis, precisavam ter seus egos afagados o tempo todo, precisavam se sentir amados. Todos se chamavam pelo diminutivo – Chiquinho, Zezinho... – e eu via que esse negócio ia muito mal: “é essa aí é a aristocracia paulistana? Meu Deus do céu. Estamos perdidos.”

Vemos que ainda há as famílias dinásticas americanas, mas elas todas caíram na esparrela globalista, todas. Quem meteu essa ideia globalista na cabeça deles? Qual foi o primeiro plano globalista do século XX? Foi o soviético. O primeiro a ter planos de escala global foi a URSS. Tem até um livro de um autor chamado Elliot Goodwin, chama o Plano Soviético de Estado Mundial. É claro, que havia alguns milionários esparsos pensando a mesma coisa no ocidente. Mas, influenciados sobretudo por quem? Herbert George Wells. Que era socialista adepto da URSS, e pela Fabian Society, fundada por Sidney Webb e Beatriz Webb – que hoje nós sabemos o principal livro deles, um livro desta grossura, veio pronto do governo soviético para eles, eles simplesmente assinaram e publicaram – foi esta gente que foi metendo ideias globalistas na cabeça dos aristocratas ocidentais.

Vejam, a continuidade do partido comunista chegou a ser mais densa do que a continuidade dinástica ocidental. Então, hoje todas essas famílias têm no mínimo uma ação ambígua. Por um lado, elas teriam como obrigação defender a suas soberanias nacionais, as suas nações e tudo o mais, mas estão trabalhando pelo contrário. Se tem uma plena consciência do caráter desastroso da aventura que se meteram, eu não sei. Isso aí só se fizer estudos monográficos, uma por uma, não dá para fazer isso aí.

Bem, uma coisa é certa, quando você cria um movimento político, esse movimento segue um certo protocolo, uma sequência de ações que tem de ser empreendidas, sem o qual o movimento não vai para frente.

A primeira é a seguinte: tem que ter uma elite intelectual capacitada para discutir entre si, de maneira discreta, um diagnóstico da situação até se ter uma ideia do panorama. A partir daí, tem que surgir um sistema de informações para alimentar essa discussão, e da elite intelectual e do sistema de informações surge um estado-maior. O que é um estado-maior? É um grupo de pessoas qualificadas que estudarão ações possíveis, cenários possíveis. E daí surge um comando que pega o cenário, e toma decisões, e manda fazer – sem isso, não existe nada.

Ora, um sistema de informações em 1993 o PT já o tinha, e melhor do que o do governo, sob a direção do José Dirceu, que é um agente de inteligência formado em cuba. Cadê o sistema de informações do

dele; O Balcão , na primeira cena aparece um cardeal estuprando uma mocinha, já na primeira, e se o sujeito aguentou isso, ele vai engolir o resto também, e assim por diante. A própria figura do Jean Genet, um sujeito que era um ladrão, um assassino profissional. E, que é de repente idolatrado como se fosse um santo – Saint Genet, comedien et martyr , no livro do Sartre. A ideia do martírio é invertida. Quem mata é que é o mártir.

Então, a literatura, a função dela não é a propaganda, é moldar o imaginário. Nas suas estruturas mais profundas. Quanto mais séria e profunda for a obra de arte, mais profunda será a sua influência sobre os seus leitores – e não precisa ser muitos leitores, basta que seja as pessoas intelectualmente mais ativas do meio. Então, isso não tem nada a ver com propaganda. Agora, me digam, de todo o movimento direitista que apareceu no Brasil, quantas obras de arte nasceram? Eu conheço uma. Que é o filme do Josias Teófilo. O resto não tem nada. Qual é o relevo intelectual-artístico-filosófico do movimento direitista brasileiro? É zero. Bem, só não é zero porque tem eu.

Quando minha avó escolheu meu nome, “Olavo”, que é um nome norueguês, que quer dizer “sobrevivente”, ela tinha toda razão. Porque morreu todo mundo, só sobrou eu. Então, é o que vocês conseguiram arrumar, fui eu – por aí você vê a gravidade da situação. Então, não tem mais ninguém, eu não tenho sequer interlocutores no movimento liberal-conservador.

Então, a primeira etapa que é o dialogo profundo entre intelectuais já não foi cumprida; a segunda, o sistema de informações não foi cumprida; terceira, o estado-maior, não foi cumprida. Enquanto isso, o pessoal da esquerda está prontinho e afiado para infiltrar gente em todos os movimentos liberais conservadores e fazê-los trabalhar para eles, não na sua propaganda, não na sua verborreia, mas no seu resultado final que é só o que interessa.

Então esta é a situação presente. Para vocês verem que este curso aqui já está muito atrasado na verdade.

