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Guias e Dicas
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Estéticas na Pesquisa em Educação Química: Emergências na Formação de Professores, Manuais, Projetos, Pesquisas de Literatura Ensino Médio

Uma abordagem teórica e prática para a formação de professores de química, baseada na proposição de experiências estéticas na componente curricular de projeto de conclusão de curso - monografia i do curso de licenciatura em química da universidade federal do rio grande - furg, brasil. A pesquisa em educação química é vista como um meio de desenvolver atitudes estéticas nas estudantes, vinculando-as a problemas epistemológicos da comunidade de educação química. O documento discute a importância da escrita no diário de pesquisa, do coletivo na realização da pesquisa e da sociogênese da pesquisa, além de apresentar exemplos de projetos de pesquisa realizados por estudantes.

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2023

Compartilhado em 29/02/2024

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marquinhos-da-silva-8 🇧🇷

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Baixe Estéticas na Pesquisa em Educação Química: Emergências na Formação de Professores e outras Manuais, Projetos, Pesquisas em PDF para Literatura Ensino Médio, somente na Docsity! ____________________________________________________________________________________________________ Revista de Educação, Ciências e Matemática v.9 n.2 maio/ago 2019 ISSN 2238-2380 107 EXPERIÊNCIAS ESTÉTICAS NA PESQUISA EM EDUCAÇÃO QUÍMICA: EMERGÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE QUÍMICA EM UMA COMUNIDADE APRENDENTE AESTHETICS EXPERIENCES IN CHEMISTRY EDUCATION RESEARCH: INVESTIGATIVE EMERGENCES IN CHEMISTRY TEACHERS INITIAL EDUCATION IN A LEARNING COMMUNITY Robson Simplicio de Sousa1 Maria do Carmo Galiazzi2 Resumo Neste texto, apresentamos repercussões teóricas e práticas à formação de professores de Química a partir da proposição de experiências estéticas na componente curricular de Projeto de Conclusão de Curso - Monografia I do curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Brasil. Tal componente curricular tem por objetivo a elaboração de um projeto de pesquisa na área da Educação Química. Com a aposta de desenvolvimento de atitudes estéticas nas estudantes articuladas ao Educar pela Pesquisa, planejamos que, na construção de suas investigações em Educação Química, as estudantes estivessem abertas às potenciais experiências estéticas que desencadeariam o fenômeno ou objeto a ser investigado. Com esta experiência, percebemos que há um jogo de elaboração de pesquisa que transita entre um estar entre o hermenêutico e o epistemológico. Ao epistemológico, apresentam-se teorias e conceitos a priori como definidores da investigação; ao hermenêutico, a experiência estética exige que teorias e conceitos sejam emergentes no caminhar da pesquisa. Neste caminhar, abre-se a uma investigação com desdobramentos estéticos e históricos sobre a Química e sobre ser professor de Química. As experiências estéticas e descrição de vivências desenvolvidas durante os estudos de Monografia potencializaram a proposição de um fenômeno de pesquisa em Educação Química a cada uma das estudantes, ampliando horizontes de compreensão sobre suas inquietações de professoras/pesquisadoras, vinculando-os ontologicamente a problemas epistemológicos da comunidade de Educação Química. Palavras-chave: Experiência Estética. Pesquisa. Educação Química. Formação de Professores. Abstract In this text, we present theoretical and practical repercussions to Chemistry teachers’ education from the proposal of aesthetic experiences in the curricular component Monography I of the Chemistry Degree course of the Federal University of Rio Grande - FURG, Brazil. With the aim of developing aesthetic attitudes in students articulated in Educating by Research, we planned that in the construction of their investigations in Chemistry Education, they would be open to the potential aesthetic experiences that would initiate the phenomenon or object to be investigated. With this experience, we realize that there is a set of research elaboration that transits between the hermeneutics and epistemology. To the epistemological one, theories and concepts are presented a priori as definers of the investigation; to the hermeneutic, aesthetic experience demands that theories and concepts be emergent in the course of research. In this, we started an investigation with aesthetic and historical developments on Chemistry and on being a Chemistry teacher. The aesthetic experiences and description of experiences developed during the studies of Monography potentiated the proposition of a research phenomenon in Chemistry Education to each student, broadening horizons of understanding their concerns of teachers/researchers, linking them ontologically to the epistemological problems of the Chemistry Education community. Keywords: Aesthetics Experience. Research. Chemistry Education. Teachers Education. 