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Guias e Dicas
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Passo a Passo, Slides de Medicina

portuguesa muda de um continente para o outro. ... Xarope. Se as ervas tiverem um gosto amargo, pode-se fazer um xarope. ... colete as gotas da seiva.

Tipologia: Slides

2023

Compartilhado em 16/01/2023

Leila_89
Leila_89 🇵🇹

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Baixe Passo a Passo e outras Slides em PDF para Medicina, somente na Docsity! A quarterly newsletter linking development workers around th world Uma revista trimestral que aproxima os trabalhadores da área de desenvolvimento de várias partes do mundo No.48 NOVEMBRO 2001 MEDICAMENTOS TRADICIONAIS Passo a Passo Apresentamos, então, uma planta Datura stramonium, que havíamos colhido na frente do centro de treinamento, e explicamos como a usamos nos hospitais no Congo. De repente, a audiência voltou à vida nova- mente. Todos conheciam esta planta. Medicina tradicional e medicina moderna: a necessidade de cooperação Markus Müller e Innocent Balagizi • Hortas medicinais • Cartas • Estudo de caso da RD do Congo • Produção de medicamentos • Medicina natural: O trabalho da Anamed • Malária: uma nova solução • Estudo bíblico: A dádiva dos medicamentos tradicionais • Recursos • Estudo de caso: Práticas tradicionais em partos • Encontrando-se líderes comunitários LEIA NESTA EDIÇÃO O que é a medicina tradicional? Parte do problema é que este é um assunto complicado. Não há uma definição única e clara de medicina tradicional. Entretanto, há uma enorme variedade de métodos utilizados para o tratamento de doenças. Estes métodos são baseados na experiência pessoal ou no conhecimento compartilhado ao longo de muitas gerações. Embora haja alguma boa evidência proveniente de pesquisas científicas da eficácia dos medicamentos tradicionais, as pessoas usam os métodos tradicionais principalmente por causa da sua própria experiência, com base nas suas próprias observações. Esta é, na verdade, a única característica comum de todos os diferentes métodos de tratamento de doenças que chamamos de medicina tradicional. Para ajudar a nossa compreensão, pode ser útil dividir a medicina em três grupos distintos: ■ Medicina popular Desde a infância, as pessoas usam as plantas medicinais para tratar problemas de saúde e doenças, muitas vezes, com grande eficácia. No leste da República Democrática do Congo, as mães do povo Bashi, por exemplo, dão duas ou três gotas de folhas expremidas de Tetrademia riparia para os seus bebês beberem, quando eles têm cólicas abdominais. Para tratar a febre, as pessoas procuram folhas da árvore Ficamos sabendo que ela era usada nas famílias dos participantes para muitas doenças, desde dores de dentes até abscessos e cólicas abdominais. No final, falamos por mais de uma hora só sobre os usos desta planta! Esta forte reação à medicina tradicional é encontrada freqüentemente em muitas partes do mundo. Em Uganda, um paciente contou-me “Todos nós a usamos, mas não gostamos de falar sobre isso, pelo menos não na frente de um médico missionário.” Abrimos um seminário sobre a medicina tradicional em Asmara, na Eritréia, com a pergunta “Algum de vocês possui experiência com a medicina tradicional?” Houve um silêncio completo, até mesmo hostil, na sala. Finalmente, alguns participantes disseram “Somos cristãos. Não temos nada a ver com isso.” F ot o: D r H an s- M ar tin H irt NOTA AOS LEITORES A Passo a Passo é lida na África, Europa e América do Sul. A língua portuguesa muda de um continente para o outro. Alguns artigos podem estar escritos em um estilo diferente do português que você fala. Espera- mos que isto não venha a mudar a sua apreciação pela Passo a Passo. NB Escrevemos “AIDS/SIDA”, porque alguns de nossos leitores co- nhecem a doença como “AIDS”, enquanto outros a chamam de “SIDA”. Estes são alguns dos medicamentos usados no Hospital Nebobongo, na RD do Congo: Problema de saúde Nome latino da planta Parte da planta e preparação infecção por verme nemátodo Carica papaya sementes (cruas ou secas) feridas infeccionadas Carica papaya fruta verde disenteria amebiana, asma Euphorbia hirta a planta inteira para chá bronquite Eucalyptus globulus folhas para tintura prisão de ventre Cassia occidentalis folhas para chá dores reumáticas Capsicum frutescens fruta moída para ungüento queimaduras Aloe ferox gel das folhas problemas de sono Passiflora edulis folhas secas para chá malária Artemisia annua folhas secas para chá náusea Zingiber officinale rizoma fresco Medicamentos feitos com ervas 2 MEDICINA TRADICIONAL PA S S O A PA S S O 48 Vernonia amygdalina (comumente conhecidas como “folhas amargas”), e, para tratar vermes intestinais, são usadas as folhas da pequena erva Celosia trigyna. Há duas coisas em comum nestes tratamentos: • Eles são oferecidos e usados por pacientes ou seus familiares. • Eles são gratuitos. As famílias trocam observações sobre o uso destas plantas sem reservas, e não há segredos sobre os seus usos. Algumas plantas medicinais também são usadas como alimento, outras são usadas apenas medicinalmente. ■ A medicina dos curandeiros tradicionais Para os problemas de saúde difíceis de tratar, os pacientes procuram a ajuda de pessoas que praticam a medicina moderna ou a medicina tradicional. Os curandeiros tradicionais são, muitas vezes, especialistas. As parteiras tradicionais podem ser encontradas em quase todos os povoados. Outros curandeiros tradicionais são as pessoas que endireitam ossos fraturados ou deslocados, ou os especialistas em doenças mentais ou crônicas. Muitas vezes, o trabalho