Farmacodependência





A farmacodependência é a dependência de algum composto com efeito farmacológico.
E ela é baseada no conceito de dependência, que corresponde a um estado fisiológico de neuroadaptação, que é produzido pela administração repetida da droga.
Além disso, a dependência exige uma administração continua dessa droga, a fim de evitar o aparecimento da chamada síndrome de abstinência.
Essa síndrome de abstinência, por sua vez, compreende fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que são decorrentes do uso repetido dessas substâncias.
Em geral, ela inclui um forte desejo de consumir a droga (também chamado de fissura); a dificuldade do indivíduo de controlar o uso, apesar dos efeitos negativos que ele pode causar; a prioridade que o indivíduo insere no uso da droga, quando comparada a outras atividades e obrigações diárias; e ainda, o desenvolvimento de tolerância aos efeitos da droga.
Em geral, a dependência pode ser dividida em física e psicológica: a dependência física é aquela caracterizada pela síndrome de abstinência que nós acabamos de mencionar, e ela ocorre quando se cessa a administração da droga.
Isso acarreta então em efeitos adversos, que podem variar de acordo com a droga, e pode durar dias ou semanas.
Vale lembrar que a dependência física, ela obviamente influencia na recaída (isto é, na reutilização da droga por parte do indivíduo), mas ela não é o principal causador da dependência a longo prazo.
A principal causadora de dependência a longo prazo é a dependência dita psicológica.
Isto é, uma vez que o indivíduo experimentou o efeito gratificante da droga, ele quer repetir a experiência.
Dessa forma, a memória prévia de utilização da droga e do efeito gratificante por parte do indivíduo
se torna intensa e duradoura; e isso pode desencadear recaídas, principalmente a partir de pistas ambientais, isto é, contextos que o indivíduo associa à utilização da droga, sejam pessoas, objetos (como por exemplo, uma seringa), locais.
Então, essa dependência psicológica vem da interrupção do uso da droga, o que causa no indivíduo esse efeito aversivo e desencadeia então a recaída, uma vez que ele sabe que quando ele utiliza a droga, ele tem o efeito gratificante.
Se a retirada da droga implica no efeito aversivo, ele recai e tende a utilizar novamente a droga a fim de obter esse efeito.
Então as bases neurobiológicas por trás da dependência envolvem dois conceitos fundamentais que são: o reforço positivo e o reforço negativo.
É importante frisar que quando nós falamos de reforço positivo e negativo, isso não atribui juízo de valor ao reforço, e sim decorre da presença ou não de um estímulo.
No caso do reforço positivo, a apresentação do estímulo é que aumenta a probabilidade de resposta.
Isto porque quando o indivíduo utiliza um estímulo (no caso uma droga) e tem uma sensação prazerosa, isso vai aumentar a probabilidade de ele utilizar a droga novamente.
Já no caso do reforço negativo, o indivíduo utiliza a droga a fim de remover o estímulo aversivo, isto é, quando o indivíduo não tem acesso a droga, ele tem um estado dito emocional negativo (podendo haver a síndrome de abstinência que nós mencionamos) e ele utiliza a droga a fim de remover aquele estímulo aversivo.
Portanto, o reforço negativo é quando a remoção desse estímulo aumenta a probabilidade de resposta.
Então, no caso de um reforço positivo, o indivíduo tem sinais associados à utilização da droga, dentre eles o contexto social (seja o local ou pessoas); ele tem como comprar a droga ou preparar (isto é, ele tem acesso a consumir aquela droga), portanto, ele administra.
E a curto prazo ele recebe então a recompensa do organismo (essa recompensa imediata) e tende a diminuir com a repetição, que é o caso dos fenômenos de tolerância.
Isso faz com que o indivíduo se condicione positivamente, isto é, o efeito gratificante de recompensa do final faz com que ele aumente a probabilidade de utilizar a droga.
Em contrapartida, no caso do reforço negativo, o indivíduo tem sinais associados à retirada da droga, sejam elas o acesso ao contexto social ou a indisponibilidade da droga, o que faz com que o indivíduo não tenha acesso a essa droga e, portanto, ele apresente uma síndrome de abstinência, que em geral é retardada, dura alguns dias e aumenta com a repetição.
Dessa forma, indivíduo desenvolve o chamado condicionamento negativo e por ter esse reforço negativo (esse estímulo aversivo de retirada da droga), o indivíduo tende a utilizá-la novamente a fim de obter aquele efeito recompensador inicial.
Então essa sensação de recompensa que o indivíduo sente após a utilização da droga se dá pela ativação de vias de recompensa cerebrais, cujo principal neurotransmissor envolvido é a dopamina.
Existem também os chamados reforçadores naturais, como é o caso de comida, sexo e água, isto é, estímulos que fazem com que o indivíduo aumente a probabilidade de repeti-los, uma vez que eles aumentam a dopamina nas vias de recompensa, desencadeando então esse efeito.
E a principal via cerebral envolvida no circuito de recompensa é a via mesolímbica dopaminérgica.
Foi visto que um aumento de dopamina nessa via, principalmente na região do núcleo accumbens, promove o chamado efeito hedônico, isto é, o efeito prazeroso decorrente da utilização da droga, do fármaco ou de algum reforçador natural.
Portanto, a via mesolímbica, isto é, aquela que se projeta da área tegmental ventral para regiões do sistema límbico é a principal via associada ao efeito hedônico (o efeito gratificante), porque um aumento de dopamina nessa via, principalmente na região do núcleo accumbens, é associado a esse prazer e, portanto, pode desencadear o fenômeno de dependência, uma vez que o indivíduo repete o uso a fim de obter esse efeito prazeroso.