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reprodução de peixes de riachos na reserva biológica de, Esquemas de Ecologia

fui água saborosa… inodora nunca gasosa… ser gasosa é ser invisível, intocável, odeio a invisibilidade que torna tudo frio e sem vida.

Tipologia: Esquemas

2023

Compartilhado em 16/01/2023

Nazareth85
Nazareth85 🇵🇹

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REPRODUÇÃO DE PEIXES DE RIACHOS NA RESERVA
BIOLÓGICA DE SOORETAMA (SOORETAMA, ES) COMO
FERRAMNETA PARA CONSERVAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA
Priscila Plesley Alves da Silva
Dissertação de Mestrado
Programa de Pós-graduação em Biodiversidade Tropical
Universidade Federal do Espírito Santo
São Mateus, 2017
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Baixe reprodução de peixes de riachos na reserva biológica de e outras Esquemas em PDF para Ecologia, somente na Docsity!

REPRODUÇÃO DE PEIXES DE RIACHOS NA RESERVA

BIOLÓGICA DE SOORETAMA (SOORETAMA, ES) COMO

FERRAMNETA PARA CONSERVAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA

Priscila Plesley Alves da Silva

Dissertação de Mestrado

Programa de Pós-graduação em Biodiversidade Tropical

Universidade Federal do Espírito Santo

São Mateus, 2017

“REPRODUÇÃO DE PEIXES DE RIACHOS NA RESERVA BIOLÓGICA DE

SOORETAMA (SOORETAMA, ES) COMO FERRAMNETA PARA CONSERVAÇÃO

DA MATA ATLÂNTICA”

Dissertação submetida ao Programa de Pós- Graduação em Biodiversidade Tropical da Universidade Federal do Espírito Santo como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Biodiversidade Tropical.

Orientador: Prof. Dr. Luiz Fernando Duboc Coorientador: Dr. Leonardo Ferreira da Silva Ingenito

Universidade Federal do Espírito Santo

São Mateus, 2017

v

À Gerson e Rosânia, pela vida e amor, Á minha família, por tudo que sou.

Pois, “a força da alcateia é o lobo, e a força do lobo é a alcateia”

vii

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, sempre em primeiro lugar, pela vida e pelas coisas vividas, pela oportunidade de chegar onde cheguei e por ter o que agradecer... À minha família, pais e irmãos, por acreditarem no meu potencial e por sempre me apoiarem, sob quaisquer circunstâncias, por entenderem a ausência de sempre, e por me amarem mesmo assim... AMO VOCÊS SEMPRE! Ao Iago, companheiro adorável, por estar ao meu lado e me suportar quando nem eu mesma me suporto mais. Obrigada pela dedicação e por compartilhar a sua vida com a minha! Aos amigos da vida, aos presentes e aos ausentes, que sempre torceram por mim, aos amigos da faculdade pelas infinitas alegrias compartilhadas. Muitíssimo obrigada ao precioso professor, chefe, amigo e as vezes pai, Duboc, por sempre acreditar em mim, mais do que eu mesma. Obrigada pelo tempo disponibilizado em todos estes anos de trabalho, por me ensinar sempre tantas coisas... por trilhar este trabalho e me mostrar os caminhos a seguir. Obrigada por existir e por ter se esbarrado comigo, pelas portas que me abriu e pela família que me deu, sem você nada disso existiria! Obrigada Léo, pela coorientação, pelas experiências e ensinamentos repassados em todos estes anos, pela contribuição no lab, nos projetos, nos campos e nas burocracias... por contribuir na minha formação profissional. Obrigada ao NuPPeC, pelas vivencias de todos os dias, pelas incontáveis ajudas em campo e no laboratório, em especial as queridas Cecis, Debs, Naty e Cris, pela vida compartilhada. Também obrigada pelos melhores campos na Reserva de Sooretama, pela comida (Cecis) e pelos sustos e conversas na madrugada (Debs), hahaha, temos histórias para contar…Vocês são show! Obrigada também pela parceria na realização das fotos e edições das mesmas. Muitíssimo obrigada Cris pela confecção do mapa. Agradeço especialmente a minha amiga Lorena, por tantas experiências trocadas, por me ensinar a arte da microscopia, sempre com muita paciência e amor. Pelas incansáveis contribuições, dicas, ajudas no laboratório, enfim... muito obrigada por ter sido tão solicita sempre que precisei e por participar tão ativamente deste trabalho. Obrigada pela amizade compartilhada em todos estes anos nos quais estivemos juntas!

