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Guias e Dicas
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Dicas Olavo de Carvalho, Manuais, Projetos, Pesquisas de Filosofia

Primeiro Olavo responde o e-mail da pessoa com várias dicas. Em seguida são apresentadas recensões e resenhas do Olavo, tudo relacionado à autoeducação.

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2021

Compartilhado em 19/01/2021

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vinicius-camatti-1 🇧🇷

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Baixe Dicas Olavo de Carvalho e outras Manuais, Projetos, Pesquisas em PDF para Filosofia, somente na Docsity! DICAS OLAVO DE CARVALHO Em 2004 eu estava sem rumo. Sendo de esquerda, não agüentava mais as críticas que pintavam as pessoas de esquerda como avessas ao conhecimento. Mandei então um e-mail para o filósofo Olavo de Carvalho pedindo-lhe dicas de leituras para que eu conseguisse ter um mínimo de orientação no mundo. E o e-mail que ele me enviou em resposta é um verdadeiro guia de honestidade intelectual. Até hoje não consegui comprar todos os livros nem colocar em prática tudo que ele me aconselhou porque, na verdade, é um plano de estudos para uma vida inteira. * E-mail de Olavo de Carvalho Prezado amigo, Deu louco para louco, vamos direto ao assunto: Não adianta estudar muito. Aristóteles dizia que a inteligência deve ser exercitada com moderação e constância. O truque é: 1 - Estudar todo dia um pouco. 2 - Não estudar nada sem um interesse total e absorvente. 3 - Ler devagar, com lápis na mão, e não deixar passar uma palavra desconhecida, uma frase mal compreendida. 4 - Ler somente os livros essenciais de cada área, sem perder tempo com obras de interesse periférico. 5 - Domine pelo menos três idiomas (ler e escrever -- conversação é para turista). Quanto a seleção de livros, estes são indispensáveis e, por eles, você chegará aos outros: 1 - Otto Maria Carpeaux, História da Literatura Ocidental (leia pela ordem, anotando cada autor importante citado e fazendo a lista dos livros que vai ler pelos próximos dez anos). 2 - Frederick Copleston, A History of Philosophy (idem) 3 - Eric Voegelin, Autobiographical Reflections (idem) 4 - Georges Gusgorf, Introduction aux Sciences Humaines 5 - Seyyed Hossein Nasr, Knowledge and the Sacred 6 - Max Friedländer, On Art and Connoiseurship 7 - Pitirim A. Sorokin, Novas Teorias Sociológicas 8 - Leo Strauss and Joseph Cropsey, History of Political Philosophy 9 - Otto Maria Carpeaux, Uma nova história da Música. Os estrangeiros talvez você encontre pelo site www.bookfinder.com Estou-lhe enviando em arquivo anexo um manual da vida intelectual (A vida intelectual, A. D. Sertillanges). Leia e pratique. Se isso não der certo, nada mais poderá dar. Um abração do Olavo de Carvalho Recensões e Resenhas Olavo de Carvalho c.1987 Numa lista de discussão, quando o assunto se dirigiu para o tema “leituras”, o filósofo Olavo de Carvalho postou esta preciosa aula, prefaciada pelo seguinte parágrafo: Já que a conversa é sobre leituras, reproduzo adiante uma aula que dei -- creio que em 1987 -- sobre a arte de ler livros. É uma transcrição de fita, feita por alunos, praticamente sem correções, de modo que não procurem aí elegância de linguagem. O conteúdo é útil para os que estiverem interessados em passar de uma leitura amadorística a uma leitura de estudioso profissional -- uma experiência que a maioria dos nossos alunos de universidade jamais fez. As resenhas a que o texto se refere eram exercícios que meus alunos faziam no curso. Eram consideradas uma exigência preliminar a toda e qualquer discussão do livro. Após algumas resenhas feitas por escrito, pode-se fazer a resenha oral, com elementos de memória. Uns anos desse treinamento, e você terá a maravilhosa, reconfortante -- e, no Brasil, raríssima -- experiência de entender do que está falando. Um livro só pode ser considerado lido quando: 1) está retido na memória, não palavra por palavra, é claro, mas na sua ordem interna real 2) você tem na mente várias ordens de leitura que ele admite e pode reconstruí-lo segundo várias hierarquias de importância; 3) você é capaz de compará-lo, no todo e nos detalhes de construção interna, com outros livros; 4) ele se tornou para você um esquema ou instrumento ótico, através do qual você conhece a realidade. Tudo isso só é possível quando a leitura tem uma finalidade, que não é "ler o