dos curandeiros não se limita apenas aos problemas de saúde física. Os problemas sociais e religiosos, tais como conflitos entre pessoas, ou entre o homem e os demônios ou deuses, são freqüentemente vistos como a causa das doenças. Assim, o tratamento requer procedimentos religiosos ou sociais. Ao contrário da medicina popular, os procedimentos do tratamento dos curandeiros são secretos e não podem ser discutidos abertamente. Eles só podem ser transferidos de geração a geração, dentro das famílias dos curandeiros, e estes devem ser pagos por seu trabalho. O preço do tratamento depende, muitas vezes, do status social do paciente. O pagamento é, muitas vezes, feito através de bens, tais como galinhas ou cabras. Nos círculos cristãos, os curandeiros tradicionais são geralmente vistos com desconfiança, ou até mesmo medo, pois eles podem trabalhar com poderes espirituais que entram em conflito com a crença cristã. Porém, há, também, curandeiros como as parteiras tradicionais e os herbanários, que estão bem integrados nas comunidades eclesiásticas. Passo a Passo ISSN 1353 9868 A Passo a Passo é uma publicação trimestral que procura aproximar pessoas em todo o mundo envolvidas na área de saúde e desenvolvimento. A Tearfund, responsável pela publicação da Passo a Passo, espera que esta revista estimule novas idéias e traga entusiasmo a estas pessoas. A revista é uma maneira de encorajar os cristãos de todas as nações em seu trabalho conjunto na busca da melhoria de nossas comunidades. A Passo a Passo é gratuita para aqueles que promovem saúde e desenvolvimento. É publicada em inglês, francês, português e espanhol. Donativos são bem-vindos. Os leitores são convidados a contribuir com suas opiniões, artigos, cartas e fotografias. Editora: Isabel Carter PO Box 200, Bridgnorth, Shropshire, WV16 4WQ, Inglaterra Tel: +44 1746 768750 Fax: +44 1746 764594 E-mail: [email protected] Editora – Línguas estrangeiras: Sheila Melot Comitê Editorial: Ann Ashworth, Simon Batchelor, Mike Carter, Paul Dean, Richard Franceys, Martin Jennings, Ted Lankester, Simon Larkin, Sandra Michie, Nigel Poole, Alan Robinson, Rose Robinson, José Smith, Ian Wallace Ilustração: Rod Mill Design: Wingfinger Graphics Tradução: S Boyd, L Bustamante, Dr J Cruz, S Dale-Pimentil, T Dew, N Edwards, R Head, J Hermon, M Leake, E Lewis, M Machado, O Martin, J Martinez da Cruz, N Mauriange, J Perry Relação de endereços: Escreva, dando uma breve informação sobre o trabalho que você faz e informando o idioma preferido para: Footsteps Mailing List, 47 Windsor Road, Bristol, BS6 5BW, Inglaterra. Tel: +44 1746 768750 Mudança de endereço: Ao informar uma mudança de endereço, favor fornecer o número de referência mencionado na etiqueta. Artigos e ilustrações da Passo a Passo podem ser adaptados para uso como material de treinamento que venha a promover saúde e desenvolvimento rural, desde que os materiais sejam distribuídos gratuitamente e que os que usarem estes materiais adaptados saibam que eles são provenientes da Passo a Passo, Tearfund. Deve-se obter permissão para reproduzir materiais da Passo a Passo. As opiniões e os pontos de vista expressados nas cartas e artigos não refletem necessariamente o ponto de vista da Editora ou da Tearfund. As informações técnicas fornecidas na Passo a Passo são verificadas minuciosamente, mas não podemos aceitar responsabilidade no caso de ocorrerem problemas. A Tearfund é uma organização cristã evangélica que se dedica ao trabalho de desenvolvimento e assistência através de grupos associados, a fim de levar ajuda e esperança às comunidades em dificuldades no mundo. Tearfund, 100 Church Road, Teddington, Middlesex, TW11 8QE, Inglaterra. Tel: +44 20 8977 9144 Publicado pela Tearfund, uma companhia limi- tada, registrada na Inglaterra sob o No.994339. Organização sem fins lucrativos sob o No.265464. Plantando Artemisia annua var anamed em Adol, no sul do Sudão: uma abordagem comunitária. F ot o: D r M ar ku s M ül le r PASSO A PASSO 47 WINDSOR ROAD BRISTOL BS6 5BW INGLATERRA 5PA S S O A PA S S O 48 CARTAS Coletores de água da chuva As informações da Passo a Passo ajudaram as pessoas a construir tanques de cimento armado para a água da chuva. Entretanto, muitas pessoas precisam de saber como evitar que os mosquitos se reproduzam dentro destes tanques. Aqui estão os passos práticos que desenvolvi, para fazer uma tampa em forma de domo: ■ Meça o diâmetro do topo do tanque e acrescente 3–4cm. ■ Corte um pedaço de cordão com exatamente metade desta medida. ■ Marque um ponto central num solo plano. Segure uma das extremidades do cordão neste ponto e, com o cordão esticado, mova a outra extremidade ao redor dele, marcando um círculo no solo. ■ Cave um pouco da terra e pressione firmemente, para formar um buraco raso. ■ Cubra a terra com papel ou aniagem. ■ Coloque arames de metal de 6mm atravessando o círculo em ambas as direções, com aproximadamente 6–10cm de distância entre eles e amarre-os. Se for uma fêmea com um bezerro, a quantidade de leite diminui, e o leite fica ensangüentado. O bezerro morre, se tiver menos de dois meses de idade. Se a vaca estiver prenha, o parto é de nado-morto. Os criadores de gado chamam-na mborro. Ela se propaga através do pasto infectado. Eu acho que deve ser uma infecção causada por bactéria ou vírus. Isso ocorre em outros países? Alguém sabe o nome científico desta doença e onde e como se pode conseguir uma vacina ou um remédio para tratá-la? No momento, não há nenhum tratamento, e, se uma vaca a contrai, todas as outras no rebanho também a pegam. Ngah Edward CITEX Farmers c/o BBH Box 9, Nso , NWP Camarões O DR E GOODMAN (CHRISTIAN VETERINARY MISSIONS) RESPONDE: O problema de saúde que o senhor descreve enquadra-se com a descrição da febre aftosa. Ela deve ser confirmada com os devidos testes, através das autoridades veteri- nárias governamentais, o mais rápido possível. Existe uma vacina, a qual pode ajudar a limitar a propagação. Esta doença é muito contagiosa e os animais não devem ser removidos para outras regiões. Considere a possibilidade de animais trazidos de fora serem a fonte original da infecção. A Christian Veterinary Missions oferece um serviço de consultoria, para dar informações sobre infecções des- conhecidas nos animais. Eles podem enviar um formulário para os fazendeiros completarem, a fim de ajudar a CVM a responder às suas perguntas. O endereço é: CVM, PO Box 166, Turbeville, SC 29162, EUA E-mail: [email protected] Apicultura em Camarões Ficamos contentes ao descobrirmos a Pas à Pas. Somos membros da Apicultores de Camarões (APICAM). Somos uma organização muito ativa, formada há 14 anos, e gostaríamos muito de dividir o nosso conhecimento de apicultura com os leitores da Passo a Passo. Ruben Ngwe BP 14814, Yaoundé Camarões ■ Também, se possível, coloque uma tela de arame ou rede por cima. ■ Cubra com um cimento firme e argamassa de areia (uma parte de cimento para três partes de areia), de maneira que a tampa tenha de 2–3cm de espessura. ■ Cubra com linhagem húmida e deixe solidificar por vários dias. Se for necessário que haja uma pequena abertura na tampa, coloque, primeiro, uma vasilha ou lata entre os arames, antes de colocar a argamassa. Faça uma tampa com mosquiteiro ou uma vasilha que se encaixe bem. Você também pode usar este método, para fazer uma tampa plana – simplesmente faça a tampa num solo plano. Entretanto, a tampa em forma de domo é mais forte. Dickson Tenywa The Rain Harvesters Technicians PO Box 15131, Kibuye Uganda Biscoitos nutritivos Sou enfermeira e organizo um grupo para crianças pequenas. Nós as ensinamos a trabalhar e sobre a Palavra de Deus. Para conquistar a sua confiança, no final do encontro, damos-lhes doces feitos por nós mesmos, ou biscoitos que compramos, os quais são caros. Já temos alguns ingredien- tes, como soja, farinha e açúcar. Algum dos leitores teriam receitas para fazer biscoitos, para diminuirmos as nossas despesas? Muanda Mimi Antoine BP 227, Boma, Bas Congo RD do Congo Doença de gado Sou trabalhador na área da saúde e uso o meu tempo livre, para ajudar os fazendeiros camponeses e os grandes Bororo (criadores de gado) que vivem aqui em Kouhouat, no oeste de Camarões. Recentemente, um criador de gado abordou-me com este problema. Há uma doença que está atacando as vacas. Primeiro, a vaca começa a morder a boca seriamente. No segundo dia, ela começa a produzir uma grande quantidade de saliva e pára de comer por vários dias. Depois de uma semana, as pernas começam a ter problemas, e a vaca não consegue andar durante as três semanas seguintes e fica descansando na sombra. (Esquerda) Uma das tampas em forma de domo da Rain Harvesters. (Direita) Alguns dos membros da APICAM em Camarões, com as suas abelhas.F ot o: D ic ks on T en yw a Existe agora um tratamento alternativo para pessoas com tuberculose. Ele consiste em tomar muito menos comprimidos do que o tratamento atual, de 16 comprimidos por dia. A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que o novo tratamento reduz o número de comprimidos para até 3 ou 4 por dia nos primeiros dois meses, e apenas 2 por dia, durante mais 4-6 meses. O tratamento é também mais eficaz na prevenção da propagação das formas de tuberculose resistentes às drogas. O novo tratamento (conhecido como combinações de doses fixas – CDF) usa comprimidos em combinação contendo até quatro drogas diferentes. Ele baseia-se no tratamento DOTS (Tratamento Diretamente Observado de Curta Duração), recomendado atualmente, introduzido pela OMS em meados dos anos 90. O CDF também diminui o custo do tratamento. Há aproximadamente oito milhões de novos casos de tuberculose por ano, e, no mínimo, dois milhões de pessoas morrem devido a esta doença no mundo. Oitenta por cento dos pacientes com tuberculose encontram- se na Ásia e na África. No momento, os pacientes com tuberculose precisam de tomar até 16 comprimidos por dia, por, pelo menos, 2 meses, e, depois, até 9 por dia, durante mais 4-6 meses, a fim de se recuperarem totalmente. Muitos pacientes não terminam o tratamento, quando se sentem melhor. O resultado é que eles não estão curados e a resistência às drogas propaga-se. O Dr Spinaci, da WHO, diz “Este trabalho pioneiro com as combinações de doses fixas pode ser desenvolvido também, para ser usado no tratamento de outras doenças infecciosas, tais como a malária e o HIV/AIDS (SIDA).” Notícia Tratamento alternativo para a tuberculose 6 MEDICINA TRADICIONAL PA S S O A PA S S O 48 identificar as plantas locais com propriedades medicinais, preparar remédios com elas, examinar pacientes e, após consulta, dar-lhes o tratamento. Como resultado, usamos medicamentos tradicionais para tratar a malária, o tifo, a disenteria amebiana, os vermes intestinais, tosses, a gastrite, infecções de ouvido, o reumatismo, a impotência e muitos outros problemas. Todos os tratamentos são, primeiro, experimentados e testados (claro que, para os sintomas mais sérios, tentamos encontrar a causa fundamental, se pudermos). Trabalhamos diretamente com a Anamed, em Kivu Sul, com a CRMS (Centro de Pesquisa Multidisciplinar para o Desenvolvimento) em Bunia e o Centro de Terapia com Plantas em Bunia, assim como com muitos curandeiros tradicionais. Alguns dos problemas Encontramos várias