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flotação, Notas de estudo de Química

Luciana Massi, Sandro Rogério de Sousa, Cecília Laluce e Miguel Jafelicci Junior Flotação é uma técnica de separação que envolve conceitos de química de superfícies, mas que pode ser abordada de forma clara e simples por professores de Ensino Médio, fugindo das concepções errôneas sobre o processo presente na maioria dos materiais didáticos. Este artigo tem como objetivo servir de suporte aos professores interessados em ilustrar suas aulas de separações de misturas com uma técnica extremamente e

Tipologia: Notas de estudo

2011

Compartilhado em 17/08/2011

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mayara-goncalves-5 🇧🇷

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Fundamentos e Aplicação da Flotação como Técnica de Separação de Misturas
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 28, MAIO 2008
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CO N C E I T O S CIE NT Í FI CO S E M DE S TA Q U E
A seção “Conceitos científi cos em destaque” tem por objetivo abordar, de maneira crítica e/ou inovadora, conceitos científi cos de interesse dos professores de Química.
Recebido em 27/11/06, aceito em 19/9/07
Luciana Massi, Sandro Rogério de Sousa, Cecília Laluce e Miguel Jafelicci Junior
Flotação é uma técnica de separação que envolve conceitos de química de superfícies, mas que pode ser
abordada de forma clara e simples por professores de Ensino Médio, fugindo das concepções errôneas sobre
o processo presente na maioria dos materiais didáticos. Este artigo tem como objetivo servir de suporte aos
professores interessados em ilustrar suas aulas de separações de misturas com uma técnica extremamente
eficiente, que trabalha diversos conceitos de química e biologia, e tem ampla aplicação em processos industriais
que permeiam o nosso cotidiano.
separação de misturas, flotação, aplicação da flotação
Fundamentos e Aplicação da Flotação como
Técnica de Separação de Misturas
A
flotação é uma técnica de
separação de misturas que
consiste na introdução de
bolhas de ar a uma suspensão de
partículas. Com isso, verifica-se que
as partículas aderem às bolhas, for-
mando uma espuma que pode ser
removida da solução e separando
seus componentes de maneira efe-
tiva. O importante nesse processo
é que ele representa exatamente o
inverso daquele que deveria ocorrer
espontaneamente: a sedimentação
das partículas. A ocorrência do fe-
nômeno se deve à tensão superficial
do meio de dispersão e ao ângulo
de contato formado entre as bolhas
e as partículas (DeSousa e cols.,
2003).
A tensão superficial é a responsá-
vel pela formação das bolhas e pode
ser entendida como uma espécie
de película que envolve os líquidos,
semelhante à existente na gema do
ovo. Isso explica porque, quando
viramos um copo molhado, algumas
gotas permanecem presas à sua su-
perfície ou porque uma torneira mal
fechada consegue segurar a gota
de água até certo limite de tamanho
antes que esta caia na pia. A justifi-
cativa para esse fenômeno está no
fato de que as moléculas situadas no
interior de um líquido são, em média,
sujeitas à força de atração igual em
todas as direções, ao passo que as
moléculas situadas, por exemplo, na
superfície de separação líquido-ar,
estão submetidas à força de atração
Figura 1: Diagrama esquemático comparando as forças de atração entre moléculas na
superfície e no interior de um líquido.
não balanceada ou não equilibrada,
o que resulta numa força preferencial
em direção ao interior do líquido, in-
dicada na Figura 1. O maior número
possível de moléculas se deslocará
da superfície para o interior do líquido
e a superfície tenderá a contrair-se.
Isso também explica porque gotícu-
las de um líquido ou bolhas de gás
tendem a adquirir uma forma esférica
(Jafelicci Jr e Massi, 2007).
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CONCEITOS CIENTÍFICOS EM DESTAQUE

A seção “Conceitos científicos em destaque” tem por objetivo abordar, de maneira crítica e/ou inovadora, conceitos científicos de interesse dos professores de Química.