1 Professor Adjunto do Departamento de Sociais e Humanas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) 2 Professora Titular aposentada da Universidade Federal do Rio Grande - FURG EXPERIÊNCIAS ESTÉTICAS NA PESQUISA EM EDUCAÇÃO QUÍMICA: EMERGÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE QUÍMICA EM UMA COMUNIDADE APRENDENTE Sousa, Galiazzi ____________________________________________________________________________________________________ Revista de Educação, Ciências e Matemática v.9 n.2 maio/ago 2019 ISSN 2238-2380 108 Introdução O componente curricular Projeto de Conclusão de Curso - Monografia I realizado no curso de Química Licenciatura da Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Brasil, sob coordenação de uma das autoras do texto durante mais de dez anos, tem por objetivo a elaboração do projeto inicial de pesquisa. Teve, também, neste período, mantida a intenção de que a temática de investigação dos estudantes fosse em Educação Química e que partisse de um interesse do licenciando. A pesquisa do projeto aprovado em Monografia I sob orientação de um professor do curso de Licenciatura em Química ocorria junto a um orientador no componente curricular de Projeto de Conclusão de Curso - Monografia II, em semestre posterior. Uma das maiores dificuldades encontradas neste período de atuação da professora foi, primeiro, o encontro com o tema de pesquisa. Uma segunda dificuldade foi transformar o tema em questão a pesquisar. A partir desta experiência a componente curricular de Monografia I foi construída até chegar a proposição aqui apresentada que, com fundamentos hermenêuticos, pretendeu articular a dimensão estética ao encontro do tema de pesquisa de cada estudante, para a partir daí dar sequência a encaminhamentos de atividades que pudessem ampliar seus horizontes em relação ao que significa pesquisar para um professor de Química. Neste artigo, traçaremos os elementos teóricos orientadores das proposições deste componente curricular aqui em destaque: a Experiência Estética e o Educar pela Pesquisa. Assumimos a descrição e a interpretação como possibilidades de compreensão de um fenômeno como ele se mostra ao pesquisador em uma perspectiva fenomenológica e hermenêutica. Por fim, destacaremos algumas repercussões teóricas, metodológicas e estéticas percebidas a partir de uma formação de professores-pesquisadores fundamentada na articulação entre o Educar pela Pesquisa e as Experiências Estéticas. Os Componentes Curriculares de Monografia na FURG A monografia na época era realizada em dois componentes curriculares, Projeto de Conclusão de Curso I - Monografia e Projeto de Conclusão de Curso II - Monografia. Ao longo do artigo, os componentes curriculares serão tratados, respectivamente, como Monografia I e Monografia II. Em síntese, no primeiro, os estudantes delineavam seu fenômeno e elaboravam um projeto de monografia com professores da área de Educação Química. No semestre seguinte, o projeto era propriamente investigado, em Monografia II, com orientação de um professor do curso escolhido pelo aluno. Como curso de licenciatura, o curso de Química da FURG assumia em sua EXPERIÊNCIAS ESTÉTICAS NA PESQUISA EM EDUCAÇÃO QUÍMICA: EMERGÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE QUÍMICA EM UMA COMUNIDADE APRENDENTE Sousa, Galiazzi ____________________________________________________________________________________________________ Revista de Educação, Ciências e Matemática v.9 n.2 maio/ago 2019 ISSN 2238-2380 111 de argumentos próprios sustentados no coletivo que acolhe, engaja, coopera, mediado pela linguagem oral e escrita. Uma comunidade aprendente é aquela que aprende a ser comunidade, afirma Brandão (2005), ou seja, aprende sobre a importância de um sujeito se entender pertencente a uma comunidade e nisso aprender a ser comunidade. Comunidade aprendente é derivado de comunidade de prática, termo cunhado por Wenger (1999) e que dela difere, pois enquanto