Baixe Ficha de leitura do livro Uma introdução ao projeto arquitetônico e outras Resumos em PDF para Arquitetura, somente na Docsity! UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO TECNOLÓGICO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DISCIPLINA: Dissertação DOCENTE: Vera Helena Moro Bins Ely DISCENTE: Marlise Paim Braga Noebauer DATA: 15.FEV.15 RESUMO LIVRO UMA INTRODUÇÃO AO PROJETO ARQUITETÔNICO SILVA, Elvan. Uma introdução ao projeto arquitetônico. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1983. • INTRODUÇÃO “A arquitetura é um fenômeno complexo e contraditório. É complexo porque envolve uma verdadeira infinidade de fatores intervenientes: fatores culturais, psicológicos, econômicos, técnicos, ambientais, etc. É contraditório porque um mesmo fator pode significar coisas diametralmente opostas, dependendo do contexto onde se verifique. O que é verdade em uma determinada situação poderá não ser noutra. O conceito de válido e do verdadeiro, em termos de arquitetura, é uma variável que depende da época, do cenário e dos protagonistas.” (Pág. 9 - parágrafo 1) “Como qualquer fenômeno complexo, a arquitetura admite ser estudada segundo inúmeros ângulos e, portanto, oferece diversas faces ao observador.” (Pág. 9 - parágrafo 2) “O conceito de arquitetura, em si mesmo é uma noção abstrata, genérica, exprimível numa definição verbal, em termos próprios do plano das ideias e das imagens mentais; mas, antes de tudo, a arquitetura é um fenômeno do mundo concreto, e apresenta uma exteriorização visível, material e tangível, que é a coleção de edifícios que o gênero humano erigiu através dos tempos. Estes – os edifícios – constituem ou deveriam constituir o objeto de estudo mais imediato, precisamente por representarem a manifestação substancial do processo cultural identificado como “arquitetura’.” (Pág. 9 - parágrafo 3) “Os edifícios podem ser estudados segundo suas características morfológicas, de acordo com os termos do clássico trinômio vitruviano: utilitas, firmitas e venustas. Podem ainda ser analisados sob o prisma histórico, ou sob o enfoque comparativo, de conformidade com suas relações com o ambiente natural e com o meio sociocultural onde se inserem. Enfim, pode-se estudar a expressão visível da arquitetura sob as mais variadas formas de abordagem. No entanto, tais análises não exaurem as possibilidades especulativas do tema. Além da manifestação concreta, a arquitetura apresenta uma expressão abstrata, que se refere não ao produto em si, mas ao processo (negrito meu, itálico do autor) que conduz à materialização da obra arquitetônica, e também ao reflexo (negrito meu, itálico do autor) produzido pelo binômio processo+produto no plano dos valores socioculturais. Processo, produto e reflexo constituem a matéria prima da disciplina denominada Teoria da Arquitetura.” (Pág. 9 e 10 - parágrafo 4 da 9, finalizado na pág. 10) No restante deste capítulo, o autor discorre sobre a Teoria da Arquitetura e sua evolução. Fala da divisão da disciplina em duas partes principais – Teoria dos Edifícios e Teoria da Composição. A primeira dessas partes, o autor considera como extinta, por conta da obsolescência de se estudar tipologias e suas morfologias e características programáticas, uma vez que o explosivo aumento do número de tipologias e a acelerada maneira como caem em desuso, de acordo com as constantes mudanças socioculturais, tecnológicas e econômicas, torna o estudo quase inútil e impraticável. O autor considera, então, de muito maior utilidade “desenvolver no projetista habilidades que o capacitem a interpretar, no momento oportuno, os aspectos programáticos de qualquer tipologia arquitetônica”, ressaltando o estudo do processo criativo. Quanto à Teoria da Composição, Silva não a considera extinta, mas transformada. Apresenta que nos primórdios desta disciplina, na época do academicismo, o termo composição remetia ao ensino que ditava a obediência estrita aos cânones clássicos da arquitetura, com seu conjunto de regras formais. Praticamente não havia invenção, mas a replicação e arranjo de elementos formais previamente estabelecidos. “De fato, embora a noção da importância do aspecto funcional da arquitetura seja tão antiga quanto o próprio conceito de arquitetura, como atesta o utilitas de Vitrúvio, foi somente com o advento da Revolução Industrial que se materializou, de forma explícita, a necessidade de se conceber um procedimento projetual verdadeiramente despojado da arbitrariedade academicista. O surgimento de novas tipologias arquitetônicas, derivadas das novas necessidades e das novas possibilidades surgidas no seio do progresso material, colocou diante dos arquitetos e engenheiros uma temática arquitetônica inédita, não codificada pelos tratadistas dos séculos anteriores. Se, para um arquiteto acadêmico, o