Recebido em 27/11/06, aceito em 19/9/

Luciana Massi, Sandro Rogério de Sousa, Cecília Laluce e Miguel Jafelicci Junior

Flotação é uma técnica de separação que envolve conceitos de química de superfícies, mas que pode ser abordada de forma clara e simples por professores de Ensino Médio, fugindo das concepções errôneas sobre o processo presente na maioria dos materiais didáticos. Este artigo tem como objetivo servir de suporte aos professores interessados em ilustrar suas aulas de separações de misturas com uma técnica extremamente eficiente, que trabalha diversos conceitos de química e biologia, e tem ampla aplicação em processos industriais que permeiam o nosso cotidiano.

separação de misturas, flotação, aplicação da flotação

Fundamentos e Aplicação da Flotação como

Técnica de Separação de Misturas

A

flotação é uma técnica de separação de misturas que consiste na introdução de bolhas de ar a uma suspensão de partículas. Com isso, verifica-se que as partículas aderem às bolhas, for- mando uma espuma que pode ser removida da solução e separando seus componentes de maneira efe- tiva. O importante nesse processo é que ele representa exatamente o inverso daquele que deveria ocorrer espontaneamente: a sedimentação das partículas. A ocorrência do fe- nômeno se deve à tensão superficial do meio de dispersão e ao ângulo de contato formado entre as bolhas e as partículas (DeSousa e cols., 2003). A tensão superficial é a responsá- vel pela formação das bolhas e pode ser entendida como uma espécie de película que envolve os líquidos, semelhante à existente na gema do ovo. Isso explica porque, quando viramos um copo molhado, algumas gotas permanecem presas à sua su- perfície ou porque uma torneira mal

fechada consegue segurar a gota de água até certo limite de tamanho antes que esta caia na pia. A justifi- cativa para esse fenômeno está no fato de que as moléculas situadas no interior de um líquido são, em média, sujeitas à força de atração igual em todas as direções, ao passo que as moléculas situadas, por exemplo, na superfície de separação líquido-ar, estão submetidas à força de atração

Figura 1: Diagrama esquemático comparando as forças de atração entre moléculas na superfície e no interior de um líquido.

não balanceada ou não equilibrada, o que resulta numa força preferencial em direção ao interior do líquido, in- dicada na Figura 1. O maior número possível de moléculas se deslocará da superfície para o interior do líquido e a superfície tenderá a contrair-se. Isso também explica porque gotícu- las de um líquido ou bolhas de gás tendem a adquirir uma forma esférica (Jafelicci Jr e Massi, 2007).

Ao colocarmos um líquido em contato com uma superfície, temos que considerar duas possibilidades de interação: o líqui- do se espalha bem na superfície (como bebida alcoólica em copo de vidro) ou o líquido tende a se manter no formato de gota (como uma gota de chuva no pára-brisa engordu- rado de um carro). Na realidade, o que observamos é reflexo da afinidade entre as superfí- cies: aquelas que se mantém como gotas de maneira a diminuir o máximo possível o contato entre a água e a superfície são chamadas hidrofóbi- cas, enquanto aquelas em que obser- vamos o espalhamento do líquido e têm afinidade à água são chamadas hidrofílicas. O ângulo formado entre as superfícies, indicado na Figura 2, conhecido como ângulo de contato (θ), pode ser usado como uma medi- da da hidrofobicidade/hidrofilicidade do sólido. Esse ângulo permite a quantificação dos vários graus de afinidade intermediários entre esses dois casos extremos. No entanto, como esses parâ- metros de superfície explicam que no processo de flotação algumas partículas aderem às bolhas de ar preferencialmente em relação a ou- tras? A explicação está no fato de que a superfície dessas partículas é hidrofóbica, fazendo com que a tensão superficial da água expulse a partícula do líquido e promova a adesão da partícula na superfície da bolha de ar. O que não ocorre com os outros componentes hidrofílicos com ângulos de contato pequenos

