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O serviço prestado pela auditoria independente é fundamental para uma maior transparência e confiabilidade dos relatórios financeiros das empresas de capital aberto.
Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas
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Não perca as partes importantes!
Patricia Maria Bortolon Professora Adjunta do Departamento de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Espírito Santo E-mail : patrí[email protected]
Alfredo Sarlo Neto Professor Doutor do Departamento de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Espírito Santo E-mail : [email protected]
Thaís Barreto Santos Graduada do Departamento de Administração da Universidade Federal do Espírito Santo E-mail : [email protected]
Recebido em 20.10.2011- Aceito em 24.10.2011- 3ª. versão aceita em 30.11.
ISSN 1808-057X
1 IntROdUçãO
Dar ao investidor a segurança de que o capital disponi-
bilizado às empresas na forma de ações será administrado
de forma a lhe garantir o maior retorno, é fundamental para
o desenvolvimento do mercado de ações como alternativa
ao financiamento das empresas.
A Teoria da Agência identifica os problemas resultantes
do fato de o investidor não estar diretamente ligado à ad-
ministração da empresa (Jensen & Meckling, 1976). Uma
das questões que surge é a assimetria informacional entre
o investidor e a gestão, que pode ser minimizada através
de uma maior transparência por parte daquela. A transpa-
rência é, portanto, considerada um dos princípios básicos
da Governança Corporativa (Instituto Brasileiro de Gover-
nança Corporativa, 2009, p. 19).
Entre os mecanismos identificados como solução para
aumentar a transparência na relação gestão – investidor
está a auditoria independente. Sua finalidade é, através de
uma averiguação imparcial e com reconhecida capacidade
técnica, avalizar as demonstrações financeiras.
Entretanto, os escândalos corporativos no final da década
de 90 nos Estados Unidos mostraram que as empresas de au-
ditoria falharam no seu dever de garantir a qualidade das in-
formações divulgadas ao mercado. Entre as explicações para o
problema está a possível perda da independência da auditoria,
ao estender a ligação com as empresas clientes de diversas for-
mas, entre elas, com a prestação de serviços extra-auditoria.
Outros mecanismos de governança corporativa afetam
a auditoria independente como, por exemplo, o Conselho
de Administração (CA). No Brasil, a Lei n. 10.303/2001 es-
tabelece no art. 142, entre as atribuições do CA: manifes-
tar-se sobre o relatório da administração e escolher e desti-
tuir os auditores independentes. Portanto, a atuação do CA
pode afetar não só o escopo e os custos do serviço, como
também a independência da auditoria.
A pesquisa acadêmica se desenvolve neste tema investigan-
do as relações entre governança corporativa, custos e indepen-
dência das empresas de auditoria. Os trabalhos relacionados na
seção 2 deste artigo mostram que as conclusões não são únicas.
Melhores práticas de governança podem afetar positivamente os custos de auditoria na medida em que demandarão análises mais complexas e extensas, mas também podem afetar negati- vamente se representarem uma redução no risco da auditoria externa, diminuindo os custos do serviço. Considerando a con- tratação de serviços extra-auditoria como termômetro da pos- sível perda de independência, as pesquisas investigam o efeito sobre medidas de gerenciamento de resultados e conservado- rismo, e encontram resultados conflitantes. Mas parece haver maior concordância quanto ao efeito positivo da governança corporativa sobre a redução dos valores destes serviços-extras. Neste contexto, esta pesquisa propõe-se a verificar como as variáveis relacionadas à governança corporativa se rela- cionam com os custos de auditoria no ambiente brasileiro, respondendo as seguintes questões: Existe alguma relação entre o nível de governança da organização e os honorários pagos aos auditores externos? A governança corporativa tem relação com a contratação de serviços extra-auditoria? Vale ressaltar que a pesquisa tornou-se possível a partir da Instrução 480/09 – CVM que determinou a obrigato- riedade da publicação anual do Formulário de Referência. Neste relatório, as empresas informam o valor dos serviços de auditoria externa e os de outros serviços, quando con- tratados junto à auditoria independente. Os resultados, no cenário brasileiro de concentração de propriedade, também acrescentam à literatura internacional desenvolvida predo- minantemente em ambientes com propriedade dispersa. Uma amostra de 131 empresas é observada no ano de 2009. Como proxies de governança foram avaliados os desvios de direitos entre controle e propriedade dos cinco maiores acionistas, a participação em segmentos diferenciados da BM&FBovespa 1 e a presença de comitê de auditoria. Este trabalho está dividido da seguinte forma: na segun- da seção, revisamos os principais estudos internacionais neste tema; na terceira, tratamos da metodologia utilizada e da descri- ção da amostra; na quarta, analisamos os resultados; na quinta, apresentamos as oportunidades de continuidade da pesquisa e, na sexta, apresentamos nossas considerações finais.
