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Psicologia: Ciência e Profissão - Contextos de Atuação do Psicólogo, Esquemas de Psicologia

LIVRO DE PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO

Tipologia: Esquemas

2022

Compartilhado em 18/06/2022

fabiana-eloy
fabiana-eloy 🇧🇷

6 documentos

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UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE PSICOLOGIA
PSICOLOGIA: CIÊNCIA E PROFISSÃO
COLETÂNEA DE TEXTOS PARA FINS DIDÁTICOS ELABORADOS
PELO PROF. DR. WALDIR BETTOI
2017
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Baixe Psicologia: Ciência e Profissão - Contextos de Atuação do Psicólogo e outras Esquemas em PDF para Psicologia, somente na Docsity!

UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS

CURSO DE PSICOLOGIA

PSICOLOGIA: CIÊNCIA E PROFISSÃO

COLETÂNEA DE TEXTOS PARA FINS DIDÁTICOS ELABORADOS

PELO PROF. DR. WALDIR BETTOI

PSICOLOGIA: CIÊNCIA E PROFISSÃO

APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA

O objetivo da disciplina Psicologia: Ciência e Profissão é que você obtenha informações sobre a diversidade da Psicologia, como uma área do conhecimento científico humano, e sobre a diversidade da atuação profissional do psicólogo. Além de propiciar a você o contato com essas informações, outro objetivo da disciplina é que você reflita sobre os efeitos que a atuação do psicólogo produz sobre a sociedade, isto é, sobre a função social do profissional. A importância desses objetivos se justifica na medida em que se tem observado que parte significativa dos alunos que entram no curso não costuma imaginar o que vai encontrar ao entrar em contato com a ciência da Psicologia: uma imensa variedade de formas diferentes de pensar, de ideias, de crenças e convicções, que se denominam todas como Psicologia, coexistindo no mesmo espaço psicológico. Além disso, muitos dos alunos não conhecem as amplas possibilidades de atuação profissional do psicólogo, ou conhece apenas as possibilidades mais tradicionais. Para atingir esses objetivos, a disciplina oferecerá a você um conjunto de condições educacionais, presentes neste material com o qual você está entrando em contato. Essas condições são constituídas de textos, em que serão apresentadas algumas informações sobre a Psicologia e a atuação do psicólogo e em que se propõem algumas ideias para que pensemos criticamente sobre alguns pontos envolvidos. Cada um dos textos é acompanhado de atividades de estudo e reflexão sobre ele.

ORGANIZAÇÃO DOS TEXTOS

Os textos a serem lidos e estudados abordam quatro tópicos, diretamente relacionados aos objetivos da disciplina: 1. A diversidade da ciência psicológica; 2. A diversidade da atuação do psicólogo: 3. A atuação do psicólogo em contextos específicos e 4. A função social da atuação do psicólogo. Algumas breves informações sobre os textos são apresentadas a seguir: Texto 1 : A Diversidade da Ciência Psicológica O assunto do primeiro texto já foi mencionado no início desta apresentação: nele se apresenta uma característica fundamental da Psicologia como Ciência, que é a diversi- dade do pensamento e do conhecimento psicológico. Como dissemos, muitos alunos

TRABALHO DE CAMPO:

contato direto com profissionais, através de entrevistas

As informações sobre a atuação do psicólogo, veiculadas nos textos que você irá ler, serão complementadas por outras informações resultantes de entrevista s que você realizará com profissionais que estejam atuando no mercado de trabalho de sua cidade, nos diversos contextos de atuação existentes. Durante aulas específicas, você receberá instruções e orientação para este trabalho, que será realizado em grupo.

Psicologia: Ciência e Profissão

Texto 1: A Diversidade da Ciência Psicológica

O primeiro assunto que será apresentado refere -se a uma questão que precisa ser abordada logo de início na sua formação de psicólogo. Essa questão diz respeito à própria área de conhecimento que você resolveu estudar. A pergunta que se coloca é a seguinte: ao falarmos em “Psicologia”, estamos falando de um único corpo de conhecimento, sólido, indivisível e coeso ou estamos nos referindo a várias formas de pensar sobre os fenômenos psicológicos humanos, formas estas algumas vezes até diferentes entre si? Ao invés de nos referirmos à "Psicologia" (no singular) seria mais apropriado falar nas "Psicologias"? Estas e outras interessantes questões são discutidas no texto que você vai ler. Ao final dele você encontrará um roteiro de atividades de leitura e reflexão sobre os assuntos abordados que poderá ser bastante útil nesta sua primeira atividade de leitura da disciplina.