Por hoje é só. Vamos ver as perguntas...

Então vamos lá. Primeiro, antes de tudo, vocês me viram fazendo uns gestos estranhos aqui [durante intervalo], eu estava contando a história de quando eu estava no México, e o sujeito lá estava fazendo um sanduíche para mim, e ele enfiava a mão dentro a calça, coçava o saco, e voltava com a mão no meu sanduíche: “eu não nunca mais vou voltar ao México!” [risos]

Aluno: Primeiro lugar gostaria de parabenizá-lo pela excelente explanação, como sempre. Minha pergunta é: é correto afirmar que a guerra cultural e a atuação dos seus agentes históricos, desde seu inicio, acontece somente no ocidente?

Olavo: Sim. Não há a menor possibilidade de um país ocidental fazer uma guerra cultural dentro da URSS. No máximo o que se fazia eram as transmissões da Rádio Europa Livre que chegava em alguns países da URSS, e algum apoio dado a dissidentes que fugiam. Isso era o máximo que se pôde fazer. Mas, dizer que algum país ocidental chegou a influenciar a cultura soviética, isso é absolutamente impossível. Num confronto com uma ditadura comunista, uma democracia está completamente em desvantagem – comparem, por exemplo, o número de livros que existem sobre a CIA no EUA, é um oceano, tem muito menos sobre a KGB, menos de 5%. Então isso quer dizer que os americanos são mais atentos a não serem enganados pela CIA, do que para serem enganados pela KGB. Agora, e na URSS? Quantos livros haviam denunciando as ações da KGB na URSS? Nenhum, porque todas as editoras são do Estado, e aliás, todas controladas pela KGB – uma das funções da KGB era controlar

o movimento editorial.

Aluno: Vamos supor que a cortina de ferro foi iniciada como uma estratégia de proteção e acobertamento da ação comunista e inviabilizando a entrada de forças contrárias, seria uma leitura equivocada?

Olavo: Não. É uma leitura certíssima. O regime totalitário é impenetrável a qualquer influência cultural, absolutamente impossível. Agora, o que se pode fazer é criar uma cultura anti-totalitária no exterior – como de fato se criou – mas mesmo isso com um atraso formidável.

Vejam, a primeira iniciativa cultural anti-soviética foi o Congresso Para Liberdade Cultural, realizada em Berlim em 1956, com o financiamento da CIA – nada mais junto – e o pessoal ainda denuncia “olha estava a CIA por trás e tal”, mas era obrigação da CIA financiar aquilo. A KGB estava financiando iniciativas culturais soviéticas desde a década de 20. Os americanos entraram na concorrência com um atraso de 36 anos, e o pessoal ainda acha ruim. Aliás, [01:30] existe um livro sobre isso, e cuja a tradução foi publicado no Brasil, denunciando: “olha o Congresso Para a Liberdade Cultural foi uma operação da CIA etc.” Isto foi traduzido no Brasil. Mas, material sobre a KGB, não tem praticamente nada.

Aluno: Pode falar da obra de Washington Platt?

Olavo: Bom, existe esse livro importantíssimo do Washington Platt, A Produção de Informações Estratégicas , que foi traduzido no Brasil pela Agir, e, para mim, aquilo é um modelo de redação de trabalhos em ciências sociais de modo geral. Só que, o informe estratégico tem sempre um escopo limitado. Porque um analista de informações está trabalhando no meio de mil outros agentes de informações e, portanto, ele só tem que se ater a um ponto específico. Mas, para aproveitar aquilo para trabalhos de maior envergadura, eu tive que fazer umas adaptações no esquema dele e eu publiquei isso num diagrama do curso “Introdução a vida intelectual” – vou ver se acho esse diagrama e coloco a disposição de vocês –, daí fica um roteiro perfeito para qualquer estudo desse tipo, principalmente estudos como esses que lhes estou sugerindo. Não deixem de ler o livro do Washington Platt. Mas, depois levem em consideração esses acréscimos que eu fiz.

Aluno: Professor, bibliografia, principalmente de estudos estratégicos, se possível disponíveis em pdf...

Olavo: Eu vou tentar fazer isso para o fim do curso. Mas, por um lado, vocês podem começar por ler o livro do Jeffrey Nyquist, Origins of the Fourth World War , isso é básico.

Vejam, não é só livros sobre estudos estratégicos. Estes também são uma área profissional específica. E, no contexto comunista, estudos de estratégicos não é uma profissão específica. Ela é colocada dentro da formação marxista de modo geral. Tudo o que se faz no mundo comunista [é de certa forma generalista]. Não há essa especialização profissional estrita como tem no ocidente, onde tem um plano de carreira e essa coisa toda – eles são muito mais abertos.

