Baixe Dermatopatias genitais masculinas: classificação e tratamento e outras Esquemas em PDF para Dermatologia, somente na Docsity! ARTIGO de REVISÃO 21 Vol. 4 (1): 21-31 | 2016 REVISTA ELETRÔNICA DA COMISSÃO DE ENSINO E TREINAMENTO DA SBU (1) Disciplina de Urologia - Hospital Universitário Pedro Ernesto, Rio de Janeiro, RJ, Brasil Introdução As lesões cutâneas genitais são motivo bastante frequente nas consultas urológicas. Apresentam-se com ampla va- riedade de formas e aspectos, desde lesões benignas simples até aquelas mais complexas, com repercussões sistêmicas ou lesões pré-malignas. Independentemente de sua potencial gravidade, despertam um grau de ansiedade significativo na maioria dos pacientes, o que requer diagnóstico preciso, baseado, sobretudo, nas histórias clínica e sexual, bem como no exame físico apropriado. Eventualmente, são necessários exames complementares e biópsia para a perfeita conclusão diagnóstica. Anormalidades cutâneas benignas 1 – Pápulas peroladas (ou “papilas coronais”, ou também “pápulas penianas perláceas”) – são angiofibromas, pequenas for- mações exofíticas, de 1 a 2mm, bastante frequentes (20-30%), principalmente em jovens não circuncidados. Localizam-se, na maioria dos casos, no sulco balanoprepucial, e o principal diagnóstico diferencial é o condiloma acuminado. São assintomáticas e não necessitam de tratamento, exceto com objetivos estéticos (1, 2) (Figura-1). 2 – Pápulas de Fordyce – são anomalias das glândulas sebáceas que se manifestam como pequenos grânulos brancacentos localizados no corpo do pênis. Assintomáticos, também só necessitam de tratamento em casos estéticos, em que se pode utilizar cremes tópicos de retinoides, eletrocoagulação e laser CO2 (Figura-2). 3 – Vitiligo – trata-se de doença autoimune em que ocorre a hipocromia da pele de tamanho e forma variadas. Pode afetar o pênis e o escroto, assim como outras partes do corpo. O principal diagnóstico diferencial é com o líquen escleroso. O tratamento do vitiligo genital é empírico e a melhor forma de resolver a hipocromia é a ressecção cirúrgica do segmento atingido (postoplastia). Tratamento conservador, através de cremes cosméticos, corticoides tópicos e radiação UVB, também pode ser realizado (Figura-3). 4 – nevos – são pápulas ou máculas hipercrômicas, normalmente de cor marrom escura e forma bem delimitada e regular. Seus diagnósticos diferenciais são, principalmente, os melanomas, verrugas, queratose seborreica e carcinoma epidermoide. Na presença de dúvida, a biópsia da lesão está indicada, a fim de excluir doença maligna (Figura-4). 5 – Acantose nigrans – assintomática. Consiste no espessamento e hiperpigmentação da pele, relacionados a algumas doen- ças sistêmicas como o diabetes mellitus, obesidade, endocrinopatias, neoplasias e alguns fármacos, como niacina. Não requer tratamento (Figura-5). BAlAnIte Consite em qualquer processo inflamatório que afeta a mucosa da glande, independente de seu agente etiológico. Se o processo estende-se até o prepúcio, passa a denominar-se balanopostite. Gera edema e eritema das estruturas atingidas. Pode ser decorrente de agentes físicos como traumas repetidos e contato com substâncias irritativas e alergênicas, além de agentes infecciosos que estão Dermatopatias genitais masculinas Marco Dionísio (1); Leonardo Gentile (1); Ronaldo Damião (1) DERMATOPATIAS GENITAIS MASCULINAS RE.CET | 22 Figura 1 Figura 3 Figura 2 Figura 5 Figura 4 Figuras dermatopatias genitais Fig.1 Fig.2 Fig. 4 Fig. 5 Fig. 6 Fig. 4 Fig. 5 Fig. 6 Fig. 4 Fig. 5 Fig. 6 Figuras dermatopatias genitais Fig.1 Fig.2 DERMATOPATIAS GENITAIS MASCULINAS RE.CET | 25 Figura 12 Figura 13 Figura 14 gera acúmulo de