2 EvIdênCIAS SObRE A RElAçãO EntRE CUStO dE AUdItORIA E GOvERnAnçA CORPORAtIvA
2.1 Assimetria Informacional e Auditoria Independente. Um sistema financeiro eficiente influencia positivamen-
te a taxa de poupança em uma economia, cumprindo um
papel importante em permitir e promover seu crescimen-
to. Essa eficiência depende de os poupadores/investidores
encontrarem as oportunidades de investimento adequadas
às suas necessidades (Danthine & Donaldson, 2005, pp.
9-10). O investidor precisa estar confiante de que os recur-
sos disponibilizados, na forma de compra de ações de uma
empresa, por exemplo, serão investidos com o objetivo de
gerar o maior retorno no longo prazo.
Estando esse investidor distante da gestão da empre- sa, surge o que Jensen e Meckling (1976) denominaram “problema de agência”. O investidor (o principal) precisa garantir que o gestor (o agente) atuará no melhor dos seus interesses. Desta relação surgem alguns problemas, dentre eles a assimetria informacional. Essa assimetria faz com que o investidor não consiga distinguir as empresas “bem” administradas das “mal” ad- ministradas, e atribua a todas um preço médio que repre- sentará um desconto sobre o valor justo das “bem” admi- nistradas. Estas últimas acabarão desistindo de se financiar neste mercado, o que resultará em um “mercado de limões”
(^1) Em 2000, a BMF &BOVESPA criou três segmentos especiais de listagem para as empresas que queriam aceitar padrões mais elevados de boas práticas de governança corporativa. Os níveis foram chamados Nível 1 (Nível 1 - N1), Nível 2 (Nível 2 - N2)e Novo Mercado (Novo Mercado - NM). Novo Mercado é o mais exigente, onde, por exemplo,as ações preferenciais não são aceitas.
O efeito da estrutura de propriedade sobre os custos de
auditoria não é consenso na literatura. Niemi (2005) conclui
que os custos de auditoria são menores em empresas com
participação majoritária dos gestores do que em empresas
subsidiárias de firmas estrangeiras. As variáveis indicativas
do tipo de controlador (gestores, estrangeiros ou governo)
aumentam o poder explicativo dos modelos, indicando a
relevância, na Finlândia, da identidade do acionista con-
trolador na determinação dos custos de auditoria. Adelo-
po, Jallow, e Scott (2009) avaliam o impacto do número de
grandes acionistas (MPL – Multiple Large Shareholders). O
maior monitoramento pelos grandes acionistas está rela-
cionado a menores custos de auditoria, entretanto empre-
sas maiores com propriedade mais dispersa tendem a ter
custos maiores. Já Hay, Knechel, e Ling (2008) encontram
relação positiva entre concentração de propriedade e cus-
tos de auditoria. Vafeas e Waegelin (2007) identificam uma
relação negativa entre a propriedade de insiders e a deter-
minação de remuneração baseada em incentivos de longo
prazo, com os custos de auditoria.
Conselhos de administração com maiores níveis de in-
dependência, diligência e experiência apresentam relação
positiva com custos de auditoria, coerente com o efeito de-
manda (Carcello, Hermanson, Neal, & Riley Jr, 2000; Lifs-
chutz, 2010).