na comunidade de prática indivíduos têm em comum uma prática, mas nem sempre se entendem em comunidade, comunidades aprendentes, afirma Wenger (1999, p. 214) são aquelas que: […] atuam, aprendem, ensinam com base no potencial dos artefatos da linguagem, com ênfase especial na escrita, considerada sobretudo em sua função epistêmica e produtora de novos sentidos socialmente. Uma comunidade aprendente é aquela em que a experiência e a competência se articula de forma muito próxima e intensa. Por isso, Calixto e Galiazzi (2017b), ao analisar os diários de pesquisa dos licenciandos nos componentes curriculares, concluíram que os licenciandos haviam participado de uma proposta que favoreceu a se constituírem como professores/pesquisadores em comunidade aprendente na Educação Química. Os artefatos da comunidade desenvolvidos nos seus projetos individuais de pesquisa foram a escrita, o diálogo, a argumentação sobre as pesquisas com foco na sala de aula da educação básica: As pistas que encontramos nas escritas dos diários de pesquisa demonstram que os licenciandos se tornam professores/pesquisadores por meio de um coletivo que busca aprender junto sobre fazer pesquisa em Educação Química na disciplina de Monografia. Tendo artefatos como a escrita, o diálogo, a argumentação e a pesquisa como mediadores das aprendizagens sobre ser professor/pesquisador. Compreendendo a escola enquanto espaço de formação, a sala de aula como lugar para pesquisa e a sua prática como produto das experiências que produz das vivências que tem diariamente. Aprendizagens que são construídas por estarem inseridas em um coletivo, por partilharem vivências e por se formarem formando (CALIXTO e GALIAZZI, 2017b, p. 47). Com estas ideias foram desenvolvidos os componentes curriculares de Monografia no curso de Licenciatura em Química da FURG de 2004 a 2016: escrita, pesquisa, comunidade aprendente, diálogo, argumentação. Adentraremos agora nos elementos teóricos agregados à construção de Monografia I em 2016, por influência do estudo da hermenêutica (SOUSA, 2016; SOUSA e GALIAZZI, 2017; SOUSA e GALIAZZI, 2018). Experiência Estética: Desdobramentos Educativos à Formação Ao considerarmos que a elaboração de uma investigação em Educação Química constitui- se numa pesquisa em Educação, precisamos nela contemplar as experiências e as interpretações dos sujeitos que a ela se dedicam em busca de compreensão de um fenômeno que contribua no EXPERIÊNCIAS ESTÉTICAS NA PESQUISA EM EDUCAÇÃO QUÍMICA: EMERGÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE QUÍMICA EM UMA COMUNIDADE APRENDENTE Sousa, Galiazzi ____________________________________________________________________________________________________ Revista de Educação, Ciências e Matemática v.9 n.2 maio/ago 2019 ISSN 2238-2380 112 processo de autoformação daquele que investiga. Um filósofo que se dedicou ao fenômeno da compreensão foi Hans-Georg Gadamer (1900-2002). Ao buscar compreender a compreensão, ele utilizou da experiência interpretativa com a arte para fundamentar que a interpretação é busca de compreensão dentro da qual não conseguimos suspender nossos preconceitos, nossa historicidade e nossas vivências (Gadamer, 2015). A estrutura da vivência tem estreita afinidade com a estética. Isto fica mais evidente, especialmente, se nos atentarmos para o modo como interpretamos uma obra de arte. O contato com uma obra de arte exemplifica nosso próprio modo de ser no mundo, principalmente, quando esta obra nos estranha. Quando postados diante de uma obra de arte, o seu vir-nos ao encontro traz-nos algo de estranho, alheio, outro inabitual. Dito de outro modo, o a nós familiar não sacode ou solicita, não provoca perguntas. Constata-se, isto sim, uma distância entre o indivíduo e este outro que, como tal, pode ser tanto um sentido novo, quanto uma outra pessoa ou uma cultura alheia. Em qualquer desses casos, o sujeito é empurrado a agarrar pelos cornos o experimentado, é exigido a assumir uma postura própria (FLICKINGER, 2010, p. 72-73). A experiência de estranhamento com uma obra de arte é, por algum momento, um exercício de negação daquilo que está sendo percebido. Entretanto, quando este exercício de negação é superado, entramos em um jogo interpretativo em que o intérprete passa a buscar a compreensão do que antes lhe era estranho. Colocam-se neste jogo, além dos elementos da obra de arte, os preconceitos, a história e as experiências do intérprete que passam a dialogar com aquele objeto estético. Não se trata de um