glicolipídeos nos vasos sanguíneos. O tratamento é específico para a doença, que é progressiva e comumente causa a morte do paciente por transtorno cardiovascular antes dos 50 anos. Flebite de Mondor – comum em homens jovens com vida sexual ativa vigorosa, consite num processo inflamatório agudo com lesão endotelial da veia dorsal superficial do pênis. Clinicamente, manifesta-se com sinais flogísticos locais associados ao enduramento do trajeto da veia (Figura-12). A resolução ocorre espontaneamente em poucas semanas e anti-inflamatórios e calor local podem amenizar os sintomais. Flebectasias adquiridas da glande – também denominados lagos venosos, similares aos hemangiomas cavernosos, consistem em pequenos nódulos azulados assintomáticos que se atenuam com a digitopressão e aumentam com a ereção. A excérese cirúrgica ou eletrocauterização deve ser realizada apenas com objetivo de resolver problemas estéticos. lesões linfáticas – decorrem da deficiência da drenagem linfática genital, provacando linfedema (Figura-13). Podem ser congênitas ou adquiridas, como em casos de filariose, radiote- rapia pélvica ou procedimentos cirúrgicos como linfadenecto- mias. O tratamento geralmente é conservador, salvo naqueles casos em que há comprometimento da função do erétil, bem como motivos estéticos. leSÕeS InFlAMAtÓrIAS As lesões inflamatórias genitais se dividem em der- matites atópicas e líquen plano. • Dermatites atópicas Resposta inflamatória da pele a contato direto de substâncias irritantes ou alérgenas, após exposição repetida e sensibilização. São lesões eczematosas pruriginosas, podendo evoluir com bolhas e necrose da derme (Figura-14). Produtos de higiene, preservativos, espermicidas, medicamentos tópi- cos e roupas são exemplos de agentes desencadeadores. O tratamento consiste em cessar o contato, no uso de corticoi- des tópicos e anti-histamínicos. • Líquen plano É uma doença infl amatória e pruriginosa da pele. Afeta a região fl exora dos membros, tronco, mucosa oral e glande, sendo a glande comprometida em até 25% dos homens. Pápulas violá- ceas (Figura-15), reticulares (Figura-16) ou anelares, pruriginosas, que podem ulcerar, fazem parte do quadro clínico da doença. A etiologia é desconhecida, porém a associação com captopril, beta- Fig. 7 Fig. 8 Fig. 9 Fig.10 Fig. 11 Fig.12 Fig.13 Fig.14 Fig. 7 Fig. 8 Fig. 9 Fig.10 Fig. 11 Fig.12 Fig.13 Fig.14 Fig. 15 Fig. 16 Fig. 17 Fig. 18 Fig. 19 DERMATOPATIAS GENITAIS MASCULINAS RE.CET | 26 -bloqueadores e hepatite C são relatadas. O diagnóstico normal- mente é clínico, mas, quando ulcerado, deve ser biopsiado para confi rmação histopatológica. O tratamento é à base de corticoide tópico para alívio sintomático. Resolução espontânea em tempo variável é o esperado. FArMACoderMIAS São as dermatoses causadas por fármacos de for- ma direta ou indireta, independentemente da via de adminis- tração. Pode acometer qualquer parte do corpo, inclusive a região genital. As lesões podem aparecer imediatamente até algumas semanas após administração de fármacos. As formas de manifestação são múltiplas: erupções exantemáticas pru- riginosas, vesículas, bolhas e erosões dolorosas (Figuras 17 e 18). O tratamento consiste na identificação e interrupção do fármaco e sem evitar infecções secundárias. leSÕeS AutoIMuneS Representadas por lesões autoimunes genitais ou doenças autoimunes com manifestações genitais. • Behçet Consiste em úlceras recidivantes orais, genitais e acometimento ocular em pacientes jovens. São profundas e Fig. 15 Fig. 16 Fig. 17 Fig. 18 Fig. 19 Fig. 15 Fig. 16 Fig. 17 Fig. 18 Fig. 19 Fig. 15 Fig. 16 Fig. 17 Fig. 18 Fig. 19 Fig. 15 Fig. 16 Fig. 17 Fig. 18 Fig. 19 Figura 15 Figura 