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Obrigada ao Laboratório de Biologia Estrutural (PPGBT - Ceunes) por ceder espaço, equipamentos e matérias, além de ensinamentos para a realização deste trabalho; aos Laboratórios de Ecologia de Manguezal e Ecologia Aquática (PPGBT - Ceunes) por possibilitar a realização das análises de sedimento realizadas neste estudo. Agradeço a Reserva Biológica de Sooretama, pela autorização para a realização deste estudo e por ceder alojamento, transporte e funcionários para auxilio nos campos realizados. Sou grata a todos os funcionários pela gentileza e contribuição em todas as vezes que estive por lá. Aos caros professores membros da banca, por aceitarem gentilmente participar e contribuir com este trabalho, muito obrigada! Obrigada ao Programa de Pós-graduação em Biodiversidade Tropical e ao CEUNES/UFES pela infraestrutura. À FAPES pelas bolsas concedidas para a realização desta pesquisa (processos 71525513/2015 para PPAS, 53132203/2011, DCR, e 68856598/2014, PROFIX para LFSI); Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, proc. 558246/2009- 5, PELD para LFD; e 350672/2011-3, bolsa DCR para LFSI); e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES, bolsa de pós-doutorado PROFIX para LFSI). Obrigada a todos que direta ou indiretamente contribuíram para que esse trabalho fosse realizado, minha gratidão!

    1. INTRODUÇÃO ABSTRACT xiii
    • 1.1. OBJETIVOS
    1. ÁREA DE ESTUDO
    • 2.1. Bases de estudo
      • 2.1.1. Córrego Rodrigues....................................................................................
      • 2.1.2. Córrego Cupido.........................................................................................
    1. MATERIAL E MÉTODOS
    • 3.1. Integridade do hábitat
    • 3.2. Fatores abióticos
    • 3.3. Sedimento
      • 3.3.1. Análise granulométrica
      • 3.3.2. Matéria orgânica (MO)
    • 3.4. Captura da ictiofauna
    • 3.5. Preparo do material em laboratório
    • 3.6. Técnicas de preparação de lâminas histológicas
      • 3.6.1. Preparação da amostra biológica
      • 3.6.2. Inclusão
      • 3.6.3. Microtomia e coloração
      • 3.6.4. Visualização e análises
    • primeira maturação sexual (L 50 ). 3.7. Estrutura populacional em tamanho e determinação do comprimento médio na
    • 3.8. Análise dos Aspectos Reprodutivos
      • 3.8.1. Proporção sexual e estádios de maturação
      • 3.8.2. Época e tipo de desova
      • 3.8.3. Relação gonadossomática
      • 3.8.4. Fator de condição
    • 3.9. Análises estatísticas
    1. RESULTADOS
    • 4.1. Caracterização das bases de estudo
      • 4.1.1. Índice de integridade de habitat (IIH)
      • 4.1.2. Fatores abióticos.......................................................................................
  • 4.2. Ictiofauna x
  • 4.3. Estrutura populacional
    • 4.3.1. Geophagus brasiliensis
    • 4.3.2. Astyanax aff. intermedius
    • 4.3.3. Hoplias malabaricus..................................................................................
    • 4.3.4. Knodus cf. moenkhausii
    • 4.3.5. Mimagoniates microlepis
  • 4.4. Proporção sexual
    • 4.4.1. Geophagus brasiliensis
    • 4.4.2. Astyanax aff. Intermedius
    • 4.4.3. Hoplias malabaricus
    • 4.4.4. Knodus cf. moenkhausii
    • 4.4.5. Mimagoniates microlepis
  • 4.5. Estádios de maturação sexual
    • 4.5.1. Geophagus brasiliensis
    • 4.5.2. Astyanax aff. intermedius
    • 4.5.3. Hoplias malabaricus..................................................................................
    • 4.5.4. Knodus cf. moenkhausii
    • 4.5.5. Mimagoniates microlepis
  • 4.6. Período reprodutivo e tipo de desova
    • 4.6.1. Período reprodutivo
    • 4.6.2. Tipos de desova........................................................................................
  • 4.7. Comprimento médio de primeira maturação (L 50 )
    • 4.7.1. Geophagus brasiliensis
    • 4.7.2. Astyanax aff. intermedius
    • 4.7.3. Hoplias malabaricus..................................................................................
    • 4.7.4. Knodus cf. moenkhausii
    • 4.7.5. Mimagoniates microlepis
  • 4.8. Fator de condição
    • 4.8.1. Geophagus brasiliensis
    • 4.8.2. Astyanax aff. intermedius
    • 4.8.4. Knodus cf. moenkhausii
    • 4.8.5. Mimagoniates microlepis
  • 4.9. Diâmetro e fecundidade absoluta dos ovócitos
    • 4.9.1. Geophagus brasiliensis
    • 4.9.2. Astyanax aff. intermedius xi
    • 4.9.3. Hoplias malabaricus..................................................................................
    • 4.9.4. Knodus cf. moenkhausii
    • 4.9.5. Mimagoniates microlepis
    1. DISCUSSÃO.......................................................................................................
    1. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
  • ANEXOS