A DIVERSIDADE CARACTERÍSTICA DA CIÊNCIA PSICOLÓGICA^1

Podemos começar sua primeira leitura desta disciplina imaginando alguém nos seus primeiros dias como aluno ou aluna de Psicologia, começando a frequentar a faculdade e conhecendo todas as matérias, bastante curioso em relação ao que vai encontrar pela frente. Este aluno curioso quase certamente tem algumas expectativas, imagina determinadas coisas sobre a Psicologia e sobre a profissão e espera coisas de seu curso. Se fosse possível a gente adivinhar essas expectativas, poderíamos encontrar alguém pensando o seguinte: "Bom, estou pronto pra começar a aprender a Psicologia e o que o psicólogo faz. Tenho 5 anos pela frente pra 'devorar' o máximo que eu puder do que ela sabe sobre o ser humano. Não vejo a hora de conhecer e ssa 'coisa' chamada Psicologia!”. O pensamento desse estudante imaginário poderia estar revelando algumas expectativas que precisam ser comentadas aqui, nesta sua primeira leitura, porque elas estão diretamente relacionadas ao que vai acontecer neste curso que você está

(^1) Colaboraram na elaboração deste texto os professores Rita N. Gabriades e Carlos E. Costa

que aquela tal coisa é B e não A. E aí? Como é que fica?! Se tudo isso está sendo apresentado pra mim como Psicologia, não seria melhor falar 'Psicologias'?!" Talvez esse aluno nem imaginasse que alguns estudiosos responderiam afirmativamente à sua pergunta. "Sim, diriam eles, esta é uma característica fundamental da Psicologia, é esta a "cara" dela atualmente. Seria mais adequado falar em 'Psicologias', portanto". Esta é , por exemplo, a posição que é defendida por um estudioso do assunto, o professor e psicólogo Luís Claudio Figueiredo (ver referência ao final deste texto). A Psicologia, diferentemente de outras ciências, não tem um objeto único de estudo e não tem uma forma única de abordá-lo (ou seja, não possui um método de estudo único). Se pensarmos na Psicologia como um todo, ela estuda fenômenos bastante variados, como a mente, o inconsciente, o comportamento, as relações humanas etc. Às vezes interessa-se pela Fisiologia, outras por algo menos palpável, às vezes está interessada no indivíduo, outras no grupo; às vezes dá muita importância ao "interior" dos indivíduos como determinante de seus atos, outras vezes se concentra na influência do ambiente e da educação sobre o comportamento huma no. Portanto, a Psicologia é marcada pela DIVERSIDADE. Diversidade teórica, diversi dade metodológica, diversidade prática, diversidade de crenças etc. Figueiredo (1992) se refere a essa característica da Psicologia como o "estado frag - mentar do conhecimento psicológico" e diz que a Psicologia tem sido considerada um "espaço de dispersão". Isto é, o conhecimento psicológico não é "uno", único, coerente, no geral, e totalmente integrado. O que se observam são diferentes formas de pensamento em Psicologia, "linhas" ou "correntes" de pensamento, também chamadas "abordagens". Se considerarmos a Psicologia como um espaço, poderíamos observar que estas diferentes formas de pensamento ocupam diferentes pontos deste espaço, já que não têm as mesmas origens e objetivos. Note que a partir desse ponto de vista, não há porque considerar, de antemão, essa característica "fragmentar" ou "dispersiva" da Psicologia como algo ruim, nocivo, desorganizado. Independente de como pudéssemos avaliar essa situação, se boa ou rui m, o que se propõe é que essa é a característica fundamental da Psicologia. Aquilo que no primeiro momento poderia parecer caótico poderia vir a mostrar algum sentido, principalmente quando começamos a estudar a origem de toda essa dispersão, de todas essas convergências e divergências que se encontram na Psicologia (ou nas várias "Psicologias" estudadas).

