Baixe TRABALHOS ACADÊMICOS e outras Trabalhos em PDF para Ciências da Educação, somente na Docsity! OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E HISTÓRIA LOCAL: O CASO DA CRIAÇÃO DE UM MUSEU NA ESCOLA Serli Salete Cecagno da Silva1 Sônia Maria dos Santos Marques2 RESUMO Propõe-se a criação de um museu escolar no município de Verê, Paraná. A proposta justifica-se pela possibilidade de produzir, nos alunos, uma subjetividade em relação ao seu local de vida. O museu é um local privilegiado para o ensino de história, possibilitando ao educando o contato direto com a história, seus personagens, seus vestígios e a herança construída pelos antepassados. Também, se quer demonstrar a ideia de alargamento do espaço da sala de aula, processo que amplia as possibilidades de discussões para o ensino de história. As ações propostas estimularam os discentes a observar, registrar, explorar e apropriar-se, por meio da educação patrimonial, dos instrumentais necessários para conhecer e agir no seu local de vida. Tais disposições colaboraram para que os alunos refletissem sobre a importância da identidade social para a construção do conhecimento histórico. Para esse processo estabelecemos como objetivo geral, entender a vida no município em outras temporalidades para despertar no aluno o sentimento de pertença e gosto pela a história local. Como metodologia, utilizamos a pesquisa qualitativa. Para dar suporte teórico-metodológica às ações nos valemos das contribuições de Horta, (1999), Martins, (2001), Schmidt e Cainelli (2005) e Fronza-Martins (2006). Palavra-chave: História. Patrimônio. Museu. Na atualidade, o ensino de história possui um importante papel na formação dos educandos. Este conhecimento tem a possibilidade de despertar o interesse pela pesquisa e a reflexão acerca do indivíduo e de sua rede de relações. Nesse sentido, a análise da história local, possui um enfoque diferente, nos meios educacionais, que em décadas passadas. A percepção contemporânea propõe a valorização da cultura e a história local, o vigor do sentimento de pertença e de uma identidade que se produz na intersecção com o global. Outro fator a ser considerado é a relação particular que muitos alunos têm com as aulas de história: como passado estático. A partir desta concepção, fica difícil que o aluno desenvolva uma identificação com os conteúdos estudados. Neste contexto, a 1 Docente no Colégio Estadual Arnaldo Busato, professora PDE 2014/2015. 2 Professora Adjunta na Unioeste, Campus de Francisco Beltrão. Essa argumentação chama a atenção para a importância da práxis no processo pedagógico, o que contribui para que o conhecimento ganhe significado para o aluno, de forma que aquilo que lhe parece sem sentido seja problematizado e apreendido (PARANÁ, 2008, p. 28). Nesse contexto foi importante a ação docente de valorização os conhecimentos prévios que o aluno possui, suas vivências, experiências e valores culturais. A partir destas questões o docente pode reestruturar e sistematizar tais conhecimentos, fazendo- os compreender a construção histórica. A prática da pesquisa na escola, pode ser entendida de modo sistemático e racional, que faça o aluno pensar e refletir acerca de um acontecimento, necessitando de uma abordagem científica para solucionar as problemáticas existentes na disciplina de História. Para isso, a pesquisa, na aula de História, é imprescindível para a aprendizagem. Pois, segundo Franco (1997, p. 23, sic): Às vezes, quando se fala em transformar os alunos em pesquisadores, se entende como desincumbir o professor em seu compromisso de dar aulas. Ora, a construção do conhecimento só se dá nas trocas com os outros, e o saber diferenciado do professor torna-se elemento essencial nesta construção. Portanto, não deixemos de lado a necessária dialogicidade da relação professor-alunos. As trocas de ideias e os espaços de orientação que precisam ocorrer. Para efetivar o ensino e a aprendizagem da disciplina de História, especialmente a local, contemplou-se o contato direto com a realidade que cerca os educandos pois, [...] para estudar o passado de um povo, de uma instituição, de uma classe, não basta aceitar ao pé da letra tudo quanto nos deixou a simples tradição escrita. É preciso fazer falar a multidão imensa dos figurantes mudos que enchem o panorama da História e são muitas vezes mais interessantes