O efeito demanda também predomina quando anali-
sadas as características dos comitês de auditoria. A efeti- vidade, independência, experiência e tamanho impactam positivamente os custos de auditoria (Goodwin-Stewart & Kent, 2006; Zaman, Hudaib, & Haniffa, 2011; Stewart & Munro, 2007; Vafeas & Waegelin, 2007). A relação entre a existência de um departamento de au- ditoria interna e os custos de auditoria são estudados por Ho e Hutchinson (2010) no mercado de Hong Kong. Os autores concluem que existe sim uma relação entre essas duas variáveis, ou seja, quanto maior for o esforço da au- ditoria interna, menores as taxas de auditoria externa. En- tretanto, Hay, Knechel, e Ling (2008) e Goodwin-Stewart e Kent (2006) encontram uma relação positiva. Griffin, Lont, e Sun (2008) encontram relações confli- tantes entre custos de auditoria e governança, analisando empresas americanas no período de 2000 a 2006, que in- clui a passagem da Lei Sarbanes-Oxley (SOX). Avaliando variáveis de governança como independência do conse- lho, do comitê de auditoria e o percentual de ações em mãos de insiders, os autores encontram uma relação posi- tiva entre governança e custos de auditoria, coerente com o efeito demanda. Entretanto, quando interagem as vari- áveis de governança com proxies para o risco da auditoria (prejuízos anteriores, cobertura por analistas e outros), a relação é negativa com os custos de auditoria, coerente com o efeito risco da auditoria.
3 MEtOdOlOGIA
3.1 Seleção da Amostra e definição de variáveis. Nossa amostra abrange um total de 131 empresas brasi-
leiras listadas na BM&FBovespa no ano de 2009. A escolha
pelo ano de 2009 como sendo o ano base do estudo deve-se ao
fato de ser o primeiro ano em que o Formulário de Referência
foi divulgado pelas empresas. Os dados de custos de audito-
ria utilizados na pesquisa foram extraídos dos Formulários de
Referência publicados no site da Comissão de Valores Mobili- ários (CVM), as demais informações foram obtidas no site da BM&FBovespa e também da base de dados Economática®. Seguindo algumas sugestões dos estudos internacionais citados, trabalhamos com as variáveis listadas na Tabela 1 abaixo, organizadas de acordo com suas utilizações como proxies para as questões de interesse.
Variável Descrição Estrutura de Propriedade PTOT5 Participação (%) dos cinco maiores acionistas no total de ações da empresa PVOT5 Participação (%) dos cinco maiores acionistas no total de ações com direito a voto da empresa DESVDIR Desvio de direitos calculado como a relação entre a participação em ações com direito a voto e a participação total PTOTCONS Participação (%) conselheiros no total de ações da empresa PTOTDIR Participação (%) dos membros da diretoria no total de ações da empresa Qualidade da Governança Corporativa DGOV Dummy igual a 1 se a empresa participa de algum segmento diferenciado de governança corporativa da BOVESPA DNMN2 Dummy igual a 1 se a empresa é negociada nos segmentos N2 ou NM da BOVESPA DCOMAUD Dummy igual a 1 se a empresa tem comitê de auditoria Custos de Auditoria CUSTOAUD Valor pago aos serviços de auditoria externa (em R$) SERVEXT Valor pago aos serviços extras realizados pela empresa de auditoria externa (em R$) LNCUSTOAUD Logaritmo Natural do custo de auditoria externa LNSERVEXT Logaritmo Natural do valor pago aos serviços extra realizados pela auditoria externa CUSTOAUDATIV Custo da auditoria em relação ao ativo total DBIGFOUR Dummy para presença de empresa de auditoria tida como Big Four DAUDINT Dummy para presença de departamento de auditoria interna continua
Variável Descrição Variáveis de Controle LIQ Liquidez das ações da empresa em 2009 medida pela Economática PRES Presença em bolsa, medida pelo percentual dos dias úteis em que a ação da empresa foi negociada ATIVTOT Ativo Total (em R$) LNATIVTOT Logaritmo Natural do ativo total EXIGPL Grau de endividamento: exigível total dividido pelo patrimônio líquido
Todas as variáveis, listadas na Tabela 1, foram observa-
das no ano de 2009 para as empresas da amostra.