monólogo, uma vez que a obra de arte questiona, desde que foi percebida, aquele que a contempla. Estão ali disponíveis, a obra de arte e seu intérprete. À medida que o diálogo se desenvolve, pressupostos são negados, superados ou revistos; histórias são contadas e também passam a ser construídas - já que a interpretação daquela obra de arte passa a fazer parte da história do intérprete - e experiências foram ampliadas. Quando temos diálogos autênticos, buscamos a fusão de horizontes (GADAMER, 2015), seja com interlocutores do passado, seja com aqueles do presente. É desse modo que se configura nosso modo de experimentarmos uns aos outros, as tradições históricas e como lidamos com o mundo, ou seja, experienciamos o mundo esteticamente. Assim, “a experiência estética se dá no relacionamento entre sujeito e objeto estético, e isso implica compreender que o sujeito se transforma nessa experiência” (Hermann, 2010, p. 34). As experiências inquietantes e de estranhamento ao sujeito são aquelas que o mobilizam a compreender o que elas são, ao estabelecimento de diálogos que se afastam da ideia de dominação do estranhado, à disposição de suspender seus preconceitos e se abrir ao que se apresenta. A experiência estética “se institui de momentos passivos e receptivos, de um entregar-se ao objeto EXPERIÊNCIAS ESTÉTICAS NA PESQUISA EM EDUCAÇÃO QUÍMICA: EMERGÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE QUÍMICA EM UMA COMUNIDADE APRENDENTE Sousa, Galiazzi ____________________________________________________________________________________________________ Revista de Educação, Ciências e Matemática v.9 n.2 maio/ago 2019 ISSN 2238-2380 113 associado ao trabalho produtivo e ativo do sujeito sobre o material dado na experiência” (HERMANN, 2010, p. 34). É por isso que a experiência estética: é uma experiência da verdade no sentido de que aquilo que não está explicitado, que está oculto, também constitui nossa subjetividade e nossa relação com o mundo. Ou seja, ela descobre uma dimensão da realidade que se subtrai à fixação estabelecida pelos processos de conhecimento (HERMANN, 2010, p. 46). Isto não se dá de imediato, mas é sempre uma oportunidade de autocompreensão que se desdobra em uma possibilidade de autoformação: A plenitude da experiência estética como autoformação somente ocorre com o viger do outro. É na experiência que fazemos não só com a obra mas também entre nós que pode se efetivar a formação como autoformação na sua mais alta acepção (LAGO, 2014, p. 107). Em termos de formação, para que se possa viver uma experiência estética, Pereira (2011) indica que é preciso assumir uma atitude estética. Isto quer dizer “assumir uma posição, uma postura que constitua e configure a nossa percepção” (PEREIRA, 2011, p. 114). Não se trata de antecipar de modo racional, dominador e definitivo aquilo que está por vir, mas de abrir-se às possibilidades interpretativas que emergirem quando diante daquilo que busca compreender. A atitude estética é uma atitude desinteressada, é uma abertura, uma disponibilidade não tanto para a coisa ou o acontecimento “em si”, naquilo que ele tem de consistência, mas para os efeitos que ele produz em mim, na minha percepção, no meu sentimento. [...] trata-se de contemplar ativamente a coisa, ou seja, atentar para o sentimento que a experiência da coisa produz em mim (PEREIRA, 2011, p. 114). A atitude estética apontada pelo autor é pressuposto para o jogo interpretativo (GADAMER, 2015) que constitui a experiência estética. Com uma aposta formativa na experiência estética: Do encontro e do arranjo entre sujeito e objeto ou acontecimento resulta algo que ainda não existia, resulta um efeito novo: um sentimento, um gosto, um estado que apenas existia enquanto possibilidade, como porvir. Ao entrar em jogo com o objeto ou o acontecimento, eles deixam de ser exteriores ao sujeito e passam a constituir o campo da experiência. E é aí que começa a criação, a experiência estética (PEREIRA, 2011, p. 115). Quando imersos no jogo, “podemos ter experiências estéticas com relação a qualquer objeto ou acontecimento, independentemente de ser arte ou não, de ser belo ou não, de existir concretamente ou não” (PEREIRA, 2011, p. 115). Neste jogo hermenêutico de estar disponível esteticamente para interpretar o mundo, o sujeito que está aberto para os diferentes sentidos disponíveis para compreender(-se) (n)o mundo pode se dar conta de que outros tantos estão mais ou menos alcançáveis à interpretação. Aposta-se, assim, em uma autoformação para/na