dificuldades: ■ Alguns pacientes param o seu tratamento assim que se sentem um pouco melhor, e não os vemos mais nos centros. Isto torna difícil sabermos até que ponto o tratamento foi eficaz. ■ Quando um paciente se sente melhor, ele geralmente recusa-se a ser examinado ou permitir que o seu problema seja controlado por nosso laboratório. ■ Os pacientes têm relutância em pagar os tratamentos com ervas, mesmo que lhes peçamos uma quantia muito pequena. René Gayana Simbard é o representante da medicina tradicional em Nyankunde, IPASC, PO Box 21285, Nairobi, Quênia. E-mail: [email protected] A maioria das comunidades em que trabalhamos são pobres e as pessoas freqüentemente não têm dinheiro para os cuidados com a saúde. Nos últimos anos, descobrimos que um número cada vez maior de pessoas têm morrido de doenças comuns, as quais são fáceis de tratar com medicamentos. Assim, investigamos como poderíamos usar as plantas locais com propriedades medicinais, para reduzir os custos dos cuidados com a saúde. Ênfase prática Para aceitar este desafio, a IPASC iniciou um projeto de pesquisa de medicina tradicional. A IPASC sempre incluiu aulas sobre a medicina tradicional em seus cursos, mas, até recentemente, não enfatizava os aspectos práticos. Levou quase dois anos para que este sonho se tornasse realidade. O objetivo da IPASC é René Gayana Simbard O Instituto Pan-Africano de Saúde Comunitária (IPASC) na RD do Congo possui vários departamentos, entre eles, de treinamento, pesquisa, cuidados de saúde, cuidados de saúde materna e consultas. Trabalhando com medica- mentos tradicionais O uso de plantas locais com propriedades medicinais pode reduzir o custo dos cuidados com a saúde. F ot o: A na m ed 7PA S S O A PA S S O 48 MEDICINA TRADICIONAL Aqui está uma lista de alguns dos vários processos que podem ser utilizados. As páginas 8 e 9 contém exemplos de como estes processos são utilizados, para produzir medicamentos a partir de apenas sete plantas comuns. Naturalmente, há centenas de plantas benéficas que podem ser usadas. Selecionamos apenas algumas, que são bastante conhecidas e foram testadas, experimentadas e pesquisadas cientificamente. Extrato com água fria Este é utilizado para ingredientes que são destruídos pelo calor. As folhas devem ser cortadas em pequenos pedaços, e as raízes, moídas. Deixe os ingredientes de molho em água fria de um dia para o outro. Use dentro de um dia. Chá (ou infusão) Despeje um litro de água fervendo em cima de um punhado de ervas. Deixe por 15–20 minutos e, então, filtre com um tecido limpo. Use dentro de um dia. Decocção Ferva um punhado das ervas em um litro de água por 20 minutos. Filtre com um tecido limpo. Use dentro de um dia. Xarope Se as ervas tiverem um gosto amargo, pode-se fazer um xarope. Depois de preparar o chá ou a decocção, filtre o líquido e acrescente uma xícara (chávena) de açúcar para cada xícara de líquido. Aqueça levemente, se necessário, para dissolver o açúcar. Use dentro de três dias. Tintura As tinturas contém álcool, o qual ajuda a conservar os extratos das ervas. Use um álcool medicinal de boa qualidade. Geralmente, mistura-se 100g de ervas com um litro de uma mistura de álcool e água (45–70% de álcool). A mistura não é aquecida, mas colocada dentro de uma garrafa e deixada por uma semana num local morno, antes de ser filtrada. Quanto maior o teor de álcool, maior o tempo de conservação. Com 20% de álcool, deve conservar-se por dois anos; um teor de 40% ou mais de álcool, significa que se conservará por cinco anos. Ungüento Os ungüentos usam óleo vegetal puro e cera. O azeite de dendê (óleo de palma) de boa qualidade, feito com dendê recém colhido e processado é muito adequado. Pode-se também utilizar azeite de oliva, óleo de amendoim ou óleo de manteiga de karitê. Seque as folhas e triture-as até formarem um pó fino. Misture uma xícara (chávena) deste pó com nove xícaras de óleo. Aqueça a mistura em banho-maria em duas panelas. Encha a panela maior externa Produção de medicamentos O preparo de um medicamento a partir de uma planta que contém uma substância química benéfica varia de acordo com a substância química e a planta. Às vezes, a substância química é extraída das folhas com água fervendo. Às vezes, as raízes são desenterradas e moídas. O processo mais comum e básico para a produção de medicamentos é através do uso de líquido e calor. Atenção! Há riscos e efeitos colaterais no uso de plantas medicinais. Todas as ervas, assim como todas as substâncias químicas, podem causar uma variedade de efeitos. O efeito principal pode ser positivo para um paciente, negativo para outro e até mesmo perigoso para um terceiro. Por exemplo, uma planta que é boa para a pressão sangüínea baixa, pode matar uma pessoa com pressão sangüínea alta. Além disso, a quantidade do ingrediente ativo de uma planta pode variar de acordo com a variedade, a estação ou a idade da planta. Por isso, não nos podemos responsabilizar por quaisquer resultados do uso destas receitas com ervas. Tudo o que podemos fazer é incentivá-lo a ser cuidadoso e observador. Mantenha anotações e registros cuidadosos de todas as ervas, quantidades, tratamentos e efeitos. Aprenda constantemente com as suas próprias experiências e esteja em contato direto com outros especialistas, para poder aprender com o conhecimento e a experiência deles. Quando em dúvida, procure auxílio. com um quarto de água e leve-a ao fogo. Coloque o óleo e o material vegetal na panela menor interna com tampa. Assegure-se de que a água da panela externa não entre na panela interna. Deixe a água ferver por 60 minutos. Não tente fazer isso sem o banho-maria, pois