3.2 Modelos. A análise do efeito de variáveis de governança sobre os cus-
tos de auditoria foi feita em duas etapas. Inicialmente foram
empregadas análises univariadas testando a diferença de custo
de auditoria entre empresas segundo proxies de governança, se
a empresa tem auditoria interna e se a auditoria externa é feita
por uma das quatro grandes empresas de auditoria. A análise multivariada levando em consideração as va- riáveis de controle relacionadas na Tabela 1 foi feita através de regressões lineares múltiplas com estimação pelo méto- do dos mínimos quadrados ordinários. O teste de Breusch- Pagan / Cook-Weisberg não indicou presença de heteros- cedasticidade em nenhum dos modelos testados. Assim, para a análise multivariada, foram utilizados os seguintes modelo de regressão linear:
LNCUSTOAUD (^) i = α 0 + α 1 .LIQ (^) i + α 2 .LNATIVTOTi + α 3 .EXIGPLi + α 4 .DESVDIRi + α 5 .DGOVi
Para a análise do efeito das variáveis de governança sobre o valor dos serviços extra-auditoria contratados foi analisado
o seguinte modelo:
A contratação de serviços outros que não o de auditoria
junto a esses prestadores de serviço não é vista como boa
prática pelo potencial comprometimento da imparcialida-
de do auditor independente. Portanto, o último conjunto
4 AnálISE dOS RESUltAdOS
4.1 Estatística descritiva e Análise de Correlação. As estatísticas descritivas da amostra são apresentadas na
Tabela 2 abaixo. 73,2% das empresas da amostra fazem parte
de algum segmento diferenciado de governança da Bovespa.
A menor empresa tem um ativo total de R$ 119 milhões e
a maior R$ 87.600 milhões, ou seja, a amostra é de grandes
empresas. Os desvios de direitos na média são iguais a 1,
indicando uma alavancagem de direitos de voto em relação a
direitos sobre fluxo de caixa de 18%. Aproximadamente 60%
das empresas da amostra têm um departamento ou área de
auditoria interna, e 82% têm como empresa prestadora de
serviço de auditoria uma das Big Four. Os dados descritos acima apontam para um viés de tama- nho que pode comprometer a generalização das conclusões do trabalho. A pesquisa trabalha a partir de dados fornecidos pelas empresas, pela primeira vez, no Formulário de Referên- cia (doravante FR), em 2010 com dados referentes a 2009. Este relatório, exigido pela CVM a partir da Instrução 480 de 7 de dezembro de 2009, é bastante extenso e detalhado, e algumas empresas não o preencheram completamente. A informação mais relevante para esta pesquisa, o custo do serviço de audi- toria independente, não foi fornecida por 22 empresas, o que contribuiu para a redução do tamanho da amostra.
continuação
Variável Obs Média Desvio Padrão Mínimo Máximo LIQ 131 0,24 0,53 0,00 3, PRES (%) 131 75,12 39,17 0,00 100, CUSTOAUD (R$) 131 1.824.693,00 4.107.944,00 19.200,00 31.000.000, SERVEXT (R$) 131 173.771,60 382.303,70 0,00 2.860.000, LNSERVEXT 131 5,95 6,09 0,00 14, LNCUSTOAUD 131 13,38 1,33 9,86 17, CUSTOAUDATIV 131 0,00068 0,00152 0,00000 0, DBIGFOUR 131 0,8168 0,3883 0 1 DAUDINT 131 0,6031 0,4911 0 1
continua
de análises emprega regressões lineares múltiplas para in- vestigar a possível relação dos valores de serviços extras contratados com variáveis de governança e controle.
LNSERVEXTi = α 0 + α 1 .LIQ (^) i + α 2 .LNATIVTOTi + α 3 .EXIGPLi + α 4 .DESVDIRi + α 5. DNMi + α 6 .DBIGFOURi
Média Média Estat. Hip. Alternativa Variável Nº Obs Média = 1 Nº Obs Média = 0 t diff (0 - 1) > 0 Novo Mercado 62 13,17 60 13,57 1,7559 ** Governança 96 13,34 35 13,50 0, Auditoria Interna 79 13,39 52 13,37 -0, Comitê de Auditoria 41 13,11 90 13,51 1,5805 * Big Four (1)^107 13,53 24 12,71 -2,8031 ***
(1) hipótese alternativa: diff (0 - 1) < 0 Testes de diferenças de médias para a média do logaritmo do custo de auditoria. Os valores da coluna Média = 1 apresentam os valores médios para as empresas que apresentam a característica descrita pela variável, ou seja, fazem parte do Novo Mercado, de algum segmento diferenciado de governança, têm área de auditoria interna, têm comitê de auditoria e contratam uma das Big Four .Valores observados no ano de 2009. *, ** e *** indicam significância estatística respectivamente a 10%, 5% e 1%.