experiência estética a partir do desenvolvimento de atitudes estéticas para lidar com o não familiar. Com isso, busca-se o estabelecimento de diálogos autênticos com os objetos estéticos que podem EXPERIÊNCIAS ESTÉTICAS NA PESQUISA EM EDUCAÇÃO QUÍMICA: EMERGÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE QUÍMICA EM UMA COMUNIDADE APRENDENTE Sousa, Galiazzi ____________________________________________________________________________________________________ Revista de Educação, Ciências e Matemática v.9 n.2 maio/ago 2019 ISSN 2238-2380 116 Não podemos fazer o que os outros querem e sim sempre tentar unir o que mais gostamos de fazer com o trabalho. Por que não podemos unir poesia com a Química, música com a Química, o que mais gostamos com a Química. No meu caso, eu adoro estar com minha família em meio à natureza. Quem sabe usar como tema para meu TCC a Química Ambiental? (EMÍLIA, Diário de Pesquisa, 02/03/2016). Um Exercício de Percepção com o Pinterest: o que é que te toca? Nesta aula, realizamos um exercício de perceber aqueles assuntos/temas que nos tocavam a partir de imagens. Nosso exercício aconteceu com o uso da rede social Pinterest. Pinterest é uma rede social de compartilhamento de imagens (disponível em https://br.pinterest.com/). Exige cadastro para que os usuários possam realizar o compartilhamento e gerenciamento de imagens temáticas, como de jogos, de hobbies, de roupas, de perfumes, etc. Nossos estudantes se cadastraram e tiveram acesso a uma pasta privada, por nós denominada de Experiências Estéticas da Química. A intenção foi identificar imagens disponíveis, a partir da ferramenta de busca desta rede social, vinculadas à discussão realizada na aula anterior - sobre os prazeres vividos cotidianamente e os motivos que os levaram a escolher o curso de Química Licenciatura. Foi um exercício para perceber aquilo que se mostrava ao investigador em formação a partir de suas experiências. Nossa intenção com o uso do Pinterest, como possibilidade de configuração de uma atitude estética em uma disposição à experiência estética, em que a objetividade precisa ser suspensa para dar lugar a subjetividade, está ontologicamente imbricada com o sujeito que experiencia o mundo, como já teorizamos neste artigo. Sobre isto, Irene escreveu em seu Diário: “Conversamos sobre os ‘pins’ que havíamos escolhido e se esta escolha tinha algum significado. Tínhamos que analisar e ver o que estas figuras nos diziam. Por aproximação com minha formação, a maioria de meus ‘pins’ tinham algo relacionado a alimentos” (IRENE, Diário de Pesquisa, 30/03/2016). Irene usa a expressão “pin” (em português, alfinete ou pino), do site, para escrever sobre as imagens que escolheu e colocá-las em seu “mural virtual” (pinterest). Em seu trecho do Diário, a aluna descreve que as escolhas das imagens (bolos de diferentes formas e tamanhos, sanduíches e açúcar) estariam vinculadas a sua formação anterior, na Licenciatura em Química em Engenharia de Alimentos. Interpretamos que a atitude estética fomentada nesta atividade fez com que a aluna percebesse que não é preciso desconsiderar suas experiências anteriores, sua historicidade para encontrar sua temática de pesquisa. Sobre esta atividade, Anna não achou nenhuma imagem relacionada a seu tema de pesquisa embora afirme que já tinha, neste início de semestre, alguma noção sobre o tema de pesquisa, mas o mesmo não foi registrado no diário. EXPERIÊNCIAS ESTÉTICAS NA PESQUISA EM EDUCAÇÃO QUÍMICA: EMERGÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE QUÍMICA EM UMA COMUNIDADE APRENDENTE Sousa, Galiazzi ____________________________________________________________________________________________________ Revista de Educação, Ciências e Matemática v.9 n.2 maio/ago 2019 ISSN 2238-2380 117 Emília cola em seu diário várias figuras relacionadas com o possível tema de sua monografia, que tratam da quantidade de açúcar nos refrigerantes; ácidos nucleicos e suas fórmulas; modelos feitos com balas de goma; estruturas dos venenos naturais; o nome comum dos ácidos carboxílicos; um quadro montado com vidrarias em que está escrito The Science of Visual Excellence; a química das calças jeans de marca Levi’s; a química do vinho e um modelo atômico planetário com prótons e nêutrons no núcleo representados por bolinhas de tamanho igual e os elétrons de mesmo tamanho, ao redor, em camadas concêntricas ao núcleo. Sobre esta atividade, Emília escreveu: Acredito que minha experiência estética seja enxergar na Química o