17 Figura 18 Figura 16 DERMATOPATIAS GENITAIS MASCULINAS RE.CET | 27 dolorosas, que se resolvem em duas a três semanas, deixando cicatrizes (Figura-19). A lesão urogenital não cutânea mais fre- quente é a epididimite. O tratamento feito com corticóide tópico. • Reiter Artrite reativa que aparece como complicação de uma infecção urogenital ou intestinal, caracterizada pela tría- de artrite, uveite e uretrite. As lesões genitais que afetam a glande, na forma de vesículas indolores, podem se romper, formando crostas, o que se conhece como balanite circinada (Figura-20). O tratamento das lesões cutâneas genitais é feito com base nos sintomas apresentados. Figura 19 Figura 21 Figura 22Figura 20 Fig. 20 Fig.21 Fig. 22 Fig. 23 Fig.24 Fig. 20 Fig.21 Fig. 22 Fig. 23 Fig.24 Fig. 20 Fig.21 Fig. 22 Fig. 23 Fig.24 Fig. 20 Fig.21 Fig. 22 Fig. 23 Fig.24 Fig. 20 Fig.21 Fig. 22 Fig. 23 Fig.24 Fig. 20 Fig.21 Fig. 22 Fig. 23 Fig.24 • Psoríase Doença cutânea sistêmica que afeta até 1% da po- pulação mundial. Consite em placas eritematosas e descama- tivas em couro cabeludo, mãos e cotovelos, podendo também acometer a região genital (Figura-21) com períodos de exa- cerbação e remissão bastante influenciados pelo estresse. O tratamento é feito com corticoides tópicos. leSÕeS PArASItÁrIAS • Escabiose O agente etiológico é o Sarcoptes scabei. Possui transmissão direta ou indireta e o prurido intenso com exa- cerbação noturna é o sintoma clínico mais importante (6-7). O tratamento é realizado com permetrina 5%, benzoato de benzila e ivermectina (Figura-22). DERMATOPATIAS GENITAIS MASCULINAS RE.CET | 30 Fig. 27 Fig.28 Fig. 29 Fig. 30 Figura 29 Fig. 27 Fig.28 Fig. 29 Fig. 30 Figura 30 (Figura-28). O diagnóstico é através de biópsia e o tratamento é a ressecção cirúrgica (16). - Carcinoma basocelular É a neoplasia mais frequente da espécie humana. Relacionado à exposição solar, por isso é raro na região ge- nital. Apresenta-se como úlcera genital (Figura-29) de cres- cimento lento. O diagnóstico é feito por biópsia e tratamento com exérese da lesão (13). - Melanoma Neoplasia rara na regão genital. Torna-se suspeita em lesão hiperpigmentada de rápido crescimento, podendo ulcerar (Figura-30). Sua localização mais frequente é na glan- de e apresenta metástase de forma rápida, com prognóstico dependente do diagnóstico precoce. O tratamento é amputa- ção peniana, com linfadenectomia ilioinguinal na eventualida- de de os linfonodos estarem acometidos (14, 15). ConFlItoS de IntereSSe Não há conflitos a declarar. reFerÊnCIAS 1. Tanenbaum MH, Becker SW. Papillae of the corona of the glans penis. J Urol. 1965;93:391-5. 2. Sufrn an Hubern, 1991. Sufrin G, Huben R: Benign and malignant lesions of the penis. In: Gillenwater JY, ed. Adult and Pediatric Urology, 2nd ed. Chicago: year Book; 1991: 1997-2042. 3. Edwards SK; European Branch of the International Union against Sexually Transmitted Infection and the European Office of the World Health Organization. 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[email protected] 13. Lynch BF, Pettaway CA. Tumor of penis. In Wash PC, Retik AB, Vaughan Jr ED, Wein AJ, Kavoussi LR, Novic AC et al. Campbell’s Urology 8 ed. Philadelphia , Saunders, 2002: 2945-82. 14. Agrawal A, Pai D, Ananthakrishnan N, Smile SR, Ratnakar C. The histological extent of the local spread of carcinoma of the penis and its therapeutic implications. BJU Int. 2000;85:299-301. 15. Cabanas RM. An approach for the treatment of penile carcinoma. Cancer. 1977;39:456-66. 16. Antony FC, Ardern-Jones M, Evans AV, Rosenbaum T, Russell-Jones R. Giant condyloma of Buschke-Loewenstein in association with erythroderma. Clin Exp Dermatol. 2003;28:46-9.