4.3 Relação entre Custos de Auditoria e Governança. A análise anterior é aprofundada através de regressões
lineares múltiplas onde variáveis de controle são levadas em
consideração. Seguindo a literatura internacional, foram ado-
tadas como variáveis de controle: tamanho (logaritmo natural
do ativo total – LNATIVTOT), endividamento (exigível total
dividido pelo patrimônio líquido – EXIGPL) e liquidez (liqui-
dez da ação mais líquida avaliada pela Economática – LIQ).
Os resultados das regressões lineares múltiplas, tendo
como variável dependente o custo de auditoria (em logarit-
mo - LNCUSTOAUD), são apresentados na Tabela 5.
Os modelos (2), (5) e (9) apresentam significância estatís-
tica para as variáveis desvio de direitos (DESVDIR) e presença
de uma das Big Four como empresa de auditoria independente
(DBIGFOUR). O sinal de DBIGFOUR é o esperado, positivo,
indicando que grandes empresas de auditoria cobram mais por
seus serviços, resultado de acordo com o prêmio identificado
por Craswell, Francis, e Taylor (1995). A relação positiva de cus-
tos de auditoria com o desvio de direitos (DESVDIR) sinaliza
uma relação negativa entre governança e custos de auditoria.
Quanto maior o desvio de direitos, mais distante do princípio
uma ação – um voto recomendado como uma das melhores
práticas de governança. Pode-se esperar que em empresas onde
o desvio de direitos é maior, aqui avaliado pelas participações
dos cinco maiores acionistas, há piores práticas de governança
e, portanto, as empresas de auditoria incorreriam em maiores
riscos cobrando então mais por seus serviços.
As proxies para governança DGOV e DNM que indicam,
respectivamente, a participação em algum nível diferenciado
de governança da Bovespa e a participação no Novo Mercado, apresentam relação negativa com o custo de auditoria, embora não significativa. A dummy que indica a presença de comitê de auditoria, DCOMAUD, também tem relação negativa com os custos de auditoria, mas não significativa. Apesar da ausên- cia de significância estatística, os sinais encorajam o aprofun- damento da pesquisa no sentido de confirmar se, no Brasil, melhor governança realmente está relacionada com menores custos de auditoria. Os modelos em que estas relações foram observadas, (3), (4) e (7), inclusive, não são significativos como um todo. A concentração da amostra em empresas de grande porte pode estar comprometendo a qualidade das regressões. Este trabalho foi realizado com as primeiras informações so- bre custo de auditoria disponibilizada pelas empresas no FR em caráter obrigatório. Alguns relatórios não estavam dispo- níveis no momento do levantamento e, mesmo entre os dis- ponibilizados, encontramos empresas que não forneceram a informação sobre custos de auditoria. A presença de uma área de auditoria interna, de acordo com os trabalhos empíricos revisados, pode ter relação posi- tiva ou negativa com o custo do serviço de auditoria. O sinal negativo é explicado pelo efeito risco, uma vez que o servi- ço da auditoria interna pode reduzir o risco da prestação de serviço da auditoria externa. Já a relação positiva sinaliza a predominância do efeito demanda, onde empresas mais bem organizadas necessitam de análises mais especializadas por parte dos auditores externos. Na amostra analisada, a vari- ável que identifica a presença de uma área de auditoria in- terna (DAUDINT) tem relação negativa com os custos de auditoria, entretanto não apresenta significância estatística.
Variável Dependente: LNCUSTOAUD Variável (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) LIQ 0,142 0,201 0,116 0,113 0,131 0,152 0,098 0,097 0, LNATIVTOT 0,083 0,085 0,086 0,055 0,105 0,082 0,125 0,107 0, EXIGPL 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0, DESVDIR 0,939 *** 0,737 ** DGOV -0,160 -0, DNM -0,360 -0, DBIGFOUR 0,849 *** 0,895 *** 0,773 ** DAUDINT -0,042 -0,160 -0, PVOT5 -0, DCOMAUD -0,477 * _cons 11,616 *** 10,439 *** 11,678 *** 12,410 *** 10,444 *** 11,658 *** 10,847 *** 10,778 *** 10,338 *** continua
Variável Dependente: LNCUSTOAUD
Prob > F 0,460 0,032 0,570 0,308 0,031 0,626 0,215 0,118 0,
R^2 ajust. -0,003 0,051 -0,008 0,006 0,051 -0,011 0,014 0,036 0,
Regressões utilizam dados observados em 2009. Descrição das variáveis disponível na Tabela 1. Regressões estimadas por MQO. Não identificada a pre- sença de heteroscedasticidade em nenhum dos modelos. *, ** e *** indicam significância estatística respectivamente a 10%, 5% e 1%.
continuação
4.4 Relação entre Custos de Serviços Extras e Governança. A prestação de outros serviços pela empresa de audito-
ria independente, tais como consultorias, pode aumentar
em muito a receita gerada por um determinado cliente, o
que pode criar uma relação de dependência, comprome-
tendo a imparcialidade e o rigor que se espera de um audi-
tor independente.