o calor excessivo danifica o óleo. Filtre o óleo com um tecido de algodão, enquanto ainda estiver quente. Acrescente uma xícara de cera limpa aquecida (use cera de abelha, cera comercial ou velas), enquanto o óleo ainda estiver quente, e mexa por um minuto. Adaptado do livro Natural Medicine in the Tropics, examinado na página 14. Um bispo metodista na República Democrática do Congo costumava proibir os hospitais na sua diocese de usar plantas medicinais. Muitos enfermeiros queriam usar estas plantas, pois eles estavam familiarizados com o seu uso, mas o bispo tinha medo de bruxaria e estava decidido a usar somente a medicina ocidental moderna na sua diocese. Quando o conhecemos pessoal- mente, demos a ele o cartaz da Anamed das 60 plantas medicinais que crescem no seu país e o livro Natural Medicine in the Tropics, o qual descreve como preparar e usar medicamentos feitos com estas plantas. Ele imediatamente perguntou se podia tratar as suas próprias doenças usando as receitas do livro. Lembramos a ele que isso era contrário às suas próprias crenças, mas ele disse que materiais tão bem produzidos e coloridos certamente não eram tradicionais, mas, sim, modernos e científicos e, portanto, totalmente aceitáveis! Uma mudança de opinião 10 MEDICINA TRADICIONAL PA S S O A PA S S O 48 Uma situação desesperadora Hoje, as empresas químicas e farmacêuticas estão correndo para patentear a produção de medicamentos feitos com plantas tropicais, tais como o nim, o karitê, a pervinca e muitas outras plantas. As propriedades terapêuticas de muitas destas plantas foram agora provadas por pesquisas científicas recentes. Porém, elas têm sido usadas em receitas tradicionais por muitos séculos. A situação em muitos países tropicais agora está bastante desesperadora. O preço cada vez mais alto dos remédios médicos, as leis de patenteação modernas e a queda no valor das moedas locais fazem com que os centros médicos não tenham condições, às vezes, para comprar os remédios mais básicos. Ao mesmo tempo, o conhecimento e as habilidades locais em termos de remédios feitos com ervas estão-se perdendo rapidamente. Muitas comunidades estão sendo deixadas sem nenhum conhecimento especializado na área da saúde. A cooperação entre todas as partes envolvidas na provisão de atendimento à saúde – tanto os curandeiros tradicionais quanto os funcionários médicos – é, portanto, extremamente importante para o bem-estar das pessoas locais. Reunindo-se A Anamed é uma pequena iniciativa cristã na Alemanha. Eles possuem uma experiência considerável na realização de seminários sobre a “medicina natural”. Estes seminários geralmente duram uma semana, com aproximadamente 30 pessoas, sendo que algumas são treinadas na prática médica moderna, tais como médicos, enfermeiros e sanitaristas básicos, e outras são curandeiros tradicionais. A Anamed descreve a medicina natural como a combinação das vantagens da medicina do Sul com as da medicina do Norte. A boa medicina tradicional com base nas ervas é acessível, utiliza plantas disponíveis no local, é relativamente barata (podendo, às vezes, ser paga com galinhas, ao invés de dinheiro) e é muito pessoal. A medicina moderna, por outro lado, enfatiza a importância da limpeza e da higiene e as medidas e a posologia precisas. Assim, cada uma delas tem muito a ganhar com a outra! Hoje, ainda há freqüentemente suspeita e desconfiança entre os curandeiros tradicionais e os funcionários dos hospitais. Compreendemos os dois lados. Do ponto de vista dos médicos e dos missionários, os curandeiros incutem medo, amaldiçoam as pessoas, fazem coisas ridículas como “retirar dentes falsos” ou causam mutila- ções terríveis, o que, muitas vezes, mata pessoas. Do ponto de vista do curandeiro, por outro lado, os médicos exploram os seus pacientes, não compreendem as crenças e os comportamentos culturais e não revelam o seu conhecimento sobre como prevenir doenças. Muitos curandeiros acreditam que os médicos não tentam proporcionar a boa saúde à região, mas, ao contrário, procuram ganhar muito dinheiro tratando um grande número de “seus” antigos pacientes. Respeito mútuo Durante os seminários, o primeiro passo importante é organizar para que os curandeiros e os médicos comam as mesmas refeições juntos e durmam nas mesmas casas! O segundo passo é fazer com que o respeito mútuo cresça, permitindo que eles reconheçam que cada um tem êxitos assim como fracassos em seus tratamentos. O terceiro passo é começar a Anamed “Medicina natural” Dr Hans-Martin Hirt e Dr Keith Lindsey Quando os europeus chegaram pela primeira vez à África, à Ásia e às Américas e testemunharam práticas como o sacrifício ritual e a idolatria dos ancestrais, eles logo as rotularam como primitivas, introduzindo, ao invés delas, os costumes, a cultura e a religião européia. Entretanto, agora, reconhecemos que há muito a ser aprendido com estas culturas tradicionais. Ao rejeitarem-se algumas práticas perigosas, muitas outras práticas benéficas foram ignoradas. 