livro". Temos de lê-lo para chegar a alguma coisa e, com a leitura, desempenhar um trabalho. A meta da leitura pode ser diferente da meta do livro. Ex.: um historiador que lê um romance para obter informações sobre uma época determinada. A finalidade da leitura pode coincidir em mais ou em menos com a finalidade do próprio livro. Utilidade da resenha: apresentar o livro a alguém que não vai lê-lo ou, ao menos, não vai lê-lo imediatamente. Você terá a função de ser o intermediário entre o autor e o público. Deverá apresentar o livro de modo suficiente para que alguém o conheça sem lê-lo. O leitor conhecerá o assunto menos do que você, e você o conhece menos do que o autor. Na medida em que apresentamos um livro para o leitor de menos conhecimento, temos de fazer um esforço explicativo (ex-plicare = desdobrar). A explicação deve ser muito menor do que o livro, por ser um resumo, mas deve ir além do seu conteúdo explícito, e Esse item nem sempre é necessário. In quarto, in octavo: só para obra rara. É obrigatório colocar o número de volumes, se houver mais de um (ex.: 3 vols.). Quanto ao número de páginas, é opcional. Na lista de livros que indiquei, o título entre parênteses indica para o leitor que existe uma tradução, mas que não foi essa que li. Fazer outra ficha, se quiser, para o original; aí não precisa colocar o nome do autor. Como ler o livro? O item 4 (resumo analítico), para quem lê, é o primeiro. Suponha que já leu o livro; aí vai se colocar as seguintes questões: DEFINIÇÃO GERAL (2) Primeiro, a definição geral do livro. Abrir chave que se refere à importância do livro para o leitor, porém transmitida, não em termos de avaliação segundo seu julgamento pessoal, mas segundo a importância objetiva, que se fundamenta em razões (de 2.1.1 a 2.1.6). Pode ser livro clássico (2.1.1). Ex.: o clássico de Gibbon, History of the Decline and Fall of the Roman Empire, vai ser editado em português pela primeira vez. Se o livro for raro ou inacessível também é motivo de importância objetiva. Se não for o caso, esse item cai fora. Contribuição nova a um debate importante (2.1.2) Assim considerado normalmente ou por que Você o considera; aí, é Necessário justificar. Mas para responder a esse item, Você teria de ler muito mais do que o livro referido -- como saber isso se Você não acompanha o debate? Para responder a essa questão, Você deverá ter uma informação vasta e estar habituado a ler sobre esse assunto. Caso contrário, apele para o consenso da crítica; leia alguns artigos sobre o assunto e consulte bibliografias comentadas. Ex.: Le Vocabulaire de Kant -- o debate é velho mas a novidade é que pode ser lido como se fosse um dicionário de Kant. Alguém já fez algo parecido? Procurar nas bibliografias comentadas. A resposta a esse item deve ser fundamentada nos fatos. Original? Inesperado? (2.1.3) O livro pode ser, por si mesmo, original ou enfocar o assunto de forma inédita, inesperada ou inabitual. Importa pelo assunto ou pela abordagem? (2.1.4) Ex.: O Marxismo Ocidental, de José Guilherme Merquior. Quase não há obra de conjunto sobre os autores marxistas ocidentais. O assunto no global é velho, mas o enfoque é novo -- aí é misto. Le Vocabulaire de Kant: o assunto é velho, porém a idéia de fazer um dicionário kantiano é nova. O que tem de interessante é que, apesar de ser um dicionário, pode ser lido como se não o fosse; é misto de dicionário e de introdução a Kant. É portanto original: É novo por ser um dicionário para ser lido e não para ser meramente consultado. Oportuno para o momento e o leitor? É útil? (2.1.5) Se atende a alguma demanda, é porque é oportuno. Quanto ao quesito utilidade, não é para Você dizer o que gosta e sim se é útil para o público, não para Você. Assunto, matéria (2.2) Definir o assunto (objeto material), o ponto-de-vista (objeto formal-motivo, 2.3) e o objetivo (objeto formal-terminativo, 2.4 -- uma avaliação crítica). Ex.: O Marxismo Ocidental = objeto material; encarado do ponto-de-vista de sua unidade = objeto formal-motivo; avaliação crítica da corrente = objeto formal-terminativo. Limites auto-impostos pelo autor (2.5) A amplitude do projeto, se é tratado em 1000 páginas ou em 200. Extensão (2.5.1) A extensão física como limite. A extensão limitará o tratamento do tema. Gênero (2.5.2) No caso do livro de Merquior, é ensaístico. O ensaio oferece uma teoria sugestiva em nível de prova dialética, sem a intenção de prová-la