Então, por exemplo, outro dia mesmo o Jeffrey Nyquist estava me contando uma conversa que ele teve com o General Stanislav Lunev. Que era um alto oficial do serviço secreto militar soviético [o GRU], e que ele estava conversando com um bando de oficias americanos de inteligência e eles dizendo da improbabilidade de uma guerra nuclear. E, o coronel Lunev então perguntou: “o senhor é uma pessoa normal?” – perguntou para um americano. Este respondeu: “sim, por quê?” Lunev disse: “bom, mas as pessoas com quem eu estudei não são normais, são todos psicopatas; e eu, durante trinta anos na mão deles, não estudei outra coisa senão o seguinte assunto: guerra nuclear estratégica contra o EUA, os soviéticos estão prontos para fazer isso, estão loucos para fazer isso, é só isso que lhes interessa” – só que esse tipo de estudo não é visto como uma área profissional neutra, mas como parte do marxismo-leninismo.

permita que aconteça o processo que eu descrevi ali, no “O imbecil juvenil”, que é de ele ter que cortejar uma maioria para ser aceito. Não, ele tem que entrar ali já dobrando a maioria, meu Deus do céu. Isto é perfeitamente possível de acontecer. Eu, graças a Deus, percebi isso em tempo.

No colégio onde eu estava, onde houve um movimento de todo o colégio contra um determinado professor de matemática. Eu odiava as aulas deste sujeito, mas quando todo colégio ficou contra ele, eu falei: “não, ele está sendo injustiçado, porque ele não sabe dar aula, ele não é um professor, mas ele é um matemático” – ele era assistente do Benedito Castrucci, que era o maior matemático brasileiro, ele sabia matemática pra caramba. “Se ele não tem didática, então vamos ajudá-lo” – eu pensei. Então, era eu contra duas mil pessoas. Eu não consegui defender o cara, ele acabou sendo demitido. Mas eu saí dali com um prestígio desgraçado. Entendeu? Então, “ audaces fortuna juvat ”, “ coraggio e sangue freddo ” – tenha coragem, seja audaz, que você acaba dobrando a massa.

Olha, a pior coisa que existe é carência afetiva – querer que as pessoas te amem. A pessoa tem que escolher quantas pessoas ela quer que a amem, e os outros ela tem que intimidar. E aí é a nota do Maquiavel: “é melhor ser temido do que amado”.

Aluno: Dá para concluir que hoje qualquer ação conservadora ou liberal, até mesmo desses movimentos superficiais que tentam se utilizar das mesmas armas do comunismo, é inócua?

Olavo: Quando eles tentam imitar o comunismo, eles imitam da pior maneira possível, de maneira toda amadorística.

Não há outra maneira de fazer isso senão seguindo essa sequência: primeiro um grupo de intelectuais discutindo em privado, não precisa ser uma coisa pública, não é propaganda isso aí. Isto é, tem que estar empenhado em chegar a um diagnóstico preciso da situação, tem que ser exatamente o que está acontecendo. No curso dessa discussão vai surgir a necessidade de um sistema de informações para alimentar as discussões. Então, esses dois passos iniciais o pessoal está pulando, eles pensam que intelectuais existem para fazer propaganda de ideias liberais ou conservadoras. Propaganda é uma função menor – imagine se os comunistas em 1964 iriam usar o Jacob Gorender para fazer propaganda, pelo amor de Deus, ele tinha de ficar ali dentro fazendo diagnóstico. Propaganda serve para o Chico Buarque, para o Luis Fernando Veríssimo, qualquer um desses caras. Agora no Brasil o pessoal confunde isso aí. Então, vocês têm que usar as mesmas armas do comunismo, mas os comunistas sabem disto que eu estou dizendo, que é assim que se faz.

Vejam, estudem a história da reação comunista ao golpe de 64. A primeira coisa que eles fizeram foi se fechar e discutir até entender o que estava acontecendo – coisa que hoje eles são incapazes de fazer, eles não estão fazendo isso agora, eles estão se deixando convencer por sua própria propaganda. “É golpe, é elite, e não sei mais o quê” – eles pensam. Conversa mole, evidentemente. Nós sabemos que não foi nada disso.

Então, no momento eles não têm o diagnóstico preciso da situação. O diagnóstico preciso só quem fez fui eu mesmo, com o negócio do faoro-gramscismo. Isto não é tudo, mas é o elemento fundamental. E, eles não perceberam isso até hoje. Então, nós estamos no momento propício para destruí-los, sob este aspecto. Eles não têm uma estratégia geral, mas a tática da infiltração e do domínio parcial eles têm, e eles já estão exercendo isso. Não há um só movimento liberal-conservador que já não tenha um agente comunista lá dentro, muito mais esperto do que todos os outros.

