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Vida e Obra, Notas de estudo de Agronomia

quimica organica

Tipologia: Notas de estudo

2012

Compartilhado em 21/11/2012

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andreialeal-12 🇧🇷

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INTRODUÇÃO
A sociedade brasileira, no tempo em que surgiu Macunaíma, parecia bastante mudada. Já não tinha
aquele ar de fazenda que respiramos durante 4 séculos. Havia muitas fábricas (principalmente em São
Paulo), grandes aglomerados urbanos, com populações de quase 1 milhão de habitantes. O comércio e a,
que, durante toda a década de 20, desafiou o governo federal. O clímax deste movimento foi a Coluna
Prestes que percorreu 33 mil quilômetros do interior do Brasil, travando mais de 100 combates, em dois
anos e meio (1924-1927). Arthur Bernardes e Washington Luís usaram todos os meios para combatê-la,
lançando até o cangaceiro Lampião no seu encalço. A Coluna, porém, não teve força para derrubar o
governo central, nem conseguiu rebelar o povo contra o regime. Esgotada, embora invicta, internou-se na
Bolívia. No entanto, a imagem de Luís Carlos Prestes, com seus prodígios de técnica militar e de bravura
pessoal, constituiu um mito que exerceu sobre os intelectuais de esquerda (entre os quais se incluíam
Mário de Andrade, Murilo Mendes e Carlos Drummond de Andrade) uma grande fascinação. O
tenentismo (com seus levantes ao longo da década) aliado à crise desencadeada pelo estouro da Bolsa
de Nova Iorque em 1929, são fatos que se somam para derrubar a República Velha na triunfante
Revolução de outubro de 1930.
VIDA e OBRA
Mário Raul de Morais Andrade nasceu na rua Aurora, na cidade de São Paulo, em 9 de outubro de
1893. Seu pai, o dr. Carlos Augusto de Andrade, de origem humilde, conseguira uma situação financeira
estável através do próprio esforço e muito trabalho. Sua mãe, dona Maria Luísa, com quem Mário morou
até o fim da vida, descendia de bandeirantes, mas não era rica.
Quando adolescente, era um estudante dispersivo, que tirava notas baixas e só se destacava em
Português. Enquanto seus irmãos Carlos, mais velho e Renato, mais novo – pianista de talento, falecido
ainda menino - eram elogiados, Mário era considerado a ovelha negra da família. De repente, começou a
estudar. Estudava música até nove horas por dia, lia muito e logo começou a ganhar fama de erudito. A
família passou a admitir o seu talento, mas achava esquisitas sua preferências literárias.
Em 1917, morre seu pai. Mário conclui, neste mesmo ano, o curso de piano no Conservatório
Dramático e Musical de São Paulo, publica seu livro de estréia Há uma Gota de Sangue em cada
Poema e conhece Anita Malfatti e Oswald de Andrade.
Metódico e estudioso, torna-se Catedrático de História da Música, no Conservatório Dramático e
Musical de São Paulo, em 1922, e, para sobreviver, ainda dá muitas aulas particulares de piano e escreve
artigos de crítica para diversas publicações.
Participa, como um dos principais organizadores, da Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de
São Paulo, em 1922, e publica, neste mesmo ano, Paulicéia Desvairada (poesia), em que radicaliza as
experimentações de vanguarda modernistas. Em 1927, publica Clã do Jabuti, em que trabalha
poeticamente as tradições populares que pesquisava e o romance Amar, Verbo Intransitivo, em que critica
a hipocrisia sexual da alta sociedade paulistana.
Em 1928, publica o romance Macunaíma, uma das obras-primas da literatura brasileira, em que reúne
inúmeras lendas e mitos indígenas para compor a história do “herói sem nenhum caráter”, que, invertendo
os relatos dos cronistas quinhentistas, vem da mata para a cidade de São Paulo.
Em 1934, é nomeado diretor do Departamento de Cultura do Município de São Paulo, onde permanece
até 1938, quando muda-se para o Rio de Janeiro para ser catedrático de Filosofia e História da Arte e
diretor do Instituto de Artes da Universidade do Distrito Federal. Não se adapta à mudança, vive deprimido
e, “numa noite de porre imenso” bate com o punho na mesa do bar e fala para si mesmo: “Vou-me
embora para São Paulo, morar na minha casa”. .
Com sua morte precoce o Brasil ficou órfão de um dos seus mais fecundos, múltiplos e íntegros
intelectuais que, certa feita, definiu-se como “trezentos, sou trezentos-e-cincoenta”. Números muito
indústria prosperavam rapidamente, graças ao mercado consumidor formado pelos moradores das
cidades e pelos colonos de origem estrangeira. As mulheres fumavam, iam sozinhas ao cinema, exibiam
as pernas.
Algo impressionava bastante os brasileiros daquele tempo: a velocidade dos meios de comunicação e
transporte! Eram carros, bondes, trens, telégrafos, rádios, telefone… Empresas, bancos, bolsas de
valores.
Desde 1922, o país parecia estar em ebulição: além da Semana de Arte Moderna, foi criado o Partido
Comunista e iniciado o movimento tenentista modestos, levando-se em conta sua importância para a
cultura brasileira do século XX.
Em 25 de fevereiro de 1945, aos 51 anos de idade, Mário de Andrade sofre um ataque cardíaco
fulminante e morre, deixando inacabado o livro Contos Novos (1946). Com sua morte precoce o Brasil
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INTRODUÇÃO