cotidiano, pois em toda minha vida escolar foi baseada no ensino “decoreba”, onde o aluno apenas ouvia o professor e copiava textos e mais textos que para mim não faziam sentido nenhum. [...] Eu havia pensado em escrever meu TCC a respeito das funções orgânicas dialogando com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) mas, após a experiência da busca de imagens no Pinterest, acabei vendo outras possibilidades de escrita para a monografia (EMÍLIA, Diário de Pesquisa, 16/03/2016). A atividade, de escrita no Diário de Pesquisa, proposta foi a de relacionar as imagens escolhidas com suas vivências e as razões da escolha sobre serem professores de Química. A intenção foi desencadear um primeiro movimento em direção ao encontro com temas de pesquisa que se mostravam vinculados às suas vivências. A Descrição do Percebido, o Broto Interpretado Nesta aula, tentamos compreender melhor a partir de uma experiência estética da professora para estabelecermos um sentido comum sobre o que entendíamos por experiência estética e como ela diz sobre o que somos, como somos e ainda se relaciona com nossa história. A partir da narrativa da professora sobre uma imagem que a tinha mobilizado em uma viagem e durante a qual centenas de fotografias da mesma imagem haviam sido registradas, a professora articulou esta experiência estética de buscar, por esta forma, sem finalidade alguma com sua história. A imagem que a perseguira na viagem fora de um broto de samambaia, mostrado na Figura 1, em uma de suas tantas fotos: EXPERIÊNCIAS ESTÉTICAS NA PESQUISA EM EDUCAÇÃO QUÍMICA: EMERGÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE QUÍMICA EM UMA COMUNIDADE APRENDENTE Sousa, Galiazzi ____________________________________________________________________________________________________ Revista de Educação, Ciências e Matemática v.9 n.2 maio/ago 2019 ISSN 2238-2380 118 Figura 1. - Broto de samambaia fotografado pela professora em uma viagem. Fonte: autores. No momento da busca de porquê esta imagem tanto a havia mobilizado, foi a partir de seu formato que uma interpretação emergiu. Após exercício de percepção e interpretação, a autora percebeu que o formato do broto era o de uma pergunta, do sinal de interrogação colocado ao final de uma questão. As imagens dos brotos tinham o mesmo formato de um ponto de interrogação “?”. O ponto de interrogação, a pergunta, tem mobilizado sua prática docente sintetizada como possibilidade de pesquisa em sala de aula (GALIAZZI, 2003). Com este exemplo, foram realizados, a partir das escolhas de imagens anteriores, exercícios com a intenção de atribuir à escolha das imagens das alunas algumas experiências estéticas próprias para favorecer a emergência de temas de pesquisa próprios. Como atividade desta aula, sugerimos a escrita no Diário de Pesquisa sobre o encontro com as potenciais experiências estéticas exercitadas em aula, tentando buscar em suas histórias de vida o lugar dessas imagens e as razões atribuídas a suas escolhas. O que perguntarmos a uma bergamota iluminada? Na aula seguinte, realizamos o exercício de perguntar. Perguntar ao fenômeno perguntas autênticas na intenção de que, a partir delas, pudéssemos compreendê-lo melhor em uma possível investigação sobre ele. O exercício foi realizado a partir do objeto estético escolhido pelo professor, uma fotografia intitulada Orange Battery (CHARLAND, 2012), ou uma “bergamota iluminada”, como foi tratada por nós no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. O grupo contribuiu com perguntas que poderiam organizar uma possível pesquisa de monografia acerca de sua temática de interesse. O objetivo não era explicar o fenômeno com o já sabido, mas de buscar questionamentos que levassem a aprender mais sobre ele. A tentativa de explicar mais do que perguntar ficou EXPERIÊNCIAS ESTÉTICAS NA PESQUISA EM EDUCAÇÃO QUÍMICA: EMERGÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE QUÍMICA EM UMA COMUNIDADE APRENDENTE Sousa, Galiazzi ____________________________________________________________________________________________________ Revista de Educação, Ciências e Matemática v.9 n.2 maio/ago 2019 ISSN 2238-2380 121 A Recursividade da Escrita a partir dos Questionamentos do Leitor O texto No ponto final a clareza do ponto de interrogação inicial: a construção de um objeto de pesquisa qualitativa (MORAES, 2002) nos possibilitou compreender um pouco mais da importância do escrever e de como nessa escrita a pesquisa vai se constituindo. Ou seja, é nessas conversações que