11PA S S O A PA S S O 48 MEDICINA TRADICIONAL compartilhar parte do seu conhecimento uns com os outros. No último dia dos nossos seminários, discutimos como organizar para que haja cooperação no futuro. Os funcionários médicos elegem uma pessoa para ser o seu representante, e os curandeiros fazem o mesmo. Estes dois representantes encontram-se todos os meses, ou com mais freqüência, quando há problemas. Eles servem de canal de comunicação entre os grupos. Aqui estão exemplos de situações que podem muito bem ocorrer: ■ Na ronda da manhã, o médico descobre que um paciente com câncer (cancro) recebeu cortes profundos que causaram sangramento e infecção durante a noite, por parte de um curandeiro que entrou furtivamente no hospital! Como resultado, o médico chama o representante médico, que fala com o representante dos curandeiros. Desta forma, evita-se que o problema se repita. ■ Um paciente diabético não tem dinheiro para comprar insulina e procura ajuda no hospital. Trabalhando-se através dos representantes, encontra-se um curandeiro conhecido por seu êxito no tratamento do diabetes. O hospital oferece as suas instalações laboratoriais para que o curandeiro examine gratuitamente o sucesso ou o fracasso do seu tratamento com ervas! Muitas igrejas acusam os curandeiros de praticar bruxaria. Nos nossos seminários, sempre passamos tempo suficiente discutindo esta questão muito importante. Entretanto, é certo que, se um curandeiro tiver acesso a todas as plantas de que precisa, a tentação de usar bruxaria será muito menor. Criar uma horta medicinal para suprir o fornecimento constante de ervas é essencial. Os benefícios dos seminários Vimos que reunir os curandeiros tradicionais e os médicos tem os seguintes resultados positivos: ■ A população em geral fica melhor informada, pois os comitês dos departamentos de saúde locais escolhem representantes para assistirem aos seminários, os quais informam as pessoas. As pessoas ficam melhor protegidas contra práticas ruins e perigosas. Por exemplo, uma das fontes de infecção de HIV/AIDS (SIDA) e hepatite B na República Democrática do Congo é através dos 40.000 curandeiros não treinados, que dão injeções com seringas não esterilizadas. Com treinamento, os curandeiros e as parteiras tradicionais podem oferecer um tratamento melhor sem propagar o HIV/AIDS (SIDA). ■ Os funcionários médicos aprendem o valor e os efeitos das plantas medicinais e começam a usá-las para tratamentos. ■ Os curandeiros tradicionais aprendem como usar doses precisas, preservar seus produtos de forma melhor e a importância da higiene. ■ As parteiras tradicionais não são mais forçadas a trabalhar ilegalmente e, depois de serem treinadas, oferecem um melhor atendimento à maternidade e ao bebê. ■ O meio ambiente melhora, pois o valor econômico das plantas nativas usadas medicinalmente aumenta e, assim, elas passam a ser protegidas. Incentivando a boa prática Incentivamos os “curandeiros tradicionais” a praticar a medicina natural. Isto significa que eles concordam em NUNCA: ■ darem injeções ■ fazerem tatuagens ■ fazerem cortes (na esperança de libertar a dor ou os maus espíritos) ■ retirarem os chamados “dentes falsos” das crianças (os dentes novos das crianças pequenas que sofrem má- Medicina ocidental (moderna) ■ Higiênica ■ Aceita cientifica e internacionalmente ■ O profissional médico teve muito treinamento e compreende o corpo e a doença ■ É feito um exame médico completo, com testes laboratoriais ■ Utiliza posologias precisas ■ Os medicamentos duram muito tempo ■ As plantas são identificadas através dos seus nomes científicos ■ O governo controla os padrões da prática da medicina ■ Pode-se tratar um grande número de pacientes, por exemplo, durante epidemias Medicina tradicional com ervas ■ Utiliza plantas disponíveis no local ■ Não há resíduos perigosos que precisem ser eliminados de maneira segura ■ Não há problemas de câmbio para remédios caros ou atrasos na alfândega ■ Geralmente, é barata para o paciente ■ Cria empregos na horta medicinal e no preparo dos medicamentos ■ O dinheiro pago pelo tratamento permanece na economia local ■ Incentiva a independência ■ O curandeiro fala a mesma língua que as pessoas ■ Às vezes, é o único auxílio médico disponível Vantagens dos dois sistemas Produção de óleos medicinais durante um dos seminários da Anamed sobre “medicina natural”. F ot o: A na m ed 12 PA S S O A PA S S O 48 MEDICINA TRADICIONAL A planta Artemisia annua (artemísia) é o tratamento antimalárico conhecido há mais tempo, tendo sido usado na China por mais de 2.000 anos. Ela contém a substância artemisinina. A artemisinina elimina o parasita do sangue mais rapidamente que qualquer outra droga e funciona bem contra os parasitas Plasmodium falciparum, os quais são resistentes a outras drogas. Produção de artemisinina A artemisinina pode ser obtida em forma de produtos comerciais, provavelmente custando entre 3 e 20 dólares por tratamento. Se a demanda crescer, os preços provavelmente baixarão ainda mais. As drogas com artemisinina devem ser dadas por pelo menos cinco dias, de preferência sete, se forem utilizadas sozinhas. Os tratamentos mais curtos são úteis, se forem combinados com outras drogas antimaláricas. A “terapia de combinação” é uma boa forma de se prevenir a multi-resistência às drogas no futuro. Ainda não foram vistos efeitos colaterais sérios da artemisinina depois de milhares de tratamentos. Malária: a nova solução A malária é um problema sério e cada vez maior no mundo inteiro, causando a morte de aproximadamente 2,5 milhões de pessoas por ano. O parasita da malária cria cada vez mais resistência contra as drogas conhecidas para a malária. Estão sendo criadas novas drogas, mas estas são, geralmente, caras e difíceis de serem obtidas. Entretanto, a medicina tradicional parece estar oferecendo uma nova esperança. Resistência às drogas A OMS pede que a artemisinina e outras drogas obtidas a partir da Artemisia annua sejam usadas somente para tratar a malária e não como um medicamento preventivo. Eles também recomendam que sejam usadas juntamente com outras drogas antimaláricas, para evitar a resistência. O híbrido da Anamed A Anamed também criou uma variedade particular da Artemisia annua, que sempre possui uma alta concentração