Figueiredo (1992) utiliza a expressão "matrizes do conhecimento psicológico" para se referir às origens dessas diferentes formas de pensamento em Psicologia. Ele define as matrizes como "grandes conjuntos de valores, normas, crenças metafísicas, concepções epistemológicas e metodológicas que subjazem às teorias e às práticas profissionais dos psicólogos". Provavelmente você não deve estar muito familiarizado com essas expressões que compõem essa definição, mas o que ela pretende explicar é que , ao longo de sua história, a Psicologia foi sendo construída sob diferentes influências sociais, culturais, políticas e históricas que foram determinando as diferentes trajetórias que as diversas correntes de pensamento foram assumindo. "Matriz" remete ao sentido de "mãe", aquela que dá origem e, nesse sentido, ao falar em "matrizes", o autor se refere às diversas "mães", ou matrizes geradoras, do conhecimento psicológico. Em determinados momentos da História, aquilo que se pensava sobre várias coisas relacionadas ao ser humano era diferente e variava em termos de valores e normas (por exemplo, respostas a perguntas do tipo: “O que é certo e errado?”, “Como o homem deve se comportar?” etc.), crenças metafísicas (por exemplo, respostas a perguntas do tipo: “Quem criou o mundo e o Homem?”; “Qual a finalidade da existência?”; “Existe um Deus?” etc.), concepções epistemológicas e metodológicas (por exemplo, respostas a perguntas do tipo: “Como se obtém o conhecimento?”; “Qual a confiança que se pode ter em um conhecimento? ”; “Quais são os procedimentos mais adequados que o homem deve utilizar para conhecer a si e ao mundo?” etc.). Como as respostas para essas e outras perguntas não foram sempre as mesmas ao longo da História, isso acabaria determinando as diferentes trajetórias que a construção do conhecimento psicológico foi assumindo. Buscar o conhecimento sobre essas diversas "mães" ajudaria os psicólogos, portanto, a entender aquilo que, apenas aparentemente, seria sinal de caos e desorganização. Seria curioso retomarmos o exemplo daquele aluno imaginário depois de ele ter entendido que não faria sentido ter como expectativa o encontro co m uma "única" Psicologia na faculdade. Acontece que, agora, tendo constatado que existem várias "Psicologias", ele enfrenta certa angústia, certo desconforto, quando se pergunta: "E eu, nisso tudo?"; "Qual (ou quais) das Psicologias eu vou adotar?"; "Quantas abordagens diferentes posso adotar?"; "Qual vai ser a ‘minha’ Psicologia?". Sobre esse conflito vívido por nosso aluno imaginário, Figueiredo (1992) faz algumas considerações importantes. Ele acredita que o aluno de Psicologia e o próprio