e mais importantes do que os outros, os que apenas escrevem a História (HOLANDA, 1996, p. 43). E isso é possível, na escola, com a criação de um museu escolar. Conforme apresenta Peixoto (2004, p. 266): “ler um museu é uma forma de ler a vida, portanto, cada um realiza essa leitura com as condições de que dispõe”. Através do conhecimento sobre museus, o educando conseguirá obter informações mais precisas, mais próximas da sua própria realidade. Nessa perspectiva na atualidade, Fronza-Martins (2006, p. 71) afirma que: “a questão da educação em museus possui um importante foco de interesse na atualidade, tanto no que diz respeito ao seu papel social, quanto no que se refere às práticas realizadas nesse espaço e suas possíveis reflexões”. Percebe-se o interesse não apenas na organização e preservação de acervos, mas também na ênfase da compreensão, desenvolvimento e promoção da divulgação, bem como na formação de público como forma de disseminar conhecimentos por meio de uma ação educativa. Apresenta-se, ainda, que as Diretrizes Curriculares Estaduais para o Ensino de História do Estado do Paraná contemplam a valorização e a contribuição para a preservação de objetos, documentos e outros materiais de fontes históricas: Entender tais aspectos possibilita que os alunos valorizem e contribuam para a preservação de documentos escritos, dos lugares de memória, como: museus, bibliotecas, acervos privados e públicos de fotografias, audiovisuais, entre outros. Isso se dá pelo uso adequado dos locais de memória, pelo manuseio cuidadoso de documentos que podem constituir fontes de pesquisas ou pelo reconhecimento do trabalho feito pelos pesquisadores. A problematização desses documentos é que os transformam em fontes históricas (PARANÁ, 2008, p. 70). Além disso, Horta (1999) argumenta que o conhecimento crítico e a apropriação consciente por parte dos indivíduos e das comunidades em relação ao patrimônio que eles possuem são aspectos indispensáveis para que haja preservação, de modo sustentável, destes bens. Além disso, o conhecimento e apropriação consciente contribuem para o fortalecimento do sentimento de identidade e cidadania. Para dar concretude ao conhecimento histórico, o docente pode utilizar-se de variadas fontes de pesquisa, como museus, livros, jornais, fotografias, pinturas, músicas, filmes, que são documentos que podem ser transformados em materiais didáticos muito importantes na constituição do conhecimento histórico (PARANÁ, 2008). Também se apresenta que: O trabalho com o documento histórico em sala de aula exige do professor que ele próprio amplie sua concepção e o uso do próprio documento. Assim, ele não poderá mais se restringir ao documento escrito, mas introduzir o aluno na compreensão de documentos iconográficos, fontes orais, testemunhos da história local, além das linguagens contemporâneas, como cinema, fotografia e informática. Mas não basta o professor ampliar o uso de documentos; também deve rever seu tratamento, buscando superar a compreensão de que ele serve apenas como ilustração da narrativa histórica e de sua exposição, de seu discurso (SCHMIDT E CAINELLI, 2005, p. 95). Assim sendo, o museu pode ser uma excelente ferramenta de ensino da história. Além disso, com a criação de um museu na escola, ressalta-se que o contato com a família, a participação da comunidade alavancará o processo de aprendizagem: A participação dos pais na vida da escola tem sido observada em pesquisas, como um dos indicadores mais significativos na determinação da qualidade do ensino, isto é aprendem mais os alunos cujos pais participam mais da vida da escola (LÜCK, 2010, p. 86). Sobre a questão, Almeida e Vasconcellos (2005) indicam que a ação educativa em museus não deve apenas estar centrada nas exposições, ainda que esta seja um suporte essencial para a aproximação com o público geral e escolar e, com isso a constituição de uma memória e da preservação de um passado. Já Libâneo et all (2003, p. 348-349) compreende que ligar gestão escolar e prática docente colabora para que como toda a escola organize atividades que assegurem a relação entre escola e comunidade. Implica ações que envolvem a escola e suas relações externas, tais como os níveis superiores de gestão do sistema escolar, os pais, as organizações políticas e comunitárias, as cidades e os equipamentos urbanos. O objetivo