xiii

ABSTRACT

The preservation of the Atlantic Forest and its faunal and floristic biodiversity is a relevant concern today, being the second most threatened forest in the world, it demands special attention regarding its conservation. Knowing how fish communities maintain themselves in these impacted environments is fundamental for proposing management plans, especially in protected areas such as biological reserves. In order to understand the relationship between protection of conservation units and reproductive strategies and tactics of streams fish, four study bases were selected that include protected areas by the Sooretama Biological Reserve (Espírito Santo) and unprotected areas. The samplings occurred systematically, monthly for one year. Environmental quality was interpreted through the "Habitat Integrity Index" (IIH) and complemented by the measurement of abiotic factors, as well as sediment analyzes that aided in the characterization of the sample bases. In all, 2410 individuals were collected, distributed in five orders, ten families, 18 genera and 20 species, distributed among the study bases. Geophagus brasiliensis , Astyanax aff. intermedius , Hoplias malabaricus , Knodus cf. moenkhausii and Mimagoniates microlepis , were analyzed for reproductive aspects, presenting all, except G. brasiliensis, split spawning and varied strategies regarding the occurrence environment. The internal points of the Reserve were considered more preserved environments, offering the necessary resources for reproduction, and the points outside the Reserve, considered more impacted, show scarcity of resources, causing the occurring species to use appropriate tactics to guarantee the survival of the offspring. Based on the results obtained in this study, it is suggested measures to protect the areas surrounding conservation units, since the impacts occurring upstream of the reserve areas affect local biodiversity, causing incalculable damage to the fish communities.

KEY WORDS

Icthyofauna, Conservation units, Ecology, Atlantic Forest, Reproductive Strategies

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1. INTRODUÇÃO

A Mata Atlântica é formada por um conjunto de formações florestais e ecossistemas associados, como restingas, manguezais e campos de altitude (MMA, 2017), sendo a segunda floresta mais ameaçada do mundo (CAMPANILI & PROCHNOW, 2006). Este bioma era originalmente encontrado do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, estendendo-se ao longo de montanhas até o mar ocupando uma área estimada em 1,1 milhão de km². Entretanto, devido à sua ocupação, hoje os remanescentes de vegetação nativa estão reduzidos a cerca de 22% de sua cobertura original e encontram-se em diferentes estágios de regeneração, tendo sido explorada e substituída por diversas atividades econômicas. Estima-se que apenas 2 a 5% da mata original encontra-se preservada (MENEZES et al. 2007), sendo estas áreas fragmentadas e localizadas, em sua maior parte, nas regiões sul e sudeste do país. Estima-se que na Mata Atlântica existam cerca de 20.000 espécies vegetais (cerca de 35% das espécies existentes no Brasil), incluindo diversas espécies endêmicas e ameaçadas de extinção. Essa riqueza é maior que a de alguns continentes e por isso a região da Mata Atlântica é altamente prioritária para a conservação da biodiversidade mundial. Em relação à fauna, os levantamentos já realizados indicam que a Mata Atlântica abriga cerca de 849 espécies de aves, 370 espécies de anfíbios, 200 espécies de répteis, 270 de mamíferos e mais de 350 espécies de peixes (MMA, 2017) A enorme biodiversidade da Mata Atlântica, associada a altas taxas de endemismo e intensa pressão antrópica, motivaram a UNESCO a declarar os remanescentes desse bioma como Patrimônio Natural da Humanidade em 1991, o qual é apontado como um dos hotspots mais importantes do mundo (MYERS et al .,

  1. devido à “crise de biodiversidade” que vivencia. Dentre as ameaças à Mata Atlântica, destaca-se a degradação de rios e córregos causada pela perda de vegetação ripária, poluição química e orgânica, represamentos e introdução de espécies exóticas (GOMIERO & BRAGA, 2006; OYAKAWA et al ., 2006). Além de ser uma das regiões mais ricas do mundo em biodiversidade, a região da Mata Atlântica tem importância vital para milhões de brasileiros, prestando importantíssimos serviços ambientais, entre os quais pode-se citar a regulação do fluxo dos mananciais hídricos, assegura a fertilidade do solo, além de suas paisagens