extensivamente; é uma tentativa que precede uma explicação. Quem escreve um ensaio considera que um estudo mais profundo vai comprovar sua tese, da qual dá apenas uma explicação suficiente. Abre um estudo a ser feito pelo autor ou por outros, do tipo: “essa tese é suficientemente importante para justificar um estudo mais profundo do tema”. Outros (2.5.3) Outros limites auto-impostos (“tratei do assunto só por este ângulo”). Esses limites podem estar explícitos. Ver prefácio. Os dois primeiros limites não estão declarados (extensão e gênero). É Você quem irá declará-los. Os outros estarão declarados pelo autor. A definição geral (2) é um problema interno do livro, apesar de tocar em algumas coisas externas. CONTEXTO (3) Trata-se do contexto intelectual onde entra o livro. Vai ser de dois tipos: diacrônico (o que aconteceu antes do livro ser escrito) e sincrônico (o quadro contemporâneo ao livro), 3.1. O autor (3.1.1) Avaliar a autoridade do autor, sua formação. Ex.: onde estudou? Fez estudos acadêmicos sobre esse assunto? Com quem aprendeu? Estudou em universidade ou é autodidata? Teve bons amigos que o ensinaram? Fez pós-graduação? Doutoramento? Uma contribuição importante oferecida por alguém sobre o autor pode mudar o quadro das coisas. O local onde estudou indica a atmosfera das idéias captadas pelo autor. A formação serve para legitimar o interesse ou formar o nível de exigência do leitor. Se o autor estudou em grandes centros, Oxford, Sorbonne, etc, não pode alegar falta de informações. Se veio da Universidade de Zâmbia, não se pode julgá-lo por isso. Ex.: Georges Gusdorf, num campo de prisioneiros na I Guerra, escrevia citando de memória, o que não tira o valor da obra. O autor pode, por brevidade, saltar fontes ou argumentar elipticamente. Você aí tem de desdobrar o que está implícito. Débitos reconhecidos (3.1.1.b) Verificar se o autor se declara seguidor de alguém. Ex.: quando o autor diz, “esse livro aplicará o método de G. Luckács ao assunto”, significa que está subentendida a obra de Luckács. Isso é importante porque às vezes o autor não foi influenciado por quem pensa e sim por outros. Ex.: no livro de Merquior, ele declara que alguns autores marxistas são, no fundo, nietzscheanos. Trabalhos anteriores do autor sobre a mesma matéria ou sobre outras (3.1.1.c) Esse dado é mais importante do que a formação do autor. Verificar se o autor já publicou outros livros sobre o mesmo assunto. Ex.: Merquior escreveu, anteriormente à publicação de O Marxismo Ocidental, sobre os autores marxistas individualmente. A matéria -- Estado da questão (status quaestionis) (3.1.2) É o contexto anterior à obra examinada. Em que ponto estão os debates sobre o tópico? É debate corrente? É terreno virgem? (3.1.2.a) O tema é considerado relevante e por quê? Deveria ser? (Não para Você, mas objetivamente) (3.1.2.b). Fazer breve lista apreciativa sobre os trabalhos anteriores (3.1.2.c). O livro escrito entra em debate já existente. Contemporâneo -- Quadro dos pontos de vista (3.2) A escola ou corrente a que se filia pode não coincidir com os débitos reconhecidos. Pode ter sido aluno de alguém sem ter absorvido sua disciplina. Ex.: José Guilherme Merquior foi aluno de Lévi-Strauss, o que não quer dizer que foi discípulo. Merquior é descendente ideológico do filósofo político Raymond Aron. Se o autor não se filia a nenhuma escola, inaugura outra? Há diferença entre o autor e os demais membros da escola? (3.2.1.b) Polemiza? Com quem? (3.2.2) Afirma algo ou nega afirmação precedente? Ex.: Merquior polemiza com os autores que examina e com a opinião marxista estabelecida. Um autor pode ser politicamente comunista mas sua análise não ser marxista (diferença entre a posição ideológica e a posição intelectual). Existem influências intelectuais sub-reptícias, que o indivíduo não percebe e que lhe alteram o olhar? (Trata-se de um problema da sociologia do conhecimento). Reexplicando o dado escola: não é dado externo, é dado da estruturação interna do livro, isto é, metodologia; não é uma questão tão somente ideológica mas metodológica. Trata- se da posição intelectual: o autor examina esse assunto desde que ponto-de-vista metodológico? RESUMO ANALÍTICO (4) (4.1) Enumeração dos grandes blocos em que o autor divide a argumentação. Isso pode coincidir com os títulos dos capítulos ou não. Há quem não saiba capitular (ex.: obras de Aristóteles). Ex.: livro de Merquior: - 1a etapa: conceito