dessas atividades é buscar as possibilidades de cooperação e de apoio, oferecidas pelas diferentes instituições, que contribuam para o aprimoramento do trabalho da escola, isto é, para as atividades de ensino e de educação dos alunos. Espera-se especialmente, que os pais atuam na gestão escolar mediante canais de participação bem definidos. Através desta relação da escola com a comunidade, é possível realizar um trabalho na disciplina de História que contemple a Educação Patrimonial como um processo sistemático e permanente de um trabalho educacional centrado no patrimônio cultural, como fonte primária de enriquecimento individual coletivo, além de ser fonte primária de conhecimento. De acordo com Horta (1999), isso consiste em: [...] tomar os objetos e expressões do Patrimônio Cultural como ponto de partida para a atividade pedagógica, observando-os, questionando-os e explorando todos os seus aspectos, que podem ser traduzidos em conceitos e conhecimentos. Só após esta exploração direta dos fenômenos culturais, tomados como “pistas” ou “indícios” para a investigação, se recorrerá então às chamadas “fontes secundárias”, isto é, os livros e textos que poderão ampliar esse conhecimento e os dados observados e investigados diretamente (HORTA, 1999, p. 2). Outro fator a considerar refere-se a respeito da Educação Patrimonial é o que tange ao aprendizado do método investigativo. Neste contexto o docente pode estimular os educandos, com o intuito de desenvolver suas habilidades de observação, de comparação e dedução, de análise crítica, assim como formulação de hipóteses e, de solução de problemas. Deste modo, ao adquirir a habilidade da percepção da diversidade, é possível que o espírito de tolerância seja desenvolvido, além de ampliar o respeito e valorização das diferenças, atentando ao fato que não existem povos “sem cultura” ou com cultura superior a outra. Com isso, a interação e o diálogo entre as comunidades e os agentes responsáveis pela preservação dos bens culturais é amplamente facilitada (HORTA, 1999). sobre a importância de se constituir um museu na escola. A valorização da experiência pode ser explicitada nas falas: “Um museu é importante para manter vivas as lembranças do nosso povo, porque através dos objetos podemos voltar no tempo e ter uma noção de toda a dificuldade que eles tiveram para construir o nosso município”. Como podemos perceber houve uma valorização do legado coletivo da vida na localidade que o objeto ajuda a evocar. Em outro depoimento encontramos expressão da importância do conceito de perenidade que pode se estabelecer entre o sujeito e os objetos expostos no museu. Sobre a questão um dos participantes assim se manifestou: “O museu é importante porque com a tecnologia os jovens descartam tudo e não conhecerão o passado de suas famílias e não deixaram nada de herança, cultura, costumes para seus filhos”. Poderíamos buscar muitos depoimentos no mesmo sentido, no entanto importa dizer que a atividade corroborou a ideia inicial de que a educação patrimonial colabora para desenvolver o sentimento de pertença. No ano de 2015, durante os meses de setembro a dezembro aconteceu também o Grupo de Trabalho em Rede – GTR. No momento da inscrição houve o interesse de 20 cursistas pelo assunto proposto e durante o período das atividades 05 professores não concluíram o GTR. Esta forma de diálogo entre professor PDE e cursistas mostrou-se interessante pois o diálogo entre colegas permite avaliar as atividades propostas, refazer ações, discutir formas de implementação do que planejamos e, principalmente melhorar o processo de ensino-aprendizagem. Neste processo, os professores acessaram constantemente as atividades, deram sugestões, opiniões, enfim, contribuíram para o crescimento enquanto historiadora e professora de sala de aula. O Grupo de Trabalho em Rede – GTR – foi dividido em 03 Módulos: Módulo 1 – Aprofundamento Teórico; Módulo 2 – Projeto de Intervenção Pedagógica na escola e Produção Didático – Pedagógica; Módulo 3 – Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na escola. Durante o período do GTR, houve trocas de experiências, relatos, interações através dos fóruns. No fórum todos os participantes demarcaram a importância do projeto na melhoria da prática pedagógica para aulas de História, como relata uma professora: Acredito que essas oportunidades