confronta com seu diferente, com o "Outro", com aquele ou aquilo que não é você (há uma palavra para designar isso: "alteridade"). Quando o dogmático diz "só a minha forma de pensar é que vale, as outras não me interessam", ele está impossibilitado de enfrentar o outro, aquilo que é diferente dele e, sendo assim, nem ele, nem a Psicologia teriam a possibilidade de se desenvolver, de crescer. A mesma coisa aconteceria com o eclético: acreditando que possa adotar ao mesmo tempo todas as formas de pensar e agir, não enfrenta aquilo que elas todas têm de diferente; ele desconsidera o que elas têm de essencial, estrutural e particular e que a s torna diferentes. O resultado disso é que aqui, também, não há possibilidade de crescimento e desenvolvimento porque o psicólogo não está experienciando a diversidade, a alteridade das teorias e formas de pensar. Voltando ao nosso aluno calouro que se encontrava confuso frente a tanta novidade que o contato com a Psicologia estava lhe trazendo, é importante que ele saiba que alguma escolha ou escolhas ele fará à medida que for se formando em Psicologia. E claro que ele estabelecerá preferências, concordará pessoalmente com algumas coisas e discordará de outras, mas certamente ele fará escolhas. O que o autor do texto propõe é que os psicólogos enfrentem essa questão da diversidade característica da Psicologia de duas maneiras, com dois "movimentos": (a) o "movimento construtivo" em que o psicólogo estará produzindo conhecimento, buscando respostas para as perguntas que envolvam seu objeto de estudo e profissão, com base em recursos e referências oferecidos por uma ou mais teorias, pensando e estabelecendo relações entre as proposições teóricas e sua prática profissional. Mas para que isso possa re sultar em crescimento da Psicologia é importante que ocorra, ao mesmo tempo, (b) o "movimento reflexivo", que se caracteriza pela reflexão constante sobre as várias teorias e siste mas de pensamento existentes. É essa reflexão que garantirá a possibilidade de contato com o outro, com o diferente. Refletir sobre as minhas teorias e a dos outros significaria, portanto, a possibilidade de crescimento. Refletir sobre os pressupostos das minhas e das outras teorias permitiria que eu conhecesse melhor os meus pressupostos porque os veria em contraste com os dos outros. Este trabalho de reflexão, com o objetivo de se encontrar o que existe "por trás", ou subjacente ("por baixo", "na base") às diversas formas de pensar, me levaria à identificação das várias matrizes diferentes que subjazem às diversas teori as. A questão aqui não é descobrir qual "a melhor" teoria, a mais "verdadeira", ou a mais "científica". Todo o conhecimento obtido até agora pela Psicologia, o foi baseado em alguns

pressupostos, algumas crenças a respeito do quê conhecer e de como fazer para conhecer. Por isso não faria sentido eu me dedicar a provar que a teoria do outro é falsa ou verdadeira porque, para isso, eu usaria os meus próprios pressupostos, aquilo que eu entendo por "verdade", "conhecimento", "realidade" etc. Isso não seria j usto, nem faria sentido, porque a teoria do outro se baseou em outros pressu postos, em outros conceitos do que é "verdade", "conhecimento" etc. e estará sendo julgada a partir de pressupostos diferentes. A reflexão sobre as teorias, buscando compreender s uas matrizes, estaria, portanto, além dessa atividade comparativa para escolher a "melhor". Segundo Figueiredo (1992), ela permitiria uma "ampliação da nossa capacidade de pensar acerca do que acreditamos, acerca do que fazemos e de quem somos". O aluno confuso ainda insiste na questão de "quantas teorias ou abordagens posso adotar?" e o que diríamos a ele é que a questão não se resolve com a adoção de um número x de abordagens, mas de quais e como são essas abordagens. Novamente, a questão volta a ser a das matrizes que originaram as diversas correntes de pensamento em Psicologia: a reflexão sobre as matrizes é que dirá quais abordagens são conciliáveis, quais não o são; é o conhecimento profundo dos pressupostos que subjazem a cada teoria que permitirá ao estudioso ou ao profissional decidir qual ou quais abordagens adotará. Alguns pressupostos dessas teorias coexistem, outros não podem ocupar a mesma posição em um único pensamento por serem incompatí veis. Por exemplo, vamos supor que o aluno escolha a abordagem "X" que se baseia, entre outras coisas, no pressuposto de que o Homem é um ser livre, que as razões de seu compor tamento estão dentro dele mesmo e que é preciso identificar esses determinantes internos para compreender seu comportamento. Neste caso, seria incompatível esse mesmo aluno adotar a abordagem "Y" que se baseia, por exemplo, no pressuposto de que o Homem não nasce livre, e que a razão para seu comportamento se encontra no seu ambiente cultural, social, econômico etc., que está, portanto, "fora" e não "dentro" dele. Para essa abordagem "Y", a tarefa da Psicologia seria conhecer esses determinantes externos para compreender seu comportamento. Depois disso, o aluno que agora não estava mais tão confuso, ficou um pouco ansioso porque percebeu que para ser psicólogo terá que estudar constantemente, que seu estudo não terminará quando ele terminar a faculdade. A diversidade da Psicologia estará sempre presente, mas isso, como já vimos, é uma das características principais da área de conhecimento que adotamos como base para a nossa profissão.