de mundo ocidental e pano de fundo; raízes do mundo ocidental no pensamento de Hegel, Marx e os idealistas alemães; - 2a etapa: os fundadores do marxismo ocidental; Livros que fizeram a minha cabeça e links para as páginas dos respectivos autores La page est fermée, insensible le livre, à celui dont le coeur ne sait pas éclairer la lettre extérieure avec le sens de l'expérience intime. GYGES LE CHARTIER Livros não fazem cabeças, é claro. O que as faz é o esforço individual de reviver os atos cognitivos – e não raro as escolhas morais – que precederam a escrita. Em todo caso, o problema fundamental da auto-educação é o de distinguir o essencial e o desprezível, concentrando a atenção no primeiro e poupando um tempo precioso – justamente aquele que o ensino universitário dispersa no estudo de mil e uma insignificâncias. Daí a utilidade de uma lista de obras essenciais. Mas essenciais sob qual ponto de vista? A primeira lista desse tipo que chegou ao meu conhecimento foi a de Mortimer J. Adler, em How to Read a Book. Seu critério era a importância das obras para a formação do cenário cultural do Ocidente; seu objetivo, habilitar o estudante a tomar parte na "grande conversação" da cultura Ocidental. Mas, perguntei eu, e se essa conversação, como um todo, tomasse um rumo desastroso e fosse necessário formar inteligências individuais capazes de se subtrair, ainda que por momentos, ao curso geral das coisas? Aí seria preciso dar-lhes uma formação totalmente diversa; seria preciso atrair sua atenção sobre obras e idéias que, não raro, permaneceram à margem do curso dominante. O extremo limite da perspectiva adleriana (em si mesma admirável) era a formação do cidadão consciente. Era preciso, pensei eu, transcender esse ideal meramente civil: era preciso formar inteligências capazes de atender à convocação do Apóstolo: "Sois vós que ides julgar o mundo." Cidadania, afinal, era apenas o nome de um papel social. Eu não queria educar as pessoas para o desempenho de um papel social, por nobre que fosse, mas para tornar cada uma delas apta a assumir o sentido da vida, na acepção que Viktor Frankl dá a este termo. Minha seleção, portanto, não poderia se pautar pela "importância histórica" das obras, mas pelo seu valor estratégico do ponto de vista do sentido da vida. Por outro lado, a própria perspectiva adotada impunha que a seleção abdicasse de toda pretensão a fundar uma normatividade média, um padrão universalmente copiável, mas se ativesse ao desejo de ser útil àquelas individualidades que, por sua própria decisão, desejassem embarcar na grande aventura do sentido da vida. A presente lista não tem, portanto, nenhum valor para os diretores de escolas, os ministros da Educação, os forjadores de sociedades futuras e todos os outros pretensos pais do amanhã mundial. Ela só quer ter utilidade para você, meu amigo, minha amiga, que, como eu, não têm outra ambição senão a de educar-se a si mesmos e chegar a compreender alguma coisa. Vocês, que não têm nenhum projeto de mundo, são no entanto a única esperança do mundo – de um mundo que vai sufocando sob a mão de ferro dos que se julgam habilitados a moldá-lo à sua imagem e semelhança. Os livros aqui listados são desiguais no tamanho, no prestígio e mesmo no valor intrínseco. Cheguei a esta lista através de muitas tentativas e erros, e sei que terei de revê-la – sobretudo com acréscimos – de tempos em tempos. E, se a seleção contém um forte elemento de preferência subjetiva, tanto melhor: se você quer o mesmo que eu, estes livros podem fazer por você o que fizeram por mim. 23 de Janeiro de 1999 Santo AGOSTINHO As Confissões A Cidade de Deus ARISTÓTELES Metafísica Física Da Alma Ética para Nicômaco Política Nikolai BERDIAEV Cinco Meditações sobre a Existência Espírito e Realidade Ensaio de Autobiografia Espiritual Georges BERNANOS Diário de um Pároco de Aldeia A Impostura O Grande Medo dos Bem-Pensantes Os Grandes Cemitérios sob a Lua Liberdade para Quê? Georges BERNANOS Diário de um Pároco de Aldeia A Impostura O Grande Medo dos Bem-Pensantes Os Grandes Cemitérios sob a Lua Liberdade para Quê? William BLAKE O Casamento do Céu e do Inferno O Livro de Jó Léon BLOY Exegese dos Lugares-Comuns O Desesperado Meu Diário Eugen von BÖHM-BAWERK Capital e Juros Luís Vaz de CAMÕES Os Lusíadas Lírica Otto Maria CARPEAUX História da Literatura Ocidental Ensaios Reunidos Gilbert K. 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