de artemisinina. Este híbrido chega a até dois metros de altura, com muitas folhas. Se for plantada em quantidade numa horta medicinal e processada cuidadosamente, a Artemisia annua var anamed pode ajudar um hospital a ter um tratamento barato e eficaz contra a malária. As sementes da artemísia são muito pequenas e sensíveis, necessitando de muito cuidado. A Anamed pode fornecer sementes desta variedade com as instruções completas (veja a página 14). Embora seja caro, este pode ser um investimento valioso. Uma vez que a planta estiver estabelecida, podem-se tirar mudas (rebentos) e distribuí- las facilmente pela região. nutrição aparecem nas gengivas. Algumas pessoas acreditam que o dente “velho” deve ser retirado.) ■ fazerem qualquer forma de cirurgia ■ usarem qualquer forma de bruxaria ■ fazerem abortos ■ usarem excremento ■ usarem enemas Ao invés disso, nós os incentivamos a: ■ oferecerem cuidados preventivos à sua comunidade ■ educarem as pessoas quanto aos cuidados preventivos da saúde ■ usarem chás medicinais ■ usarem receitas seguras para produzir medicamentos como ungüentos e óleos ■ criarem uma horta de plantas medicinais e nutritivas ■ especializarem-se no tratamento de uma doença Os funcionários médicos podem aumentar o raio de ação do seu trabalho consideravelmente, criando uma horta medicinal e preparando e usando medicamentos feitos com as plantas. Aqui na Anamed, estamos convencidos de que a medicina natural combina as vantagens de ambos os sistemas. Nos países que valorizam o uso das ervas tradicionais, o Ministério da Saúde pode conseguir realizar muito mais, mesmo com verbas limitadas para a saúde. O Dr Hans-Martin Hirt possui muitos anos de experiência nas regiões rurais da República Democrática do Congo. Ele e Keith Lindsey estão comprometidos a capacitar e auxiliar as pessoas em suas comunidades locais através da troca de conhecimentos. A Anamed convida os leitores da Passo a Passo a fazerem o mesmo. Entre em contato com a Anamed, Schafweide 77, 71364 Winnenen, Alemanha. Fax: +49 7195 65367 E-mail: [email protected] Website: www.anamed.org ATENÇÃO: A Anamed não pode identificar ou realizar a análise científica de plantas medicinais para os leitores da Passo a Passo. Eles também não podem oferecer literatura gratuita ou financiamento. Plantação de Artemisia annua var anamed em Bukavu, RD do Congo.F ot o: A na m ed PA S S O A PA S S O 48 MEDICINA TRADICIONAL No Camboja, quando alguém está doente, eles chamam o Khru Khmer, para tratar o corpo e o espírito. Para a maioria dos cambojanos, todas as doenças estão relacionadas com o espírito – seja um problema mental ou um osso quebrado. Uma das “marcas registradas” dos Khru Khmer é “soprar” nas pessoas. Acredita-se que eles sejam possuídos por um espírito, e, quando eles sopram numa pessoa, o poder dos espíritos manifesta-se. Muitas das doenças em sociedades animistas são causadas pelo medo. Assim, as pessoas procuram primeiro a cura espiritual na sua própria cultura. Os cristãos precisam determinar que práticas são úteis e quais são prejudiciais. É importante construir em cima daquilo em que as pessoas já acreditam (mesmo que isso seja medicamente inútil), pois somente então os funcionários da área da saúde poderão começar a influenciar e melhorar a situação. Isso é verdade não só no caso do Camboja, mas, também, de outros países. Para a CORD (Christian Outreach Relief and Development), os estudos bíblicos semanais com os funcionários proporcio- nam um fórum para discussão de assuntos como esse. Durante o treinamento das parteiras tradicionais, houve, também, discussões que abriram as mentes das pessoas para a conscientização de que há alternativas. À medida que os funcionários cristãos da CORD desenvolvem um relacionamento com as pessoas locais, eles podem começar a falar em libertação do medo através do Senhor Jesus Cristo. Remédios em forma de chá Durante a gravidez e o parto, os Khru Khmer trabalham com a proteção da mãe e da criança. Eles amarram cordões de algodão com argolas de metal chatas e longas ao redor da cintura da mulher grávida. O cordão pode ser expandido à medida que a gravidez evolui. Os Khru Khmer fazem um chá com ervas para a grávida beber, que ajuda a facilitar o parto – supostamente tornando a passagem do parto escorregadia. Muitos problemas durante a gravidez têm remédios em forma de “chá”, e alguns curandeiros mostram aos parentes como prepará-los eles mesmos. Após o nascimento, muitas pessoas acreditam que o bebê pertence ao mundo espiritual durante os três primeiros dias e, somente no quarto, se continuar vivo, é que o bebê se torna parte do mundo humano. Os três primeiros dias representam, portanto, um período crucial para a proteção da criança. A parteira tradicional prepara incenso e frutas como uma oferenda para os espíritos no quarto dia. Práticas tradicio- nais de partos Barbara Soung e Hang Sorya Os curandeiros tradicionais são conhecidos como Khru Khmer no Camboja. Eles aprendem suas habilidades com velhos monges ou parentes mais velhos do sexo masculino. Eles, quase sempre, são homens, embora, ocasional- mente, haja Khru Khmer do sexo feminino. Os seus equivalentes femininos são as parteiras tradicionais, que, muitas vezes, aprendem algumas das suas habilidades observando os Khru Khmer trabalhando. Tabus Após o nascimento, as mulheres Khmer temem muito por sua saúde, pois tradicionalmente há muitos tabus relacionados com certos alimentos, trabalho árduo demais, ter relações sexuais muito cedo depois do parto, carregar coisas pesadas ou expor-se à chuva e ao vento. Acredita-se que, se uma mulher quebrar algum destes tabus, não