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Guias e Dicas
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Zetologia - Olavo de Carvalho, Manuais, Projetos, Pesquisas de Filosofia

Sobre a busca da verdade na prática da filosofia e das ciências.

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2020
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Compartilhado em 28/11/2020

ricardo-carvalho-mxh
ricardo-carvalho-mxh 🇧🇷

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Baixe Zetologia - Olavo de Carvalho e outras Manuais, Projetos, Pesquisas em PDF para Filosofia, somente na Docsity! Seminário de Filosofia     Como tornar­se um buscador da verdade  (Introdução à Zetologia)     Olavo de Carvalho        I. A zetologia                 Mesmo as pessoas que negam a existência da verdade ou a  possibilidade de conhecê­la acreditam que aquilo que dizem é  verdade. Isso basta para mostrar, ou ao menos para sugerir, que o  ceticismo integral é apenas um jogo mental, não uma atitude séria.  Todo mundo se acredita detentor de alguma verdade, e o  autoproclamado cético não é uma exceção. Até mesmo aqueles que  enaltecem o poder universal da mentira sabem que ela só serve para  alguma coisa se tiver uma força persuasiva ​de verdade​, não só de  mentirinha. Também é certo que ninguém pode mentir sem conhecer  a verdade que sua mentira deforma ou encobre.                 Todos, portanto, de maneira mais consciente ou menos  consciente, admitem que a verdade é um bem, e um bem altamente  desejável.                Muitas pessoas até criam ou cultivam certas práticas que,  segundo elas, são meios de alcançar verdades: a lógica, o método  experimental, a crítica histórica de documentos, a arte da  investigação policial etc.                 Todos esses métodos pressupõem no seu estudante ou  praticante a habilidade natural de conhecer a verdade. Os métodos  só adaptam essa habilidade aos requisitos especiais de determinados  campos do conhecimento, de acordo com regras e normas  geralmente admitidos pelos profissionais da área respectiva.                Eles são ensinados nas universidades, e quem os aprendeu  se considera, com certa dose de razão, mais habilitado que o leigo  para descobrir verdades no seu campo de interesse profissional, se  não em todos os demais também.                Mas, quando se fala de “habilidade natural”, o que se concebe  como seu detentor é o homem em geral, o homem como membro de  uma espécie animal, o homem como representante da humanidade.  Uma habilidade natural, afinal de contas, pressupõe uma natureza, e  dizemos que todos os homens possuem essa habilidade porque têm  a mesma natureza humana.                O problema é que, quando não estamos falando desse  homem genérico, mas de indivíduos reais e concretos, a experiência  nos mostra que não possuem essa habilidade em doses iguais, mas  que a capacidade de descobrir ou admitir a verdade difere  enormemente de indivíduo para indivíduo.                Desde logo, há diferenças de nível de inteligência, que tornam  uns indivíduos mais aptos ou menos aptos que outros a aprender a  lógica, o método científico ou qualquer outra técnica ensinada nas  universidades para a busca da verdade.                Mas há diferenças maiores ainda. Algumas pessoas podem  ser cegas para determinadas verdades. Outras podem deformá­las  segundo seus interesses ou paixões. E alguns indivíduos podem  negar obstinadamente as verdades mais óbvias e patentes, quando  sentem que elas põem em risco a sua segurança psicológica ou a  sua auto­imagem. Outros simplesmente deixam de buscar certas  verdades porque acreditam que já as conhecem. E alguns nem  imaginam que elas poderiam ou deveriam ser conhecidas.                 Ora, se a habilidade natural de conhecer a verdade está  presente em todos os seres humanos, também o está,  necessariamente, alguma dificuldade individual de conhecê­la, algum              Em suma, a sanidade da consciência cognitiva, condição  primeira e mais básica para a busca da verdade em todas as  disciplinas intelectuais – ou mesmo nas situações da vida pessoal – é  totalmente negligenciada no ensino, nas psicoterapias e nas práticas  religiosas. Todo mundo aí dá por pressuposto que essa condição se  cumprirá de maneira natural e espontânea, sem necessidade de  nenhuma ajuda especial, o que só acontece por pura sorte e num  número ínfimo de casos.                Em princípio, a tarefa de preservar a sanidade da consciência  cognitiva (ou, para abreviar, da inteligência) caberia à filosofia, tal  como compreendida na tradição socrático­platônica, mas no século  XX a filosofia se reduziu cada vez mais a uma profissão  especializada, desinteressando­se da formação pessoal do  estudante. Algumas escolas ocupam­se de limpar obstáculos  isolados, como as falácias lógicas ou as distorções ideológicas, mas  apegando­se a esses pontos como se fossem as únicas dificuldades  existentes e enfocando­as desde interesses que nada têm a ver com  o desenvolvimento pessoal do aluno. Em alguns casos trata­se de  impor uma concepção diminutiva da filosofia como mera análise da  linguagem; em outros, de combater ideologias que não sejam a do  professor. O aluno é usado como instrumento para a realização  desses fins em vez de ser ele próprio o fim a que se dirige o processo  educativo.                A filosofia, tal como geralmente entendida hoje no meio  universitário, também não resolve o nosso problema: como adestrar o  estudante para a busca da verdade?                Foi em vista desse estado de coisas que criei, desenvolvi e  tenho aplicado no ​Curso Online de Filosofia​, com razoável sucesso,  um conjunto de práticas auto­educativas para uso dos estudantes  com a finalidade de (1) torná­los conscientes dos obstáculos  cognitivos, internos e externos, que os incapacitam para a busca da  verdade; (2) ir derrubando esses obstáculos ao longo do tempo.                Explicarei em seguida alguns desses procedimentos, a cujo  conjunto dei o nome de ​zetologia​ (do grego ζητεώ, ​zeteo​ = “buscar”,  “procurar”), mas sem a pretensão de que constituam já uma  ciência.​[1]    [Continua na exposição oral.]         [1]​ Esse nome é aqui usado pela primeira vez para designar uma ciência, técnica ou arte. A  única ocorrência de um uso anterior que encontrei na ​internet​ foi como autodenominação ­­  flagrantemente inapropriada ­­ de uma seita que não tem nada a ver com a busca do  conhecimento, já que só trata de promover casamentos entre homens e animais – uma  prática que, espero, será evitada pelos alunos deste curso e leitores desta apostila.