Das 131 empresas da amostra, 65 reportaram valores para outros serviços contratados junto à empresa prestadora do serviço de auditoria independente. Destas 65 empresas, 58 contrataram uma das quatro grandes empresas de auditoria, o que mostra que as grandes empresas tendem a estender sua atuação nos clientes. Os serviços adicionais prestados por es- tas grandes empresas representam, em média, 53% do valor do serviço de auditoria, o que é representativo.
Contrata serviços de alguma Big Four****?
Contratam serviços adicionais? Não Sim Total geral
Não Qtde. Empresas 17 49 66
Sim
Qtde. Empresas 7 58 65
% média do valor dos serviços adicionais em relação ao custo do serviço de auditoria 97,92 53,05 57,
Valor médio dos serviços extras (em R$) 351.143 350.105 350.
Valor médio do ln dos serviços extras 12,11 11,98 12,
Total Geral 24 107 131
Estes números sugerem uma análise mais aprofundada
da relação entre a ocorrência de serviços extras e as práticas
de governança das empresas. A Tabela 7, a seguir, apresenta
algumas análises preliminares utilizando regressões linea-
res múltiplas tendo como variável dependente o logaritmo
do valor dos serviços extras contratados junto às empresas
de auditoria independente.
Apesar de apenas quatro dos sete modelos serem signi-
ficativos como um todo (modelos (1), (3), (5) e (6)), há uma
relação significativa e positiva entre os desvios de direitos
(DESVDIR) e o valor dos serviços extras. Como quanto
maior o desvio de direitos, pior a qualidade da governança,
os resultados sugerem uma relação negativa entre gover-
nança corporativa e a contratação de serviços extras junto
à auditoria independente.
A variável dummy que indica empresas participantes do
Novo Mercado (DNM) tem relação negativa (embora sig-
nificativa apenas no modelo (2)) com o valor dos serviços
extras. Este resultado, coerente com o descrito no parágrafo
anterior, mostra que empresas com melhores práticas de go-
vernança tendem a evitar a contratação de serviços extras
junto às suas auditorias independentes, resguardando a sua
imparcialidade e reduzindo possíveis conflitos de interesses.
A prestação de serviço por uma das Big Four, indica- da pela variável dummy DBIGFOUR, tem relação positiva com o valor dos serviços extras contratados. Este resultado está em linha com o apresentado na Tabela 6 que mostra uma maior incidência de serviços extras nesse grupo de au- ditores. Observa-se também relação positiva e significativa com o valor dos serviços de auditoria (LNCUSTOAUD). Zaman, Hudaib, e Haniffa (2011) encontraram relação positiva entre a efetividade do comitê de auditoria e a con- tratação de outros serviços da empresa de auditoria. Na amostra desta pesquisa há também uma relação positiva, embora não significativa, entre a presença de comitês de auditoria (DCOMAUD) e os valores médios de serviços ex- tras contratados junto aos auditores independentes. Como explicado por Zaman, Hudaib, e Haniffa (2011), comitês de auditoria mais bem organizados, com maior proporção de membros independentes e, portanto, mais efetivos, ten- dem a demandar estudos mais complexos e aprofundados das empresas de auditoria independente, o que pode levar à contratação de serviços extras. Nesta pesquisa, o sinal e a ausência de significância estatística encorajam a busca de proxies que melhor representem a efetividade dos comitês de auditoria nas empresas.
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Referências
empresas de auditoria independente.
A análise aqui apresentada baseou-se em uma primeira
edição do Formulário de Referência, o que contribuiu para
a redução do tamanho da amostra e possivelmente uma
menor qualidade dos relatórios. Estes fatos podem explicar alguns resultados terem se mostrado fracos estatisticamen- te. Portanto, a relevância do tema encoraja o aprofunda- mento e a continuidade da pesquisa.