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semidecidual, formações pioneiras (brejos, restingas, mangues) e o refúgio da Serra do Caparaó. O relevo caracteriza-se como montanhoso, com altitudes que vão desde o nível do mar até 2.897 m, cujo ponto culminante é o pico da Bandeira (Serra do Caparaó). Do ponto de vista geológico, AMORIM (1984) considerou que o Espírito Santo pode ser dividido em duas zonas principais: zona dos tabuleiros e zona serrana. A zona dos tabuleiros compreende o terraço litorâneo, plano ou levemente ondulado, de altitude média em torno de 50 m, onde se localizada a área sob estudo aqui. A zona serrana, localizada mais ao interior, é formada por vales profundos e escavados, nos prolongamentos da Serra da Mantiqueira. Em 2015, a Fundação SOS Mata Atlântica estimou que apenas 8% de floresta Atlântica ainda persistem em relação à área original no estado do Espírito Santo (SOS MATA ATLÂNTICA, 2015). O que existe hoje para o bioma são apenas pequenos fragmentos, remanescentes e áreas protegidas. A riqueza de espécies registradas nos córregos de Mata Atlântica é considerada elevada; porém, no Espírito Santo esta tem sido afetada pela quase completa devastação das matas, construção de barragens, uso de pesticidas e fertilizantes, assoreamento e introdução de espécies alóctones, mesmo em áreas protegidas como as Unidades de Conservação. PAIVA (2004) indicou a presença de cerca de 154 espécies para o estado, sendo 119 exclusivamente de água doce, entretanto, estudos recentes sugerem que este número esteja subestimado (SARMENTO-SOARES et al. 2012, 2014; SARMENTO-SOARES & MARTINS-PINHEIRO 2012, 2013, 2014a, 2014b; VIEIRA et al. 2014; MAZZINI et al. 2014; PLESLEY et al. 2014; SARTOR et al. 2014). De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, “ cada um dos elementos da natureza tem um papel a desempenhar, e para que isso ocorra é preciso haver equilíbrio. Muitos povos e civilizações reconheceram, ao longo da história, a necessidade de proteger áreas naturais com características especiais, por motivos os mais diversos: estas áreas podiam estar associadas a mitos, fatos históricos marcantes e à proteção de fontes de água, caça, plantas medicinais e outros recursos naturais ”. O Brasil protege as áreas naturais por meio de Unidades de Conservação (UC), estratégia que tende a ser eficaz para a manutenção dos recursos naturais em longo prazo (MMA, 2017). Para atingir esse objetivo de forma efetiva e eficiente, foi instituído o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), com a promulgação da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. A Lei do SNUC representou

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grandes avanços à criação e gestão das UCs nas três esferas de governo (federal, estadual e municipal), pois ele possibilita uma visão de conjunto das áreas naturais a serem preservadas. Além disso, estabeleceu mecanismos que regulamentam a participação da sociedade na gestão das UCs, potencializando a relação entre o Estado, os cidadãos e o meio ambiente. As Unidades de Conservação englobam mosaicos e corredores ecológicos, espaços considerados essenciais, do ponto de vista econômico, por conservarem a sociobiodiversidade, além de serem provedores de serviços ambientais e geradores de oportunidades de negócios (MMA, 2017). Atitudes de conservação no estado do Espirito Santo somente começaram a ser tomadas a partir da década de 40, daí em diante, várias medidas de preservação da cobertura vegetal do estado, muito maltratadas pelas culturas de café, pecuária e exploração florestal foram propostas. Várias Unidades de Conservação foram criadas a nível federal, estadual e municipal, totalizando cerca de 37 áreas protegidas, representando cerca de 1,98% do território estadual. A maior parte das áreas protegidas no estado pertencem às categorias de Parque e Reserva Biológica (MENDONÇA-FILHO & QUEIROZ, 1996), as quais são consideradas pelo SNUC unidades de conservação de proteção integral. Apesar das dezenas de Unidades de Conservação criadas no Espírito Santo, muitas áreas são pequenas, de maneira que não se sabe ao certo se podem proteger de maneira efetiva a biodiversidade. A ictiofauna tem sido desconsiderada na delimitação de áreas de proteção, de tal forma que nenhuma das Unidades de Conservação do estado possui em seu Plano de Manejo uma relação de peixes respaldada por material catalogado em coleções zoológicas (SARMENTO-SOARES & MARTINS-PINHEIRO, 2014b). Compreendendo uma área de aproximadamente 28.000 ha, a Reserva Biológica de Sooretama foi criada pelo Decreto nº 87.588 de 20 de setembro de 1982. Ela é o resultado da união da Reserva Florestal Estadual de Barra Seca, de 1941, com o Parque de Refúgio de Animais Silvestres Sooretama, datado de 1943, sendo a maior área de proteção ambiental do estado. A Reserva está totalmente contida no trecho baixo da bacia do rio Barra Seca, com sua maior parte localizada no município de Sooretama e apenas sua extremidade leste no município de Linhares. Proprietários de algumas fazendas vizinhas colaboram com a conservação da floresta pela presença de duas RPPN’s (Reserva Particular do Patrimônio Natural no SNUC) e uma