presentes no sistema, que preferem permanecer no meio líquido em vez de aderir à superfície da bolha de ar (Venditti, 2004). Para uma adesão satisfatória, são ne- cessários ângulos de contato de pelo me- nos 50° a 75°, enquan- to que, para uma boa adesão às bolhas, o ângulo de contato deve ser preferencial- mente superior a 90°. E como esse ângulo pode rapidamente ser modificado por fatores, tais como substâncias gordurosas na superfície e materiais tenso-ativos, torna-se pos- sível também controlar as condições para a flotação, tendo em vista que nem sempre a partícula desejada é hidrofílica. Além da natureza físico-química da superfície, o tamanho da partícula também é fator limitante do processo, pois para ser arrastada, a partícula deverá ter dimensões próximas das coloidais. Colóides são sistemas dispersos constituídos de partículas com pelo menos uma dimensão entre 1 a 1000nm ou 10 a 10000mm, mas a base dessa classificação pelo tamanho da partícula admite a simetria esférica, o que nem sempre é o caso. Partículas que têm esse tamanho em uma dimensão (forma de disco) ou em duas dimensões (forma de agulha), mas que são muito maiores em outras dimensões, tam- bém se comportam como colóides. Essa flexibilidade permite que vários sistemas sejam classificados como coloidais e possibilita o emprego da flotação como técnica de separação de misturas em vários processos industriais.

Aplicação da flotação em processos

industriais

Em 1886, Carrie Everson, estu- dando química e metalurgia com seu marido, por meio da experimentação, descobriu a possibilidade da ocorrên- cia da flotação e registrou a patente do processo. No entanto, as patentes mais disputadas, que envolveram grandes somas de dinheiro (Laine, 1928), referem-se à aplicação do pro- cesso inicialmente na separação mine- ral e na extração do cobre a partir da calcopirita (CuFeS 2 ). Nesse processo, o mineral é pulverizado e combinado com óleo, água e detergentes. As partículas de sulfetos esmagadas e moídas são molhadas por óleo, mas não por água. Então o ar é borbulhado através da mistura; o sulfeto mineral recoberto de óleo adere à bolha de ar e flutua na superfície com a espuma formada; e o resíduo não desejado, pobre em cobre, chamado de ganga, deposita-se na parte inferior. A remo- ção da espuma é bastante simples e a separação das partículas bastante eficiente (Atkins e Jones, 2001). A aplicação na separação de minerais é o emprego mais conven- cional da flotação, seguido de seu uso na recuperação de corantes em indústrias de papel, tratamento de água e esgoto. Pesquisas recentes ampliaram o uso da flotação em processos tais como despoluição de rios, separação de plástico e até mes- mo separação de microrganismos. A Figura 3 mostra o tanque de flo- tação por ar disperso de projetos de purificação de água. A flotação por ar disperso utilizado nos projetos de des- poluição, como nos lagos dos parques do Ibirapuera e da Aclimação, no mu- nicípio de São Paulo, e nos córregos que abastecem esses lagos, engloba as etapas de separação do lixo trazido pelas chuvas; introdução de substân- cias na água que reduzem a acidez e iniciam o processo de coagulação dos poluentes; injeção de oxigênio por baixo do tanque que arrasta as partículas sólidas para a superfície, onde uma draga coleta todo o lodo formado no processo e o encaminha para as estações de tratamento de esgoto (Sabesp, 2006).

A aplicação na separação de minerais é o emprego mais convencional da flotação, seguido de seu uso na recuperação de corantes em indústrias de papel, tratamento de água e esgoto.

Figura 2: Superfícies hidrofílicas (a) apresentam ângulo de contato menores que 90°, enquanto superfícies hidrofóbicas (b) apresentam ângulos maiores que 90°.

(a) (b)

possa ser expandida com a amplia- ção do conceito, admitindo a possibi- lidade da discussão de propriedades de química de superfícies com os alunos de Ensino Médio.

Agradecimentos

Aos professores Nito Angelo Debacher, da Universidade Federal de Santa Catarina, e Maria Elisabete Darbello Zaniquelli, da FFCL de Ri- beirão Preto - Universidade de São Paulo, pelas valiosas considerações sobre o artigo.

Luciana Massi, licenciada em Química pelo Instituto de Química/UNESP-Araraquara, é mestranda em química analítica na área de Ensino de Química pelo Instituto de Química de São Carlos/Universidade de São Paulo. Sandro Rogério de Sousa, licenciado em Química pela UNESP, doutor em biotecnologia pela Universidade de São Paulo, é pós-doutorando do Instituto de Química/UNESP-Araraquara. Cecília Laluce, licenciada e bacharel em Química, doutora em ciências pela UNESP, pós-doutora em genética clássica de leveduras pela Universidade do Colo- rado (USA), é docente do Instituto de Química da UNESP-Araraquara. Miguel Jafelicci Junior (jafeli@ iq.unesp.br), bacharel em Química pela UNESP, mestre em química de colóides e de superfícies pela Universidade de Bristol (Inglaterra), doutor em ciências (físico-química) pela USP, é docente do Instituto de Química da UNESP-Araraquara.