ATIVIDADES PARA ESTUDO E REFLEXÃO SOBRE O TEXTO 1

  1. Explique, com suas próprias palavras, a afirmação: "A Psicologia, como área de conhecimento e profissão, é marcada pela diversidade e pode ser caracterizada como um 'espaço de dispersão'”.
  2. Qual é a origem da diversidade na Psicologia? Explique, com suas próprias palavras, o que são as matrizes do conhecimento psicológico, na definição de L. C. Figueiredo.
  3. O que são o dogmatismo e o ecletismo e por que surgem? Por que o autor considera-os inaceitáveis?
  4. O que Figueiredo propõe como atitude para o psicólogo lidar com a diversidade da Psicologia?
  5. Por que não faria sentido no contexto da diversidade da Psicologia, procurar descobrir qual a corrente de pensamento mais "verdadeira" ou mais "científica"?
  6. Faça uma reflexão sobre o poema reproduzido abaixo, com base no texto lido:

A VERDADE Carlos Drummond de Andrade A porta da verdade estava aberta, mas só deixava passar meia pessoa de cada vez. Assim não era possível atingir toda a verdade, porque a meia pessoa que entrava só trazia o perfil de meia verdade. E sua segunda metade voltava igualmente com meio perfil. E os meios perfis não coincidiam. Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta. Chegaram ao lugar luminoso onde a verdade esplendia seus fogos. Era dividida em metades diferentes uma da outra. Chegou-se a discutir qual a metade mais bela. Nenhuma das duas era totalmente bela. E carecia optar. Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

(Do livro "O Corpo", da Editora Record, 1984)

Psicologia: Ciência e Profissão

Texto 2: A Diversidade da Atuação do Psicólogo

Inicialmente é importante que fiquem claros os objetivos deste texto que você está começando a ler. Você já sabe que um dos objetivos desta disciplina é que você tenha acesso a informações importantes sobre a diversidade da atuação de psicólogo e que tenha alguns elementos para que possa refletir criticamente sobre ela. Neste Texto 2, você encontrará algumas informações básicas sobre o que o psicólogo faz, concretamente, nos contextos em que atua e sobre algumas características desses contextos. A diversidade da Psicologia e da atuação prática do psicólogo ficará evidente, quando você identificar no texto a variedade de formas diferentes que as atividades profissionais assumem. São variados e múltiplos os seus locais de atuação, os tipos humanos e variedade de pessoas com as quais os psicólogos têm contato no seu cotidiano profissional, dependendo dos diferentes contexto s nos quais eles desempenham suas atividades. Em vista disso, e levando em consideração o tempo disponível, o texto não pretende apresentar uma discussão aprofundada de cada um desses contextos ou da atuação profissional do psicólogo. O objetivo dele é, portanto, relativamente simples: pretende-se, com a sua leitura, que você ganhe familiaridade com alguns termos que devem ser novos para você, mas que são comumente utilizados entre os psicólogos. Além disso, é importante que você aprenda o significado de alguns desses termos, que envolvem a atuação dos profissionais nos vários contextos que serão estudados.

A DIVERSIDADE DOS CONTEXTOS DE ATUAÇÃO Um texto que se propõe a apresentar algumas atividades dos psicólogos a alunos iniciantes na profissão deverá necessariamente incluir os contextos em que tais atividades se dão. Isto é, as ações profissionais dos psicólogos se dão dentro de um determinado contexto que as afeta e é afetado por elas. Quando o profissional realiza uma atividade, ele o faz em um determinado local, com determinadas características, relacionando-se com seres humanos específicos, provenientes de determinados segmentos sociais e culturais, dentro das condições sócio-econômico-culturais do país,

CONTEXTOS QUE ENVOLVEM O TRABALHO INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIO

O espectro e a diversidade desses contextos são bastante amplos e variados. Eles envolvem, por exemplo, a atuação dos psicólogos em orfanatos, asilos ou instituições equivalentes. A atuação institucional envolve, também, por exemplo: o trabalho dos profissionais nas instituições de atendimento psicológico a portadores de deficiências; nas organizações não governamentais (ONGs) de várias naturezas; em sindicatos e associações profissionais; em clubes e entidades esportivas (através da Psicologia do Esporte); em instituições da Justiça, como presídios, Varas da Família, Juizado do Menor etc. (através da Psicologia Jurídica); em agências de Publi cidade; nos centros psicotécnicos para exame de motoristas; em entidades comunitárias, como associações de bairro, por exemplo. Note que esses são apenas algumas ilustrações da variedade de contextos institucionais onde o psicólogo pode trabalhar.