Aluno: Como montar um serviço de inteligência, o senhor tem alguma referência para pesquisa.

Olavo: Começa a ler o livro do Washington Platt e comece a produzir informes de inteligência sobre isto, sobre aquilo, sobre tal organização, sobre tal pessoa, tal publicação, tal universidade, um por um, vocês têm que ter informações sobre tudo. Agora, isso é trabalho para muita gente, é um trabalho anônimo, é um trabalho de formiguinha, um trabalho sem recompensa. Mas se tantos comunistas se dispõem a sacrificar suas vidas para criar uma porcaria que jamais vai existir, porquê que vocês não

se dedicam a fazer isso por uma causa viável, possível, benéfica etc.?

Outro aluno aqui está me pedindo uma bibliografia. Calma gente, vou dar uma bibliografia no final.

Aluno: Os comunistas tomaram para si os nossos valores: liberdade, democracia, direitos humanos, coisas aspiradas por todos, usam para si as palavras que seduzem os jovens, como progressistas...

Olavo: Bom, o domínio do vocabulário é uma coisa fundamental. Foi nos anos 20 que Stalin ordenou que os intelectuais qualificados para isso se apropriassem das redações de todos os dicionários do mundo, ou seja, nós estamos apenas um século atrasado. O domínio do vocabulário se dá através do quê? Da literatura, do cinema, do teatro etc. Cada um desses jogos verbais tem de ser analisado, desmontado e substituído.

Vejam, por exemplo, o tipo de análise que eu fiz sobre o Leonardo Boff, uns tempos atrás. Eu não lembro nem o título do artigo, é uma análise de duas páginas do Leonardo Boff, onde toda a estratégia verbal dele está ali desmontada, mostrando como funciona. Fazer esse tipo de análise é muito importante, mas tem que fazer de monte.

Aluno: Quanto mais te ouço, mais fico impressionado com sua sabedoria e genialidade, estou pasmo com esse tanto de informação neste nível de profundidade.

Olavo: Estou estudando essa porcaria vai fazer mais de meio século. Agora, de repente vem aí, estes meus interlocutores, caras que chegaram ontem, o cara que é meu aluno há seis meses e já está aí dando palpite. Assim não dá, gente. E são pessoas que, por exemplo, estão precisando de emprego: “nego tá lá vivendo na casa da mãe até os 30 anos de idade, querendo uma carreira, e daí descobre o conservadorismo...” – assim não dá.

Aluno: Porque você não fala do Michel Foucault? Meus professores universitários fazem doutrinação usando Foucault muito mais do que de qualquer outro autor.

Olavo: Eu achei que nunca precisei analisar o Foucault, porque já tinha sido analisado pelo Roger Scruton, e pelo José Guilherme Merquior, ambos de maneira brilhante. Então, eu não vejo muito mais o que eu tenha a acrescentar ali. E o Roger Kimball publicou um resumo biográfico do Foucault que é devastador. Então você lê esses três: Roger Kimball, Roger Scruton e o José Guilherme Merquior, no livro Michel Foucault, ou o Niilismo de Cátedra , um livro absolutamente brilhante. Eu acho que o Foucault está resolvido ali. Ele não tem capacidade para enfrentar esses três. Agora, se o pessoal não lê as análises críticas, então vai continuar acreditando. O Michel Foucault é muito superficial gente. O primeiro livro dele, As Palavras e as Coisas , não é um mau livro. Mas, tudo que veio depois é puro chute, é de uma superficialidade monstruosa.

O Pierre Bourdieu é muito mais sério que o Foucault. O Bourdieu pega alguns processos reais, essas coisas da reprodução, só que ele descreve o processo da reprodução como se ele estivesse em ação na burguesia, e não está. Na verdade, quem está fazendo a reprodução é o partido comunista. Nunca se vê a burguesia reunir-se e dizer: “vamos planejar uma educação para insuflar a mentalidade burguesa na cabeça das jovens gerações” – isso nunca existiu, em parte algum do mundo, e muito menos no Brasil. Em um dos fóruns da liberdade que eu participei, tinha uma pessoa que apresentou uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas mostrando que da totalidade dos estudantes universitários brasileiros, só 3% queriam ser empresários. Os outros todos queriam ser empregados, e sobretudo empregados públicos. Ora, então é esta a marca da reprodução da burguesia? Isto é a marca de reprodução do PT. A burguesia não está reproduzindo é coisa nenhuma. Mas, o processo da reprodução como ele o descreve, ele existe. Só que ele o descreve como o agente oposto. Então é uma estranha mistura de ciência e empulhação. O Michel Foucault é só empulhação.

Aluno: Um movimento da restauração conservadora cristã poderia ter a capacidade de mudar o curso da história pela via de esclarecimento e da educação?