Referências

AGÊNCIA USP de Notícias. Redução de custo na separação de plástico favorece reciclagem. Disponível em < http://www.valeverde.org.br/html/ dicas2.php?id=19>. (Acesso em 14/07/2006). ATKINS, P.; JONES, L. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. Trad. Ignez Caracelli. Porto Alegre: Bookman, 2001. DESOUSA, S.R. Flotação de micro- organismos. Disponível em <http:// www.iq.unesp.br/flotacao/index.htm>. (Acesso em 14/04/2007). DESOUSA, S.R.; OLIVEIRA, K.F.; SOUZA, C.S.; KILIKIAN, B.V.; LALUCE, C. Yeast flotation viewed as the result of the interplay of supernatant composition and cell-wall hydrophobicity. Colloid and Surfaces B: Biointerfaces , v. 29, p. 309-319, 2003. JAFELICCI JUNIOR, M.; MASSI, L. Introdução à química de colóides e superfícies. Disponível em <http:// www.iq.unesp.br/flotacao/index.htm>. (Acesso em 14/04/2007).

LAINE, E. Chemistry as applied to the oil flotation of cooper ores. Journal of Chemi- cal Education , v. 5, n. 9, p. 1084, 1928. MARIA, L.C.S; LEITE, M.C.A.M.; AGUIAR, M.R.M.P.; DE OLIVEIRA, R.O.; ARCANJO, M.E.; DE CARVALHO, E.L. Coleta seletiva e separação de plásticos. Química Nova na Escola , São Paulo, nº 7, maio, 2003. SABESP. Processo de flotação apli- cado em cursos d’água. Disponível em <http://www.sabesp.com.br/a_sabesp/ tecnologia/flotacao.htm>. (Acesso em 14/07/2006). VENDITTI, R.A. A simple flotation de- inking experiment for the recycling of paper. Journal of Chemical Education , v. 81, n. 5, p. 693, 2004.

Para saber mais

CURSO de Educação à Distância em Flotação de Microrganismos. Disponível em <http://www.iq.unesp.br/flotacao/ index.htm>. (Acesso em 14/04/2007). JAFELICCI JUNIOR, M.; VARANDA, L.C. O mundo dos colóides. Química Nova na Escola , São Paulo, nº 9, maio,

Abstract: Fundamentals and applications of flotation as mixtures separation technique. Flotation process is a separation technique that regards surface chemistry concepts and can be considered by high school teachers in a clear and simple way. Teachers can avoid didactic material misconceptions appearing on textbooks about flotation. This paper reports on the support to the teachers for illustrating their classes on mixtures separation through an efficient separation technique, working different concepts in chemistry and biology. Moreover, flotation process is largely applied in many industrial separation processes concerning our every day life. Keywords: mixtures separation, flotation, surface chemistry

Nota

Metodologia de Ensino de Química via Telemática (MEQVT) é uma disciplina regular do programa de Licen- ciatura em Química da Faculdade de Educação da USP e é ministrada a distância para estudantes de universidade públicas de todo o Brasil. A maior parte das atividades é prática e utiliza o computador e a internet como media- dores do ensino de química. Ao longo do curso, serão desenvolvidas atividades de ensino para a educação básica, estágio em escolas e pela internet, reflexões e discussões sobre o ensino de química e as TIC. Ao cursar MEQVT, você usa o meio para através dele, falar sobre ele na organização do ensino. Para acom- panhar o curso, além de participar de aulas a distância, você terá de criar e aplicar atividades de ensino, elaborar relatórios, relatar visitas, participar de fóruns interagir com professores e alunos. O curso será oferecido no segundo semestre de 2008. Para maiores informações acesse www.lapeq.fe.usp.br

Equipe MEQVT