projeto de um pavilhão industrial ou de uma estação ferroviária constituía um sério problema, pois não havia modelos clássicos a copiar, para o engenheiro, talvez carente de formação artística aprimorada, mas certamente descomprometido com o apriorismo estético, o problema apresentava-se simplificado: projetar e construir um edifício para uma determinada finalidade específica, não importando como Palladio tê-lo-ia feito, se tivesse tido ensejo. Paradoxalmente, constata-se que a contribuição dos não arquitetos foi relevante na definição de um novo modo de se encarar a arquitetura. ” (Pág. 11 - Parágrafo 2) Silva afirma que o movimento racionalista fez uma tentativa, pelo menos no plano doutrinário, de sepultar qualquer influência academicista no processo de projeto arquitetônico. Aponta, porém, que não se abandonou completamente o conceito de composição, uma vez que o chamado “racionalismo” substituiu os cânones clássicos por um “novo catálogo e uma nova sintaxe, sem despojar- se de fato do esteticismo arbitrário que caracteriza as épocas precedentes. ” (Pág. 11 - Parágrafo 3) “Contudo, a partir dos anos sessenta, vários estudiosos se dedicaram a investigar o fenômeno do processo criativo na arquitetura, o que deu ao assunto novas dimensões e uma perspectiva ainda inexplorada. Dois eventos • A SOCIEDADE COMPLEXA: As relações nesta sociedade são complexas, a produção arquitetônica exige um grau elevado de especialização, e as tarefas desta atividade edificatória são compartilhadas por diversos atores, de diferentes formações, que muitas vezes só se reúnem transitoriamente, por interesses profissionais. “É o caso de edifícios de grande porte, pertencente a usuários institucionais e cuja construção exige o estabelecimento de explícitas convenções delimitadoras de atribuições e responsabilidades. A existência de profissionais de diferentes especialidades, demandando orientação diferenciada, exige que o projeto seja desdobrado, de modo a veicular as linguagens específicas de cada especialidade: estrutura, instalações elétricas, instalações de água e esgoto, instalações de ar condicionado, etc. O projeto passa, nesta sociedade, a assumir, além do papel de documento técnico de registro e comunicação, um caráter jurídico, com as devidas determinações de encargos, direitos e deveres das partes intervenientes da complexa tarefa de edificar. Soma-se ainda, neste contexto, mais uma instância em que o projeto é necessário: do direito de construir, implica o dever de respeitar a legislação urbanística, com seu plano diretor e código de obras, por exemplo. Assim, o projeto tem também a função documental do ponto de vista da aprovação legal nos órgãos competentes e de ser o instrumento, que uma vez aprovados nesses órgãos, sejam também o instrumento de fiscalização da obra. (Pág. 22 e 24 - parágrafo 2 da 22, finalizado na pág. 24) CONCLUSÃO PROVISÓRIA “Podem-se arrolar alguns elementos conclusivos da análise esquemática efetuada nas linhas precedentes. Constata-se, por exemplo, que quando o usuário é o próprio executor da obra e esta é realizada de modo empírico, diretamente sobre os meios da edificação, o conceito do projeto torna-se inaplicável, pois a maioria das decisões é tomada no momento em que se apresentam os problemas construtivos, que são solucionados diante da situação concreta. Analogamente, se o responsável pela concepção prévia é também o responsável pela realização material do edifício, o grau de pormenorização do projeto pode ser relativamente baixo, pois neste contexto é igualmente possível adiar-se a maioria das decisões para a ocasião em que as questões construtivas se colocam.3 Por outro lado, como já foi visto, se o usuário, o projetista e o construtor são pessoas distintas, com interesses, necessidades, aspirações, expectativas e motivações nem sempre convergentes, a necessidade de precisar a comunicação determina outro gênero de exigências. Neste quadro se verifica que a própria liberdade de contribuição do construtor tende a ser suprimida, em nome da integridade e da unidade de concepção. Deve-se acrescentar que estas unidade e integridade de concepção não decorrem apenas de imperativos de ordem estética: no quarto tipo de produção arquitetônica o projeto assume o papel de uma coleção de prescrições e instruções, pressupondo dos responsáveis pela execução uma estrita observância das disposições projetuais. Com efeito, nessa hipótese prevalecem razões de ordem econômica, legal e administrativa, que exigem que o projeto seja objeto de um orçamento detalhado e de um correspondente contrato que não devem, em princípio, admitir pontos de interpretação a posteriori. Nestas condições, dar-se-ia o chamado discurso despótico em que se pode converter o projeto, ao se revestir do caráter de mensagem unidirecional, que apenas