nossos objetos de pesquisa se mostram mais claramente, seja com um texto, seja nos diálogos que temos durante Monografia I. É no diálogo que nos tornamos professores-pesquisadores. Um dos professores havia lido os textos das licenciandas respondendo “Onde esta temática aparece em minha vivência, em minha história?” e havia formulado perguntas, reflexões, provocações e proposições com o propósito de ajudá-las a ampliar seus textos. Solicitava-se, então, um movimento recursivo, o retorno a seu texto, considerando as interrogações de um leitor atento ao que havia sido escrito. A atividade encaminhada às licenciandas foi de ampliação de seus textos, buscando pensar no leitor de seus textos. No Diário de Pesquisa, foi solicitado que narrassem suas impressões e sentimentos a partir do encontro com as interrogações de outra pessoa a suas produções. Buscamos, com esta aula, a consolidação de uma comunidade aprendente que dialoga com interlocutores teóricos, que discute entre os participantes os princípios teóricos que a sustentam, que tem a escrita como ferramenta epistêmica do pesquisador que escreve e reescreve a partir destes diálogos. No Diário de Anna, esta intenção parece ter sido alcançada: A partir das sugestões dos professores, fui refazendo minha escrita. A forma como o professor colocou as perguntas foi bastante clara, permitindo que o entendimento fosse maior. As sugestões e apontamentos da professora começam a sugerir um caminho para a pesquisa e isso é como se fosse um calmante pois agora vejo com mais clareza os caminhos que posso seguir (ANNA, Diário de Pesquisa, 20/04/2016). E acercando-se mais de sua pergunta a aluna escreve: O fato é que os alunos não gostam de Química, nem aprendem muito. Hipótese: as relações sociais afetivas e a monotonia das aulas são fatores contribuintes? Com as sugestões dos professores pensei em realizar uma pesquisa com alunos de graduação e pós-graduação em Química perguntando: Qual foi seu professor inesquecível? De que matéria? Tem alguma aula atribuída a essa lembrança? Caso o professor não seja de Química, o que havia nas aulas que não gostavas ou no professor? (ANNA, Diário de Pesquisa, 20/04/2016). E finaliza “Eu a princípio quero investigar a relação de afetividade no relacionamento aluno-professor e no que isso interfere no processo de aprendizagem de Química” (ANNA, Diário de Pesquisa, 20/04/2016). Anna também registrou o diálogo com os questionamentos do professor em seu diário de pesquisa: EXPERIÊNCIAS ESTÉTICAS NA PESQUISA EM EDUCAÇÃO QUÍMICA: EMERGÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE QUÍMICA EM UMA COMUNIDADE APRENDENTE Sousa, Galiazzi ____________________________________________________________________________________________________ Revista de Educação, Ciências e Matemática v.9 n.2 maio/ago 2019 ISSN 2238-2380 122 Ao ver as considerações do professor, imediatamente senti necessidade de tentar respondê-las, levando-me até a parar meu estudo para a prova e escrever intensamente sobre a minha escrita inicial. Adorei a colaboração do professor e outros questionamentos foram surgindo (ANNA, Diário de Pesquisa, 20/04/2016). O Contexto Histórico e Social da Temática em uma Comunidade de Pesquisa Na aula seguinte, dialogamos sobre o texto de Moraes (2002), pensando no objeto de pesquisa como aquele que envolve o pesquisador, suas experiências e suas histórias. Ainda sobre o texto, dialogamos sobre vivermos a pesquisa carregando constantemente dúvidas, inquietações, questionamentos. O próprio Gadamer tratou a dúvida como uma disposição própria de um cientista hermenêutico (GADAMER, 2009). Essas dúvidas e inquietações exigem a busca de respostas que norteiam nossa pesquisa cuja clareza dos questionamentos iniciais só teremos no ponto final, segundo Moraes (2002). Além disso, abordamos as possibilidades investigativas da pesquisa de cada uma das estudantes. A partir da temática de cada uma, passamos um mês buscando o que chamamos de sociogênese da pesquisa - inspirados por Wells (1999) -, que envolve a origem histórica e social deste tema no contexto da Educação Química. A proposta foi de orientar a busca na história da principal revista da comunidade de Educação Química brasileira - a Revista Química Nova na Escola (QNEsc) - acerca do que havia sido publicado sobre a temática escolhida por elas. A atividade a ser apresentada na semana seguinte consistiu em mapear textos na QNEsc relacionados com a temática de cada uma e realizar no Diário de Pesquisa uma descrição dos