de inserir a história local no nosso cotidiano de sala de aula é de suma importância. Ao fazer isso nosso aluno pode perceber que a história global se faz com pessoas comuns ao seu tempo, assim como aqueles que viveram em nossa cidade e contribuíram para sua formação atual (participante do GTR). Pelo depoimento podemos depreender que a história está presente em sua própria sociedade e que antes de tudo, é resultado de um fazer cotidiano. Ao analisarmos as discussões do Grupo de Trabalho em Rede – GTR reafirmamos a importância de que os conteúdos tratados nas aulas de história sejam teórico-práticos de maneira que os discentes consigam atribuir significados e os professores, por meio destas ações, consigam dinamizar suas aulas. A experiência demonstrou que é através do conhecimento da história local que os alunos percebem que fazem parte de um contexto histórico. Na sociedade atual, por vezes, esquecemos-nos de perceber a memória de nossas comunidades como patrimônio (material e imaterial) e atribuímos importância para o global relegando o conhecimento local como categoria menor. Assim, parece que é importante assumir o compromisso de mobilizar práticas cotidianas que permita aos alunos se sentirem sujeitos do processo educativo e da mesma forma. Considerações Finais A ação promoveu reflexão bem como propor uma conscientização quanto ao conhecimento e preservação do patrimônio histórico e cultural, não é e não será uma tarefa fácil. A valorização do hoje, do ser atual, do vivo e dinâmico, dos bens materiais palpáveis, está presente nas ações corriqueiras dos cidadãos, o que torna o processo de reconhecimento dos valores históricos um obstáculo a ser superado com possíveis mudanças a longo prazo. O tema Educação Patrimonial pode despertar o interesse da comunidade escolar sobre o processo de reconstrução do conhecimento. Neste sentido, as atividades desenvolvidas demonstram a importância das ações que considerem o patrimônio Material e imaterial produzido pelas comunidades. Desta forma, há reconhecimento de que se pode se produzir e valorização da cultura de um povo. As ações desenvolvidas apontam o significado do projeto implementado. Após os estudos realizados sobre “Educação Patrimonial e História Local: o caso da criação de um museu na escola”, a participação efetiva dos alunos, a colaboração da Comunidade Escolar, bem como a exposição das antiguidades disponibilizadas pelos familiares e comunidade em geral, ficou claro que os alunos envolvidos adquiriram condições de refletir criticamente sobre a necessidade e a importância de intervirem como sujeitos ativos, na construção de práticas sociais que busquem a valorização e o respeito à diversidade cultural, seja ela material ou imaterial da localidade na qual estão inseridos. Constatou-se também a necessidade de que novas metodologias e práticas educacionais sejam exploradas e postas em prática pelos profissionais da área de História Assim, identificar o museu como um espaço de “guardar da história”, é reconhecer que as memórias são constantemente atualizadas pela ação presente e que a escola pode ser um dos espaços em que os sujeitos operam um olhar qualificado para o que foi produzido pela coletividade. Referências ALMEIDA, Adriana Mortara e VASCONCELLOS, Camilo de Mello. Por que Visitar Museus. In: BITTENCOURT, Circe (org.). O Saber Histórico na Sala de Aula. 10. ed. São Paulo: Contexto, 2005. BITTENCOURT, Circe (org.). O Saber Histórico na Sala de Aula. 10. ed. São Paulo: Contexto, 2005. FRANCO, S. R. K. O Construtivismo e a Educação. 6. ed. Porto Alegre: Mediação, 1997. FRONZA-MARTINS, A. S. Da Magia a Sedução: a importância das atividades educativas não formais realizadas em museus de arte. Campinas: UNICAMP, 2006. GASPAR, A. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Livro dos Prefácios. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. HORTA, Maria de Lourdes Parreiras. Guia Básico da Educação Patrimonial. IPHAN/MINC. Museu Imperial, 1999. LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F.; TOSCHI, M. S. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2003. LOPES, Alice Casimiro. Parâmetros Curriculares para o Ensino Médio: quando a integração perde seu potencial crítico. In: LOPES, A. C. e MACEDO, E. (orgs.). Disciplinas e Integração Curricular. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.