informa, sem permitir a possibilidade de resposta e reformulação.4 Uma inferência possível nos leva a conceituar o projeto como um instrumento adotado para evitar a surpresa e o desconhecido. Quando a produção da arquitetura é a mera reprodução de modelos concretos, como ocorre nos dois primeiros tipos estudados neste capítulo, a surpresa e o desconhecido estão automaticamente excluídos do contexto. Nos dois últimos modelos, como se verificou, o projeto pretende antecipar a configuração que a obra assumirá, de modo a prescrever a possibilidade do inesperado e de suas consequências, frequentemente, indesejáveis. Na prática, como é fácil de se comprovar, este desiderato nem sempre é atingível, pois a perfeição às vezes exige pesados tributos. Assim sendo, a surpresa nem sempre pode ser evitada, o mesmo se dando com a decepção. Em síntese: o projeto não é uma etapa inevitável no processo de produção do edifício; o projeto arquitetônico realmente se torna necessário quando há a possibilidade da surpresa e do inesperado na atividade edificatória, ou seja, quando a construção não obedece mais a um modelo concreto previamente conhecido pelo usuário e/ou construtor; e quando o número de elementos envolvidos no processo de produção da arquitetura se amplia de modo a exigir um protocolo de registro e comunicado das decisões, necessário para garantir uma desejável mas nem sempre atingível unidade na interpretação das concepções delineadoras da obra a ser realizada. O grau de pormenorização do projeto depende da medida em que se quer evitar o adiamento das decisões reclamadas pelas questões construtivas colocadas pela obra, ao mesmo tempo em que se pretende minimizar o conteúdo de imprevisibilidade sempre associado à tarefa edificatória. Isto significa que o projeto arquitetônico não é apenas, como já foi dito, um esforço no sentido da racionalização da atividade construtiva, mas também uma decorrência do desaparecimento dos modelos e estereótipos, do advento da divisão social do trabalho e da necessidade da visualização antecipada da obra que se pretende edificar. São pois múltiplos os fatores que determinam a existência do projeto e são variados os papéis que o mesmo desempenha no processo de produção da arquitetura. Por razões de brevidade, não foram anteriormente examinadas as implicações puramente filosóficas da questão, já que as mesmas não alteram a definição do projeto em si, pois se limitam a permitir a formação de juízos de valor sobre um fenômeno com existência objetiva própria. A intenção de análise acima efetivada foi a de abordar a inserção do projeto arquitetônico no processo de produção do edifício, como base para o aprofundamento teórico a ser desenvolvido nos próximos capítulos; de certa maneira, pode-se dizer que o presente estudo representa uma aproximação epistemológica ao fenômeno projetual na arquitetura.5 3 Na opinião de Alexander, esta seria a forma correta de se construir. Diz ele: ‘suponhamos que se vá construir uma janela em certa habitação e que eu trato de solucionar esta peça num bocado de papel, sobre o qual eu decido exatamente como vai ser e onde vai ficar. Fazendo assim, a janela resultará fria e sem graça. Mas se tratarmos da coisa com o homem que realmente vai viver ali, o qual, situando-se na peça, olha ao redor atentamente e diz: ‘creio que gostaria que estivesse ali’, então a janela terá uma relação com esta pessoa, e que não será como uma outra qualquer, pois ocupará a posição exata desejada por quem vai utilizá-la. ’ (DOIS, José A. Função da arquitetura moderna. Barcelona, Salvat, 1979.) (Pág. 24 – Nota de rodapé) 4 Este interessante tema é abordado em instigante trabalho de Sérgio Ferro, intitulado O canteiro e o desenho. São Paulo, Projeto Editores Associados, 1979. Nesta obra, o autor reproduz a seguinte afirmação, atribuída a Miguel Ângelo, dirigindo-se aos artífices: ‘Vossa função é talhar a pedra, trabalhar a madeira, erguer paredes. Fazer vosso ofício e executar minhas ordens. Quanto a saber o que tenho na cabeça, vós não o sabereis jamais – isto seria contrário à minha dignidade. ” (Pág. 26 – Nota de rodapé) 5 Segundo Platão, a ciência (=episteme) somente trataria das ideias puras, incorruptíveis, perfeitas, universais, inteligíveis; sobre os objetos corpóreos e sensíveis, somente poderia existir opinião (=doxa). Mesmo não se adotando o rigorismo da conceituação platônica, pode-se perceber que o conhecimento da arquitetura, como ocorre em um milhão de outros campos, é constituído de elementos objetivos, com existência própria, pertencentes ao domínio dos fatos, e de elementos subjetivos, correspondentes às interpretações e concepções pessoais, de indivíduos ou de grupos, pertencentes ao domínio das opiniões. O presente estudo pretende explorar basicamente o primeiro domínio (Pág. 28 – nota de