artigos identificados. Ressaltamos ainda a importância das referências bibliográficas em um texto acadêmico. Nesta aula, um dos focos foi indicar a importância de como os temas de pesquisa estavam sendo tratados em uma comunidade alargada de professores pesquisadores que escrevem relatos de suas pesquisas em uma revista da comunidade de educadores em químicas, a QNEsc. Para a elaboração da sociogênese, foi sugerida a produção de uma síntese de cada texto encontrado respondendo às seguintes questões, com a possibilidade de agregar ou modificar questões: O que o texto aborda?; Qual o lugar que origina este texto?; Em que tempo a ação descrita aconteceu?; Quais as principais ideias que o autor defende?; Qual a finalidade da ação apresentada?; Como foi realizada a ação descrita?; Quem realiza a ação descrita?; Quem descreve a ação?; Que aspectos do texto se articulam com o teu projeto de pesquisa em construção? Anna registra sete textos encontrados na Química Nova na Escola e de cada um faz uma breve síntese em seu diário (ANNA, Diário de Pesquisa, 04/05/2016). EXPERIÊNCIAS ESTÉTICAS NA PESQUISA EM EDUCAÇÃO QUÍMICA: EMERGÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE QUÍMICA EM UMA COMUNIDADE APRENDENTE Sousa, Galiazzi ____________________________________________________________________________________________________ Revista de Educação, Ciências e Matemática v.9 n.2 maio/ago 2019 ISSN 2238-2380 123 O Acolhimento do Texto do Outro: Contribuições em Comunidade Aprendente Neste momento de nosso componente curricular, as estudantes foram convidadas para contribuir com o texto uma da outra. A intenção era que estivessem disponíveis ao acolhimento do texto, apontando potencialidades e destacando possibilidades de ampliação. O próprio texto da colega seria o objeto estético da vez. Para orientar a leitura, algumas perguntas foram sugeridas. Sugerimos também a adição de comentários no próprio texto, além de um texto construído a partir de perguntas a serem inseridas no próprio documento da colega. Foram elas: Como se apresenta a autora no texto?; O que o texto te mostra como leitora?; Que experiência da autora dá origem a este texto?; Como a temporalidade (história) é apresentada no texto? Percebes outras necessidades históricas dentro do texto apresentado? Se percebes, quais são?; Quais as principais ideias que aparecem no texto?; Qual a intencionalidade da investigação apresentada no texto?; Como foi realizada a ação descrita? Como o texto chega na ação de pesquisa?; Que aspectos do texto contribuíram com o teu texto de projeto de pesquisa em construção? Ao revisarem seus textos com as contribuições das colegas, os projetos de conclusão de curso foram colocados no Ambiente Virtual de Aprendizagem como requisito para a conclusão de Monografia I. A pesquisa propriamente dita foi realizada no semestre seguinte, em Monografia II, com os respectivos orientadores de cada uma das alunas. O projeto de Irene relacionou suas habilidades e sua história acadêmica. No apreço por cozinhar, as atividades de encontro com o tema em imagens expressavam essas habilidades em fotos de bolos na atividade do Pinterest e histórias narradas na Fita de Möbius. Sua história acadêmica no curso de Engenharia de Alimentos reforçou este tema e uma aula experimental marcante sobre uma reação com o bicarbonato de sódio delimitou seu problema de pesquisa. Em seu projeto de pesquisa intitulado Histórias que não aparecem nos experimentos com bicarbonato de sódio, a aluna escreve: O modo como se chega aos problemas de pesquisa é importante quando esses problemas têm significado para o pesquisador e que os temas focados tenham efetivamente sentido. Construir um objeto de uma pesquisa é um questionamento voltado para compreender a si mesmo, conhecer seus limites e tentar superá-los. Os objetos de pesquisa representam lacunas teóricas ou práticas, limites que o pesquisador escolhe para superar. A delimitação do conteúdo de pesquisa inicia- se pelo questionamento que o pesquisador sabe ou faz para atingir um novo saber ou um novo fazer. Esta monografia parte de experimentos contendo bicarbonato de sódio realizados durante o Estágio Supervisionado. A partir desses experimentos, dos quais fiz parte, busco compreender como é possível contextualizar historicamente a experimentação. Para isto, persigo a história do bicarbonato de sódio na intenção de contextualizar esta substância na experimentação (IRENE, Projeto de Pesquisa).

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