A sociedade brasileira, no tempo em que surgiu Macunaíma, parecia bastante mudada. Já não tinha aquele ar de fazenda que respiramos durante 4 séculos. Havia muitas fábricas (principalmente em São Paulo), grandes aglomerados urbanos, com populações de quase 1 milhão de habitantes. O comércio e a, que, durante toda a década de 20, desafiou o governo federal. O clímax deste movimento foi a Coluna Prestes que percorreu 33 mil quilômetros do interior do Brasil, travando mais de 100 combates, em dois anos e meio (1924-1927). Arthur Bernardes e Washington Luís usaram todos os meios para combatê-la, lançando até o cangaceiro Lampião no seu encalço. A Coluna, porém, não teve força para derrubar o governo central, nem conseguiu rebelar o povo contra o regime. Esgotada, embora invicta, internou-se na Bolívia. No entanto, a imagem de Luís Carlos Prestes, com seus prodígios de técnica militar e de bravura pessoal, constituiu um mito que exerceu sobre os intelectuais de esquerda (entre os quais se incluíam Mário de Andrade, Murilo Mendes e Carlos Drummond de Andrade) uma grande fascinação. O tenentismo (com seus levantes ao longo da década) aliado à crise desencadeada pelo estouro da Bolsa de Nova Iorque em 1929, são fatos que se somam para derrubar a República Velha na triunfante Revolução de outubro de 1930.

VIDA e OBRA

Mário Raul de Morais Andrade nasceu na rua Aurora, na cidade de São Paulo, em 9 de outubro de