CONTEXTOS QUE ENVOLVEM A PESQUISA Quando a atividade do psicólogo visa especificamente à produção do conhecimento psicológico, ela se dá em contextos basicamente voltados para este objetivo, como as universidades, por exemplo, em que o psicólogo docente é contratado para transmitir e construir conhecimento (pesquisar). Não é muito frequente, no Brasil, a pesquisa psicológica realizada fora das universidades, como nas empresas privadas, por exemplo. No entanto, se entendermos a pesquisa como uma forma sistemática de buscar respostas para perguntas sobre os fenômenos psicológicos, pode-se dizer que ela não se restringe aos contextos de trabalho dos psicólogos-professores, apenas, mas se estende, também, aos profissionais dos mais diferentes contextos. Assim, por exemplo, os psicólogos realizam pesquisas associadas ao seu contexto específico de trabalho, como nos hospitais, nos consultórios, nas agências de Publicidade ou em outras das instituições citadas.

A DIVERSIDADE DE ATUAÇÃO: ALGUMAS ATIVIDADES DOS PSICÓLOGOS

Serão apresentados, a seguir, alguns exemplos de atividades que são desempenhadas nos diversos contextos de atuação mencionados acima. Não perca de vista que elas são apenas alguns exemplos das atividades mais comumente realizadas. Certamente, nas entrevistas que você fará com os profissionais, outras atividades serão mencionadas, além destas.

1. ATIVIDADES DE COLETA E AVALIAÇÃO SISTEMÁTICAS DE INFORMAÇÕES 1.1. Observação : A atividade de observar parece ser uma das mais básicas e essenciais ao trabalho do psicólogo, já que a Psicologia, como ciência, implica a produção de conhecimento que seja metódica e crítica (diferente da produção de conhecimento feita, na maioria das vezes, pelo ser humano quando utiliza seu senso comum). Sendo assim , ao invés de "chutar" simplesmente uma resposta para uma questão que ele tem, o psicólogo prefere observar sistematicamente o fenômeno estudado. Há regras e técnicas para a observação (que você aprenderá em outras disciplinas). Por exemplo, a observação pode ser feita em ambiente natural, no qual o fenômeno estudado normalmente ocorre, ou em situação planejada, na qual o psicólogo cria uma situação específica para o sujeito e o observa nela.

1.2. Aplicação de testes e outros instrumentos Você terá a oportunidade, ao longo do seu curso, de entrar em contato com vários testes (às vezes chamados de "instrumentos de medida"), desenvolvidos e pesquisados pela Psicologia. Os teste são utilizados para identificar e conhecer os mais variados tipos de fenômenos. Há testes de personalidade, testes de desempenho intelectual, testes de desempenho específico (por exemplo, de lógica, raciocínio espacial, raciocínio mecânico) etc. Em algumas situações, o psicólogo desenvolve instrumentos especificamente voltados para a obtenção de informações no seu contexto de trabalho particular.

1.3. Entrevista Igualmente básica, a atividade de entrevistar aparece desempenhada pelos psicólogos, nos mais diferentes contextos. Você aprenderá, com o tempo, que uma

psicológico de bebês e a quantidade de stress da mãe durante a gravidez. Para isso, terá que desenvolver ou utilizar instrumentos de medida do stress da mãe , entrevistá-la, observar o desenvolvimento de bebês etc. Na escola, ao pesquisar, por exemplo, as relações entre aprendizagem e tipo de aula (expositiva, seminário, discussão em grupo etc.), o psicólogo deverá observar a aula dada pelo professor, entrevistar alunos e professores e utilizar testes ou instrumentos de medida de aprendizagem.