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(AGOSTINHO et al., 2004b). Contudo, a construção de barragens modifica a vegetação e desvia o curso de rios, ocasionando diversos impactos nas comunidades locais e regionais. A ictiofauna é a porção mais visível dessas comunidades e pode ser considerada como um bom bioindicador da qualidade geral do ambiente aquático (ARAÚJO, 1998). Além disso, a ictiofauna é um recurso importante para as comunidades humanas que praticam a pesca tanto para a subsistência quanto para lazer (MIRANDA, 2012). Sabe-se que a interrupção dos ciclos migratórios alimentares e reprodutivos, alterações na composição e redução da biodiversidade de espécies nativas pode levar à extinção de espécies (PETRERE JR., 1996), que é apontada como um dos principais efeitos do impacto dos represamentos, já que as espécies, sobretudo as migradoras, podem ser extintas à montante das barragens por não realizarem a piracema (MIRANDA, 2012), comprometendo a atividade reprodutiva e consequentemente a perpetuação das espécies. Um dos aspectos interessantes da biologia dos peixes é a diversidade de estratégias reprodutivas utilizadas por diferentes grupos. O conhecimento da biologia reprodutiva das espécies é imprescindível para a compreensão da dinâmica populacional e, consequentemente, das relações ecológicas de uma comunidade, sendo útil ainda para orientar medidas de conservação e manejo dos organismos e de seus ambientes. O sucesso obtido por qualquer espécie é determinado, em última instância, pela capacidade de seus integrantes em reproduzir-se em ambientes variáveis, mantendo populações viáveis (VAZZOLER, 1996). A reprodução contribui para o estabelecimento de normas de conservação e manejo das espécies (LOURENÇO et al. , 2008). Conhecer os principais fenômenos reprodutivos das espécies de peixes é de grande importância, visto que as particularidades da reprodução, bem como o número e a qualidade dos ovos produzidos pela população determinam os indivíduos que irão ingressar na população a cada ano (ISAAC-NAHUM, 1981). Para estudar a dinâmica do processo reprodutivo e suas relações com o ambiente, antes de mais nada, é necessário o conhecimento da anatomia a histologia das gônadas durante o ciclo reprodutivo (NARAHARA, 1983). A parte do conhecimento acerca da biologia reprodutiva dos peixes de água doce abrange apenas espécies de importância econômica e/ou espécies de grande porte (ALKINS-KOO, 2000), apesar da maioria (pelo menos 80%) das espécies de

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peixes de riachos possuir, no máximo, 15 cm de comprimento total (CASTRO, 1999). Assim sendo, aspectos da reprodução de peixes de pequeno porte ainda permanecem como uma lacuna no conhecimento. Contraditoriamente, a reprodução é tida como um dos aspectos mais importantes da biologia já que a permanência de uma população depende exclusivamente disso (SUZUKI & AGOSTINHO, 1997). Para inferir acerca do sucesso reprodutivo de uma espécie, é necessário conhecer suas táticas reprodutivas, que incluem a determinação da razão sexual, idade de primeira maturação gonadal, período reprodutivo, tipo de desova e fecundidade (GARUTTI, 1989; VAZZOLER, 1996), sendo este conhecimento fundamental para o entendimento da estratégia de vida das espécies e imprescindível para a preservação e manutenção dos estoques, norteando medidas de administração, manejo e conservação da ictiofauna frente aos impactos de origem antrópica (VAZZOLER & MENEZES, 1992). De modo geral, a ictiofauna de locais com elevada interferência antrópica é composta por poucas espécies raras e muitas espécies dominantes, sendo as últimas geralmente as mais resistentes à perda e degradação de hábitats em larga escala (CASATTI et al ., 2006). A partir disso, este trabalho teve por objetivo conhecer as táticas e estratégias reprodutivas das espécies provenientes de pequenos cursos d’água na Reserva Biológica de Sooretama, visto que estudos neste sentido podem fornecer subsídios para a elaboração de ações de conservação das espécies nativas. Com um aspecto inédito, este trabalho visa compreender o efeito da Reserva Biológica de Sooretama na garantia da conservação das espécies de peixes.