  1. Seu pai, o dr. Carlos Augusto de Andrade, de origem humilde, conseguira uma situação financeira estável através do próprio esforço e muito trabalho. Sua mãe, dona Maria Luísa, com quem Mário morou até o fim da vida, descendia de bandeirantes, mas não era rica. Quando adolescente, era um estudante dispersivo, que tirava notas baixas e só se destacava em Português. Enquanto seus irmãos Carlos, mais velho e Renato, mais novo – pianista de talento, falecido ainda menino - eram elogiados, Mário era considerado a ovelha negra da família. De repente, começou a estudar. Estudava música até nove horas por dia, lia muito e logo começou a ganhar fama de erudito. A família passou a admitir o seu talento, mas achava esquisitas sua preferências literárias. Em 1917, morre seu pai. Mário conclui, neste mesmo ano, o curso de piano no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, publica seu livro de estréia Há uma Gota de Sangue em cada Poema e conhece Anita Malfatti e Oswald de Andrade. Metódico e estudioso, torna-se Catedrático de História da Música, no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, em 1922, e, para sobreviver, ainda dá muitas aulas particulares de piano e escreve artigos de crítica para diversas publicações. Participa, como um dos principais organizadores, da Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922, e publica, neste mesmo ano, Paulicéia Desvairada (poesia), em que radicaliza as experimentações de vanguarda modernistas. Em 1927, publica Clã do Jabuti, em que trabalha poeticamente as tradições populares que pesquisava e o romance Amar, Verbo Intransitivo, em que critica a hipocrisia sexual da alta sociedade paulistana. Em 1928, publica o romance Macunaíma, uma das obras-primas da literatura brasileira, em que reúne inúmeras lendas e mitos indígenas para compor a história do “herói sem nenhum caráter”, que, invertendo os relatos dos cronistas quinhentistas, vem da mata para a cidade de São Paulo. Em 1934, é nomeado diretor do Departamento de Cultura do Município de São Paulo, onde permanece até 1938, quando muda-se para o Rio de Janeiro para ser catedrático de Filosofia e História da Arte e diretor do Instituto de Artes da Universidade do Distrito Federal. Não se adapta à mudança, vive deprimido e, “numa noite de porre imenso” bate com o punho na mesa do bar e fala para si mesmo: “Vou-me embora para São Paulo, morar na minha casa”.. Com sua morte precoce o Brasil ficou órfão de um dos seus mais fecundos, múltiplos e íntegros intelectuais que, certa feita, definiu-se como “trezentos, sou trezentos-e-cincoenta”. Números muito indústria prosperavam rapidamente, graças ao mercado consumidor formado pelos moradores das cidades e pelos colonos de origem estrangeira. As mulheres fumavam, iam sozinhas ao cinema, exibiam as pernas. Algo impressionava bastante os brasileiros daquele tempo: a velocidade dos meios de comunicação e transporte! Eram carros, bondes, trens, telégrafos, rádios, telefone… Empresas, bancos, bolsas de valores. Desde 1922, o país parecia estar em ebulição: além da Semana de Arte Moderna, foi criado o Partido Comunista e iniciado o movimento tenentista modestos, levando-se em conta sua importância para a cultura brasileira do século XX. Em 25 de fevereiro de 1945, aos 51 anos de idade, Mário de Andrade sofre um ataque cardíaco

fulminante e morre, deixando inacabado o livro Contos Novos (1946). Com sua morte precoce o Brasil

ficou órfão de um dos seus mais fecundos, múltiplos e íntegros intelectuais que, certa feita, definiu-se como “trezentos, sou trezentos-e-cinquenta”. Números muito modestos, levando-se em conta sua importância para a cultura brasileira do século XX.

MACUNAÍMA

Macunaíma e a renovação da linguagem literária

Publicado em 1928, numa tiragem de apenas oitocentos exemplares (Mário de Andrade não conseguira editor), Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, é uma das obras pilares da cultura brasileira. Numa narrativa fantástica e picaresca, ou, melhor dizendo, “malandra”, herdeira direta das Memórias de um Sargento de Milícias(1852) de Manuel Antônio de Almeida, Mário de Andrade reelabora literariamente temas de mitologia indígena e visões folclóricas da Amazônia e do resto do país, fundando uma nova linguagem literária, saborosamente brasileira. Macunaíma - bem como Memórias Sentimentais de João Miramar (1924) e Serafim Ponte Grande (1933), de Oswald de Andrade - foram obras revolucionárias na medida em que desafiaram o sistema cultural vigente, propondo, através de uma nova organização da linguagem literária, o lançamento de outras informações culturais, diferentes em tudo das posições mantidas por uma sociedade dominada até então pelo reacionarismo e o atraso cultural generalizado. Nacionalista crítico, sem xenofobia, Macunaíma é a obra que melhor concretiza as propostas do movimento da Antropofagia (1928), criado por Oswald de Andrade, que buscava uma relação de igualdade real da cultura brasileira com as demais. Não a rejeição pura e simples do que vem de fora, mas consumir aquilo que há de bom na arte estrangeira. Não evitá-la, mas, como um antropófago, comer o que mereça ser comido. O tom bem humorado e a inventividade narrativa e lingüística fazem de Macunaíma uma das obras modernistas brasileiras mais afinadas com a literatura de vanguarda no mundo, na sua época. Nesse romance encontram-se dadaísmo, futurismo, expressionismo e surrealismo aplicados a um vasto conhecimento das raízes da cultura brasileira.