2. PSICOTERAPIA Vamos, nesta disciplina, considerar a psicoterapia como uma atividade em que o psicólogo aplica um conjunto de técnicas e métodos psicológicos, cujas características e objetivos podem variar, dependendo das concepções teóricas e metodológicas que servem de referência para o profissional (ANCONA-LOPEZ e FIGUEIREDO, 1990). Entre a diversidade de objetivos da psicoterapia, dependendo da abordagem mencionada, podem ser citados como exemplo: a solução de problemas; modificação de comportamentos através de novas aprendizagens; desenvolvimento de novas con cepções sobre si e o mundo; autoconhecimento: transformação da personalidade etc. Ainda assim, embora a psicoterapia seja uma atividade voltada para múltiplos objetivos e se desenvolva de maneiras muito diferentes, dependendo dos pressupostos epistemológicos e teóricos do psicólogo que a utilize, consideramos importante a concepção da psicoterapia como uma das formas de o psicólogo contribuir para a promoção da saúde dos cidadãos. As diferentes abordagens teóricas da Psicologia, assim, servem de base para as diferentes abordagens psicoterápicas que você pode encontrar entre os psicólogos. Exemplos dessas diferentes abordagens orientadoras dos psicoterapeutas: psicanálise ou análise freudiana, análise existencial, análise junguiana (de Jung – o J do nome é pronunciado como I ), terapia comportamental, cognitiva etc. Uma modalidade de psicoterapia, a chamada psicoterapia breve , tem sido muitas vezes utilizada em alguns contextos que demandam menor tempo de duração da terapia. Neste tipo de atividade, o terapeuta tem uma intervenção mais focalizada, buscando atingir objetivos mais imediatos, principalmente decorrentes da especificidade do contexto de vida atual do cliente, (por ex., uma separação, uma perda, uma interrupção abrupta na carreira profissional, uma internação hospitalar etc.).

Nos contextos educacionais e do trabalho nas organizações a psicoterapia não é frequentemente utilizada, sendo uma prática mais comum o psicólogo encaminhar a pessoa para um psicoterapeuta, quando julga necessário. A atividade psicoterapêutica do psicólogo é desempenhada principalmente nos contextos que envolvem a Saúde, em especial nos consultórios particulares. Em outros contextos de Saúde, que atendem um número grande de pessoas (por exemplo, um hospital público ou posto de saúde), a prática psicoterapêutica tradicional, individual, feita um-a-um, se torna bastante inviável. Isso tem levado os psicólogos à utilização ou de técnicas grupais, ou de outras atividades mais apropriadas a esses contextos. O mesmo pode ser dito em relação à atuação dos profissionais em co ntextos institucionais variados que tenham características incompatíveis com a atividade da psicoterapia tradicional.

3. ACONSELHAMENTO E ORIENTAÇÃO Esta atividade de aconselhamento e orientação, como na terapia breve, se dá voltada para uma situação específica que caracteriza o momento de vida de um indivíduo ou de um grupo. Entretanto, diferentemente da terapia breve em que o objetivo é "tratar” de um problema específico, no aconselhamento e orientação o psicólogo assume uma posição que é, principalmente, mais educativa. Isto é, com base nos conhecimentos da Psicologia, o psicólogo esclarece as pessoas sobre determinados fenômenos da psicologia humana, nos seus aspectos cognitivos, afetivos e comportamentais. Essas informações serão úteis para que a pessoa reflita sobre si e a situação que está vivendo, de forma a lidar da melhor forma possível com sua vida. A orientação e o aconselhamento aparecem em vários contextos diferentes de atuação do psicólogo. Por exemplo, em hospitais, orientações para grupos de pacientes transplantados e suas famílias; em um posto de saúde, orientação de gestantes ou de mães; em uma escola, orientação vocacional ou sexual ou orientação para pais de filhos com problemas de aprendizagem (orientação psicopedagógica). A orientação e o aconselhamento também podem ser atividades que o psicólogo desempenha tendo como sua “clientela” outros profissionais. Por exemplo, no contexto de Saúde, em que médicos, enfermeiras e atendentes têm contato , através do psicólogo, com o conhecimento da Psicologia que lhes é necessário, o que resulta em benefício para a clientela atendida e para o próprio profissional. No contexto educacional, na atividade