há cura. Ela sofrerá para o resto da sua vida ou até mesmo morrerá. Isso, muitas vezes, significa que, se a mãe tem algum problema após o nascimento, a família procura uma causa entre os tabus, ao invés de levar a mulher para receber atendimento médico. A necessidade de ensino Os Khru Khmer acreditam que eles possuem uma resposta para todas as doenças e continuam a tratar a pessoa até ela morrer. Eles precisam saber que doenças podem curar e quais precisam de atenção médica. Eles precisam ensinar as pessoas quanto a isso também. Algumas pessoas instruídas ainda acreditam no poder dos Khru Khmer, mas não na sua medicina tradicional. Outras compram os medicamentos tradicionais em lojas sem consultar os Khru Khmer. Barbara Soung e Hang Sorya trabalham na província de Pre Veng, no Camboja, para a CORD – uma instituição de caridade cristã internacional com sede no Reino Unido. ■ Muitas das práticas dos Khru Khmer são inúteis ou prejudiciais. É melhor para os funcionários da área da saúde procurar boas práticas e construir em cima delas ou dizer às pessoas que evitem usá-las completamente? ■ Como as pessoas instruídas podem ser libertadas da sua crença no poder dos Khru Khmer? ■ Que problemas os funcionários da área da saúde da CORD provavelmente encontrarão? ■ Que tabus e crenças semelhantes relacionados com a saúde são praticados na cultura em que você está trabalhando? Questões para discussão 15 F ot o: G eo ff C ra w fo rd , T ea rf un d 16 PA S S O A PA S S O 48 para escutar, consolar ou aconselhar. Todas as comunidades têm um zelador, que pode ser um homem ou uma mulher. Para descobrir quem é o zelador, pergunte: “Se você tivesse uma emergência às 2 horas da madrugada, e ninguém da sua família estivesse por perto, a quem você pediria ajuda?” Os captadores de notícias Estes são pessoas que sempre sabem tudo o que está acontecendo. Quando alguém está doente ou morrendo, ou perdeu o emprego, eles sempre parecem ser os primeiros a ficar sabendo. Para encontrar o captador de notícias, você poderia perguntar: “Se se soubesse que alguém estivesse causando problemas ou discussões desnecessárias, com quem as pessoas poderiam falar para ter certeza de que conseguiriam fazer essa pessoa compreender o que elas querem?” Os corretores O corretor tem relações com amigos pessoais de pessoas-chaves do governo ou de organizações internacionais, que podem conseguir as coisas! Para encontrar o corretor, pergunte às pessoas a quem elas se voltariam para conseguir que algo fosse feito. A quem elas pediriam ajuda se, por exemplo, a torneira de abastecimento COMUNIDADE E DESENVOLVIMENTO Eu acredito que há quatro pessoas fundamentais em todas as comunidades do mundo. Dei a estas pessoas os nomes de porteiro, zelador, captador de notícias e corretor. Estas são as pessoas que realmente fazem a comunidade funcionar. Como você aprende sobre cada comunidade? À medida que você conversa com as pessoas, pergunte-lhes há quanto tempo elas vivem na região, que mudanças viram durante esse tempo, que esperanças têm e que problemas e preocupações existem. Depois faça perguntas, para descobrir os verdadeiros líderes. Quando você começar a ouvir os mesmos nomes vindos de pessoas diferentes, você saberá que provavelmente os encontrou. Os porteiros O porteiro de uma comunidade é a pessoa que decide se alguém passará pelos “portões” da comunidade e será aceito. Para encontrar os porteiros, pergunte quem se mudou para a região recentemente. Como as pessoas se sentem em relação a eles? As pessoas gostam deles ou os acham estranhos? Por que elas se sentem assim? A resposta poderá ser: “Por que fulano de tal disse-me isso…” Assim, você encontrou o porteiro. Estas são pessoas influentes, que conseguem controlar a maneira como os outros se sentem em relação a novas pessoas e novas idéias. Os zeladores Estes são pessoas para quem os outros se voltam, quando têm problemas. Quando eu estava caminhando numa favela em Chennai, todas as crianças de um bairro pareciam estar brincando do lado de fora de uma casa. A pessoa que morava lá provave- lmente era a zeladora daquele bairro – a “mamãe” ou a “pastora” – sempre pronta de água, a eletricidade ou o telefone do seu bairro não estivesse funcionando? Encontre-os! Por que é tão importante encontrar estas quatro pessoas? ■ Em primeiro lugar, porque estas são as pessoas com as habilidades necessárias para organizar a comunidade e incentivar a mudança – seja ela para o trabalho de defesa de direitos ou qualquer outro tipo de trabalho de desenvolvimento. Publicado pela: Tearfund, 100 Church Rd, Teddington, TW11 8QE, Inglaterra Editora: Dra Isabel Carter, PO Box 200, Bridgnorth, Shropshire, WV16 4WQ, Inglaterra Encontrando os verdadei- ros líderes comunitários Robert Linthicum ■ Em segundo lugar, porque as pessoas na comunidade irão primeiro ver se as pessoas mais importantes estão participando ou boicotando o trabalho. Só então elas decidirão se elas próprias participarão ou não. Procure estas pessoas e crie um relacionamento com elas. Lembre-se, entretanto, de que o interesse delas pode nem sempre ser o mesmo que o seu ou o da comunidade. Procure trabalhar com elas e influenciá-las. Através da compreensão e do apoio destes líderes, a mudança será muito mais provável de ocorrer. Condensado de um artigo em Together Magazine, edição 27, World Vision. Para incentivar a mudança de forma eficaz numa comunidade, você precisa aprender com a comunidade sobre a situação dela. Você também precisa ficar sabendo quem são os verdadeiros líderes. Com freqüência, os líderes eleitos não são as pessoas que fazem as coisas acontecerem numa comunidade.