rodapé) “Projeto arquitetônico é uma proposta de solução para um particular problema de organização do entorno humano, através de uma determinada forma construível, bem como a descrição desta forma e as prescrições para a sua execução.” (Pág. 37 - parágrafo 4) Para o autor, a definição de projeto levantada por ele, dá também a base para o entendimento do processo de projeto, em termos didáticos, pois envolve cinco entidades, expostas a seguir: • Particular problema de organização do entorno humano → sinteticamente traduzida no programa; • Proposta de solução; • Forma construível, eventualmente convertida em obra; • Descrição dessa forma; • Conjunto de prescrições para a sua execução. “[...]o problema básico do projeto se reduz em procurar estabelecer, para um determinado contexto insatisfatório, a forma arquitetônica que se ajuste a esta satisfação, neutralizando-a.6 (Pág. 53 - Parágrafo 4) 6 Segundo Christopher Alexander, “todo problema de projetação se inicia com um esforço para obter um ajuste (fitness) entre duas entidades: a forma em questão e seu contexto. A forma é a solução do problema; o contexto define o problema. ” (Pág. 53 – Nota de rodapé) ESTÁGIOS DO PROCESSO DE PROJETAÇÃO O autor faz referência aos estágios projetuais já apresentados no capítulo 4, quais sejam: 1) - proposição de um vasto elenco de formas potencialmente capazes de satisfazer os requisitos do programa estabelecido; 2 e 3) - seleção e conexão dessas formas, de modo a se produzir uma imagem coerente que represente uma possível solução para o problema proposto. Tais atividades – definidas será apenas uma consequência da tarefa conceptiva, e não seu objetivo. Em outras palavras, a perfeita caracterização dos estágios não é uma necessidade em si mesma, mas uma decorrência do processo-meio, que é uma progressão; assim sendo, esta caracterização só se justifica quando atende a este processo-meio. ” (Pág. 78-80) CONCEITO DE PROGRAMA “O primeiro passo no processo de projetação na arquitetura é constituído pela tradução da necessidade determinante, ou situação particularmente insatisfatória, nos termos de uma linguagem manipulável pelo projetista. Este estágio não é, a rigor, uma etapa do projeto propriamente dito, mas é sem dúvida uma fase do processo resolutivo, já que pode ser comparado ao equacionamento de um problema a resolver. Aquela tradução se inicia quando as partes envolvidas, ou seja, usuários e/ou projetistas, formalizam o estabelecimento do programa, que pode ser definido como o enunciado dos requisitos a serem satisfeitos pela obra a ser construída.1 Conforme já foi esclarecido, a situação problemática não reside propriamente na inexistência do prédio necessitado, mas na temporária ignorância da forma que deverá ser assumida pela edificação a ser projetada e construída. No plano logico, sabe- se que a forma arquitetônica deverá ser tal que permita o atendimento dos requisitos (necessidades, aspirações e expectativas) implícitas no contexto em desajuste. Torna-se então indispensável o conhecimento daqueles requisitos. Assim sendo, o programa é equivalente ao que Alexander denomina contexto.2 É importante observar que o conceito de programa modifica-se de acordo com a abordagem assumida no estudo do processo. Tradicionalmente, o vocábulo programa referia-se à listagem dos espaços ou compartimentos que deveriam integrar determinada edificação. Ao projetista caberia subentender as implicações funcionais e estéticas pertinentes, não expressas de maneira explícita naquela listagem. Com o advento e a evolução da abordagem metodológica, a expressão programa passou a representar não apenas a enumeração das dependências do edifício a ser concebido, mas também – e às vezes principalmente – o inventário de todos os requisitos materiais e imateriais referentes ao âmbito instrumental e afetivo, em seus aspectos fisiológicos, psicológicos, socioculturais, etc. Nessa concepção o programa constitui-se na decomposição da necessidade determinante no conjunto definido e explícito de todos os requisitos e sub-requisitos que a integram. A necessidade genérica de habitar, por exemplo, decompõe-se em requisitos como proteger-se das intempéries, repousar, alimentar-se dormir, cuidar da higiene, etc., que, por sua vez, podem ser decompostos em sub-requisitos ainda mais específicos e pormenorizados (ver figura 7.1). É importante esclarecer que a relevância de um determinado requisito reside na possibilidade de se conceber um modo, ainda que teórico, pelo qual o mesmo possa ser atendido pela forma arquitetônica, em qualquer um de seus aspectos. Uma necessidade, aspiração ou expectativa que seja insuscetível de ser satisfeita por um componente da forma arquitetônica, real ou imaginário, não fornece a necessária base para a identificação de um requisito programático. ” (Pág. 81e 82)